Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentário sobre artigo intitulado "É uma vergonha", do jornalista Boris Casoy, publicado no jornal Folha de S.Paulo, edição de hoje, acerca da gestão do governo Lula.

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SENADO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentário sobre artigo intitulado "É uma vergonha", do jornalista Boris Casoy, publicado no jornal Folha de S.Paulo, edição de hoje, acerca da gestão do governo Lula.
Aparteantes
Arthur Virgílio, Eduardo Suplicy, Heráclito Fortes, José Agripino, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/2006 - Página 9811
Assunto
Outros > SENADO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COBRANÇA, PRESENÇA, PRESIDENTE, SENADO, EXERCICIO, PRESIDENCIA.
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AVALIAÇÃO, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, SUPERIORIDADE, CORRUPÇÃO, INCOMPETENCIA, NECESSIDADE, IMPEACHMENT, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLIDARIEDADE, JORNALISTA, AFASTAMENTO, TELEJORNAL, SUSPEIÇÃO, AUTORITARISMO, GOVERNO.
  • ACUSAÇÃO, GOVERNO, IMPEDIMENTO, FUNÇÃO LEGISLATIVA, EXCESSO, EDIÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV).
  • CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ATUAÇÃO, FUNCIONARIOS, PREJUIZO, REPUTAÇÃO, CAIXA ECONOMICA FEDERAL (CEF), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
  • COMENTARIO, EDITORIAL, IMPRENSA, COBRANÇA, COMBATE, ABUSO, CORRUPÇÃO, GOVERNO FEDERAL.

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O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pela Liderança. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao contrário até do que muitos dizem, sou extremamente afetivo. E, por ser afetivo, gostaria de ouvir um dos Líderes do PMDB, ou mesmo de V. Exª, Sr. Presidente, sobre o Presidente Renan Calheiros, porque estou com saudade de S. Exª.

O Presidente Renan não tem aparecido tanto quanto eu gostaria. Sou seu amigo, admirador e, conseqüentemente, acho que ele presidindo... não que V. Exª não presida muito bem e merece até aplausos por isso.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Até melhor.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Melhor eu não diria, deixo isso para V. Exª, Senador César Borges.

Mas o Senador Renan precisa, realmente, aparecer.

De maneira que peço a V. Exª que presida a sessão - bem, como sempre presidiu -, mas que, uma vez ou outra, dê lugar ao nosso Presidente efetivo.

O SR. PRESIDENTE (Papaléo Paes. PSDB - AP) - Darei oportunidade ao Sr. Presidente.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - “É uma vergonha”, Senador Suplicy! Jamais o bordão de Boris Casoy foi tão adequado.

O artigo do jornalista, hoje, na Folha de S.Paulo, é um diagnóstico fiel e cruel da realidade brasileira. Boris aponta que o Governo Lula superou, em quantidade e gravidade, todos os episódios de corrupção e de incompetência do País desde o Brasil colônia. O jornalista faz o diagnóstico e apresenta a cura. Dolorida, cirúrgica, mas necessária. Segundo ele, todos os limites foram ultrapassados. Não há mais como o Congresso postergar um processo contra Lula - ou, como ressalta, não contra Lula, mas a favor do Brasil. E arremata que, diante de tantos descalabros, “Lula seria o primeiro a sofrer impeachment não por determinados crimes de responsabilidade, mas pelo conjunto da obra”.

Boris rebate um argumento muito utilizado, o de que não se pode afastar Lula por sua biografia, pela saga do trabalhador que chegou à Presidência. Ele lembra que aquele Lula, metalúrgico, já não existe há tempos. Sua legenda enferrujou-se, foi tragada pelos seguidos escândalos.

Por várias vezes, desta tribuna, eu disse que queria ver Lula derrotado pela vontade das urnas. Entretanto, não se pode ignorar as roubalheiras, que se multiplicam a cada dia neste Governo corrupto. Lula vem usando, despudoradamente, as instituições públicas com fins eleitoreiros. Agora, comprovou-se que ele as utiliza também para dar proteção aos seus apaniguados.

