Discurso durante a 38ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre a investigação, pela CPMI dos Bingos, a respeito da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa e defesa da necessidade de o Ministro da Justiça ser ouvido sobre a questão.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários sobre a investigação, pela CPMI dos Bingos, a respeito da quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa e defesa da necessidade de o Ministro da Justiça ser ouvido sobre a questão.
Publicação
Publicação no DSF de 11/04/2006 - Página 11464
Assunto
Outros > COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, DECISÃO, MARCIO THOMAZ BASTOS, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), COMPARECIMENTO, TRIBUNA, PLENARIO, SENADO, ESCLARECIMENTOS, PARTICIPAÇÃO, VIOLAÇÃO, SIGILO BANCARIO, TESTEMUNHA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, DEFESA, NECESSIDADE, DEPOIMENTO, AUTORIDADE FEDERAL, COMISSÃO.
  • CONTESTAÇÃO, DECLARAÇÃO, TARSO GENRO, MINISTRO DE ESTADO, CHEFE, SECRETARIA DE COORDENAÇÃO POLITICA E ASSUNTOS INSTITUCIONAIS, IMPUTAÇÃO, BANCADA, OPOSIÇÃO, MANIPULAÇÃO, POLITICA NACIONAL, EXISTENCIA, INDICIO, JUSTIFICAÇÃO, PROCESSO, IMPEACHMENT, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • NECESSIDADE, QUEBRA, SIGILO BANCARIO, PRESIDENTE, SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO AS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE), SUSPEIÇÃO, IRREGULARIDADE, DOAÇÃO, RECURSOS FINANCEIROS, DESTINAÇÃO, GASTOS PESSOAIS, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACUSAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, MANIPULAÇÃO, IMPEDIMENTO, ACESSO, CONTA BANCARIA, EMPRESARIO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, novos fatos e novas revelações acabam nos empurrando para uma conclusão inevitável.

A cúpula do Governo envolveu-se em um complô, na tentativa de esconder da população brasileira crime praticado no interior do próprio Governo. E o Ministro da Justiça, justamente o Ministro Márcio Thomaz Bastos, foi escalado para patrocinar a causa daqueles que teriam sido responsáveis pelo crime cometido no interior da Caixa Econômica Federal, afrontando a Constituição com a violência praticada contra um trabalhador: o caseiro Francenildo.

Portanto, Sr. Presidente, louvo a iniciativa do Ministro Thomaz Bastos em antecipar-se para prestar esclarecimentos da tribuna do Senado Federal. É uma atitude de quem quer oferecer explicações sobre o seu comportamento. É assim que deve proceder uma autoridade do Governo.

No entanto, Sr. Presidente, a presença do Ministro Márcio Thomaz Bastos em outra tribuna que não seja a da CPI dos Bingos me parece inoportuna. A CPI dos Bingos está investigando a quebra do sigilo bancário do caseiro. Não afirmem que isso não é foco da investigação, porque está sendo, quando a CPI constituiu comissão para ir à Caixa Econômica Federal; quando, logo depois, constituiu comissão para ir à Polícia Federal e quando convocou o próprio caseiro para depor na CPI. É claro que esse fato está sendo enfocado pela CPI dos Bingos.

O Ministro Palocci vem sendo investigado, desde o início, por esta CPI, desde a sua participação nos escândalos de Ribeirão Preto até o prosseguimento com os escândalos no Planalto Central, com a equipe de Ribeirão Preto, que se transferiu para Brasília sob a proteção do Ministro e que operou, à margem do Governo, com tráfico de influência e com favorecimento ilícito daqueles que naturalmente se aproveitaram do prestígio do Ministro Palocci. Portanto, o local adequado para o depoimento do Ministro Márcio Thomaz Bastos é a CPI dos Bingos.

Assim como aplaudi a iniciativa do Ministro em se antecipar para oferecer explicações, eu gostaria de aplaudi-lo se sugerisse que o seu depoimento fosse prestado exatamente à CPI dos Bingos, que tem prerrogativas para a investigação indispensável nesse caso. A presença do Ministro na casa de Palocci, no dia 23, a presença de dois dos seus mais credenciados assessores de confiança naquele evento em que o Ministro recebia o extrato bancário do caseiro, tudo isso estabelece uma conexão estreita do Ministro Márcio Thomaz Bastos com esse escândalo. Evidentemente, o fato deixa visível tratar-se de uma decisão de Governo. Não há como não concluir desta forma até que se prove o contrário. A decisão de, afrontando a Constituição, invadir a conta bancária do caseiro Francenildo foi uma decisão de Governo. Enfim, é o Estado policial agindo na perseguição a cidadãos trabalhadores do País.

Sr. Presidente, diante desses fatos, causa espanto a afirmativa do recém-empossado Ministro das Relações Institucionais, o Sr. Tarso Genro. Ele afirmou que isso contribui para agravar o quadro político a partir de uma avaliação pouco condizente com o cargo que ocupa. Na avaliação equivocada do Sr. Tarso Genro, as Oposições tentam inflamar artificialmente o ambiente político, acirrando o discurso contra o Governo e retomando as ameaças de se iniciar o processo de impeachment.

