Discurso durante a 33ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Proposta para industrialização do óleo da mamona como biodiesel, fonte geradora de emprego e renda.

Autor
Alberto Silva (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Alberto Tavares Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.:
  • Proposta para industrialização do óleo da mamona como biodiesel, fonte geradora de emprego e renda.
Aparteantes
César Borges.
Publicação
Publicação no DSF de 04/04/2006 - Página 10833
Assunto
Outros > POLITICA DE DESENVOLVIMENTO.
Indexação
  • IMPORTANCIA, MOBILIZAÇÃO, CONGRESSISTA, SOCIEDADE, BUSCA, SOLUÇÃO, PROBLEMAS BRASILEIROS, DEFESA, PRIORIDADE, DEBATE, DESEMPREGO.
  • REITERAÇÃO, DETALHAMENTO, PROPOSTA, CRIAÇÃO, EMPREGO, RENDA, CAMPO, PRODUÇÃO, Biodiesel, ORGANIZAÇÃO, ASSOCIAÇÕES, TRABALHADOR RURAL, ECONOMIA FAMILIAR, CULTIVO, MAMONA, OLEO, COMERCIALIZAÇÃO, COMBUSTIVEL, SUGESTÃO, DEBATE, PRESIDENTE, BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A (BNB), ESCLARECIMENTOS, VIABILIDADE, PROJETO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, expectadores da TV Senado, as palavras do Senador Cristovam Buarque agora proferidas atingem profundamente a cada um de nós. Estamos assistindo ao que as televisões estão mostrando sobre a prostituição, sobre os crimes, sobre o alcoolismo, sobre tudo que está acontecendo de ruim neste País. Diz S. Exª que a pior coisa é acostumarmo-nos com a banalização. E usa uma expressão, dizendo que temos de reagir, mas que isso não significa regirmos contra o Governo, e sim contra a banalização, ou seja, não aceitarmos o que está acontecendo.

S. Exª fala, como grande Ministro da Educação que foi, que temos de começar pela educação, que temos de atuar mais na educação. Como? Seria o Governo que teria de começar ou nós poderíamos ajudar? O Senador defende que ajudemos todos nós, para não cairmos também na banalização.

Eu diria também, Senador Cristovam Buarque, que só não existe jeito para a morte na sociedade. Para o resto, se houver boa-vontade, se houver interesse, se houver aquilo em que acreditamos quando temos religião, ou seja, que Deus dá a cada um de nós a capacidade de poder ajudar o seu próximo, se assim o fizermos, estaremos sendo dignos de estarmos neste Planeta, e vivos.

Digamos que eu não sei quanto tempo Ele me dará de vida, mas, se me deu até aqui, quero, juntamente com o Senador Cristovam Buarque, dizer ao Brasil que não entendo que este Congresso morreu, pelo amor de Deus! Vamos nos colocar numa posição. Se é a de ajudar, vamos criar um grupo de trabalho. O que falta? O desemprego é realmente o item mais importante. Com desemprego e sem educação não iremos a lugar algum.

Temos que trabalhar pela produção de emprego. Como? Já dissemos algumas vezes. Se não podemos proporcionar, nas grandes cidades, grandes oportunidades de trabalho, comecemos pelo campo.

Dizem, em todo lugar, que sou o pai do biodiesel. Claro, há 30 anos, quando dirigi a Empresa Brasileira de Transporte Urbano, chegamos ao biodiesel, investindo recursos da EBTU. Pois bem, o biodiesel foi lá, veio cá, mas hoje é possível que seja uma mola construtora de geração de renda e emprego no campo. Estamos tentando, por meio de um programa organizado, implantar um modelo na minha cidade de Parnaíba, no Piauí, em que os lavradores, organizados em associações, terão sua própria usina para produzir o óleo a partir da mamona e, daí, o próprio biodiesel.

Encontra-se em minha mesa uma proposta do Senador Osmar Dias a respeito da comercialização. S. Exª propõe que os próprios produtores, de preferência da produção familiar, vendam o combustível a preço competitivo capaz de gerar emprego e renda.

Nesta tarde, ouvimos muita coisa que nos assombra e nos entristece ao mesmo tempo; mas, no fundo, somos criaturas de Deus, e não vamos entregar a nossa capacidade de trabalhar em favor do próximo, da sociedade e do País.

Senador Cristovam Buarque, comece o grupo. V. Exª diz que não quer cair na banalização. Eu digo que também não. E creio que toda esta Casa também não. Então, digamos: companheiros desta Casa, vamos nos unir! V. Exª diz que não quer cair na banalização criticando ou jogando tudo em cima do Governo. Temos que fazer alguma coisa. Vamos fazer?

Estou aqui, com esta idade, mas com a energia que Deus me deu e com os conhecimentos que adquiri. Devemos ter um pouco de vontade, de patriotismo e de respeito aos brasileiros que estão nos ouvindo neste instante. A reação de indignação de que V. Exª fala é contra o crime, contra a exploração das crianças e contra o que está acontecendo. Mas ser contra e apenas falar não adianta. Vamos agir? Estou aqui, nesta idade, mas com o coração de alguém bem mais jovem, crendo que Deus nos dará força para ajudar o País a sair desta encrenca.

