Discurso durante a 27ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Demissão do Ministro da Fazenda Antonio Palocci, e a crise por que passa o governo.

Autor
César Borges (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: César Augusto Rabello Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Demissão do Ministro da Fazenda Antonio Palocci, e a crise por que passa o governo.
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães, José Jorge, Tião Viana.
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2006 - Página 9571
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • CRITICA, DEMORA, DEMISSÃO, ANTONIO PALOCCI, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), CONDENAÇÃO, NEGLIGENCIA, AUTORIDADE, DENUNCIA, PARTICIPAÇÃO, CORRUPÇÃO.
  • COMENTARIO, GRAVIDADE, CRISE, POLITICA NACIONAL, DECADENCIA, GOVERNO FEDERAL, MOTIVO, COMPROVAÇÃO, COMPROMETIMENTO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DIVERSIDADE, TRANSAÇÃO ILICITA, QUESTIONAMENTO, INOCENCIA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, TIÃO VIANA, SENADOR, IMPETRAÇÃO, LIMINAR, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), IMPEDIMENTO, DEPOIMENTO, EMPREGADO DOMESTICO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, CONDENAÇÃO, CAIXA ECONOMICA FEDERAL (CEF), VIOLAÇÃO, SIGILO BANCARIO, TESTEMUNHA.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador João Alberto Souza, dificilmente eu poderia negar uma solicitação tão gentil feita por V. Exª. Em deferência a essa Presidência e aos demais colegas que ainda usarão a tribuna, é claro que aceito oito minutos.

Sr. Presidente, o dilema que vivia o Presidente Lula até há poucos minutos era demitir ou não o Ministro Palocci. Lamentavelmente, o Presidente Lula ainda vivia esse dilema, porque se ele tivesse respeito pelas instituições brasileiras e pela República, já teria demitido há muito o Ministro Palocci, desde quando apareceram as denúncias da “República de Ribeirão Preto” e o Ministro Palocci se negou até a ter indignação por seus acusadores. O Ministro Palocci aceitava e dizia que não via os amigos da “República de Ribeirão Preto”, mas, na verdade, não se indignava e não processava absolutamente ninguém. A partir daquele momento, praticamente aceitava que tinha participado, como Prefeito de Ribeirão Preto, do que estava sendo acusado e de tudo o mais que a Nação veio a saber.

Agora, sem ter mais como avançar nesse processo de tentar manter aqueles que não têm condições em cargos públicos da maior importância para o País, como no caso do Ministro da Fazenda, resolve o Presidente dar oportunidade para que o Ministro se demita, peça o seu afastamento.

Veio tarde, Sr. Presidente, veio tarde.

Estamos vendo ser desmontado o Governo Lula, que não respeita as instituições brasileiras e vai pelo viés do autoritarismo, do aparelhamento de Estado. Seu Partido está infiltrado em todos os órgãos, de todos os escalões da Administração Pública Federal.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Pois não, Senador Antonio Carlos Magalhães.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª, sempre apropriado, tem ainda que cobrar de todos esses que aqui chegaram à tribuna e do próprio Presidente da República, que disse: “Eu não afastarei Palocci”. E afastou. Nem a palavra ele sabe cumprir.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Obrigado, Senador Antonio Carlos. Foi assim com vários outros próceres, pessoas ilustres do Governo Lula e do PT; foi assim com José Dirceu.

Recordo-me muito bem da indignação com que alguns Senadores e Senadoras do PT se pronunciavam na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito e neste plenário. O hoje Líder do PT na Câmara dos Deputados, Deputado Henrique Fontana, dizia: “O nosso companheiro José Dirceu é inatacável. Não admitimos esse tipo de suspeição sobre o nosso companheiro José Dirceu!” Era assim, Senador Antonio Carlos. E José Dirceu não era demissível, de jeito nenhum. Era um dos pilares básicos em que se assentava o Governo do PT. Era José Dirceu de um lado e Palocci do outro.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador, V. Exª me concede um aparte?

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Senador José Jorge, conceder-lhe-ei, com muita satisfação, um aparte.

Os dois pilares desmoronaram.

Agora, mais uma vez, o povo brasileiro e esta Nação precisam entender que isso não é um problema de José Dirceu ou de Antonio Palocci. Isso é um problema da gênese do PT no Governo, a qual não tem respeito pelas instituições republicanas. Aqui, vários Senadores e Senadoras do PT já assumiram a tribuna para falar em republicanismo e manutenção das instituições.

Sr. Presidente, da mesma forma, não podemos admitir que o Presidente não saiba e não tenha tido participação em todos esses atos, como ele gosta de dizer: “Não tenho nada, não vi nada”.

Que governo é esse em que o Presidente não governa, não manda e não sabe de nada?

