Discurso durante a 31ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários ao artigo intitulado "Cobertor curto e imagem puída", de autoria da jornalista Eliane Cantanhêde, publicada no jornal Folha de S.Paulo, edição de hoje.

Autor
Efraim Morais (PFL - Partido da Frente Liberal/PB)
Nome completo: Efraim de Araújo Morais
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Comentários ao artigo intitulado "Cobertor curto e imagem puída", de autoria da jornalista Eliane Cantanhêde, publicada no jornal Folha de S.Paulo, edição de hoje.
Aparteantes
Garibaldi Alves Filho, Heloísa Helena, Heráclito Fortes, José Agripino, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 31/03/2006 - Página 10475
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMENTARIO, OFENSA, REPUTAÇÃO, EMPREGADO DOMESTICO, ALEGAÇÕES, TENTATIVA, EXTORSÃO, ASSESSOR, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), REU, IMPROBIDADE, RELATORIO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
  • QUESTIONAMENTO, OBSTACULO, INVESTIGAÇÃO, QUEBRA DE SIGILO, PRESIDENTE, SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE), VINCULAÇÃO, CORRUPÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Aos que me perguntaram se V. Exª era meu primo, eu disse que era legítimo.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL. Fora do microfone.) - Eu também sou Morais.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - A Senadora Heloísa Helena também é Morais. Então, a família Morais está reinando nesta Casa, já que V. Exª está na presidência.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, serei rápido. Vou simplesmente fazer o registro aqui de uma matéria que considero da maior importância, pelos fatos acontecidos recentemente, principalmente em relação à CPI dos Bingos.

Refiro-me à coluna da brilhante e extraordinária jornalista Eliane Cantanhêde, na Folha de S.Paulo de hoje, intitulada “Cobertor curto e imagem puída”:

Se o ex-Ministro Palocci está sendo investigado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, pela Polícia Civil e pela CPI dos Bingos, o caseiro Francenildo que se cuide. A guerra não acabou.

O Planalto está assustado com os efeitos nas próximas pesquisas eleitorais [Aliás, ultimamente só é com isso que ele se tem preocupado!], já mais do que previstos, de toda a violência-agressão-burrice da violação do sigilo bancário de Francenildo, levado de bandeja pelo Presidente da CEF à casa do então Ministro da Fazenda. E vai reagir indo novamente para o ataque.

Usando as palavras de V. Exª, Senador Mão Santa, eu diria: Atentai bem, Srs. Senadores, atentai bem, Senadora Heloísa Helena, pediria a V. Exª que, ao lado do Senador Sibá Machado e do Senador Heráclito Fortes, atentassem bem para esse artigo que estamos lendo, de autoria da jornalista Eliane Cantanhêde:

A mais nova versão em Brasília é que Francenildo “não é esse santinho” que quer parecer e já teria inclusive tentado extorquir o tal do Ademirson, que era assessor de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto, animado freqüentador da “casa do lobby” e assessor também do Ministério da Fazenda. O Governo faz das tripas coração para tentar comprovar a extorsão.

Pois bem, vou parar a minha leitura por aqui. Peço que seja transcrita na íntegra essa peça da Eliane Catanhêde. Até agora o Ademirson tem sido bonzinho para o ex-Ministro, calou-se na CPI dos bingos, mas, quando quebramos o sigilo bancário dele, Senadora Heloisa Helena, a verdade apareceu. E o eminente Senador Garibaldi Alves, Relator da CPI dos Bingos, já teve aprovado o seu primeiro relatório, o relatório parcial sobre a GTech, que fala do Sr. Ademirson.

É bom que o Brasil todo entenda que vão começar agora a criar um cidadão, um babão do Governo para que ele comece a tentar a denegrir a imagem desse trabalhador brasileiro. E, quero dizer, desde já, que este Congresso Nacional, por muitos dos Srs. Senadores e Senadoras, não permitirá que esse cidadão seja agredido mais uma vez pelo Governo. Já agrediram toda a sua vida, foram do Piauí, onde nasceu esse cidadão, até Brasília procurando a história desse rapaz e nada conseguiram porque ele é um cidadão sério, honesto, trabalhador e que teve a coragem de falar a verdade, coisa que esse Governo não aceita e não gosta de fazer.