Ouço V. Exª, Senador César Borges.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Senador Alberto Silva, em primeiro lugar, parabenizo V. Exª pelo seu empenho por um País melhor, independentemente de cor partidária, e principalmente de idade. V. Exª é um grande exemplo à Nação, aqui, do alto de seu conhecimento, defendendo um País melhor. No entanto, V. Exª tocou num assunto que me parece muito controverso, que é o problema da mamona para o biodiesel. O programa foi lançado, com pompas e circunstâncias, como sendo algo que seria a redenção do Nordeste. E, sem sombra de dúvidas, o Nordeste é o melhor local para o plantio da mamona. Todavia, lamentavelmente, aqui veio o Presidente do Banco do Nordeste e disse que não há viabilidade econômica para a produção de biodiesel via mamona. Não existe ainda a tecnologia adequada, e o preço seria muito alto. Quer dizer, o óleo da mamona teria um uso mais nobre do que o do biodiesel. Seria um biodiesel inviável, do ponto de vista econômico. E nós argumentamos com ele que o Presidente Lula lançou, com pompa e circunstância, o que seria a redenção econômica, principalmente da agricultura familiar do Nordeste. Ele disse: “É, esses programas de redenção eu já vi muitos, e não acontece nada”. O Presidente do Banco do Nordeste, Roberto Smith, disse isso. Portanto, não vejo ainda a rota da mamona como geradora de emprego e renda. Como V. Exª é um profundo conhecedor do assunto, coloco essa dúvida, até para que V. Exª possa esclarecer.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Se o Presidente me permitir, por um pouco mais, já que estamos neste final de tarde, eu diria: desafio esse homem do Banco do Nordeste a dizer que, por meio da mamona, nós não chegaremos à geração de emprego e renda. Não farei qualquer crítica. Estou me referindo ao que V. Exª acaba de dizer. Prefiro dizer o que estamos fazendo.

Quanto ao óleo da mamona, da maneira como se pensa fazer, isto é, mandar os lavradores plantarem e depois pagar uma ninharia pela baga que custou o trabalho deles, o Banco do Nordeste, dizendo que não é viável, não conhece o outro lado da moeda.

O que queremos é que os lavradores, organizados em associações, plantem com a tecnologia que já existe. Vou citar um exemplo: um hectare plantado de mamona, com adubo e semente adequados, produz de uma tonelada a mais por hectare. Se eu tiver uma unidade fabril pertencente aos lavradores, isso é fácil.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Permita-me, Sr. Presidente, porque, já que o nosso companheiro solicitou um esclarecimento...

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Mas o Banco não financia, Senador Alberto Silva.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Eu direi como. Já fiz uma proposta ao Banco do Nordeste, e um gerente que tem cabeça e inteligência compreendeu. Digamos que eu tenha 3 mil lavradores que retiraram R$1 mil do Pronaf para plantar. Propus que o Banco empreste do Pronaf C, que se paga em 10 anos, R$ 3 mil a cada lavrador, para pagar em 3 anos.

Assim, construo uma fábrica de grãos, senhores. Invisto esse dinheiro no preparo da terra, na colocação daquela terra em condições de plantar, e vamos plantar mamona com tecnologia. Desse modo, os lavradores...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Permita-me, Senador Alberto Silva.

Prorrogo a sessão por 20 minutos.

O último orador é o Senador Garibaldi Alves Filho. Concedo mais dois minutos a V. Exª, Senador Alberto Silva, e dez minutos para o Senador Garibaldi Alves Filho. Se V. Exª ultrapassar, estaremos entrando no tempo do Senador Garibaldi Alves Filho.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Nos dois minutos restantes, digo que, com essa unidade fabril, plantando mamona e feijão, eu colho uma tonelada de feijão e vendo na Bolsa a R$ 2,50 o quilo. Mil quilos dão R$ 2,5 mil. Produzo mil quilos de mamona, que espremo na fábrica do lavrador, e obtenho 450 litros de óleo de mamona. Se eu transformar em biodiesel - tenho um acordo com a ANP de vender o biodiesel do lavrador, o biodiesel verde, a R$ 2,50 o litro -, aí, vou para R$ 1,25 mil.

O que o Presidente do Banco do Nordeste não sabe vai aprender agora: pego a casca da mamona, a casca do feijão, a torta da mamona e o pé da mamona, e tenho oito toneladas. Aplicando uma bactéria sobre isso, em uma unidade fabril, produzo oito toneladas de adubo orgânico, a R$ 300,00 a tonelada. São R$ 2,4 mil. Somando tudo, são mais de R$ 5 mil por ano, ou seja, mais de R$ 400,00 ao mês, com um hectare. Usando dois hectares, é a salvação.

Sr. Presidente do Banco do Nordeste, estou à sua disposição, se quiser saber como se produz renda no campo plantando mamona e feijão.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/04/2006 - Página 10833