Discurso durante a 30ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Repúdio às declarações do Senhor Louis Michel, Comissário Europeu do Desenvolvimento, contrárias à liderança de nosso País no setor do biocombustível.

Autor
Valdir Raupp (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Valdir Raupp de Matos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ENERGETICA.:
  • Repúdio às declarações do Senhor Louis Michel, Comissário Europeu do Desenvolvimento, contrárias à liderança de nosso País no setor do biocombustível.
Publicação
Publicação no DSF de 30/03/2006 - Página 10078
Assunto
Outros > POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • CRITICA, DECLARAÇÃO, COMISSARIO, NACIONALIDADE ESTRANGEIRA, OPOSIÇÃO, LIDERANÇA, BRASIL, PRODUÇÃO, COMBUSTIVEL ALTERNATIVO.
  • COMENTARIO, HISTORIA, OLEO DIESEL, IMPORTANCIA, PRODUÇÃO, Biodiesel, UTILIZAÇÃO, MATERIA-PRIMA, REGIÃO, BRASIL, BENEFICIO, ECONOMIA NACIONAL, CRIAÇÃO, EMPREGO, POPULAÇÃO, GARANTIA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR VALDIR RAUPP (PMDB - RO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil foi surpreendido, dias atrás, com declarações do Sr. Louis Michel, Comissário Europeu do Desenvolvimento, contrárias à liderança de nosso País no setor do biocombustível.

Entre outras sandices, Sr. Presidente, o Comissário Europeu do Desenvolvimento disse que “o Brasil representou uma desvantagem grave no desenvolvimento deste tipo de produto em países menos avançados, como por exemplo nas Ilhas Maurício, que tentaram impulsionar o bioetanol e não conseguiram competir com o combustível brasileiro”. E o senhor Louis Michel reforçou sua acusação insistindo naquele que, em sua opinião, é o grande dano, provocado pelo biocombustível brasileiro, aos demais países do mundo: “ele tem vantagens competitivas enormes”.

A acusação seria apenas cômica, Srªs e Srs. Senadores, se não revelasse uma série de outras características: petulância, inveja e, pior que tudo, desconhecimento dos níveis mínimos de diplomacia e civilidade exigidos do ocupante de um cargo como o de Comissário Europeu do Desenvolvimento.

Então, Sr. Presidente, um País é criticado exatamente por ter direcionado sua política energética, ao longo de décadas, para a busca de fontes renováveis? Mas não seria essa, no campo da energia, a receita do sucesso? Ou o que devemos condenar, simplesmente, é o sucesso, com o argumento tosco de que os bem-sucedidos atrapalham o progresso dos malsucedidos? A ser válida tal posição, seria o caso de condenarmos o Japão pelo sucesso de sua indústria automobilística? Ou os Estados Unidos, pelo sucesso na área de informática?

No Brasil, Sr. Presidente e Srªs e Srs. Senadores, temos seguramente nossas mazelas. Muito temos pecado pela falta de planejamento e visão estratégica. No que se refere, porém, à matriz energética - e observem que falo apenas de matriz energética, do balanço entre fontes renováveis e não renováveis de energia -, não fomos dos mais imprevidentes.

Já na década de 1920, o Instituto Nacional de Tecnologia testava combustíveis alternativos aos derivados do petróleo, como o álcool da cana-de-açúcar. Décadas mais tarde, a necessidade de fazer frente às crises do petróleo nos levou ao Pró-Álcool, que, digam o que disserem, foi, sim, um programa bem-sucedido.

Hoje, Sr. Presidente, todos os caminhos se abrem ao biodiesel. O que só confirma, por sinal, as palavras proféticas do doutor Rudolf Diesel, que desenvolveu o motor que leva seu nome em 1895, o qual, por sua vez, foi exibido na mostra mundial de Paris em 1900, usando óleo de amendoim como combustível. Pois bem! Em 1911, Rudolf Diesel afirmou que “o motor diesel pode ser alimentado com óleos vegetais e ajudará consideravelmente o desenvolvimento da agricultura dos países que o usarão”.

No Brasil, as cadeias produtivas dos diferentes óleos estão sendo avaliadas, para que, em pouco tempo, as matérias-primas típicas de cada Região sejam completamente exploradas. A soja, Srªs e Srs. Senadores, poderá ser fonte de biodiesel em todo o País. Na Região Norte, utilizaremos também o dendê, o babaçu e a gordura animal; no Nordeste, além desses, a mamona, o algodão, o coco e o óleo de peixe. Nas demais regiões, muitas dessas fontes serão usadas, abrindo-se espaço ainda para o girassol e, no caso específico da Região Sul, para a colza.

Todo esse esforço, evidentemente, trará benefícios econômicos a nosso País: a substituição total do diesel importado, hoje ainda na faixa de 10% do consumo; a geração de milhares de empregos diretos e indiretos, em especial nas regiões menos desenvolvidas; e reflexos positivos na balança comercial, na medida em que formos capazes de exportar nossa produção excedente para os países interessados.

Não menos importantes, porém, são os impactos ambientais, e aqui passamos a falar de algo que interessa não apenas ao Brasil, mas ao Planeta como um todo. Ao investir pesadamente no biocombustível, Sr Presidente, Srªs e Srs. Senadores, nosso País não fará nada mais que confirmar sua vocação para o desenvolvimento sustentável. Nunca é demais lembrar que no Brasil, atualmente, 44% da energia gerada provém de fontes renováveis. Isso, enquanto no resto do mundo, vejam só, 85% da energia consumida é de origem fóssil. Em artigo publicado na revista Eco 21, a pesquisadora Ivonice Campos alerta que “a contribuição do Brasil na emissão de gás carbônico para a atmosfera é de 0,41%, enquanto que a dos Estados Unidos, China, Alemanha, Rússia e Japão soma 65%”.

Em síntese, Sr. Presidente: nessa questão da matriz energética, estamos no caminho certo. E, justamente por estarmos no caminho certo, o de que menos precisamos, neste momento, são puxões de orelha ou chamamentos à sabotagem de nosso trabalho.

Faria melhor o Sr. Louis Michel se seguisse o exemplo do economista Ignacy Sachs, defensor da idéia de que o biocombustível traz “uma chance histórica para o Brasil, que tem experiências acumuladas ao longo de trinta anos com o Pró-Álcool e a maior biodiversidade do mundo, com amplas reservas de solos produtivos, recursos hídricos e climas diversificados”.

Faria melhor o Sr. Louis Michel se seguisse o exemplo de Bono Vox, vocalista da banda U2, que veio a Brasília há poucos dias e elogiou os esforços do Brasil no desenvolvimento do biodiesel.

Se não quiser seguir tais exemplos, que ao menos nos deixe em paz, para que possamos, soberanamente, cuidar de nosso desenvolvimento econômico e contribuir para a preservação do meio ambiente em escala mundial.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado!


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/03/2006 - Página 10078