Pois bem, é preciso que todo o Brasil saiba quem é esse cidadão que vão tentar usar contra o caseiro Francenildo, o tal de Ademirson, que era chefe de gabinete de Palocci em Ribeirão Preto, é da República de Ribeirão Preto, veio para o Ministério da Fazenda, era freqüentador assíduo da casa do lobby. Esse cidadão foi citado pelo Relator da CPI dos Bingos, Senador Garibaldi Alves, em seu relatório parcial sobre a GTech: Ademirson Ariovaldo da Silva, rapazinho de fala mansa, rapazinho bem comportado, que guarda segredo como um túmulo. Baseado em documentos que estavam à disposição da CPI e foram analisados pelo Senador Garibaldi Alves, o relatório foi colocado em discussão e votação e foi aprovado na CPI dos Bingos, faltando apenas destaques - mas não há nenhum destaque favorável ao Sr. Ademirson. A própria Base do Governo não se preocupou em melhorar a condição do Sr. Ademirson na CPI.

Os Ademirson Ariovaldo da Silva está incurso nos arts. 288 (formação de quadrilha), e art. 317 (corrupção passiva), do Código Penal. Vou repetir: o Sr. Ademirson Ariovaldo da Silva, no relatório parcial votado na CPI dos Bingos, está incurso no art. 288, por formação de quadrilha, e no art. 317, por corrupção passiva, do Código Penal; no art. 92 da Lei nº8.666, de 1992, (crime contra o procedimento licitatório), combinado com art. 29 do Código Penal; e no art. 10, inciso XII, e art. 11, inciso I, da Lei nº8.429, de 1992 (improbidade administrativa).

Parece-me que está enquadrado em todos os artigos do Código Penal. Está aqui: incurso em formação de quadrilha, corrupção passiva, crime contra procedimento licitatório e improbidade administrativa.

Ora, Srªs e Srs. Senadores, é exatamente esse cidadão que querem colocar como escudo para proteger o Governo, porque o Sr. Palocci já está demitido e terá agora que se cuidar com a Justiça.

O Sr. Jorge Mattoso mentiu para todos, inclusive para uma comissão da CPI, formada pelos Senadores Flávio Arns, Alvaro Dias e Wellington Salgado de Oliveira. A comissão, representando a CPI dos Bingos, foi até Mattoso e este mentiu. Então, Srs. Senadores, devo dizer que é bom encontrarem outro.

Dou um conselho a esses que tentam desviar o foco das notícias e da verdade: pelo menos procurem saber quem é a pessoa que estão procurando! Estão querendo um cara que está com pedido de indiciamento em quatro artigos do Código Penal! É muita incompetência! É como diz a jornalista Eliane Catanhêde: “O Planalto está assustado com os efeitos das próximas pesquisas eleitorais, já mais do que previstos, de toda a violência-agressão-burrice da violação do sigilo...”

Senador Garibaldi Alves, meu caro e querido Relator!

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador Efraim, V. Exª tem inteira razão, até porque, depois dessa sugestão de indiciamento do Sr. Ademirson, a situação só fez se agravar com relação a ele e com relação ao grupo de Ribeirão Preto. Se já havia a participação de Ademirson, ela se multiplicou, agravando-se ainda mais a situação dele e de todo o grupo. Daí por que creio que a jornalista Eliane Cantanhêde vai dar o devido tratamento a esses fatos, como já começou a fazê-lo, conforme V. Exª está relatando.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Quero, inclusive, Senador Garibaldi, ao agradecer o aparte de V. Exª, dizer que temos de agradecer não só à Eliane Cantanhêde, mas à imprensa de forma geral, que tem nos ajudado a dar continuidade às investigações. São fatos dessa natureza que podemos...

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Já vou conceder-lhe.

