Discurso durante a 36ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro da inauguração do Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo, solenidade que contou com a presença de diversas autoridades. Abertura hoje, no Senado Federal, da Mostra Especial Portuguesa.

Autor
Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Registro da inauguração do Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, em São Paulo, solenidade que contou com a presença de diversas autoridades. Abertura hoje, no Senado Federal, da Mostra Especial Portuguesa.
Publicação
Publicação no DSF de 07/04/2006 - Página 11269
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • REGISTRO, INAUGURAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), MUSEU, LINGUA PORTUGUESA, COMENTARIO, IMPORTANCIA, VALORIZAÇÃO, CULTURA, BRASIL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, foi inaugurado na cidade de São Paulo o Museu da Língua Portuguesa, o primeiro do mundo dedicado a um idioma. Presentes ao ato o então Governador Geraldo Alckmin, hoje pré-candidato a Presidente da República, os Ministros da Cultura do Brasil, Gilberto Gil, e de Portugal, Maria Isabel Peres de Lima, o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso, o Embaixador de Portugal no Brasil, Francisco Manuel Seixas da Costa, Dona Lilly Marinho, José Roberto Marinho, Presidente da Fundação Roberto Marinho, principal patrocinadora privada em parceria com o Governo de São Paulo, além de representantes de outras empresas públicas e privadas que se associaram ao empreendimento.

O Museu da Língua Portuguesa, Sr. Presidente, está instalado na antiga Estação da Luz, no centro histórico de São Paulo. Como se sabe a Estação da Luz foi inaugurada em 1901, ou seja, no primeiro ano do século passado. Por ela passou a maior parte dos imigrantes vindos para o Brasil no século XX; ali se ouviu pela primeira vez a língua portuguesa falada por brasileiros. Parcialmente destruída por incêndio em 1946 e reconstruída na década de 1950, ainda hoje a Estação da Luz serve com seus trens a grande parte da população de São Paulo. Esse é um dos motivos pelos quais esse museu tem características inovadoras, não só na sua estruturação quanto na destinação direta aos usuários.

O projeto arquitetônico interno é de Paulo e Pedro Mendes Rocha, pai e filho; a museografia é de Appelbaum, com sua experiência internacional no Museu do Holocausto em Washington; a estruturação vocabular dos elementos eletrônicos móveis foi coordenada pelo Professor Alfredo Bosi, membro da Academia Brasileira de Letras. Marcelo Dantas exerce a direção artística da exposição permanente.

Estive presente à referida inauguração e diria que o texto definidor do projeto apresenta-o muito claro:

O principal objetivo do Museu da Língua Portuguesa é mostrar que a língua é elemento fundamental e fundador da nossa cultura. Ele é o lugar de celebração e valorização da língua portuguesa, um espaço dinâmico, lúdico, interativo, onde os falantes do português terão sua vivência de identificação cultural com sua língua materna.

“A minha pátria”, disse certa feita Fernando Pessoa, “é a língua portuguesa”. Para ele, também, Padre Antônio Vieira, cidadão de dois mundos - Portugal e Brasil - era o imperador de nosso idioma, pelo notável trabalho que desempenhou na difusão da língua que hoje reúne milhões de falantes em oito países.

No Centro do Museu está a Praça da Língua, com auditório moderno equipado por audiovisuais e multimídia eletrônica informatizada, com painéis coloridos iluminados e cambiantes, apresentando poemas de Camões, Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade, prosas de Machado de Assis, Euclides da Cunha e Guimarães Rosa, músicas de letras de Noel Rosa e Vinícius de Moraes. Seleções feitas por especialistas no assunto.

Na Grande Galeria, sempre na linha de modernidade, um telão de cento e dez metros de comprimento, exibe sucessivos onze filmes com seis minutos cada um, sobre a presença da língua portuguesa na vida quotidiana do brasileiro. No primeiro pavimento, a artista Bia Lessa organizou uma amostra de homenagem aos cinqüenta anos da publicação de Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos diante de uma iniciativa destinada à defesa, à promoção e ao incremento do idioma no Brasil e no mundo, conforme reconheceu Maria Isabel Peres de Lima, desde o ponto de partida, que é justamente a preservação da língua, o nosso idioma. Aliás, a Ministra de Portugal, em seu discurso, citou o pensador português Virgilio Ferreira, que diz com muita precisão: “Uma língua é o lugar de onde se vê o mundo, e em que se traçam os limites do nosso pensar e sentir”.