Em busca de impunidade, o Governo tem procurado envolver e comprometer até mesmo a mais alta Corte de Justiça do País. O fato é que o processo de impeachment pode não acontecer - até não sou favorável -, mas não terá sido por falta de motivações jurídicas. Essas sobram. Todos os dias elas acontecem.

Daí por que, Sr. Presidente, peço que seja transcrito o artigo de hoje, da Folha de S.Paulo, intitulado “É uma vergonha”, de Boris Casoy, um jornalista que muito faz falta ao País por sua atuação na televisão.

Boris Casoy sempre foi coerente em relação ao combate à corrupção. E quem é coerente e combate a corrupção não pode aceitar a falta de caráter deste Governo, que só é atingido pela corrupção.

O PT se desmilingüiu. Ainda, graças a Deus, existe a figura do Eduardo Suplicy, homem de bem, às vezes um pouco ingênuo, porque acredita nos seus correligionários.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte, Senador?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Com prazer!

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Em primeiro lugar, Senador Antonio Carlos Magalhães, quero aqui registrar um fato, porque V. Exª estranhou a ausência do Presidente Renan Calheiros - talvez não tenha acompanhado os acontecimentos. O Presidente Renan Calheiros estava, há pouco, com o Presidente Lula. Sua Excelência estava empossando o novo Ministro da Fazenda, Guido Mantega, e transmitindo suas palavras de agradecimento ao Ministro Antonio Palocci, com quem V. Exª sempre teve uma relação construtiva e de muito respeito; crítico, mas muitas vezes reconheceu o seu trabalho. Nós ainda não conhecemos, Senador Antonio Carlos Magalhães, todos os fatos dos últimos dias relacionados ao episódio que consternou a Nação, relativos à quebra do sigilo de Francenildo dos Santos Costa. Considero isso um episódio grave. E o Presidente da República também o considerou tão grave que, ao detectar que o Ministro Antonio Palocci e o Presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, tinham responsabilidade sobre o caso, admitiu que era inevitável afastá-los. Respeito e tenho amizade pelo jornalista Boris Casoy, que conheço desde menino. Morávamos perto um do outro e jogávamos bola no mesmo gramado, junto ao Parque Siqueira Campos. Fui seu colega na Folha e muitas vezes com ele dialoguei. Considero-o muito importante como figura do jornalismo brasileiro. Espero até que volte logo a alguma das principais emissoras.

            O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Quem o tirou da emissora?

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Não sei.

            O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - V. Exª sabe! Sabe, mas não quer dizer!

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Não sei todos os detalhes, mas...

            O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Então, diga o detalhe que sabe.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Se V. Exª souber, poderá falar. Não conversei com o Boris Casoy...

            O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - O Governo exigiu a saída do Boris Casoy!

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Não sei exatamente.

            O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - V. Exª sabe. V. Exª é sincero.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Bom, quero aqui dizer, com o respeito e a amizade que desenvolvi por V. Exª, que eu próprio - e V. Exª o sabe - votei para que se continuasse o processo de exame de um episódio ocorrido quando V. Exª era Presidente do Senado. V. Exª sabe disso, porque fui conversar com V. Exª, que, em determinado momento...

            O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Nunca me viu envolvido em corrupção. Desafio V. Exª!

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Não estou dizendo isso.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - É bom colocarmos isso em pratos limpos, porque a corrupção não é minha, não.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Está certo.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - V. Exª é que pertence ao Partido dos corruptos!

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Se V. Exª se dirigir a mim assim, eu, então, poderia - e não vou fazê-lo - dizer que o PFL seria um Partido que apoiava um Governo cujo Presidente teve de se afastar por problemas sérios. E eu nunca aqui disse, seja o Partido do Presidente Fernando Collor ou o Partido que o apoiava...

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Tudo do Presidente Fernando Collor é pouco diante do Governo Lula. Tudo é pouco!