São por fatos dessa natureza que podemos mostrar ao Brasil inteiro como o Governo está agindo contra o cidadão Francenildo dos Santos, homem simples, homem trabalhador, mas que tem o que muita gente neste Governo não tem: é honesto e fala a verdade.

Concedo um aparte ao Senador Heráclito Fortes; em seguida, ao Senador Sibá e, depois, ao Senador Agripino.

Sr. Presidente, peço a V. Exª mais cinco minutos para concluir.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Mais uma vez, louvo, aqui, a eficiência da TV Senado. Recebi o telefonema de um funcionário do Ministério da Fazenda, que não quer se identificar para não sofrer punições, que me alerta para um fato: o Sr. Ademirson está afastado do Ministério desde novembro, embora receba seus salários, em torno de R$10 mil, regularmente. Mas, desde o momento em que ficou exposto, ele tirou férias. A pessoa crê que ele esteja em Ribeirão Preto, mas que não tem...

(Interrupção do som.)

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - (...) freqüentado o Ministério. Torna-se um pouco mais difícil a tese da chantagem para um homem que estava fora de Brasília durante tanto tempo. A não ser que o caseiro já seja importante desde a época da posse do Presidente Lula, e não sabíamos.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Agradeço a V. Exª e lhe digo que o Sr. Ademirson - informação que traz V. Exª - esteve na CPI e, quando lá esteve, não foi exonerado. Ele pode estar prestando serviços lá, em Ribeirão Preto.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - A informação é exatamente esta: ele não foi exonerado, mas não aparece.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Não quero, aqui, responsabilizar o Sr. Ademirson, não! Ele pode ser o instrumento usado pelo Governo.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Concordo com V. Exª. Um laranja para servir de bode expiatório. Concordo com V. Exª.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - E não que ele esteja fazendo isso de livre e espontânea vontade. De forma nenhuma.

(Interrupção do som.)

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Ele está sendo usado, mais uma vez, pelo Governo, como outros que tentaram e não conseguiram.

Na verdade, Senador Sibá, a quem terei o prazer enorme de ouvir, a tal da mentira tem pernas curtas!

V. Exª tem a palavra.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador Efraim, sobre o caseiro eu já havia dado a minha opinião muito antes de haver todos esses imbróglios. Aliás, V. Exª, depois de ouvir meu discurso naquele dia, até o respondeu, não em aparte, mas quando pediu a palavra pela ordem. Naquele momento, eu me dei o direito de desconfiar de que o caseiro poderia, sim, estar sendo influenciado a prestar depoimento. Falar do Ministro Palocci, isso ocorre não é de hoje. Falava-se dele já há algum tempo. E, somente de uma hora para outra, ele resolveu, então, se pronunciar.

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Imaginei que V. Exª fosse passar os cinco minutos!

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Não. Maquiavel diz: “Na hora de dar, dê devagarzinho para ir saboreando; na hora de fazer o mal, faça de uma vez”.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - É porque tem gente fazendo o mal aos poucos também!

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Senador Sibá.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Então, sobre isso, pronunciei-me naquele momento. Creio que, quando vem à tona uma quebra de sigilo daquela natureza, todos nós abominamos. Mas, inevitavelmente, eu ia pedir a quebra do sigilo bancário do caseiro para saber se ele havia recebido alguma participação financeira que pudesse comprometer a idoneidade do seu depoimento. Era essa linha que eu estava me colocando: se isso poderia comprometer a seriedade do depoimento dele. Inclusive, V. Exª está aqui dizendo que o depoimento foi sério, porque o cidadão foi lá e falou. Quero dizer que...

(Interrupção do som.)

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - (...) deponho contra a atitude de quem se interessou em fazer uma quebra ilegal de sigilo. Isso jamais pode acontecer. E não se pode deixar passar esse fato em branco. Concordo. Mas, em relação ao caseiro, eu estava - e continuo - desconfiado de alguns dos depoimentos que prestou à imprensa, da forma como falou inicialmente ao jornal Folha de S.Paulo. Depois, na véspera de sua vinda à Comissão, deu uma coletiva. Estamos acostumados com CPIs nesta Casa. Participei de quatro naquele ano. Vemos pessoas extremamente seguras que, ao sentarem na cadeira para prestar um depoimento, muitas vezes titubeiam. Tanto é que a linha das perguntas...