Concedo um aparte ao Senador José Jorge, com muita satisfação.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Agradeço a V. Exª e quero concordar em gênero, número e grau com o que está dizendo. V. Exª se esqueceu do Ministro Gushiken. Quando o Presidente Lula assumiu, havia um triunvirato, o chamado núcleo duro: José Dirceu, Gushiken e Palocci. O último acaba de cair, e todos que saíram fizeram-no ou por corrupção ou por envolvimento com coisa errada. Ninguém saiu para ser promovido ou porque estava doente. Todos receberam o cartão vermelho da sociedade. Foi a sociedade que deu o cartão vermelho, e o Presidente Lula, então, teve de tirá-lo. Portanto, a responsabilidade é do Presidente. É o Presidente que escolhe mal e que governa mal. Muito obrigado.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Muito obrigado, Senador José Jorge.

Lamentavelmente, para o nosso País, essa é a realidade, e não adianta o Governo sacrificar, às vezes, Senadores que, tenho certeza, procuram servir bem ao Presidente, porque têm esse dever de lealdade com Sua Excelência, pois são do mesmo Partido, e que se dispõem a entrar com medidas no Supremo Tribunal Federal, argumentando sempre algo que não tem substância, que não é verdadeiro e que, por isso mesmo, mais cedo ou mais tarde, vai cair por terra.

De que adiantou o Senador Tião Viana ter propugnado para não ouvir o caseiro?

Senador Tião Viana, o próprio Governo de que V. Exª participa não se satisfez com a medida que veio do Supremo Tribunal Federal. Queria mais, Sr. Presidente, queria desqualificar o pobre do Francenildo.

Senador Tião Viana, com o maior respeito que tenho por V. Exª, quero dizer que aqui aprendi muito ao ouvir do PT: “Vamos qualificar o debate!”. Isso sempre foi muito usado nesta Casa, em especial pelo Senador Aloizio Mercadante. E demorei a entender, Sr. Presidente, o que significava isso. O significado de “vamos qualificar o debate” é essencialmente “vamos desqualificar o interlocutor”. Foi isso que o Governo tentou e tenta fazer com os aparelhos republicanos, com a Polícia Federal, com a Caixa Econômica Federal. O Governo tenta fazer a desqualificação de um caseiro, porque ele é humilde, é um pobre caseiro.

Assisti aqui à defesa da vida pessoal do Ministro, que não poderia ser de forma nenhuma pública, porque era algo pessoal, e, por isso, não podíamos assistir aqui ao depoimento do caseiro. Mas a vida pessoal do caseiro está escancarada para a Nação, e isso foi feito pelo Partido dos Trabalhadores.

Concedo o aparte, rapidamente, ao Senador Tião Viana e, em seguida, ao nobre Senador Juvêncio da Fonseca.

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Estarei atento ao tempo de que dispõe V. Exª na tribuna. Eu poderia recorrer ao art. 14 do Regimento Interno desta Casa, mas é melhor esta interação democrática com V. Exª, por quem tenho muito apreço. Meu recurso ao Supremo Tribunal Federal deveu-se à defesa de direito individual, da vida pessoal, e a que o Regimento do Senado Federal e a CPI estivessem sob o manto jurídico constitucional. Então, estou absolutamente em paz com o recurso que defendi.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Senador Tião Viana, responda-me: seu Partido respeitou a vida individual e os direitos individuais do Sr. Francenildo?

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Não posso falar isso. Quando foi violado o sigilo bancário dele, houve um ato de violência constitucional ao direito individual. Nesse sentido, não posso dizer que foi o meu Partido ou quem quer que seja que o fez. Isso tem de ser apurado e exemplarmente punido. Mas a minha defesa ao Supremo Tribunal Federal, felizmente, pois acredito que a democracia é o império da Lei, deu-se com a concordância da maioria do Supremo Tribunal Federal. E sei que V. Exª concorda com isso.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Mas esse viés do império da Lei está com as autoridades do PT, com o Sr. Jorge Mattoso, com o Sr. Antonio Palocci, com o Sr. Marcelo Netto?

O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Não. Aprendi, Senador César Borges, a não ter compromisso com o erro de ninguém. Mas aprendi a defender as minhas convicções com absoluta determinação.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Obrigado, Senador Tião Viana.

Sr. Presidente, eu havia prometido conceder apartes aos Senadores Juvêncio da Fonseca e Heráclito Fortes.

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Senador, o tempo de V. Exª está esgotado. Vários outros Senadores desejam usar a palavra. Em seguida, S. Exªs a usarão no seu tempo normal. Agradeço a V. Exª.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Concedo o aparte apenas ao Senador Juvêncio da Fonseca, que eu já havia anunciado.

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Mas ainda pedem apartes o Senador Juvêncio da Fonseca e o Senador Heráclito Fortes. Fica para a próxima vez, por gentileza.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Peço desculpas aos companheiros.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2006 - Página 9571