Ao contrário da visão do Sr. Tarso Genro, “não há a menor racionalidade jurídica”, diz ele, na possibilidade de um pedido de impeachment do Presidente da República. O jurista Reale Jr. destaca: “Do ponto de vista técnico e jurídico, há elementos de sobra para o enquadramento do Presidente da República pela prática de crime de responsabilidade”. Para Reale Jr., o “embasamento técnico do pedido de impeachment, que já era ‘claro’ com o escândalo da compra de Deputados, tornou-se ainda ‘mais evidente’ a partir do episódio da quebra ilegal do sigilo bancário de Francenildo dos Santos Costa”. Trata-se, nas palavras de Reale Jr., de um “crime de Estado”, agora reforçado com a presença do Ministro da Justiça no centro da crise. Apesar do apreço que devota ao Ministro Thomaz Bastos, Reale Jr. considera muito difícil a posição do Ministro.

Há uma vertente ainda encoberta, protagonizada por um personagem-chave desse esquema arquitetado em Brasília para alicerçar um projeto de poder de longo prazo: trata-se do Sr. Paulo Okamotto. A quebra de sigilo bancário do atual Presidente do Sebrae é fundamental e não pode ser adiada.

Sr. Presidente, há um requerimento de autoria do Senador Antero Paes de Barros, que propõe a quebra do sigilo bancário do Sr. Paulo Okamotto. Já o fizemos em duas oportunidades, mas o Supremo Tribunal Federal, por intermédio de um ou de outro Ministro, por decisão monocrática, deferiu liminar impedindo que a CPI lançasse mão dos dados bancários do Sr. Paulo Okamotto. Essas informações bancárias referentes à movimentação financeira do Sr. Paulo Okamotto encontram-se lacradas no cofre da Secretaria da CPI dos Bingos.

É urgente, portanto, que se aprove um novo requerimento com o qual se possa quebrar o sigilo bancário do Sr. Paulo Okamotto, para se desvendar os mistérios acobertados por uma liminar deferida pelo Supremo Tribunal Federal.

O jornalista Elio Gaspari escreveu, ontem, o seguinte:

            São muitas as coisas que Lula não sabe, mas “nosso guia” sabe que se o sigilo bancário de Paulo Okamotto for aberto, sua candidatura à reeleição será um capítulo encerrado.

Ora, Sr. Presidente, por que essa luta incansável contra a quebra do sigilo bancário do Sr. Paulo Okamotto? Por que essa insistência teimosa em impedir que se conheça a movimentação financeira do Sr. Paulo Okamotto? O que se esconde por detrás dessa blindagem?

Não conheço nenhum cidadão brasileiro blindado com tanta eficiência quanto o Sr. Paulo Okamotto. Estão blindando o Sr. Paulo Okamotto ou o Presidente da República? Certamente, o Sr. Paulo Okamotto não teria tantos poderes, não teria tanta influência, não resistiria tanto se não tivesse como principal patrocinador da sua causa o próprio Presidente da República.

Vou encerrar, Sr. Presidente, dizendo que o Congresso Nacional vai ficar devendo muito à sociedade brasileira se não investigar em profundidade esses fatos. O Brasil não aceita essa contemporização. O País não aceita que o Governo fique entre a versão e a manipulação. As versões vão sendo sepultadas, uma após outra e a história de Palocci no Governo é emblemática relativamente às versões que cederam aos fatos e à realidade.

A manipulação, de outro lado, será certamente também substituída pela realidade que ocorre no Brasil.

Agora, Sr. Tasso Genro, quanto à Oposição, ela tem sido generosa demais. O comportamento da Oposição é de uma generosidade incomum. Se a Oposição não fosse tão generosa com o Presidente Lula, este País já teria discutido, sim, o processo de impeachment. O voto em separado que apresentei, com base na Constituição, na Lei de Improbidade Administrativa e no Código Penal, pretendia indiciar o Presidente e submetê-lo à Mesa da Câmara dos Deputados para apurar a prática do crime de responsabilidade.

Se a Oposição da era Collor fosse tão generosa quanto a de hoje, não teríamos vivido o impeachment do Presidente Collor. Portanto, acusar a Oposição de hoje de radicalizar, de insuflar, de criar e protagonizar crises artificiais é uma injustiça pouco inteligente. Só falta, agora, pedirem que o Collor volte. Só falta, agora, ressarcirem o Collor de Mello pelos prejuízos políticos e morais sofridos. Só falta, agora, pedirem perdão a Collor de Mello, porque, sem dúvida, a seleção de crimes praticados pelo Governo Lula está muito à frente dos crimes que levaram Collor de Mello ao impeachment.

            Sr. Presidente, é hora de restabelecermos a verdade neste País.

 


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/04/2006 - Página 11464