A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, já tive oportunidade de, brevemente, tratar do tema, e o farei hoje da mesma forma também, tentando adequar-me aos poucos cinco minutos a que tenho direito pela Liderança.

Mais uma vez, algumas revistas, jornais e documentos estão sendo disponibilizados sobre o acordo da Telemar com a empresa Gamecorp, que tem como um dos sócios o filho do Presidente Lula.

Se se tratasse de um problema pessoal do filho do Presidente Lula, eu jamais tocaria no assunto, na tribuna. Se o filho do Presidente Lula estivesse, por exemplo, envolvido com drogas, eu ficaria temerosa de que o meu filho estivesse também, e acolheria o filho de Sua Excelência da mesma forma que acolheria o meu filho se ele estivesse envolvido em um grande problema pessoal. Então, não se trata de problemas pessoais.

Lembro que recebi vários e-mails informando que um dos filhos do Presidente estava respondendo pela Internet que, enquanto era contratado pelo PT para prestar serviços à distância, estava vagabundeando, tentando terminar a faculdade, fingindo que trabalhava um pouco. Para mim, isso era um linguajar usado pela juventude na Internet. Se ele era pago pelo partido, não sendo do Fundo Partidário, que é dinheiro público, mas com as contribuições dos militantes e dos dirigentes partidários, só a eles caberia repudiar. Do mesmo jeito, quando eu era militante e perguntavam: “O Lula não trabalha, ele é sustentado como?” Eu respondia: É sustentado com o meu salário, com um percentual que eu dou do meu salário. Portanto, eu sabia. É lógico que, depois, foi um estado de tristeza profunda quando eu descobri que a minha contribuição, do meu salário, acabava, de alguma forma, servindo para lavar dinheiro que era utilizado pela cúpula palaciana, por alguns do PT; eles acabavam usando isso para fazer negócios sujos no Banco Rural e em outras coisas mais. A garantia que era dada para os supostos créditos, empréstimos, era justamente isso.

Agora, esse caso é grave. E retomei esse assunto porque acho que todo mundo viu na imprensa o que vai acontecer com o filho do Primeiro-Ministro Ariel Sharon, que seria condenado a cinco anos de cadeia. A única concessão que a Justiça a ele deu foi não ser preso agora, porque o pai está internado em estado grave, inconsciente, mas ele será condenado a no mínimo dois anos de cadeia, porque era o tesoureiro da campanha do pai e está envolvido com caixa dois. Portanto, o filho do Primeiro-Ministro Ariel Sharon já está condenado, será preso, e a concessão que a Justiça fez é que não será preso agora, mas, no máximo, em agosto, se o pai não sair do estado de coma antes.

E aí é importante deixar claro que a Telemar - e sabemos de todo o processo, que denunciávamos, de corrupção que foi o processo de privatização da telefonia, ao qual, infelizmente, o Presidente Lula deu um atestado de moralidade porque não abriu uma auditoria, um procedimento investigatório, nada - não é uma empresa privada como outra qualquer. Não é um bodegueiro, com todo o respeito aos bodegueiros. Não é. A Telemar não é uma empresa privada como outra qualquer. Ela atua na área de telefonia fixa por concessão pública. O BNDES, que é um banco público, possui representante no Conselho de Administração da Telemar; tem 25% de participação de um grupo econômico, que, por sua vez, tem 18,8% do capital da Telemar. Então, é um banco público que tem lá um lugar no Conselho de Administração da Telemar, e é sócio, porque tem 25% das ações de uma empresa que é do grupo.

O negócio foi intermediado por uma empresa de auditoria e consultoria de um amigo pessoal do Presidente Lula, que é membro do Conselho de Ética Pública da Presidência da República. Por sua vez, essa mesma empresa de consultoria e auditoria prestou uma consultoria à Petros - e diz a Associação Nacional dos Participantes da Petros que foi uma licitação suspeita, mas deixemos isso de lado - e fez a intermediação para que a Telemar se tornasse sócia da empresa do Presidente Lula. Essa empresa de consultoria participou de uma prestação de serviços da Petros, fundo de pensão da Petrobras, que tem como um dos principais conselheiros o pai dos dois outros sócios da empresa do filho do Presidente Lula. Um dos outros controladores da Telemar é um conhecido empreiteiro, amigo e compadre do Presidente Lula.

A Telemar tem parcerias com quarenta grupos no chamado ramo de jogos e conteúdo multimídia. Tem parcerias com quarenta outros. A única empresa com que ela efetivou sociedade foi justamente a do filho do Presidente Lula, que tem como outros dois sócios os filhos de importante conselheiro do fundo de pensão da Petrobras.

A Telemar informou à Comissão de Valores Mobiliários que R$15 milhões era besteira. Quinze milhões é o dinheiro que a Telemar acabará investindo até o meio deste ano na empresa do filho do Presidente Lula, e eles informaram à Comissão de Valores Mobiliários que isso é insignificante diante do faturamento da empresa.

A grande pergunta que tem de ser feita é: a Telemar investiria R$15 milhões em uma empresa pequena, cujo capital inicial do filho do Presidente Lula era de R$25 mil? A Telemar investiria? Essa é a pergunta que tem que ser feita.

Eles disseram que não poderiam disponibilizar todas as atas, que acabaram motivando o acordo e a compra das ações, em nome do chamado acordo de confidencialidade. Só que eles tiveram acesso à composição societária da Game Corp antes de fechar o acordo. Eles disseram que tinham tido acesso às informações em setembro de 2004. Entretanto, a reunião que fechou o acordo foi em janeiro de 2005, quando eles já sabiam a composição societária da Game Corp.

É importante que isso fique claro, Srs. Senadores, porque, repito, sei que o Congresso Nacional, em muitos momentos, não funciona como uma Casa séria; dispõe-se a ser medíocre anexo arquitetônico dos interesses do Palácio do Planalto. O Congresso Nacional, em muitos momentos, se predispõe a ser um dos lados do vexatório e vergonhoso balcão de negócios sujos estabelecidos pela promiscuidade Palácio do Planalto/Congresso Nacional.

Entretanto, é essencial que possamos estabelecer os procedimentos investigatórios para responder à sociedade, ao povo brasileiro, como o seu dinheiro público está sendo usado.

E digo isso com a tranqüilidade de uma mãe que quer continuar ensinando aos seus filhos que é proibido roubar. Do mesmo jeito, sinto-me impedida de arranjar um estágio para o meu filho em qualquer espaço, para que com isso não se venha a dar qualquer conotação de tráfico de influência, exploração de prestígio, intermediação de interesse privado, corrupção ativa e passiva, portanto, todo o banditismo e vigarice muito associada ao mundo da política. Como quero continuar ensinando aos meus filhos que é proibido roubar, estou, mais uma vez, desafiando a este Senado, a este Congresso Nacional, que muitas vezes funciona como um dos lados do podre balcão de negócios sujos e da promiscuidade com o Palácio do Planalto, que ao menos se predisponha a abrir um procedimento investigatório para explicar ao povo brasileiro por que o filho do Presidente Lula tinha R$20 mil em papel, como parte da sociedade da Game Corp, e, de repente, conseguiu R$15 milhões de investimentos da Telemar.

É só, Srª Presidente