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª sabe perfeitamente que sempre condenarei seja a pequena, a grave ou a gravíssima falta, em termos de incorreção, sobretudo de desvio de dinheiro público ou enriquecimento ilícito, mas houve uma circunstância - é isso o que quero recordar e desejo fazê-lo, especialmente pelo dia de hoje. Note bem: o que estou dizendo é que ainda não conhecemos todos os fatos. É possível que o Ministro Antonio Palocci tenha sido instado a cometer um ato grave, o de procurar saber que razões levaram Francenildo a fazer o que fez, em virtude de ter tomado conhecimento de que um depósito foi feito em sua conta, e foi levado, por algumas razões - e ainda não sabemos todas -, a quebrar aquele sigilo - um ato que não pode ser, de maneira alguma, aceito por mim, pelo Senado ou pelo povo brasileiro. V. Exª, um dia, foi levado, por razões que eu compreendo, a verificar quem havia votado em uma votação secreta.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Não é verdade.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Bom, V. Exª mesmo transmitiu que algo nesse sentido ocorrera.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Não, ocorreu por culpa de um Senador que fez um jogo com a diretora do Prodasen. Não venha com isso, porque não honra a sua inteligência e nem vai me intimidar.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Não o estou dizendo para intimidá-lo.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Não há homem no mundo, muito menos V. Exª, para me intimidar.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Pelo que eu me lembro dos fatos, houve uma situação em que o Senador José Roberto Arruda, a responsável pelo Prodasen e V. Exª tinham tomado conhecimento de um fato que levou V. Exª inclusive a renunciar ao seu mandato diante daquilo que estava ocorrendo. V. Exª o fez e eu respeitei todo esse procedimento. V. Exª, pelo povo da Bahia, voltou ao Senado e temos tido uma relação de muito respeito e construção aqui, muitas vezes por propósitos comuns, mas estou chamando a atenção para o que pode ter ocorrido. No caso do Ministro Palocci, não houve qualquer prova de que tenha havido corrupção. Houve um procedimento incorreto e, pelo que entendi, ele disse ao Presidente Lula que não podia continuar, e o Presidente Lula também assim determinou. Nós ainda precisamos saber melhor.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Se V. Exª não sabe a verdade, eu vou contar qual é a verdade. V. Exª não pode ficar tão ingênuo mais. Vou contar quando V. Exª terminar o seu aparte, o que espero seja logo.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Se V. Exª sabe a verdade, Senador Antonio Carlos, deve contar, mas não dá para contar assim.

            O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, eu gostaria de poder falar mais, mas como estou apenas aparteando, pedirei para que, ainda nesta sessão, tenha eu a oportunidade de falar. Estou inscrito, mas se não chegar a minha vez, quero falar pelo art. 14, porque considero importante prestar alguns esclarecimentos sobre isso que o Senador Pedro Simon está dizendo. Inclusive, quero relatar o encontro pessoal que tive com Ministro Palocci na sexta-feira à tarde, durante 15 minutos, e aquilo que procurei dizer-lhe para explicar as razões pelas quais eu - que, como ele, sempre defendi a transparência total - votei favoravelmente ao depoimento de Francenildo dos Santos Costa. Nessa mesma tarde de sexta-feira, ele me disse...

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Sr. Presidente, por favor, peço que o aparte não vá ser maior que o meu discurso.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Descontarei o tempo que for necessário.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Não. Ele me disse que dialogou com V. Exª e que ficou acordado, tal como eu havia proposto, que houvesse uma sessão reservada para ouvi-lo. Esse era, inclusive, o entendimento que iria haver, mas, em virtude de outros fatos, a Mesa resolveu que fosse aberto. Eu não quero mais me alongar no aparte, por respeito à palavra que V. Exª tem agora.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Permite-me um aparte, Senador Antonio Carlos?

