Pronunciamento de José Agripino em 02/03/2006
Discurso durante a 8ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Comentários sobre as declarações do Presidente da CNBB, a respeito do Governo Lula. (como Líder)
- Autor
- José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
- Nome completo: José Agripino Maia
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA SOCIAL.
IGREJA CATOLICA.:
- Comentários sobre as declarações do Presidente da CNBB, a respeito do Governo Lula. (como Líder)
- Publicação
- Publicação no DSF de 03/03/2006 - Página 6679
- Assunto
- Outros > POLITICA SOCIAL. IGREJA CATOLICA.
- Indexação
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- REITERAÇÃO, CRITICA, POLITICA SOCIAL, GOVERNO FEDERAL, ASSISTENCIA SOCIAL, AUSENCIA, SOLUÇÃO, POBREZA.
- COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, DECLARAÇÃO, AUTORIDADE, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), CRITICA, OMISSÃO, GOVERNO FEDERAL, POLITICA DE EMPREGO, INCENTIVO, PRODUÇÃO, COMBATE, CORRUPÇÃO, FRUSTRAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, PRIORIDADE, LUCRO, BANCOS.
O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Senadora Serys, Srªs e Srs. Senadores, Senador Antonio Carlos Valadares, na quarta-feira passada, antes do Carnaval - não sei se V. Exª estava no plenário -, tive a oportunidade de me manifestar sobre o pífio crescimento de 2,3% do PIB; fazendo uma análise sobre as causas e as conseqüências disso; avaliando a qualidade dos gastos do Governo, dos programas sociais; tecendo comentários positivos sobre o Bolsa-Família, mas fazendo a crítica de que era um programa que, na minha opinião, só tinha porta de entrada e não oferecia porta de saída para os pobres; comentando, até, que esse era um Governo, Senadora Heloísa Helena, que se orgulhava, que se gabava de ter aumentado de 5,4 milhões para 8 milhões o número de inscritos no Bolsa-Família. Ele se gaba de ter aumentado o número de inscritos pobres, quando se deveria orgulhar de poder dizer ao País: “Eu recebi o programa com 5,4 milhões, não permiti que esse número crescesse e ofereci a porta de saída para 300 mil pobres, que deixaram de sê-lo porque lhes dei educação, qualificação profissional e uma oportunidade de emprego. Consegui, com competência, com o meu talento, fazer isso.”. Eu falei sobre tudo isso. Hoje, estamos na “Quinta-Feira de Cinzas” e, nos jornais - praticamente em todos -, uma notícia muito forte está na primeira página.
Veja bem, Presidente Serys, estamos vivendo o último ano do Governo do Presidente Lula.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil é uma entidade que merece o respeito e a reverência de todos nós, porque é apartidária e composta por cidadãos que reputo estadistas. Dom Cláudio Hummes e Dom Scherer são estadistas, são pessoas cuja opinião precisa ser objeto de reflexão - ouvida para ser refletida.
Eu fiz um discurso na quarta-feira e, lamentável e felizmente - as duas coisas -, estou vendo que a CNBB compartilha, pelo menos em boa medida, daqueles conselhos que emiti. Sabe por quê, Senadora Serys? Pelas declarações que vejo, do Secretário-Geral da CNBB, Dom Cláudio Hummes.
A manchete da terceira página do jornal O Globo é: “CNBB a Lula: ‘É preciso ir além.’”. Essa é uma opinião que a CNBB está emitindo no final do Governo Lula. Quem é a CNBB? É uma entidade apolítica, apartidária, mas todos sabemos que a Igreja sempre teve uma nítida simpatia pelo operário Lula, pelo lutador Lula. Todos nós sabemos. Então, a CNBB tem toda a credibilidade para, dizendo uma coisa, merecer reflexão. Trata-se de uma crítica que deve ser considerada com uma força muito grande, porque é a crítica de um simpatizante, de quem torce a favor e não mereceria nunca o que está no fim da página: a manifestação raivosa do Líder do Governo, que reage e cobra propostas.
Na verdade, Dom Odilo Scherer, Secretário-Geral da CNBB, declara: “A população quer saber o que será feito para gerar trabalho, renda e para reduzir a sangria de recursos que acabam nas mãos de grupos financeiros.”.