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Principalmente quando o cidadão chega até lá com um habeas corpus ou de posse de uma liminar, ou quando está mentindo. Quando vem para mentir, fica nervoso.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Em qualquer nível. Sentar-se naquela cadeira não é simples não; modifica o ar de tranqüilidade de qualquer um.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me concede um aparte?

(Interrupção do som.)

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Deixe-me concluir meu pensamento, senão ficará um debate como o do...

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - V. Exª quer referir-se ao Senador Suplicy? Por favor, poupe o Senador Suplicy.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Estou falando do Senador Arthur Virgílio. Acabou havendo um debate dentro do discurso de S. Exª.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - V. Exª continue com a palavra, Senador Sibá Machado.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Então, apenas quero dizer a V. Exª que, sobre esse aspecto, achei importante a medida adotada pelo Senador Tião Viana, quando fez o pedido da quebra do sigilo do caseiro. Entendi que poderíamos ter feito isso normalmente dentro da nossa CPI - a CPI, com certeza, faria isso - e poderíamos ter uma informação dessa natureza, que acabou por sair de forma normal, tranqüila, legal e oficial. Portanto, digo para V. Exª que ainda estou querendo, ainda gostaria de ter um conhecimento mais profundo de como se deu a transferência dos R$25 mil daquela conta bancária, porque isso também, sendo uma realidade, prejudica, sim, a seriedade do depoimento...

(Interrupção do som.)

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - (...) que poderá elucidar muitos fatos. Mas, se isso não for possível, com certeza será colocado, de uma vez por todas, numa situação difícil o nome de uma pessoa que tanto respeito, que é o Ministro Antonio Palocci.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Agradeço a V. Exª e quero lhe dizer...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Efraim!

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Senador, já lhe concedo um aparte; em seguida eu o concederei ao Senador Agripino.

Quero dizer apenas, Senador Sibá, que o pensamento de V. Exª, a dúvida que tem V. Exª, creio, nenhum brasileiro tem mais, a não ser os Parlamentares da Base do Governo - alguns. Mas devo dizer a V. Exª que não vejo a mesma veemência de V. Exª e dos Senadores e Deputados do Governo em relação à quebra de sigilo do Sr. Paulo Okamotto, que é um funcionário do Governo, que é um homem público, que devia ter sua vida transparente. Enquanto um cidadão comum, um trabalhador brasileiro, um trabalhador que tem vários anos de carteira assinada, vem, fala a verdade, se diz à disposição...

(Interrupção do som.)

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - (...) da Justiça, de todo o Brasil... Creio que não há dúvida, e autoriza. A CPI está solicitando. Ela autorizou a quebra de seu sigilo bancário, fiscal e telefônico, diferentemente do Sr. Paulo Okamotto, que se esconde até para não ser notificado a vir a uma acareação.

É isso que o Governo tem de explicar. É essa situação que o Brasil quer saber. Espero que V. Exª, com a mesma veemência com que tenta desconfiar do caseiro, em alguns casos, possa convencer o Sr. Paulo Okamotto a autorizar a quebra do seu sigilo bancário. É isso que o Brasil não está entendendo. É isso que o Senhor Presidente da República e o Governo estão protegendo. Para quebrar o sigilo bancário de um caseiro, sem autorização judicial, o Governo do Presidente Lula e do PT não teve nenhuma dificuldade. Agora, quebrar o sigilo bancário de uma das maiores autoridades, o presidente nacional do Sebrae, que é amigo e compadre do Presidente da República, que pagou contas do Presidente da República e da sua filha, não pode.

Aí, é preciso usar uma palavra que o Partido de V. Exª costumava usar, no passado, e agora não usa mais: igualdade. Hoje, para o PT, igualdade só é de presidente de Sebrae para cima, de banqueiros e outras coisas mais. Quanto ao trabalhador, não há mais essa preocupação.

