Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a renúncia do Ministro da Fazenda, Antônio Palocci.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).:
  • Considerações sobre a renúncia do Ministro da Fazenda, Antônio Palocci.
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/2006 - Página 9831
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT).
Indexação
  • COMENTARIO, RENUNCIA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), IMPORTANCIA, ESCLARECIMENTOS, POLICIA FEDERAL, SERVIDOR, CAIXA ECONOMICA FEDERAL (CEF), QUEBRA DE SIGILO, EMPREGADO DOMESTICO, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
  • QUESTIONAMENTO, ATUAÇÃO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF), OBSTACULO, INVESTIGAÇÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).
  • CRITICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PRESIDENTE DA REPUBLICA, NEGLIGENCIA, CORRUPÇÃO, MEMBROS, EXCESSO, PROPAGANDA, GOVERNO FEDERAL.
  • SOLIDARIEDADE, RELATOR, COMISSÃO PARLAMENTAR MISTA DE INQUERITO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), LOBBY, POLITICA PARTIDARIA, RETIRADA, NOME, RELATORIO, RECEBIMENTO, AMEAÇA, INCENTIVO, ORADOR, MANUTENÇÃO, DENUNCIA, CONCLUSÃO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).
  • CRITICA, CAMARA DOS DEPUTADOS, IMPUNIDADE, DEPUTADO FEDERAL, PROCESSO, CASSAÇÃO, RECEBIMENTO, PROPINA, MESADA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quinta-feira, dizia eu desta tribuna que era muito importante que o Ministro da Fazenda renunciasse. E renunciasse antes de segunda-feira, porque o PSDB já tinha lançado o seu candidato, Geraldo Alckmin; o PT já tem seu candidato, o Lula; e o PMDB faria uma prévia no domingo para escolher seu candidato entre Garotinho e Rigotto. Na segunda-feira começaria a campanha. E se o Ministro da Fazenda não renunciasse, a campanha começaria em cima dele, em cima do seu comportamento. E eu não tinha nenhuma dúvida de que ele seria demolido. Disse eu: “Meu querido amigo, renuncie. Vá para casa, nem que seja temporariamente. Deixe passar essa tempestade, deixe que se apurem os fatos e, mais adiante, vamos ver o que acontecerá com V. Exª.”

Não digo que foi por causa do meu pronunciamento, porque seria pretensão e vaidade da minha parte, mas aconteceu um fato que deve ser salientado. O Congresso Nacional está vivendo uma fase muito triste, um festival de mentiras. Acho até que a televisão deveria ser proibida de transmitir os depoimentos na CPI, porque, no momento em que o Supremo libera as pessoas para não dizer a verdade, o que vemos são pessoas se repetindo e não dizendo o que está acontecendo.

De repente, não mais que de repente, nós assistimos a um festival de verdades. Dois funcionários magrinhos da Caixa foram depor na Polícia Federal: “Foram vocês?” Eles respondem que sim. “E quem mandou vocês?” “Foi o gerente”. Aí a Polícia Federal trouxe o gerente e disse: “Olha, eles estiveram aqui e disseram que foi você.” “Sim, fui eu.” “A mando de quem?” “A mando do gerente-geral.”

Aí veio o gerente-geral. “Os magrinhos disseram que foi o gerente; o gerente disse que foi você. Foi você?” “Fui eu.” “Em nome de quem?” “Em nome do diretor.” Aí chamaram o diretor que confirmou: “Fui eu, mas em nome do Presidente da Caixa.” Chamaram o Presidente da Caixa: “Fui eu, mas eu entreguei o resultado ao Ministro da Fazenda, fui lá na casa do Ministro da Fazenda e entreguei o resultado nas mãos dele.”

Quem diria que, no meio de um festival de mentiras, apareceria um festival de verdades e, nesse festival de verdades, mais uma vez - parece que para mostrar que Deus existe -, pela segunda vez, num segundo momento dramático da vida brasileira, aparece o caseiro, em meio a doutores, ministros, presidente, empresários, intelectuais, economistas, quando a CPI vai para lá e para cá, e não sabe o que faz e o que deixa de fazer. Lá no impeachment do Collor, nós não tínhamos idéia para onde caminhar e veio o motorista e indicou o caminho. Parecia piada, parecia ridículo, parecia incompreensível, mas o motorista disse: “Eu era o motorista, eu tinha os cheques fantasmas, eu levava os cheques fantasmas do PC Farias ao gabinete da Primeira-dama no Palácio e recebia as contas dela e as contas da casa da Dinda. E no meio desses cheques fantasmas, fui a Goiás e comprei um carro em nome do Presidente da República, com um cheque fantasma”. A partir daí, desmoronou o império.