Dom Cláudio Hummes, Cardeal-Arcebispo de São Paulo, diz: “Esperava-se mais. Em primeiro lugar, a esperança não era muito grande. Mas essa mesma esperança não foi realizada. Ficou muito abaixo das previsões.”. O que ele quer dizer? Mais ou menos o seguinte, Senadora Heloísa Helena: do Presidente Lula se esperava muito mais. Não que Sua Excelência não tenha feito nada. Até admite-se que tenha feito alguma coisa, mas não se esperava de Lula nunca, por exemplo, que comprasse o aerolula. Nunca. Nunca se esperava. E esperava-se que fizesse muito mais em matéria de programa social.
Qual é a avaliação que a CNBB está fazendo e que está retratada nas páginas de todos os jornais, como Folha de S.Paulo, Estadão, O Globo, e Jornal do Brasil? Que a frustração com a questão social, que era o que se esperava de fundamental no Governo Lula, é uma realidade. Frustração em função de quê? Em função de um crescimento que eles atacam. Atacam a política econômica. Eles dizem que o Brasil é, hoje, um paraíso financeiro. Essa é uma realidade insofismável. O lucro dos bancos foi recorde. O absoluto recorde dos últimos 10, 15, 20 anos foi o do ano de 2005, quando o PIB brasileiro cresceu 2,3%, Senador Arthur Virgílio, contra 6,4%, em média, nos países emergentes.
Do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), a quadra que está deixando de existir, Senadora Serys, o Brasil cresceu 2,3%; a Rússia, 6,4%; a Índia e a China cresceram mais do que 10%. A Argentina cresceu 9,1% e todos os nossos companheiros de Bric cresceram no mínimo três vezes o que o Brasil cresceu.
O que deve ser feito, Senador Sibá Machado? O que a CNBB sugere, Senadora Heloísa Helena? Sugere coisas que estão embutidas nas declarações. Sugere aquilo que todo o Brasil sabe: que se melhore a qualidade do gasto. Não se vai consertar este País, nunca, se não se melhorar a qualidade de gasto. Não é comprando avião, não é nomeando cargos de confiança às toneladas, não é multiplicando por algumas vezes a terceirização no serviço público, não é gastando mais em passagem e diária na Funasa do que em investimentos na saúde que se vai dar o bom exemplo ao Brasil. A qualidade do gasto do Governo Lula é o que há de pior.
O que eles querem dizer - a CNBB, Dom Cláudio Hummes e Dom Odilo Scherer - é que na educação não houve progresso. Até que vínhamos andando bem com o Ministro Paulo Renato, mas o bom andamento parou no tempo. Então, aquilo que se quer, ou seja, abrir uma porta para que o pobre deixe de sê-lo, pela via da educação, não está ocorrendo neste Governo.
E a geração de emprego? “Ah, geramos 3,7 milhões de empregos.” Poderiam ter gerado muitíssimo mais e boa parte desse número foi de transformação de empregos informais em formais. Se tivéssemos crescido o que a Argentina ou o Peru cresceram, teríamos oferecido os milhões de empregos que se esperavam do Governo Lula.
Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero destacar a declaração de uma entidade, a CNBB, que fala ao País, que chama a atenção de um Governo pelo qual - tenho certeza - ela torcia, torce e acredito que vá continuar torcendo, porque todos queremos que o Brasil continue a crescer, mas que mostra os equívocos de comando do Governo, os equívocos de quem não está sabendo o que é preciso fazer. Geração de emprego e renda não é atitude para governo principiante. Governo que cria um Programa como o do Primeiro Emprego e que se perde nas ONGs Ágora da vida não tem competência para governar. Qualquer governo que, em seu programa, queira jogar o País para frente tem de, em primeiro lugar e acima de qualquer coisa, botar na cabeça que política econômica tem de servir não a governo, mas, sim, à sociedade. Se a taxa de juros é o instrumento de correção de rumos, ela tem de estar subordinada ao bem-estar dos cidadãos. Portanto, a continuidade de um programa de governo tem de estar submetida a esses pressupostos.
(A Srª Presidente faz soar a campainha.)
O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Já encerro, Srª Presidente.
Após o período do carnaval, hoje retomamos os nossos trabalhos, e aqui estou para fazer um comentário sobre o que disse a CNBB, que coincide exatamente com o que eu disse na quarta-feira passada. Na minha opinião, o Governo Lula comete grandes equívocos. E, nos equívocos que comete, o Governo perde um tempo que não mais se recuperará. Refiro-me ao tempo da bonança de um mundo que está crescendo em função da capacidade de compra do mundo desenvolvido, e o Brasil perde essa oportunidade. A Índia, a China, a Rússia, os países emergentes estão seguindo em frente, e o Brasil está ficando para trás, pela falta de talento que, neste momento, está sendo denunciada pelos próprios companheiros, por aqueles que torciam por este Governo, como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.