Discurso durante a 28ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo Dia dos Diagramadores e Revisores, celebrado na data de hoje.

Autor
Valmir Amaral (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/DF)
Nome completo: Valmir Antônio Amaral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo Dia dos Diagramadores e Revisores, celebrado na data de hoje.
Publicação
Publicação no DSF de 29/03/2006 - Página 9841
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, TRABALHADOR, EDITORA, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, IMPRENSA, REGISTRO, HISTORIA, EVOLUÇÃO, EXERCICIO PROFISSIONAL, INCLUSÃO, INTERNET.

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O SR. VALMIR AMARAL (PTB - DF. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, apesar de a imprensa, sistematicamente, fazer questão de dizer que o Congresso Nacional não trabalha, sabemos que a atividade legislativa é bastante intensa. Os números divulgados na página do Senado Federal na Internet não nos deixam mentir. No ano de 2005, realizamos 225 Sessões Plenárias, em quase mil horas de discussões, aprovamos cerca de três mil proposições legislativas, entre Propostas de Emenda à Constituição, Projetos de Lei e Medidas Provisórias, e emitimos mais de dois mil pareceres sobre matérias em tramitação na Casa.

Com efeito, são muitos e variados os assuntos que requerem nossa atenção, para os quais o povo brasileiro olha com ansiedade, à espera de dias melhores. Apesar disso, às vezes, precisamos fazer uma pausa e tirar alguns momentos para refletir sobre a importância de certos profissionais para a vida nacional, e prestar-lhes o devido reconhecimento, por tudo aquilo que eles representam.

Assim, hoje faço uso da palavra para render minhas homenagens aos diagramadores e aos revisores de todo o Brasil, pela passagem do seu dia, celebrado anualmente em 28 de março.

De acordo com o Decreto-Lei nº 972, de 17 de outubro de 1969, diagramador “é aquele a quem compete planejar e executar a distribuição gráfica de matérias, fotografias e ilustrações de caráter jornalístico, para fins de publicação”. Isso quer dizer que é o diagramador o responsável pela definição do lugar que o texto e a imagem devem ocupar numa página a ser impressa ou veiculada pela Internet, de modo que haja harmonia e criatividade para atingir o objetivo proposto. Seu trabalho, às vezes, se confunde com o do desenhista, ou designer, como também é chamado, e é imprescindível para editoras de livros e de revistas, para os jornais e, igualmente, para as empresas de mídia eletrônica que se dedicam à produção de páginas para a Internet.

Apesar de envolver conhecimentos complexos, não existe um curso superior específico para diagramador. O profissional da área deve dominar conceitos de desenho, comunicação social e visual, requisitos estes essenciais ao desempenho de suas atribuições.

Num mundo cada vez mais seduzido pela cultura audiovisual, Sr. Presidente, creio ser inegável a relevância dos diagramadores para as comunicações. Não obstante, no momento em que o Senado Federal se preocupa, de modo crescente, em incluir os portadores de necessidades especiais na sociedade, quero fazer aqui um pequeno parêntese, para mencionar a importância do desenvolvimento de novas interfaces que permitam o livre acesso dos deficientes visuais às informações disponibilizadas tanto na Internet quanto em livros e em revistas. Isso é fundamental, no meu entendimento, porque hoje temos um imenso contingente de pessoas que, por não poderem enxergar, encontram-se praticamente marginalizadas do mercado editorial.

Feito esse comentário, podemos dizer, Sr. Presidente, que, no Brasil, a profissão de diagramador teve início nos anos 40, quando o argentino Guevara, que não era o “Che”, veio ao nosso País para trabalhar no jornal Meio-Dia, do Rio de Janeiro. Lá, juntamente com Parpagnoli, seu concidadão, construiu a chamada “escola argentina” de paginação do jornalismo brasileiro, que valorizava os ornamentos gráficos na composição do texto.

Posteriormente, nos anos 50, algumas revistas brasileiras, como a Manchete, passaram a receber influência da escola concretista, desenvolvida entre artistas soviéticos, caracterizada pela simplificação do arranjo dos recursos gráficos. Era o embrião da reforma que se seguiria no Jornal do Brasil, e que marcaria o verdadeiro início da valorização da linguagem visual em nosso País. Nesse contexto, merecem destaque as insignes figuras de Amílcar de Castro e Jânio de Freitas, que revolucionaram o modo como se fazia a produção da arte visual no Brasil. Entre as mudanças introduzidas por eles, considero relevante citar o uso da lauda padrão de 30 linhas e 72 toques, e a valorização do material fotográfico, cuja retícula escura servia para trabalhar o equilíbrio estético do texto.

Atualmente, a diagramação é apoiada por poderosas ferramentas de editoração eletrônica, que auxiliam, mas não prescindem da presença do diagramador. Por isso, nas palavras de Clara Conti, “a diagramação é uma arquitetura de formas. É uma arte (...) consagrando o dinamismo pela associação de imagens”.

Cumpre lembrar ainda, Sr. Presidente, que, em 28 de março, comemoramos também o Dia do Revisor. O Decreto-Lei nº 972, de 17 de outubro de 1969, qualifica o revisor como “aquele que tem o encargo de rever as provas tipográficas de matérias jornalísticas”. Esse profissional pode atuar em jornais, em revistas, em editoras e mesmo na televisão, onde o grande volume de textos produzidos requer seus conhecimentos, para que a mensagem seja transmitida corretamente.

No Brasil, um dos primeiros a exercer a profissão de revisor foi o inigualável Machado de Assis, primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras e um de seus fundadores. Apesar de não ter tido formação superior, Machado de Assis era autodidata e freqüentador assíduo da biblioteca do Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro. Por isso, conseguiu seu primeiro emprego, como aprendiz de tipógrafo, na Imprensa Nacional. Tinha, então, apenas 17 anos de idade!

Apesar da importância da atividade de revisão, o mercado de trabalho para esses profissionais vem encolhendo a cada ano, e praticamente não encontramos mais essa categoria nas redações dos grandes jornais brasileiros. Infelizmente, essa nobre função, que já foi exercida por célebres escritores nacionais, não sobreviveu às mudanças implementadas pela grande imprensa com a chegada dos computadores. No O Estado de S. Paulo e no Jornal da Tarde, por exemplo, o setor de revisão foi desativado ainda no início dos anos 90, embora alguns profissionais tenham sido reaproveitados nas redações; em O Globo, também não temos mais revisores. Por isso, sou obrigado a concordar com o ombudsman da Folha de S.Paulo, Marcelo Beraba, quando ele afirma que a extinção dos revisores nos jornais parece irreversível.

É com tristeza, Sr. Presidente, que constato essa realidade, porque, hoje, em virtude da quase ausência desses profissionais nas redações, não raro nos deparamos com verdadeiros atentados à Língua Portuguesa, atentados esses cometidos por pessoas com curso superior e que, teoricamente, deveriam saber redigir de forma correta. 

Já concluindo meu pronunciamento, Sr. Presidente, ao lembrar, mais uma vez, o significado dos diagramadores e dos revisores para o mundo das comunicações, não poderia deixar de fazer aqui um veemente apelo aos proprietários de jornais, de revistas e de editoras, para que voltem a empregar revisores em suas redações. A Língua Portuguesa é quotidianamente massacrada, não apenas pela invasão de termos estrangeiros, mas, sobretudo, por seu uso incorreto. Cabe a nós, homens públicos, e aos comunicadores deste País, zelar por essa herança cultural, única em todo o mundo, que é o nosso idioma pátrio!

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito Obrigado!


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/03/2006 - Página 9841