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Permite-me um aparte, Senador?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Pois não, Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - V. Exª aborda um assunto a respeito do qual não sei se alguém falou antes, mas a saída do jornalista Boris Casoy é um absurdo que não tem explicação. Boris Casoy era a pessoa que dizia. Muita gente falava: “Mas ele tem coragem de dizer!” Ele dizia, analisava, comentava, interpretava. Eu digo mais: a presença do Boris Casoy era um símbolo de democracia e até somava, para o Lula, deixar um homem assim. Na verdade, de repente, ele desapareceu. Por que, não sei, mas era um grande homem da comunicação, impunha, ganhava da Rede Globo e tudo mais, e, de repente, desapareceu. Eu acho um absurdo um homem como o Casoy, agora, se limitar a escrever, uma vez por semana, para a Folha de S.Paulo. O que aconteceu? Será que uma empresa de televisão que luta por conquistar espaço e tinha o homem que tinha, o melhor espaço, a melhor comunicação, a maior credibilidade tira o cara fora? O que aconteceu? Eu concordo com V. Exª que é muito estranho. Eu levo, por meio de V. Exª, minha solidariedade ao Boris Casoy.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Eu agradeço a V. Exª.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador Antonio Carlos.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Realmente, o que fizeram com o jornalista Boris Casoy já tinham feito com um jornalista americano. Está certo, mas fazer com um grande jornalista como o Boris Casoy, como V. Exª diz, é demais. Realmente, é uma coisa de censura que nem os regimes militares tiveram. É inacreditável. Como dizia Boris Casoy: é uma vergonha!

Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Eu estava, Senador Antonio Carlos, ainda há pouco, com o Senador Gilberto Goellner tomando ciência da brutal crise que avassala o campo brasileiro - um prejuízo de 16,6 bilhões para os produtores rurais -, quando ouvi a intervenção do Senador Suplicy, que é uma figura que estimo e respeito. Eu dizia isso ainda há pouco, na CPI dos Bingos, até por isso sou bastante exigente em relação à sua coerência e postura. Ouvi menção àquele episódio de painel, enfim, e não consigo aceitar que o Senador Suplicy, sob nenhum aspecto, perdoe o que está aí. Há pessoas do seu Partido que deixo aos montes, aos montões. Podem fazer o que quiserem - plantar bananeira, dançar com anjo, o que quiserem -, mas o meu querido amigo, que chegou comigo ao Congresso, o Senador Eduardo Suplicy, não permito. Ele não pode inventar ou procurar dar nenhuma desculpa para esse crime brutal, que o democrata Suplicy tem de condenar, que é o da quebra do sigilo do caseiro Francenildo - não por ser do caseiro, poderia ser do banqueiro Olavo Setúbal, do professor João das Couves. Não se pode quebrar o sigilo de quem quer que seja, sobretudo para um Governo encobrir corrupção e tentar desqualificar uma testemunha chave para explicar acusações graves a um Ministro. Em segundo lugar, sempre somos muito cheios de dedos quando se trata da imprensa, mas temos a coragem mínima necessária - não precisa tanta, não - para estranharmos todos, sim, a ausência de Boris Casoy. Boris Casoy atravessou no ar o Governo Itamar Franco; atravessou no ar o Governo Collor; atravessou no ar o Governo Sarney; atravessou no ar o governo do seu fulano e do seu beltrano; e os oito anos do Presidente Fernando Henrique com as mais cáusticas críticas ao Presidente. De repente, saiu do ar. O bochicho é de que foi tirado do ar. Isso se juntaria, a ser verdade, com a tentativa de se amordaçar o jornalista, com a tentativa de se amordaçar a produção intelectual, com a tentativa de, agora, amordaçar-se qualquer brasileiro, desmoralizando, inclusive, o Coaf, que é o menos culpado disso tudo no caso do caseiro Francenildo. Ou seja, esse é o Governo do vale-tudo, que diz: “Não estou satisfeito com o comportamento do fulano, então, o que eu preciso fazer para destruir o fulano, para tirar o fulano da minha frente?” Essa história do Lula prático, essa história do Lula de qualquer jeito, essa história do Lula trator, isso não passa pela minha goela. Por isso, vão encontrar-me na tribuna enfrentando essas investidas, porque não há hipótese de ninguém arranhar a democracia que nós construímos e que Lula, inclusive, ajudou a construir. Portanto, quero solidarizar-me com V. Exª pelo seu pronunciamento e dizer que eu próprio estou com saudades de ouvir Boris Casoy. Estou com saudades. Considero um desperdício Boris Casoy não estar no ar e será uma vergonha se esse Governo se mexeu para tirá-lo do ar. Muito obrigado, Sr. Presidente.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Quero apenas dizer ao Senador Suplicy que sempre o tratei com muita educação, com muita gentileza, mas, se ele mentir a meu respeito, direi verdades a respeito dele. Acho que está bem entendido.