Agora, a figura singela de um caseiro. E, até agora, eu não entendo a decisão do Supremo. Acho que o Supremo Tribunal Federal vive um dos momentos mais impressionantes, incompreensíveis e indesculpáveis da sua história. Por que o Supremo Tribunal Federal suspendeu o depoimento desse caseiro na CPI? E por que o Supremo Tribunal Federal negou novo requerimento para ele vir depor? Ele está depondo agora perante o Corregedor, Senador Romeu Tuma. Tivemos de recorrer a isso para ele falar, porque o Supremo impediu que esse cidadão falasse na CPI.

Eu nunca vi, nem na época da ditadura, o Supremo interferir, como interferiu nessa CPI, a favor dos grandes e contra os fracos. Mas, mesmo assim, esse rapaz falou o suficiente. Há gente que acha que para ter caráter, dignidade, falar a verdade, respeitabilidade, tem de ter roupa bonita, tem de ter título de doutor, tem de ter dinheiro no bolso. Quem é um caseiro, do Piauí, para vir à CPI e depor contra o todo-poderoso Ministro da Fazenda? Quem é ele? Pois ele veio depor com simplicidade, com singeleza. Chamou-me a atenção a maneira firme com que ele falava, com que ele encarava os fatos. E ele contou: “O homem foi lá umas dez, vinte vezes”.

Aí, começou-se a investigar a vida desse homem: “Foi o Senador Heráclito Fortes, lá do Piauí, quem deu dinheiro para ele. Ele está a mando da Oposição”. E, de repente, aparecem R$25 mil na conta desse homem. “Está aí, eu não dizia: é um baita vigarista”. Milhões na conta de milhares! Um mar de lama, um mar de dinheiro circulando pelo Brasil afora, em malas e mais malas. E até agora não se pediu para investigar a conta de ninguém!

No entanto, a vida desse cidadão foram investigar. “Como é que esse cidadão, esse caseiro, tem R$35 mil em sua conta? O que é isso? É um escândalo?” Foram ver a conta para desmoralizar o caseiro, a CPI, a Oposição. E aconteceu o que aconteceu. O dinheiro fora enviado por seu pai biológico, do Piauí. O caseiro diz que é seu pai. E o pai, com angústia, afirma que foi há tanto tempo, que não se lembra, mas sabe, com toda clareza, que mandou o dinheiro. O dinheiro foi ele quem mandou do Piauí para o filho aqui. E aí desmorona tudo aquilo que foi feito para desmontar a CPI.

E a coragem que doutores, ministros, deputados, senadores não têm nem de cassar nem de dizer a verdade nem de apurar tem o nosso amigo, o caseiro. Ele vem, fala e conta. E conseguiu: caiu o Ministro e, o que é mais importante, fechou-se o círculo da mentira. Se aquela casa existiu, se lá ia o Ministro da Fazenda, tudo aquilo que se dizia do dinheiro que correu lá, do dinheiro que andava por lá, que circulava por lá também é verdade.

O SR. PRESIDENTE (Augusto Botelho. PDT - RR) - Senador Pedro Simon, peço licença a V. Exª para prorrogar a sessão por mais 30 minutos, concedendo-lhe mais cinco minutos para a conclusão do seu discurso.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado a V. Exª.

E chegamos ao final: o Presidente demite o Ministro. Faz bem. O Presidente demite o Ministro, mas será que isso encerra o episódio?

O Presidente Lula teve uma oportunidade. Quando estourou o escândalo que derrubou o Presidente do PT, o Secretário-Geral do PT, o Tesoureiro do PT, o Chefe da Casa Civil, o Lula tomou uma posição e escolheu uma nova direção para o PT, entregando a Presidência do PT para o Ministro Tarso Genro, e disse: “Vamos recriar o PT. O nosso problema não é a justiça nem a Procuradoria, nem a Polícia Federal, nem a CPI, nem o Congresso; o problema é o PT. E nós, do PT, no Congresso do PT, vamos limpar o partido; vamos botar para fora os corruptos do PT; vamos fazer um novo partido e vamos fazer um novo Governo”.

Vim, então, a esta tribuna dizer que isso era excepcional, era algo altamente positivo, era algo que merece respeito. Realmente, reconhecer a culpa, bater no peito, ainda que já meio tarde, é algo que é digno de ser feito.

Vai para convenção e deixa o Tarso falando sozinho! O próprio Lula não o acompanhou, não lhe deu apoio. Entrou uma nova direção no PT, e as coisas continuaram como estavam.