Concedo um aparte ao Senador José Agripino.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Efraim Morais, V. Exª aborda o tema com propriedade e até com autoridade de Presidente da CPI dos Bingos, que investiga, dentre outros assuntos, esse a que V. Exª se refere, mas eu queria acrescentar uma preocupação minha e que acho que vai ser de muitas pessoas. Veja bem, a grande preocupação que temos que passar a limpo, a grande preocupação das nossas investigações é de onde surgiu a ordem para que o sigilo do Francenildo fosse quebrado. Qual foi o fato gerador? Depois que Francenildo saiu do depoimento na CPI e lhe foi oferecida, pelos membros da CPI, garantia de vida pela Polícia Federal, ele foi à PF, ao Serviço de Proteção à Testemunha, e, lá, pediram e pegaram a cópia do número da sua conta bancária na Caixa Econômica Federal. Tudo começou aí. Quem é o superior hierárquico da Polícia Federal? É o Ministro da Fazenda? É o Banco Central? É a Caixa Econômica? Ou é o Ministério da Justiça? É o Ministério da Justiça. O Supremo Tribunal Federal, numa ação ocorrida em tempo recorde, interrompeu o depoimento de Francenildo. O Senador Tião Viana entrou com uma ação. O Senador Tião Viana é um bom prócer, mas, para que aquela operação tivesse ocorrido com tanta presteza, era preciso uma força maior, supõe-se, para que aquelas ações se concatenassem mais rapidamente. Veja V. Exª: a quebra do sigilo não poderia jamais ter ocorrido por uma injunção da Polícia Federal junto ao Sr. Jeter, Gerente da Caixa, à Srª Sueli, Superintendente da Caixa, ao Sr. Schumann, Assessor Especial do Presidente da Caixa, e ao Sr. Mattoso. A Polícia Federal não se reporta à Caixa Econômica, mas a Polícia Federal se reporta ao Ministério da Justiça. Quem me assegura que o numerozinho da conta do Francenildo não foi entregue ao Ministro da Justiça, que teria repassado ao Ministro Palocci, que teria entrado em contato com a Caixa Econômica, que teria obtido os dados que terminaram em uma revista de circulação nacional. Onde está a origem da quebra do sigilo? Está no Ministério da Justiça? Está no Ministério da Fazenda? Está nos dois? Está no Governo Lula? Está no Palácio do Planalto? Onde está? Esse é o “x” da questão e essa é a razão maior da nossa investigação na CPI dos Bingos.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - V. Exª tem razão, Senador Agripino, meu Líder com muito orgulho. Quero dizer a V. Exª que vamos continuar com a investigação. O Supremo Tribunal Federal concedeu liminar proibindo a continuidade do depoimento do caseiro. Só. Nós cumprimos exatamente o que determinou o Supremo, mas com as investigações nós vamos continuar e, para isso, preciso do apoio do Senador Sibá Machado, que é membro daquela CPI e a tem honrado, e de vários outros membros do PT, para que na próxima semana possamos retomar os trabalhos, convocando, Senador Mão Santa, exatamente o Sr. Jorge Mattoso, ex-Presidente da Caixa Econômica. Não vamos repetir toda essa ladainha, mas sabemos que ele tem muito a esclarecer, inclusive porque mentiu à CPI.

Ouço a Senadora Heloísa Helena e, em seguida, o Senador Heráclito Fortes, para que eu possa concluir.