Sr. Presidente, quero dizer, na presença de V. Exª, o que disse há pouco: que sou um homem afetivo e que estava com saudade de V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - É recíproco.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Eu estava com saudade de V. Exª. O Senador Eduardo Suplicy disse que V. Exª estava no Planalto, na posse do novo Ministro, fazendo discursos etc. Penso que a obrigação maior de V. Exª é aqui. V. Exª nos pode representar muito bem lá, mas V. Exª nos representa melhor aqui. Aqui é que é o dever maior de V. Exª, o que não impede que V. Exª compareça a todos os atos que julgar ser do seu dever.

Sou um homem que tenho respeito pela sua atuação, elogio seu trabalho, não lhe tenho pedido nada - a verdade é essa, e V. Exª sabe disso. É por isso que tenho autoridade para dizer que V. Exª é um grande Presidente, mas é um Presidente que está faltando aqui por causa de assuntos partidários e para comparecer a solenidades com as quais nada temos a ver. Avalio que, se se mudar um Ministro por dia, vamos perder todos os dias o Presidente. Já seriam 18 vezes, pois já caíram 18! Digo isso, porque quero bem a V. Exª, e V. Exª tem em mim um defensor.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - É igual.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Não gostaria de deixar de dizer isso a V. Exª, uma vez que está presente, para que não parecesse que o disse às escondidas. Falo às claras!

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Sem interromper V. Exª...

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Pode interromper-me, com todo o prazer.

O SR. PRESIDENTE (Renan Calheiros. PMDB - AL) - Eu gostaria de dizer que, como chefe do Poder Legislativo, compete-nos a obrigação de algumas presenças em algumas cerimônias, e foi exatamente o que aconteceu.

Com relação ao Senado Federal, estamos, há três semanas exatamente, sem que votemos nada, absolutamente nada. Há pouco, eu conversava com o Líder José Agripino, para tentarmos contornar essas dificuldades políticas, que existiram durante todo o ano, mas que agora começam a prejudicar a produtividade do próprio Senado. Inclusive, quero conversar com V. Exª, para que possamos contornar essa situação.

Para situar o debate, que é necessário e fundamental na democracia - o debate é insubstituível, é claro -, a Oposição tem de cumprir seu papel, que é o de denunciar; o Governo tem de cumprir o papel dele, que é o de esclarecer e dar respostas à sociedade, que as cobra; e nós temos de cumprir o nosso papel, que, além de servir de palco de debate, é também o de votar e produzir, o que infelizmente não estamos conseguindo fazer.

É muito difícil para mim ficar aqui, sem que haja Ordem do Dia, porque se fica arbitrando um debate que, pelo dever funcional tanto do Governo quanto da Oposição, não tem limite. Então, fica muito difícil arbitrá-lo.

