Discurso durante a 27ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Demissão do Ministro Antônio Palocci, e os fatos que a envolveram. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Demissão do Ministro Antônio Palocci, e os fatos que a envolveram. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 28/03/2006 - Página 9575
Assunto
Outros > HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ADVOGADO, ESTADO DO AMAZONAS (AM).
  • ANALISE, CIRCUNSTANCIAS, DEMISSÃO, ANTONIO PALOCCI, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF).
  • COMENTARIO, LUTA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, DEMOCRACIA, PERIODO, REGIME MILITAR, COMPARAÇÃO, AUTORITARISMO, ARBITRARIEDADE, CONDUTA, ATUALIDADE, AUSENCIA, CONTROLE, SITUAÇÃO, MOTIVO, FISCALIZAÇÃO, OPOSIÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, IMPRENSA, UTILIZAÇÃO, PRERROGATIVA, ESTADO DEMOCRATICO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sem dúvida!

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu tencionava falar, hoje, sobre requerimento que fiz de voto de lembrança em homenagem à memória de um dos maiores democratas que meu Estado já conheceu, o Advogado Aristófanes Castro. Não poderia deixar de mencionar, portanto, essa intenção.

Mas, Sr. Presidente, o Presidente Lula recebeu uma grande lição do líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva. O líder sindical Lula foi preso por uma ditadura, ajudou na construção de um regime democrático neste País, e o Presidente Lula imaginou que a luta do sindicalista Lula tinha sido em vão. Não foi, Senhor Presidente, a luta de Lula e de tantos que, como nós, combatemos o regime de arbítrio não foi em vão, valeu a pena, sim.

Se vigorasse no País uma ditadura, a mesma que prendeu o sindicalista Lula da Silva, preso teria sido o caseiro e impunes teriam ficado os que fraudaram a confiança dos usuários dos serviços da Caixa Econômica, aqueles que fraudaram a expectativa democrática da Nação.

Como a luta do sindicalista Lula da Silva não foi em vão, como não foi a de Ulysses, como não foi a de Tancredo, como não foi a de Covas, não foi em vão, Sr. Presidente, estamos vendo a punição dos culpados, a demissão do Ministro da Fazenda, a demissão do Presidente da Caixa Econômica, os processos a que responderão todos os envolvidos nessa maroteira, da qual, sem dúvida, a meu ver, tinha conhecimento pleno o Presidente da República. Não estamos sendo governados por um neném de colo. Estamos sendo governados por um homem supostamente maduro, que não pode dizer o tempo inteiro que de nada sabia, do que se passava no seu Governo.

Repito, Senador Antero, essa é a grande lição que fica. Reputo o Sr. Antonio Palocci, essa é a minha opinião e não vou fugir da coerência, um dos maiores Ministros da Fazenda que este País já conheceu. E a história vai julgá-lo assim: alguém que não poderia nunca ter mantido todo esse vinculo com situações tão obscuras quanto aquelas que de Ribeirão Preto se espraiaram para Brasília.

Mas, a grande lição que fica, porque todo mundo hoje diz alguma coisa parecida com aquilo que todo mundo está dizendo - e não tenho a pretensão de ser original, mas quero retirar alguma lição desse episódio - a grande lição, Antero de Barros, é que a luta do sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva não foi em vão, a sua prisão valeu a pena, o enfrentamento à ditadura também deu frutos e precisamente àquela altura, quando os que faziam as negociatas no País, apadrinhados pelo arbítrio, apadrinhados pelas limitações ao Congresso, apadrinhados e protegidos pelos atos institucionais, que àquela altura prendiam todos os que se insurgiam contra o regime de força que, no fundo, no fundo, o que queria era eternamente apadrinhar as negociatas e as violações dos direitos da pessoa humana.

A ditadura tinha a sua lógica e contra essa lógica Lula se insurgiu, e, nessa lógica, Lula foi preso. Volto a dizer, Senador Mão Santa e Deputado Eduardo Paes, cuja presença registro com muito afeto nesta Casa: se o sindicalista Lula não tivesse sido vitorioso na luta pela democracia neste País, hoje teríamos o caseiro preso e os culpados inocentados. Como a luta do sindicalista Lula valeu a pena, temos uma democracia reinando nesta Pátria, temos hoje o caseiro inocentado e indo para o acerto de contas com a Justiça os culpados desse episódio torpe.

É uma lição dura que o bravo sindicalista Lula passa historicamente para o Presidente que se mostrou prepotente, que se mostrou fraco, que se mostrou arrogante, que se mostrou tíbio. Parece uma contradição alguém ser tíbio e ser prepotente; alguém ser fraco e ser arrogante. Mas, diziam eles: quem demite é o Presidente Lula; quem nomeia é o Presidente Lula. Para isso, levou cinqüenta e tantos milhões de votos. E eu dizia: isso era antes, quando o Governo tinha pleno controle do País. Agora, quem nomeia continua sendo o Presidente Lula, mas quem demite é a sociedade brasileira. Quem demite esse conjunto que passa pelo Ministério Público vigilante, que passa pela imprensa livre, que passa pelo Congresso, que tem uma Oposição combativa como a nossa, que passa pela vigilância da sociedade, quem demite é a sociedade. Quem demite é a democracia brasileira. Posso dizer que se repetiu a passagem bíblica. Antes, Davi tinha vencido Golias; desta vez, Davi é o caseiro, Davi é a opinião pública, Davi personifica os humildes, Davi venceu os Golias - os Golias, no plural - da prepotência, da arrogância, da fraqueza moral, do esquema de corrupção que tem infelicitado este País!

Mas se começa a fazer justiça, porque a democracia é um regime muito mais distante da injustiça do que a ditadura, que se serve e se alimenta na injustiça, que a faz forte. O que faz mal à democracia é precisamente o brado ditatorial. O que faz mal à ditadura é precisamente o inconformismo dos que, como Lula, não se curvaram a ela no passado, precisamente para que hoje o Presidente Lula não pudesse violentar os direitos de um caseiro para beneficiar os seus poderosos amigos, os seus poderosos companheiros de empreitada infausta para o País.

Era o que eu tinha a dizer.

Sr. Presidente, muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/03/2006 - Página 9575