Discurso durante a 22ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagem à Campanha da Fraternidade da CNBB de 2006.

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IGREJA CATOLICA. POLITICA SOCIAL.:
  • Homenagem à Campanha da Fraternidade da CNBB de 2006.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2006 - Página 9088
Assunto
Outros > IGREJA CATOLICA. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, IRREGULARIDADE, DEBATE, INCLUSÃO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, IMPORTANCIA, CONSCIENTIZAÇÃO, VALOR, RELIGIÃO, IGUALDADE, VIDA HUMANA, COMPROMISSO, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Dom Celso de Queirós, saudando-o quero cumprimentar todos os representantes da CNBB e também abraçar todos os Padres e todas as Freiras da Igreja Católica de Alagoas, que quase me criaram.

Quero abraçar e saudar o Clodoaldo da Silva e o Ariosto Lopes. Saúdo o Senador Aloizio Mercadante pela iniciativa.

Abraço o nosso querido Lars Grael. Em um dos momentos difíceis da minha vida, quando meu filho estava em coma, porque havia sido atropelado em Brasília, Lars Grael mandou-me um livro sobre sua história de resistência. Meu filho não precisou, mas, com certeza, foi uma emoção muito grande contar com a delicadeza dele. Além disso, tive a bênção de estar com o senhor na Corrida de São Silvestre. Todas as vezes em que aqui fico muito cansada, muito cansada, quase que esgotando minha capacidade de reação, lembro-me de você falando o quanto difícil era subir uma ladeira de muleta e, portanto, o quanto difícil era para aqueles que disputavam aquela prova.

Saúdo também nosso querido Marcos Frota, que é outra coisa linda e delicada e que falou com minha filha de leite - tenho a honra de ser mãe de leite da Fabrícia, que é cega; eu a amamentei junto com o Ian. Marcos Frota teve a delicadeza de falar com ela, pelo telefone. Ela quase morreu do coração, é claro, mas foi uma grande alegria.

Ao saudar e abraçar todos aqueles que lutam, faço questão de ler - sei que o Senador Aloizio Mercadante já o fez, quando leu a frase mais usada na Campanha da Fraternidade - todo o parágrafo, porque este trecho vai além do gesto de solidariedade, da cura e da inclusão. Este parágrafo vai até o risco de morte para garantir a inclusão, que é o que Jesus fez. Eu, Padre Hernandes, só me tornei socialista, porque, primeiro, conheci Jesus Cristo.

Diz Marcos 3.1-6:

Noutra vez, entrou ele na sinagoga, e achava-se ali um homem que tinha a mão seca.

Ora, estavam-no observando se o curaria no dia de sábado, para o acusarem.

Ele diz ao homem da mão seca: “Vem para o meio”.

Então lhes pergunta: “É permitido fazer o bem ou o mal no sábado? Salvar uma vida ou matar?”. Mas eles se calavam.

Então, relanceando um olhar indignado sobre eles e contristado com a dureza de seus corações, diz ao homem: “Estende tua mão!”. Ele estendeu a mão e foi curado.

Dali, exatamente naquele momento, saíram os fariseus, para articular com os herodianos para matar Jesus.

Como todos sabemos, o corpo é o templo sagrado do Espírito Santo. Durante toda a vivência de Jesus aqui, não estava Ele a querer desmontar as tradições, muito pelo contrário, até porque Ele se submeteu a muitas dessas tradições. Então, ele não o fazia para desmontar as tradições, para nada disso.

Esse parágrafo, citado pela Campanha da Fraternidade, quer dizer que as relações e as lutas têm de ir além das aparências. É por isso que Jesus era um danado, não é? Ele só fez opções problemáticas, Senadora Lúcia Vânia! Fez só opções problemáticas para os rituais cínicos e esnobes dos fariseus, dos sicofantas, dos saduceus, dos escribas da lei, dos doutores da lei, de todos. Ele só fez opções problemáticas! Quando Ele fez a opção pelo cego, pelo paralítico, pela prostituta, pelo hanseniano - então, considerado leproso -, Ele só fez essas opções porque sabia que, ao fazê-las, acabaria sendo condenado.

Já imaginaram que atitude belíssima aquela em relação à prostituta que seria apedrejada?! Inclusive, foi a primeira pessoa para quem Ele apareceu na ressurreição. Olhem que homem maravilhoso! A primeira pessoa para quem Ele apareceu foi justamente uma mulher que havia sido condenada pelos rituais cínicos e esnobes de uma sociedade hipócrita como se fosse a pecadora. Imaginem o significado, à época, dessa opção! Aquela mulher lavou os pés de Jesus, enxugou-os com seus longos cabelos, perfumou-os, enquanto os grandes e poderosos da época o condenavam com veemência. Então, todas as opções feitas por Ele foram nesse sentido.

É por isso que, neste momento de tantas guerras, neste momento em que celebramos a inclusão daqueles que foram marcados pela natureza ou por uma tragédia da vida, daqueles que tiveram marcados seus corpos de forma diferente, temos, acima de tudo, de celebrar a luta pela inclusão e pela paz.

Naquele momento, o que Jesus queria celebrar não era a exclusão de samaritanos, de judeus, como hoje seria a exclusão de judeus, de palestinos, de evangélicos, de católicos, de religiões afrodecendentes, de espíritas, de budistas. Todos nós, queiramos ou não, somos filhos de um único Deus.

Então, a Campanha da Fraternidade - como bem disse o Senador Flávio Arns - não é apenas a campanha da CNBB. Obrigatoriamente, essa campanha tem de ser de todas as religiões, dos que não têm religião, dos que sabem que, independentemente do templo, da igreja, da sinagoga que se freqüenta, temos a obrigação mais bela que há: a da luta para que todos sejamos iguais. Portanto, essa passa a ser a condenação das regras estabelecidas na vida em sociedade que impõem uma hierarquia perversa a ricos e pobres, a brancos e negros, a homens e mulheres, àqueles que são tratados como se deficientes físicos fossem.

Por isso, quero abraçar todos os envolvidos nessa luta. Quero dizer da minha alegria muito grande de ser parte também dessa experiência. Abraço a CNBB. Acima de tudo, espero que, mais do que a solenidade, mais do que as reformas físicas, possamos, neste mundo de tanta desigualdade, ter a mesma coragem que Jesus teve: a de quebrar qualquer ritual cínico e esnobe, a de quebrar qualquer hierarquia perversa que impõe a homens e mulheres, a ricos e pobres, a deficientes ou não regras diferenciadas na vida em sociedade. Portanto, tal qual Jesus fez, que possamos lutar pela inclusão, mesmo que essa luta possa significar até a nossa condenação, como para Ele significou!

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigada. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2006 - Página 9088