Houve a eleição do atual Presidente do Senado Federal. Como não havia mais o antigo Chefe da Casa Civil, quem coordenou, quem costurou os acordos para que ele se elegesse Presidente foi o próprio Lula. Foi o próprio Lula que chamou o PTB, garantindo que, no segundo turno, votariam nele; foi o próprio Lula que chamou o MDB; foi o próprio Lula que costurou a aliança, o entendimento para se eleger o novo Presidente da Câmara.

E as coisas continuam iguais. Absolutamente iguais!

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Agora, demitem o Palocci; sim; demitem o Palocci, mas as coisas continuarão iguais?

É claro que o Governo adotou uma linha. Não há, na história do Brasil, momento em que a publicidade governamental esteve tão intensa. Não há! Onde se lê “Brasil” - com letras coloridas - “aqui tem Governo Federal”. Isso se vê de dois em dois minutos, em qualquer emissora de televisão. E essa frase é encontrada em todo o Brasil. Basta conceder R$50 mil, do BNDES, para ajudar alguma instituição, e ela estará lá: “obra do Governo Federal”.

Será que isso é suficiente? Será que, no momento da eleição, ninguém vai se lembrar do PT, dos seus compromissos, do seu passado e da sua história? Ou será que vamos encontrar a verdade?

Quero levar uma palavra ao Relator da CPMI dos Correios.

Tenho admirado S. Exª pela sua firmeza, não pelos seus arroubos de paixão e de vaidade. S. Exª segue devagar, firme e reto. Agora, estamos assistindo a uma pressão que estão fazendo sobre esse homem, no sentido de “tira esse”, “tira aquele”, “não bota isso”, “não bota aquilo”. Ameaças aos seus filhos e a ele. Tudo o que se possa imaginar está sendo feito com o Relator Serraglio para que S. Exª tire o Presidente, tire o Ministro, tire não sei mais quem, esvazie seu relatório. “Tira esse do PFL, tira aquele do PT, tira aquele de não sei onde”, e todo mundo querendo se acomodar.

Falo ao meu companheiro Serraglio que ele tenha firmeza em resistir. Derrotem seu parecer no plenário! Derrotem-no lá, na Comissão! Peçam votos e derrubem o parecer dele! Mas que ele não abra mão da sua consciência. Quem ele tiver de incluir ali, que inclua! Se o nome do Lula tem de estar ali, explicando que ele, por omissão ou por ação, participou do episódio, que se inclua o nome dele! Não retire nome nem de Deputado, nem de Senador por pressão de ninguém! É o nome dele, é a vida dele, é a personalidade dele que está em jogo.

Ele ganhou a credibilidade do Brasil inteiro, porque o Brasil inteiro acompanhou os trabalhos da CPMI, a firmeza, a coragem, a sensibilidade e a seriedade com que ele se comportou.

A esta altura, observamos que ninguém está buscando a verdade. Cada um quer salvar os seus: o MDB, os seus; o PFL, os seus; o PT, os seus; o PSDB, os seus, e o PTB, os seus.

O Relator Serraglio vive um drama que dá pena. Que S. Exª tenha firmeza! Ele está se escondendo, não pode aparecer, não pode se expressar, porque, na verdade, estão esmagando o seu pensamento.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª me concede um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Creio que é hora de se transmitir confiança ao Relator Serraglio e de os Partidos políticos transmitirem tranqüilidade para a decisão que vem aí.

Esta Casa está se saindo muito mal nessas decisões. Esta CPMI, o episódio da Câmara de absolver praticamente todos e a dança daquela Deputada... Eu até não levo, como a imprensa está levando, para o lado da radicalização. Creio que aquele foi um momento triste, um momento infeliz, mas a verdade é que, assistindo pela televisão, a imagem é horrível, porque, na verdade, parece que ela está dançando em cima de uma pizza, da qual cada um de nós tem o seu pedaço. Cada um de nós deu o seu quinhão para comprá-la.

Meus irmãos, saiu o Ministro. Não nego que gostei dele. A meu ver, dentro deste Governo, ele teve tranqüilidade e firmeza. Foi o único setor do Governo que realmente caminhava e andava. Não há dúvida alguma. Mas ele tinha de sair, e que bom que ele renunciou, e que bom que as coisas continuam.

O Governo não pode ficar assistindo a essa situação; o Lula não pode ficar parado dizendo: “Me livrei de mais um!” Ontem, foi o Chefe da Casa Civil; hoje, é o Ministro da Fazenda, e ele continua impune. Está enganado. Todas essas questões são pedaços do Lula que desaparecem.

Outro dia, falando na televisão, o Lula disse: “Ora, meu Deus, vamos dar importância a um simples trabalhador que não representa nada?” A coluna de um jornal de hoje diz muito bem:

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É um simples trabalhador, não fez o curso de torneiro mecânico, mas é um trabalhador que fez a sua parte.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/2006 - Página 9831