A língua portuguesa, Sr. Presidente, é uma só, com muitos falares: do português europeu originário ao português brasileiro e aos da África, Oriente e Oceania. Juntos formamos o bloco cultural - oxalá, também econômico e político - da Comunidade dos Países da Língua Portuguesa. A estrutura gramatical apresenta-se a mesma, ainda quando inovados os vocabulários por Aquilino Ribeiro, em Portugal; Guimarães Rosa, no Brasil; Luandino Vieira, em Angola; Mia Couto, extraordinário poeta e pensador, em Moçambique. Somos uma só cultura, considerada como a mais rica do mundo por Gilberto Freyre, em virtude de sua miscigenação entre europeus, africanos, índios, orientais e até polinésios e malaios.

A alma da língua é um valor humanista em si e instrumental nos seus usos. Convém, assim, empenhar-nos num esforço maior pelo cumprimento do acordo ortográfico, não pretendendo, contudo, uniformizar em vão o idioma, porque ele é vida, e a vida não cessa de transformar-se. O que não podemos permitir é a conspurcação literária: devemos, porém, insistir no ensino rigoroso da língua a partir da primeira série do ensino fundamental, indispensável para o conversar e o escrever quotidianos.

Recordo que Machado de Assis, Lúcio de Mendonça, Joaquim Nabuco e tantos outros criaram a Academia Brasileira de Letras justamente por considerarem que a Academia devia buscar, em primeiro lugar, e ter até, talvez, como sua finalidade precípua, a defesa do idioma e, mais do que isso, a sua preservação, a sua promoção e a sua consolidação.

É por esses motivos que entendo que o Museu recentemente inaugurado em São Paulo deverá dar uma excelente contribuição para que continuemos a preservar a nossa língua e enriquecê-la pelo intercâmbio que se faz cada vez maior num Planeta que se mundializa.

Temos de exportar nossa cultura e importarmos o que de melhor se cria em Portugal e demais países lusófonos, e também na América hispânica, nossos vizinhos, e incrementarmos nosso intercâmbio cultural com a Espanha, berço de outro idioma próximo do nosso.

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa e a Comunidade Ibero-americana de Nações cruzam interesses e ideais. Grande parte de nosso ser e de nossa cultura provém da península ibérica, dali surgiu a nossa grande árvore mundial.

É imprescindível ter como meta, agora, considerar que a educação, desde as primeiras letras à cultura em geral, é o começo de uma caminhada que nunca tem fim. Daí se falar em educação permanente, conforme propõe há décadas a Unesco e ir, igualmente, até às chamadas universidades da terceira idade o grau para troca de saberes e experiências com os mais velhos, no mútuo aprendizado das gerações, utilizando inclusive bibliotecas e museus.

Sem cultura básica, saliente-se, não há ciência, pesquisa nem tecnologia, e, como corolário, não há também inovação. Daí a importância da língua e, sobretudo, de cuidar da nossa língua. A sua defesa, aceitando contribuições estrangeiras, apresenta-se como um dos pontos fundamentais da identidade nacional. Hoje em dia, ela não pode ser mais excludente, pois o mundo está cada vez mais integrado por trocas comerciais, informações e intercâmbio cultural.

Que o culto da língua portuguesa seja, portanto, o itinerário no qual as novas gerações devem inspirar-se, tendo como paradigma a ação do Museu da Língua Portuguesa, de São Paulo. Pela Internet, visto que se trata de um museu altamente interativo, é possível a articulação com instituições do Brasil e do mundo inteiro. A língua portuguesa precisa de instituições dessa natureza para projetar-se cada vez mais no circuito mundial, buscando seu lugar entre as culturas e línguas de grande perfusão.

Aliás, Portugal, anote-se, por oportuno, oferece um grande exemplo de difusão da cultura lusófona, tanto no singular quanto no plural, através de diversas instituições do nível dos admiráveis Instituto Camões e Fundação Calouste Gulbenkian, esta presente na construção do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo.

Convém, por oportuno, Sr. Presidente, registrar que, hoje, foi aberta, aqui nesta Casa, no Salão Negro do Congresso Nacional, a Mostra Especial Portuguesa. Estiveram presentes, além de autoridades, o Embaixador Francisco Manuel Seixas da Costa, Embaixador de Portugal no Brasil, e o Diretor do Instituto Camões no Brasil, Sr. Adriano Eurico Nogueira Jordão.

Sr. Presidente, o Brasil e a lusofonia estão todos enriquecidos pela inauguração do Museu de Língua Portuguesa de São Paulo. Oxalá que ele sirva integralmente para tornar viável uma justa aspiração do nosso povo e de nossa gente de ter uma língua mais conhecida e preservada, e, assim, servir de instrumento norteador da nossa identidade.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/04/2006 - Página 11269