V. Exª tenha a absoluta certeza e a convicção de que não vou frustrar a expectativa que V. Exª e que o Brasil têm de mim. Vou cumprir, na plenitude, o meu papel, até para que esteja à altura do voto de V. Exª e do apoio que tenho recebido em todos os momentos.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Agradeço a V. Exª. Mas V. Exª, numa dessas idas ao Palácio, numa dessas solenidades a que é obrigado a comparecer, poderia dizer ao Presidente da República que ele é o culpado pelo não funcionamento da Câmara, com as medidas provisórias. Se já tivéssemos resolvido esse assunto, estaríamos aqui votando; se já tivesse resolvido o problema do Orçamento impositivo, pelo qual nosso amigo Gilberto Mestrinho tanto luta com decência e com altivez, resolveríamos também o problema do Orçamento. Tudo isso é culpa do Palácio do Planalto, que, vivendo a imoralidade que vive, não tem tempo para tratar de coisas sérias, apenas das maracutaias que surgem a todo instante.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Antonio Carlos Magalhães?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Quero dizer a V. Exª que o caso do Francenildo é extremamente fácil de ver. Às nove horas da manhã de ontem, o Presidente da Caixa foi saber do Lula se diria na Polícia Federal a verdade, ou seja, que o Ministro havia pedido a ele para quebrar o sigilo do Francenildo. Ele, prontamente, disse ao Lula, e o Lula mandou que ele dissesse a verdade à Polícia Federal, porque também já estava com vontade de descumprir a sua palavra de que não demitiria Palocci de forma alguma. Palocci foi demitido pela vontade do Presidente da República, que tomou conhecimento dos fatos. V. Exª, que tem um espírito investigativo, deveria também saber de tudo isso, porque, quando o Presidente da Caixa ludibriou a CPI dos Bingos, que é tão malsinada e que tantos serviços tem prestado ao País, V. Exª viu que eles pediram 15 dias - veja que canalhice! - para provar aquilo que o Presidente da Caixa foi quem fez.

Isso é desmoralizante, é triste para o nosso País! Instituições sérias como o Banco do Brasil, como a Caixa Econômica Federal, como os Correios e como a Petrobras desmoralizam-se a cada dia em virtude da complacência, inclusive, de muitos do PT que estão desorganizando a vida pública brasileira.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite mais um aparte?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Não, não lhe vou permitir o aparte, porque V. Exª quer fazer outro discurso.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Iria fazer algumas ponderações.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Permita-me V. Exª um aparte, Senador?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Com muito prazer.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - A mim, não me permite?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Vou conceder o aparte a V. Exª; mas, primeiramente, eu o concedo a meu Líder, que está com a boa causa.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Pois não.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Antonio Carlos Magalhães, faço este aparte com base no que V. Exª coloca, mas com um agravante. V. Exª disse que o Presidente da Caixa Econômica pediu 15 dias para dar a resposta do que ele fez. E ele fez o pedido ao Presidente da República. Vou ler apenas três linhas do Editorial “Coisas da Política”, publicado no Jornal do Brasil, intitulado “Lula tem culpa nesse cartório”: “A revista Época ainda não divulgara a presença de quase R$30 mil na conta bancária de Francenildo Costa, e o presidente Lula já sussurrava a amigos, em Florianópolis, a boa nova”. Lula, o jornalista Augusto Nunes é um homem de responsabilidade. O Jornal do Brasil é um jornal de circulação nacional, com anos e anos de vida, e não iria publicar uma ignomínia. Então, veja V. Exª que as coisas são muito mais graves do que se imagina. Estamos participando de uma grande farsa. Aqui está dito que o Presidente da República, Lula, na sexta-feira, já trombeteava, já bravateava, em Florianópolis, a boa nova que viria no fim de semana. A boa nova era a quebra do sigilo bancário do Francenildo. Com esse aparte, quero registrar que V. Exª tem a absoluta solidariedade da Bancada do Partido a que pertence, que endossa, em gênero, número e grau, o que V. Exª disse e o desagrava da insinuação maldosa, inconveniente, fora de tempo, feita pelo Senador Eduardo Suplicy.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Agradeço extremamente a V. Exª, que, sempre solidário com as boas causas, está apoiando este meu pronunciamento em favor do Brasil.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Antonio Carlos Magalhães, em primeiro lugar, V. Exª, a qualquer momento que quiser referir-se a quaisquer atos de minha vida, pode fazê-lo. Eu os ouvirei. Se erros, em algum momento da minha vida, cometi, saberei reconhecê-los. Aprendi a ter com V. Exª uma relação de muita franqueza e de sinceridade, mas, em muitas ocasiões, sabemos e aprendemos juntos como dialogar para construir um Brasil melhor. Quero transmitir a V. Exª que, nos 15 minutos de diálogo que mantive com as autoridades no saguão do Aeroporto de Congonhas, na sexta-feira última, transmiti ao Ministro Antonio Palocci que seria importante S. Exª solicitar à Caixa Econômica Federal, por intermédio do seu Presidente Jorge Mattoso, o quanto antes e não em 15 dias, que esclarecesse inteiramente esse episódio. Estou de acordo com V. Exª que 15 dias seriam inadequados. Só queria fazer esse registro. Obrigado.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - PI) - O Sr. Jorge Mattoso, que traiu o Brasil, era pessoa de confiança da ex-Prefeita de São Paulo.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Permita-me V. Exª um aparte?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - PI) - Com prazer.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Apenas quero saber o que o Dr. Jorge Mattoso disse ao Senador Eduardo Suplicy, tido nacionalmente como homem de boa-fé. No momento daquele diálogo, seja lá o que ele tenha dito, ele já havia praticado o crime; já havia quebrado o sigilo, segundo declarações dele à Polícia Federal, e o levado à casa do Ministro, após sair de um restaurante da cidade. Então, o Sr. Mattoso...

