Discurso durante a 31ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Associa-se às homenagens ao poeta Thiago de Mello. Reflexão sobre a crise vivida pelo país desencadeada pelo partido dos trabalhadores-PT.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Associa-se às homenagens ao poeta Thiago de Mello. Reflexão sobre a crise vivida pelo país desencadeada pelo partido dos trabalhadores-PT.
Publicação
Publicação no DSF de 31/03/2006 - Página 10495
Assunto
Outros > HOMENAGEM. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, THIAGO DE MELLO, POETA, ESTADO DO AMAZONAS (AM).
  • FRUSTRAÇÃO, FALTA, ETICA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), OCULTAÇÃO, CORRUPÇÃO, IMPUNIDADE, REU, DENUNCIA, FAVORECIMENTO, BANCOS, NEGLIGENCIA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, EXPECTATIVA, RETOMADA, DEMOCRACIA, LIBERDADE.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, cala fundo em todos nós a homenagem improvisada do Senador Arthur Virgílio a Thiago de Mello e consagrada aqui pela leitura desse belo poema.

Imagino, meu caro Arthur Virgílio, Thiago de Mello, hoje, nos seus 80 anos, nas barrancas do Amazonas, no seu refúgio voluntário, vendo essa homenagem que lhe presta o Senado da República. Ele que teve, durante alguns momentos da vida, que se distanciar da Pátria, que dar as costas para o caudaloso Amazonas, um dos seus tributos permanentes de amor.

E hoje, Senadora Heloísa Helena, num Brasil onde muitos, e quem sabe inclusive ele, depositaram esperanças num Governo estrelado, ao ver esse Governo de trabalhadores defender banqueiros e perseguir caseiros, imagino a decepção desse poeta, que faz um tratado à liberdade e que não consegue entender como é que um Partido que pregou o que ele defendia oculta cadáveres de seus companheiros e de seus parceiros.

É muito triste que o Brasil esteja passando por tudo isso. E ele vê, Senadora Heloísa Helena, que aquele Partido que era o paladino da moralidade, o monopolista das boas intenções, depara-se, hoje, com o final de uma CPI, em que ele não aponta mais acusados nem acusa ninguém, defende desesperadamente o direito de livrar os seus réus do jugo final de um relatório.

Quem te viu e quem te vê, PT! Quantas pessoas depositaram confiança. Alguns se foram antes, não estão mais aqui, meu caro Arthur Virgílio, como Betinho, Henfil. O que eles estarão pensando desse PT que eles ajudaram a dar vida e que, hoje, tropeça em um lamaçal criado por ele próprio; das somas grandes que são caçadas no Brasil afora e no exterior. É muito triste ver um Partido que, ao longo do seu convívio com a Oposição, expulsou companheiros que entendiam que o único caminho com a democracia e a liberdade era o Colégio Eleitoral. Por questões menores, afastou alguns de sua convivência. Hoje, não tem coragem de se reunir para julgar os que se envolvem em algumas situações folclóricas, outras nem tanto, como é o caso da cueca. Por que o PT não levou ao Conselho de Ética os que macularam a sua imagem? Por que não levou ao Conselho de Ética os que foram pegos praticando exatamente aquilo que combateu ao longo da vida?

O PT morreu, Senadora Heloísa Helena, no mês de agosto de 2002, naquele jantar, em São Paulo, com os banqueiros internacionais. Dois dias depois, veio a Carta ao Povo Brasileiro! Era exatamente parte de um acordo, feito tradicionalmente no passado pelos mafiosos, a senha para dizer aos que no acordo se envolveram que está tudo acertado. Os brasileiros de boa-fé achavam que aquilo era apenas uma garantia para a acomodação do mercado. Mas o que houve, na realidade, foi um pacto de fogo e ferro para a convivência de um Partido até então inimigo dos banqueiros e amigo número um e protetor universal dos preceitos ditados pelo capitalismo que tanto combateu.

O PT, que prometeu combater as injustiças sociais e investir principalmente no social, na defesa dos famintos, simbolizou as suas intenções na compra milionária de um avião para o transporte de luxo do seu Presidente e não pensou duas vezes em pagá-lo adiantado, diferindo de todos os modelos de compra de avião praticados no mundo, geralmente financiamento em longo prazo e módico.

O Fome Zero, que era para proteger as classes menos assistidas, não saiu do papel; as PPPs, que eram para proteger e incentivar o desenvolvimento nacional sem comprometer o Erário, também ficou no papel.

O Presidente ontem, por acanhamento - e aí foi um momento de bom senso, Senadora Heloísa Helena -, evitou fazer uma festa de gala para comemorar a sua volta ao Palácio do Planalto, reformado de maneira pouco explicada pelos empreiteiros brasileiros, detentores das grandes obras promovidas pela atual administração.

Que os 80 anos de Thiago de Mello, que o seu estatuto, minha cara Senadora Heloísa, sirva de alerta para aqueles - e são muitos, quero ser justo - que, dentro dessa sigla, ainda não perderam a compostura nem tampouco a fé de ver posto em prática tudo aquilo que pregaram. Que o branco, realmente, possa ser usado nas manhãs e que o sangue, derramado pela morte de Toninho e de Celso Daniel, seja esclarecido o mais rápido possível. Que os recursos que migraram para o exterior de maneira ilegal sejam realmente apurados e devolvidos à Pátria. Senadora Heloísa, que o PT acorde enquanto é tempo e não cometa continuamente as traições que vem cometendo com o povo brasileiro.

Que Thiago de Mello, das barrancas do Amazonas, ainda tenha oportunidade de ver que nem tudo está perdido e que, muito em breve, este País se reencontre com a democracia e com a liberdade, Senador Arthur Virgílio; a liberdade de imprensa, o direito ao sigilo e, acima de tudo, a transparência - figuras raras nestes últimos três anos.

Portanto, associo-me a V. Exª, Senador Arthur Virgílio, na certeza de que o Estatuto do Homem que Thiago de Mello escreveu nos Andes, na frieza do Chile, em momentos de solidão, seja motivo de meditação para esses que, hoje, sabem que estão no banco dos réus e que procuram, desesperadamente, por companhia.

Concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Heráclito Fortes, em nome do povo do Amazonas, agradeço a V. Exª a homenagem que presta ao poeta Thiago de Mello; poeta do melhor quilate, da maior sensibilidade, pelo muito que ele representa de universal, sendo da minha aldeia. A Senadora Heloísa Helena fez uma homenagem tão bonita em um momento em que improvisávamos aqui, num final da sessão, um sentimento de amazônida em relação ao Thiago. Mas é precisamente a lição dele que tem de ser copiada por esta Nação, que não pode perder seus melhores valores. Se está tudo tão ruim - e está tudo tão ruim mesmo! -, temos de fazer como o Thiago: “Faz escuro, mas eu canto”. Obrigado.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Encerro, Senadora Heloísa Helena, lembrando D. Hélder Câmara, que, nos momento mais duros que este País viveu, com aquele seu corpo raquítico, mas de uma coragem infinita, dizia que, por mais dura, mais negra que fosse a noite, sempre haveria de raiar uma manhã de liberdade e alegria. Disse e acreditou nisso. Felizmente, ele não está aqui para ver que esta manhã foi de eclipse e de escuridão.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/03/2006 - Página 10495