Pronunciamento de Arthur Virgílio em 22/03/2006
Discurso durante a 22ª Sessão Especial, no Senado Federal
Homenagem à Campanha da Fraternidade da CNBB de 2006.
- Autor
- Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
- Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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IGREJA CATOLICA.
POLITICA SOCIAL.:
- Homenagem à Campanha da Fraternidade da CNBB de 2006.
- Publicação
- Publicação no DSF de 23/03/2006 - Página 9094
- Assunto
- Outros > IGREJA CATOLICA. POLITICA SOCIAL.
- Indexação
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- SAUDAÇÃO, CAMPANHA DA FRATERNIDADE, IGREJA CATOLICA, DEBATE, INCLUSÃO, PESSOA PORTADORA DE DEFICIENCIA, HOMENAGEM, CIDADÃO, PRESENÇA, SENADO, LUTA, VALORIZAÇÃO, ELOGIO, ATUAÇÃO, ATLETA AMADOR, CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE JUDO (CBJ), VITORIA, DEFICIENTE MENTAL.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhoras e senhores, meninos e meninas presentes a esta sessão tão bonita, cito a todos da Mesa na figura de Dom Antônio Celso de Queirós*, Vice-Presidente no exercício da Presidência da CNBB, até porque depois vou poder reportar-me a outras figuras que julgo merecedoras dessa referência neste discurso modesto que apresento a todos.
A CNBB demonstra acreditar no impossível, e eu também procuro acreditar no que não é possível ou no que parece não ser possível. Está ali no fundo do plenário uma conterrânea minha de muito pouca idade, a Charlíbia*. Ela enfrenta um câncer dificílimo, e a doença deveria tê-la tornado estéril. No entanto, ela deu à luz recentemente, e tenho certeza, portanto, de que vai desafiar a ciência e prolongar sua vida por todo o tempo necessário para construir sua parte de Brasil e sua parte de Amazonas.
Há uma outra figura - e homenageio a todos por essas duas figurinhas: César Augusto*, que está em sua cadeira de rodas, irradiando uma enorme serenidade e uma enorme beleza interior e exterior.
Tenho, meu prezado Marcos Frota, aqui um exemplo instigante. Breno Viola é um judoca de 26 anos de idade que hoje está entre os seis portadores de síndrome de Down no mundo que atingiram a faixa preta, que é a mais alta graduação desse esporte. Breno Viola disputa torneios, inclusive internacionais, com atletas que dispõem de 80% a 100% de controle motor e quase sempre vence. Breno Viola é uma figura que foi escolhida pela a revista Seleções recentemente para o prêmio 100 Mais Brasil, no meio de pessoas como o cineasta Fernando Meirelles, o jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho, o filme Dois Filhos de Francisco, o cantor Latino, entre tantos destaques populares.
Certa vez, Senador Aloizio Mercadante, o Breno Viola, que precisa de um patrocínio urgente - creio que V. Exª pode intervir para resolver isso -, disputou um torneio em uma cidade brasileira. Enfrentou atletas ditos normais e os derrotou a todos - eu não o considero de jeito algum infranormal, eu o considero diferente, porque senão ele não seria o faixa preta que é. Era um campeonato modesto e, ao final, havia um pódio só, e o Breno Viola, que é muito irônico, disse: “Ah, mas eu não vou receber a medalha com só um pódio. Aqui teve um segundo colocado e um terceiro colocado. Eu quero três pódios. Eu fico lá em cima, o segundo mais embaixo e o terceiro ainda mais embaixo. E isso não é por vaidade não, é porque não quero que essa gente fique com baixa auto-estima - os outros dois não eram portadores de síndrome de Down, apenas ele. Após a competição, perguntaram-lhe o que ele ia fazer, e ele disse que ia sair com o pessoal da delegação, na qual o único portador de síndrome de Down era ele, e iria a uma boate na cidade arranjar uma namoradinha e curtir a noite. Ou seja, o Breno Viola também acredita no impossível e realiza o impossível.
Lars Grael é uma figura que a todos nos toca, sobretudo pela forma como viveu a sua vida após deixar o esporte de elite, de competição exigente. Medalhista olímpico, houve o que houve com ele, passou por um processo sórdido - tomei conhecimento de que o agressor chegou a insinuar que ele não estava sóbrio, como se alguém fosse nadar fora da rebentação sem estar em estado de plena sobriedade -, perdoou o agressor, voltou a competir, é um excelente executivo público que faz um papel extraordinário como Secretário de Esportes na Prefeitura de São Paulo. É uma figura extremamente admirada a respeito da qual pode-se dizer tudo, menos que não seja capaz. Dá para dizer, sim, que é excepcional, até porque só uma pessoa de qualidades excepcionais faz aquilo que faz o Breno Viola, faz aquilo que realizou e realiza o Lars Grael.
Sr. Presidente, vou observar o tempo que me foi concedido para que possamos ouvir os demais oradores e para que possamos cumprir os compromissos que assumimos com a CNBB. Congratulo-me, a propósito, com essa entidade por sua sensibilidade social. Às vezes eu me pilho não concordando com o que a CNBB diz em matéria de economia - é um direito meu -, mas a CNBB não é uma academia de economia, a CNBB tem de nos acutilar, beliscar e alfinetar mostrando a sua visão social, e nós que tratemos de oferecer a fórmula econômica que permita ao País realizar os anseios sociais do povo muito bem expressados pela CNBB, cada um desempenhando o seu papel.
Dom Celso, quero congratular-me de maneira muito efusiva com a CNBB e parabenizar V. Exª, Senador Aloizio Mercadante, pela iniciativa brilhante, correta, de promover esta sessão solene.
O Brasil haverá de ser, um dia, um País que dê oportunidade a todos os que tenham as possibilidades que está tendo a Charlíbia para virarem Violas, todos nos mirando no exemplo dos que são obstinados, dos que conseguem, do zero, chegar a um grau de mobilidade social grande, daqueles que enfrentam as adversidades com a galhardia com que as tem enfrentado Lars Grael, daqueles que entendem que, se somos capazes de dar a cada indivíduo a possibilidade de crescer - e esse é um papel que tem muito do Estado nele, sim, Sr. Presidente -, seremos capazes de construir um País mais justo, mais humano, de democracia mais consolidada e - vou falar algo que é redundância mesmo, mas é bom repetir - tudo aquilo que sempre quisemos e queremos, que é um País de caráter humano, justo, social, democrático, livre e - prestando outra homenagem à CNBB -, profundamente cristão.
Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)