Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Decepção com a ética do governo Lula, destacando o caso Palocci. (como Líder)

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Decepção com a ética do governo Lula, destacando o caso Palocci. (como Líder)
Aparteantes
Almeida Lima, Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/2006 - Página 9790
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, GOVERNO FEDERAL, ELOGIO, DIREÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, FRUSTRAÇÃO, ELEITOR, FALTA, ETICA.
  • GRAVIDADE, CRIME, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), TRAFICO DE INFLUENCIA, CONTINUAÇÃO, CORRUPÇÃO, GRUPO, EPOCA, EX PREFEITO, MUNICIPIO, RIBEIRÃO PRETO (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), QUESTIONAMENTO, CONHECIMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Pela Liderança do PDT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, se há três anos alguém me dissesse que o Governo Lula, o Governo do PT, seria isso, eu teria chamado a pessoa de louca. Só um louco poderia pensar isso.

Passei oito anos no Senado vendo as posições firmes de Senadores da Bancada do PT e as críticas ao Governo Fernando Henrique. Pareciam tomados de um rigor ético que me impressionava muito. Por isso, no segundo turno, votei no Lula. É curioso isso. Votei no Lula com certo temor de que ele fizesse besteira na economia, bobagem na economia, mas tinha a certeza de que ele seria corretíssimo do ponto de vista ético. E houve o contrário.

O Ministro Palocci, enfrentando todos os radicais e alguns amalucados do PT, conduziu a política econômica de forma responsável. Por isso, o País está em céu de brigadeiro. Mas, do ponto de vista moral, está sendo realmente um desastre, Sr. Presidente.

E digo isso com a decepção de quem votou no Lula.

Hoje recebi um e-mail de um cidadão, provavelmente petista, em que fazia cobranças: “O senhor parece zangado, cheio de ódio”.

Engano seu! Se há uma pessoa desprovida de ódio, sou eu. Posso ser sisudo, posso ser duro. Odiento jamais. Sigo a máxima de Santo Agostinho: “Detesto o pecado, mas não odeio, de forma alguma, os pecadores”.

Tenho pena do drama. Até hoje tenho pena da pessoa, da figura do Ministro Antônio Palocci, mas eu o condenaria tranqüilamente se fosse juiz. Eu o condenaria à prisão. O Ministro Palocci cometeu crime. Não só mentiu ao Congresso, não só mentiu à Nação. Ele cometeu crime. Ele se reunia com aquele grupo de Ribeirão Preto - desculpe-me a bela cidade paulista, que vai ficar quase que com esse estigma; até me recuso a utilizar a expressão “república de Ribeirão Preto” exatamente para não estigmatizar a cidade -, mas ele se reunia com aquele grupo mafioso que fazia tráfico de influência naquela casa. Sei lá se para outros fins, não importa, não quero falar da vida privada dele. E depois culminou com esse episódio escabroso - isto foi escabroso - da quebra do sigilo bancário desse caseiro, desse humilde caseiro dentro de um órgão oficial da Caixa Econômica, numa operação que envolveu toda a cúpula da Caixa, certamente com o conhecimento, se não sob a ordem, sob a determinação do Ministro Antônio Palocci.

É o Governo que está envolvido nisso. Não é...

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Permite-me V.Exª um aparte, Senador Jefferson Péres?

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Já lhe dou o aparte, Senador.

Não é um fato isolado; envolve a cúpula do Governo. A cadeia de comando veio do Ministro Antonio Palocci Filho, que despachava, nos últimos dias, no Palácio do Planalto, ao lado do Presidente da República. Será que o Presidente não sabia também?

Senador Almeida Lima, já lhe concedo o aparte.

O Governo está precisando de oftalmologista. É um governo de pessoas que sofrem de doze graus de miopia, ou, então, de catarata em grau avançado, porque nunca sabem de nada do que acontecem em torno. Toda essa operação do valerioduto era pelo Sr. Delúbio Soares, freqüentador assíduo de palácio, coordenado pelo Ministro José Dirceu, de absoluta confiança do Presidente. E o Presidente não sabia de nada? O Ministro Antonio Palocci Filho não sabia de nada dos que faziam a máfia de Ribeirão Preto. Uma Diretora da Caixa e vice-Presidente está dizendo, agora, que não sabia de nada também: nem da operação de quebra de sigilo, nem da operação abafa. É um governo de cegos.

Dou-lhe o aparte, Senador Almeida Lima.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Senador Jefferson Péres, V.Exª, ao iniciar o pronunciamento, disse que, se há três anos alguém tivesse imaginado o fim do Governo Lula, como se encontra hoje, teria sido chamado de doido, louco. Eu não digo três anos. Mas, no dia 2 de março de 2004, eu fiz isso desta tribuna e não fui chamado apenas de louco; eu fui chamado de louco e de mais alguma coisa. Aliás, de muito mais coisa, quando disse aí exatamente o procedimento do então Ministro José Dirceu. E de lá para cá, toda a história tem comprovado aquilo que nós havíamos previsto. V.Exª tem razão. Três anos, não; mas, pelo menos, dois isso aconteceu e foi a nossa previsão. Agradeço a V.Exª pelo aparte.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Parabéns pela sua clarividência que, infelizmente, eu não tive. Hoje, percebo que, realmente... Não todos os petistas. Tenho um grande respeito por muitos deles. Aqui mesmo, à minha frente, está o Senador Eduardo Suplicy. Eu o cumprimento pela sua independência. Senador, tenho dó do constrangimento por que V.Exª sofre, passa, porque V.Exª, além do histórico que tem com o seu partido, V.Exª é, sem dúvida, - e digo isso de púbico - inegavelmente, um homem de bem. Ouço V.Exª.

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Senador, o tempo de V.Exª está esgotado.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Sr. Presidente, serei muito breve. Ouvirei apenas o aparte do Senador Eduardo Suplicy, em atenção a S.Exª. Em seguida, encerro meu pronunciamento.

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Ouviremos, então, o aparte do Senador Eduardo Suplicy.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Senador Eduardo Suplicy, V.Exª tem o aparte.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Jefferson Péres, agradeço a manifestação de V.Exª. Apenas gostaria de ponderar: ainda não sabemos inteiramente tudo o que se passou. E avalio que será importante aprofundarmos o conhecimento. Acredito que o próprio Ministro Antonio Palocci, estará passando seu cargo daqui a instantes, se não já o está fazendo, ao novo Ministro Guido Mantega. Ainda não sabemos inteiramente - eu, pelo menos, não sei - todo o teor daquilo que disse à Polícia Federal o Presidente Jorge Mattoso, da Caixa Economia Federal. Avalio que se faz necessário conhecermos melhor todo o episódio para chegarmos a conclusões. Sem dúvida, houve da parte do Ministro Antonio Palocci e do Presidente da Caixa Econômica Federal o reconhecimento de erro grave cometido, e, por essa razão, resolveram sair e estão sendo afastados. Portanto, quero ter mais elementos para compreender tudo antes de fazer uma avaliação mais completa. É apenas isso que queria registrar, em respeito a V. Exª.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM) - Mas não é erro, não; é crime, Senador Eduardo Suplicy. Vamos deixar os eufemismos de lado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/2006 - Página 9790