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Mas eu não me encontrei com o Mattoso. Estava me referindo ao diálogo com o Ministro Palocci.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª, então, cometeu um equívoco, falando para todos. Daí por que meu estarrecimento.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Não cometi equívoco. Falei...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Mas, de qualquer maneira, fica o registro, Senador Antonio Carlos Magalhães. O constrangimento que o Sr. Mattoso trouxe ao Governo do PT é irreparável. Aliás, esse episódio serviu para mostrar que a Caixa Econômica, de tantas tradições, está completamente aparelhada por militantes do PT, principalmente os originários de São Paulo. Muito obrigado.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - É verdade isso, e ficou provado no depoimento de hoje, quando vimos a relação de diretores e de técnicos, todos ligados ao PT. Tudo que está acontecendo de ruim, desmoralizando uma centenária instituição, é pelo PT, como desmoralizaram uma tricentenária instituição, que são os Correios. É o PT. O PT é hoje o grande cancro do Brasil. E temos de eliminar esse cancro pelo voto do povo com a candidatura do Presidente Alckmin.

Quero dizer ainda, Sr. Presidente, que os principais jornais do País até então apenas divulgavam denúncias sobre o Governo. Agora, cobram em seus editoriais um basta aos abusos cometidos e exigem a apuração plena dos malfeitos.

Só para citar alguns, a Folha de São Paulo inicia seu editorial de domingo com a seguinte frase: “A desfaçatez, o uso sistemático da mentira, o empenho em desqualificar qualquer denúncia, nada disso constitui novidade no comportamento do Governo Lula”.

Era isto que queriam neste instante: desqualificar as minhas denúncias, mas não conseguem, porque eu tenho, realmente, moral para enfrentar quaisquer dos Srs. Senadores, qualquer homem do Brasil.

Já o jornal O Estado de S.Paulo hoje cobra tudo, o mesmo esclarecimento com relação ao episódio do uso da máquina pública para obter vantagens e constranger pessoas.

Aliás, os títulos dos editoriais, Sr. Presidente, falam por si. O primeiro: “Abuso de poder”; o segundo: “Apurar toda a Verdade”, e o terceiro, de Boris Casoy: “É uma Vergonha!”.

Este é o quadro em que o Brasil vive hoje: estarrecido, precisando que nós, no Congresso, tenhamos a coragem de realizar aquilo de que o Brasil precisa com relação a um Governo que só faz o mal para o povo e o engana, porque a pior das mentiras é a de enganar o povo humilde do nosso Brasil. Mas isso vai acabar, graças, tenho certeza, a uma nova eleição em 1º de outubro.

Muito obrigado a V. Exª.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ANTONIO CARLOS MAGALHÃES EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Folha de S.Paulo. Opinião: É uma vergonha! Boris Casoy.”


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/2006 - Página 9811