Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura de artigo de autoria de S.Exa. sobre a grave crise por que passa o Brasil, oportunidade em que reclama o resgate dos valores éticos.

Autor
Almeida Lima (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/SE)
Nome completo: José Almeida Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Leitura de artigo de autoria de S.Exa. sobre a grave crise por que passa o Brasil, oportunidade em que reclama o resgate dos valores éticos.
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/2006 - Página 9786
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • LEITURA, ARTIGO DE IMPRENSA, AUTORIA, ORADOR, ANALISE, CRISE, BRASIL, FALTA, ETICA, NEGLIGENCIA, PODER PUBLICO, IMPUNIDADE, MOBILIZAÇÃO, SOCIEDADE CIVIL, REPUDIO, CORRUPÇÃO, GOVERNO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. ALMEIDA LIMA (PMDB - SE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na última semana, para a imprensa local, escrevi um artigo que trago para o conhecimento da Nação brasileira, por entendê-lo pertinente diante do momento que estamos vivendo.

Diz o artigo:

O Brasil não está em guerra. Não possui litígios com outros países. Aqui não existem conflitos sociais. Não vivenciamos a intolerância religiosa, racial nem de qualquer outra natureza. Mas é verdade que o Brasil passa por uma grave crise, quase fora de controle e já beirando o caos. Tudo é uma decorrência do esgarçamento do tecido social pela completa inversão dos valores que permeiam toda sociedade civilizada. O respeito aos pais, à família, à escola, à igreja, à sociedade, ao princípio da autoridade, à lei e à própria pátria, tem se tornado escasso em nosso meio. A decadência dos valores éticos e morais na sociedade brasileira é flagrante, vista a olhos nus. E o mais grave é que esta situação passa a ocorrer com intensidade nunca vista nos setores sociais que sempre foram referência, padrão e modelo para toda sociedade. Hoje se nota mudanças, pois a tônica tem sido, muitas vezes, o comportamento indigno, o que torna mais graves os nossos problemas. E uma sociedade que perde as suas referências, os seus valores, os seus cultos, é uma sociedade desestruturada e falida. Lamentavelmente é para este ponto que o Brasil está se encaminhando. Não tenha dúvida e não veja nessa afirmativa nenhum exagero, ou afirmativa sinistra, pois foi nesta semana mesmo que todos nós vimos e ouvimos no programa Fantástico da Rede Globo de Televisão um garoto afirmar que quando crescer deseja ser bandido. Não esqueça que num passado recente o desejo era ser doutor, professora, diplomata, aeromoça. Ser bandido nunca foi desejo de criança alguma.

Mas, convenhamos, crianças e adolescentes que ligam uma televisão ou ouvem em casa, na escola ou nas ruas que professor e doutor têm salário de fome e que não mais possuem status social, ao tempo em que ouvem que os bandidos estão se dando muito bem, roubando milhões sem ir para a cadeia, esperar o quê? Dá para se prever e esperar comportamento diferente? A deterioração moral em nosso país está evidente.

Para ilustrar essa evidência não é demais citar o célebre pensamento de Rui Barbosa que diz: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos do maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

Mais do que apatia e omissão, presenciamos a permissividade e, até mesmo, a conivência daqueles que têm por dever a obrigação de coibir a bandalheira generalizada que se amplia cada vez mais no país. O que dizer de um Presidente da República que afirma não ter conhecimento de nenhum entre centenas de atos de corrupção praticados no seu governo e embaixo de suas barbas? O que dizer de uma Câmara de Deputados que não cassa parlamentares que foram corrompidos por esse mesmo governo, com provas de recebimento de dinheiro de origem ilícita? O que dizer de magistrados de tribunais superiores que concedem habeas corpus e outras liminares, embora contrariando e ferindo flagrantemente os interesses coletivos de uma nação com mais de cento e oitenta milhões de pessoas, e impedindo que um grupo de parlamentares exerça a função constitucional da investigação? O que dizer desses mesmos magistrados que, estando no exercício da judicatura, afirmam que estarão deixando a toga para enfrentar uma candidatura na próxima eleição com apoio desse governo e dos partidos que lhe dão sustentação e, ainda, continuam a conceder essas liminares que, escancaradamente, dificultam a apuração da corrupção em prejuízo de toda a nação?

Portanto, mais do que disse Rui Barbosa, já estão institucionalizando a corrupção no país. Enquanto isso, a sociedade civil continua apática, sem líderes e o povo órfão sem referências a seguir, uma massa disforme. A Igreja, que sempre assumiu uma posição de vanguarda, os empresários, os estudantes, os intelectuais, os trabalhadores, a imprensa, entidades como a OAB, a ABI, a própria CNBB, a UNE, a CUT, todos estão sem líderes e sem atitudes: da incredulidade à omissão, e, o mais grave, alguns até coniventes com o que se pratica no governo.

Como a referência tem sido a corrupção, a desonra, as nulidades, o descrédito nas instituições, parcela maior do povo já perdeu a capacidade de se indignar, enquanto outros já planejam e sonham com uma vida de bandido. A que ponto chegamos!

            Sr. Presidente, sei da brevidade do tempo, mas peço a compreensão de V. Exª para que me conceda, pelo menos, dois minutos a fim de que eu possa concluir meu raciocínio.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o aparelhamento do Estado pelo PT não foi visto sequer no governo do Presidente Collor. Aparelharam o Estado para corromper, para controlá-lo politicamente diante de toda a sociedade, para dar empregos, para a prática do nepotismo, para aumentar os descontos para o Partido dos Trabalhadores, para vasculhar a vida de todos os cidadãos, principalmente para perseguir aqueles que lhes fazem oposição.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, vejam o caso Palocci, as mentiras, a economia sem desenvolvimento, sem crescimento. Quiseram, por fim, quebrar a própria Caixa Econômica Federal, porque, Sr. Presidente, a atitude que tomaram...

(Interrupção do som.)

O SR. ALMEIDA LIMA (PMDB - SE) - Já imaginaram os senhores e as senhoras se a conta do Francenildo, em vez de ser na Caixa Econômica, fosse no Banco do Brasil? Fariam a mesma coisa. Não seria a queda do Mattoso, mas seria a queda, quem sabe, de um outro dirigente do Banco do Brasil, porque o aparelhamento está em todo o Estado brasileiro. Nunca se viu, neste País, o uso de órgãos como o próprio Ministério de Estado da Justiça, que não é um ministério de Governo, mas de Estado, assim como a Polícia Federal, para a dificuldade que se cria na investigação de toda esta bandalheira que estamos vendo em nosso País.

Portanto, Sr. Presidente,e Srªs e Srs. Senadores, devemos criar as referências para que os nossos jovens não digam mais e não desejem mais aquilo que vimos no Fantástico, da Rede Globo, na última semana.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/2006 - Página 9786