Sinto, Senador Sibá Machado, que o Senador Mão Santa já esteja com todo o tempo.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - A Senadora Heloísa Helena, gentilmente, está invertendo a ordem dos apartes. Eu gostaria apenas de fazer um questionamento, Senador Mão Santa, que preside esta Casa. O caseiro Francenildo e o Senador Sibá Machado têm origens parecidas. Ambos são do Piauí, ambos da zona rural, ambos da periferia de Teresina e ambos são vencedores. O Senador Sibá Machado, numa carreira meteórica, saiu da sua cidade, vizinha a Teresina, foi para a capital, de lá para São Paulo, ganhou o mundo, hoje é Senador e está aqui. Disseram-me que V. Exª, desde o começo da vida falou bem, sempre arguto, sempre com resposta pronta, daí por que fez tanto sucesso não só nos movimentos sociais e nos movimentos católicos, como também nesta Casa. Esse dom que V. Exª tem não podemos negar a um outro conterrâneo seu. O fato de ele responder com presteza não significa que esteja corrompido, não significa dizer que ele esteja a serviço de “a” ou de “b”. Portanto, Senador Sibá Machado, eu teria, hoje, o sono tranqüilo e o sono dos justos se V. Exª, de maneira bem clara, dissesse o que o faz desconfiar desse rapaz, trabalhador como V. Exª e que votou no candidato dos trabalhadores por convicção, na última eleição. Ele pedia até, de maneira simples, que o seu sigilo eleitoral fosse quebrado para ver em quem ele votou na última eleição. Por quê? Qual é a desconfiança? A serviço de quem esse rapaz poderia estar e por quê? Esse rapaz teve a vida devassada. Eu já ouvi V. Exª contar aqui, algumas vezes, os perigos que passou no interior do Pará, nos movimentos dos Sem-Terra, com troca de bala e V. Exª se protegendo. Eu vejo esse rapaz na mesma posição de V. Exª, hoje. Só não levou tiro ainda, mas a situação é semelhante, com uma diferença: aquela época, como dizia o PT e como se chamava muito, eram os “anos de chumbo”. Estamos vivendo, agora, em uma democracia. A perseguição é a mesma. São dois piauienses que nos enchem de orgulho. Eu queria saber o que o piauiense Sibá Machado tem de tão grave para desconfiar do seu conterrâneo.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Senadora Heloísa Helena, concedo o aparte a V. Exª.

O Senador Sibá Machado está pedindo a inscrição e vai explicar esses detalhes.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Senador Efraim, quero só compartilhar a preocupação que V. Exª traz à Casa e à Nação brasileira. Eu sei que existem adversários, no mundo da política, que são capazes de qualquer coisa - matar, roubar, caluniar, liquidar qualquer um que pela frente passe - pelo projeto de poder. Às vezes, fico até sem querer mais nem falar desses assuntos para não ser repetitiva, mas toda vez que alguém diz que viu um ar de manipulação ou de treinamento no depoimento do Francenildo, eu fico, realmente, num misto de tristeza profunda e de indignação.É preciso, realmente, que o cabra tenha muita má vontade ou má-fé ou que haja outros instrumentos que possibilitem que se desconfie de um depoimento como aquele!

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Senadora Heloísa Helena, peço permissão para interrompê-la. São 18h30. Regimentalmente, a sessão deveria estar-se encerrando, pois já dura há quatro horas e trinta minutos. Portanto, vou prorrogar a sessão por meia hora. Devemos fazer um pacto. A palavra “comunicação” vem de “comunhão”, de “divisão”. Portanto, cada um terá cinco minutos.

Senador Efraim Morais, V. Exª iniciou seu pronunciamento às 17h58.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Sr. Presidente, estou aguardando a Senadora Heloísa Helena concluir.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Eu também.

