Discurso durante a 27ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Consumo de drogas ilícitas e os seus prejuízos para a sociedade. Necessidade de combater o tráfico e de recuperar os dependentes de drogas.

Autor
Papaléo Paes (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DROGA.:
  • Consumo de drogas ilícitas e os seus prejuízos para a sociedade. Necessidade de combater o tráfico e de recuperar os dependentes de drogas.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2006 - Página 9542
Assunto
Outros > DROGA.
Indexação
  • COMENTARIO, ESTUDO, PROGRAMA, ORIENTAÇÃO, ATENDIMENTO, DEPENDENTE, DROGA, ANALISE, EFEITO, CONSUMO, COCAINA.
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, ATUAÇÃO, ESTADO, COMBATE, TRAFICO, DROGA, CRIME ORGANIZADO, REABILITAÇÃO, DEPENDENTE, POPULAÇÃO, BAIXA RENDA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PAPALÉO PAES (PSDB - AP. Para uma comunicação inadiável.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, entre os grandes temas que integram a agenda mundial está, certamente, a questão do consumo de drogas ilícitas. Para o Estado, o problema se reveste de um duplo viés: o combate ao tráfico de drogas (e o seu consumo) e os investimentos na reabilitação dos usuários de entorpecentes. Para a sociedade, os prejuízos são imensuráveis: por um lado, o gasto público onera a todos, usuários ou não; por outro, há que se considerar os dramas familiares, cada vez mais corriqueiros e pungentes.

Uma das drogas de uso mais comum, em todo mundo, é a cocaína. Extremamente lucrativa para os chefões do tráfico de entorpecentes, ela possui efeitos devastadores para o organismo dos usuários. Infelizmente, a cocaína é uma das quatro drogas mais consumidas no Brasil. Para se ter uma idéia, estima-se que 180 mil brasileiros façam uso abusivo dessa substância.

Respaldado em minha experiência como médico, posso afirmar, com absoluta convicção, que o uso de cocaína está associado a complicações cardiovasculares e neurológicas muito graves. A substância tem significativo efeito vasoconstritor, ou seja, provoca contração das artérias, especialmente aquelas artérias que irrigam o cérebro.

E qual o efeito prático dessa vasoconstrição? Aumenta, consideravelmente, a probabilidade de um derrame cerebral, ou mesmo a probabilidade de pequenos derrames, que são, por vezes, imperceptíveis, mas que, ao longo do tempo, podem ter efeito devastador.

Outra conseqüência visível é a diminuição da perfusão cerebral, ou seja, a queda da quantidade de sangue que circula no cérebro, o que provoca os sintomas clássicos do consumo de cocaína: déficit de atenção, concentração e aprendizado, bem como deficiência de memória visual e de memória verbal.

Estudo promovido pelo Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), demonstra a forte correlação entre os danos cerebrais e o uso da cocaína. Os resultados do estudo, feito por um grupo de 30 usuários - a maior amostra já analisada em um trabalho desse tipo - confirmam que a droga prejudica o funcionamento do cérebro como um todo, mas mostram que ela prejudica, de maneira especial, o lobo frontal.

Segundo o Professor Doutor Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do estudo, os danos ao lobo frontal explicam comportamentos muito comuns entre os viciados, como mudanças repentinas de humor e surtos de agressividade.

O estudo chegou a conclusões significativas, que foram reconhecidas pela comunidade científica internacional. Ficou demonstrada a existência de alterações na perfusão cerebral na maioria dos dependentes de cocaína. Esse é um dado bastante grave, pois sabemos que os altos índices de morbidade e de mortalidade, verificados entre os usuários mais jovens, são fruto de complicações neurovasculares resultantes do uso da substância.

De acordo com os autores do estudo, os pequenos derrames cerebrais a que me referi anteriormente, muitas vezes imperceptíveis, são os grandes responsáveis pela perda gradativa de atividade cerebral por parte dos dependentes de cocaína.

Outra conclusão preocupante é que o comprometimento da atividade cerebral se mostrou presente tanto nos usuários que declararam ainda estar consumindo a droga quanto naqueles que declararam estar abstinentes. Isso sugere que os danos cerebrais causados pela cocaína possam ser irreversíveis.

A conclusão mais significativa do estudo da Unifesp é a correlação entre a intensidade das alterações funcionais cerebrais e o tempo de consumo da cocaína. Quanto maior o tempo de uso, mais intensos são os danos. Justamente esse ponto fez com que o estudo brasileiro fosse considerado como uma importante contribuição para a análise dos efeitos da cocaína em longo prazo.

Mais do que uma grande contribuição ao mundo da ciência, o estudo é um alerta à sociedade sobre os enormes perigos do uso da cocaína. Não estamos falando em sintomas passageiros nem tampouco em danos temporários. Estamos falando em sintomas persistentes e em danos irreversíveis! Não se trata de um simples problema de concentração. Trata-se de demência! Trata-se de morte!

As famílias precisam fazer a sua parte. E o melhor a fazer é acompanhar de perto o crescimento dos filhos, é observar criteriosamente seu comportamento. Ao primeiro sinal de que algo está errado, é preciso buscar o diálogo. Se o diálogo não resolver, é preciso buscar ajuda!

Aí é que entra o Governo, Senador Mão Santa. Em primeiro lugar, combatendo vigorosamente o tráfico de entorpecentes e o crime organizado. Não podemos mais tolerar a liberdade, para não dizer libertinagem, com que os traficantes agem em nosso País! Não podemos mais tolerar que esses criminosos continuem a aliciar nossos jovens, iludindo-os com promessas de dinheiro fácil e de vida mansa!

O Estado tem de se fazer presente nos morros e nas favelas! Não é possível que, por pura negligência dos governantes, os chefões do tráfico assumam o lugar do Estado na promoção da assistência social e conquistem, para sua causa, as populações dos lugares em que habitam!

Em segundo lugar, o Governo precisa investir na recuperação de dependentes. Não é possível que a reabilitação do jovem para a vida em sociedade só esteja ao alcance dos mais ricos, capazes de buscar, a peso de ouro, os tratamentos de recuperação em caríssimas e exclusivíssimas clínicas particulares.

Chega de negligência! Chega de desídia! É hora de o Governo dar à sociedade as respostas que, há anos, ela vem cobrando. Combater o tráfico de drogas e investir na recuperação de dependentes têm de ser uma prioridade.

Estamos falando, Senador Paulo Paim, da juventude! Estamos falando do futuro do nosso País!

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 


Modelo1 8/17/241:15



Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2006 - Página 9542