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Temo, Senadora Heloísa Helena, porque os Senadores José Agripino e José Jorge estão concorrendo para o cargo de Vice-Presidente, e o Senador Efraim Morais, na tribuna, acaba tomando o lugar.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Senador Mão Santa, quero dizer a V. Exª que não disputo a Vice-Presidência do meu Partido.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Vamos falar o ruim, o feio, o abominável, o que o povo brasileiro despreza no Congresso Nacional: Senador não trabalhando. Todos nós estamos trabalhando. Nada de satisfatório plenamente em estarmos aqui, mas estamos cumprindo nossa obrigação constitucional. Então, todas às vezes, Senador Efraim Morais, que alguém tenta dar um ar de treinamento ao depoimento do Francenildo, irrita-me profundamente. Imagine qual a sofisticação, qual o treinamento que pode haver para alguém que responde a algumas perguntas como ele respondeu? É preciso o cabra ter muita má-fé e estar imbuído de sentimentos os mais desprezíveis para tentar ver treinamento naquele depoimento! Ele respondeu perguntas de várias pessoas, as de V. Exª, as minhas. Inclusive, perguntei: “Meu filho, você tem certeza de que ele era mesmo amigo? O Ministro, aqui, disse que não era amigo do Buratti”. E ele, com o maior sentimento simples, quase de simplória inocência, disse-me: “Vixe, se aquilo não é amizade, o que é hein?!”. Olhem o treinamento, olhem a sofisticação manipulatória disso! Só mesmo se houvesse uma projeção, que, de acordo com a Psiquiatria, é quando você acha que o outro é sempre capaz de fazer o que você faz. Só se for isso! O mesmo aconteceu quando eu, de pronto, perguntei-lhe: “O senhor mantém mesmo o que está dizendo? Olhe sua responsabilidade, meu filho, perante Deus e perante o povo! O senhor mantém mesmo o que disse?”. Ele, de pronto, disse: “Oxe, mantenho até morrer! Confirmo até morrer!”. Pelo amor de Deus, vamos deixar o rapaz em paz! Então, apenas quero saudar V. Exª. Nem vou, de novo, entrar na história de sigilo, de violação, de tudo o mais. Sinceramente, tinha de abrir um poço de óleo de peroba para tanta cara-de-pau, porque não há óleo de peroba disponível na praça, nos mercados, para tanta justificativa desqualificada tecnicamente, fraudulenta politicamente, para se dizer um negócio desse! O ex-Presidente da Caixa continua repetindo a mesma mentira. Não cabe na cabeça de ninguém, de ninguém, de ninguém, que ele tenha visto, no dia 6 de janeiro, R$10 mil e que nada tenha feito. No dia 6 de fevereiro, viram R$10 mil e não fizeram nada. E foram identificar a movimentação atípica às 19h45, na véspera do dia de sair a tal da matéria! Então, quanto mais se fala, mais imbróglio se cria, porque, depois, tem-se de voltar atrás. Meu querido Senador Eduardo Suplicy teve de se explicar, depois, para dizer que não havia dito exatamente aquilo que tinha falado na CPMI: que um Senador tinha uma informação de que alguém tinha o visto com o dinheiro. Aí já colocou jornalista no meio, Senador no meio. Então, fica pior. É melhor ficarmos com aquela história: “Tirem as patas do bichinho do Francenildo, porque vai ficar muito feio, muito mais complicado!”. Vamos deixar que investiguem! Já se quebrou o sigilo fiscal, bancário e telefônico do rapaz. Quebram o sigilo de todo o mundo! Eu não tenho sigilos nem bancário, nem fiscal, nem telefônico. Aliás, se ainda os tivesse - meus sigilos fiscal, bancário e telefônico foram abertos há mais de um ano -, eles os teriam quebrado do mesmo jeito, porque eles quebram os sigilos de quem eles querem. Todo o mundo sabe disso. Se não foi ainda exposto, todo o mundo sabe disso. Quero solidarizar-me com a preocupação de V. Exª, porque, quanto mais se fala, mais complicação advém da fala.

O SR. EFRAIM MORAIS (PFL - PB) - Agradeço a V. Exª, Senadora Heloísa Helena e aos Srs. Parlamentares que apartearam nosso pronunciamento.

Sr. Presidente, Senador Mão Santa, quero parabenizar a jornalista Eliane Cantanhêde por esse artigo. Na condição de Presidente da CPI dos Bingos, sinto-me na obrigação de divulgar essa matéria, porque, agora, temos de nos adiantar em determinados casos, para que não aconteçam os absurdos havidos com esse cidadão brasileiro. Para o Governo, eu diria, é fundamental desmontar a imagem do caseiro - disso, ninguém duvida. Mas, Senador José Agripino, isso será feito, se for possível.

Muito obrigado.

 

************************************************************************************************DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EFRAIM MORAIS EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I, § 2º, do Regimento Interno.)

************************************************************************************************

Matéria referida:

“Cobertor curto e imagem puída” (Eliane Cantanhêde).

 


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/03/2006 - Página 10475