Discurso durante a 38ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Ponderações sobre a antecipação da audiência do Ministro da Justiça no Senado. Leitura de trechos de entrevista do Ministro Tarso Genro sobre a vinda do Ministro Márcio Thomaz Bastos a esta Casa. (como Líder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MINISTRO DE ESTADO, CONVOCAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
  • Ponderações sobre a antecipação da audiência do Ministro da Justiça no Senado. Leitura de trechos de entrevista do Ministro Tarso Genro sobre a vinda do Ministro Márcio Thomaz Bastos a esta Casa. (como Líder)
Aparteantes
Eduardo Suplicy, José Jorge.
Publicação
Publicação no DSF de 11/04/2006 - Página 11494
Assunto
Outros > MINISTRO DE ESTADO, CONVOCAÇÃO. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
Indexação
  • COMENTARIO, CORRESPONDENCIA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), DESTINATARIO, PRESIDENTE, SENADO, CAMARA DOS DEPUTADOS, APOIO, ORADOR, SOLICITAÇÃO, ANTECIPAÇÃO, AUDIENCIA.
  • COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, ENTREVISTA, MINISTRO DE ESTADO, SECRETARIA DE COORDENAÇÃO POLITICA E ASSUNTOS INSTITUCIONAIS, LIDER, GOVERNO, CAMARA DOS DEPUTADOS, ALEGAÇÕES, AUSENCIA, PARTICIPAÇÃO, MINISTRO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), VIOLAÇÃO, SIGILO BANCARIO, EMPREGADO DOMESTICO, TENTATIVA, JUSTIFICAÇÃO, REUNIÃO, TITULAR, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), PRESIDENTE, CAIXA ECONOMICA FEDERAL (CEF), OPINIÃO, ORADOR, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, MANDANTE, QUEBRA DE SIGILO.
  • APOIO, DATA, AUDIENCIA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA JUSTIÇA (MJ), EXPECTATIVA, DEPOIMENTO, ADVOGADO, PRESIDENTE, CAIXA ECONOMICA FEDERAL (CEF), COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é exatamente sobre esse assunto que eu gostaria de falar. Trago uma palavra de ponderação, de moderação, e faço uma tentativa de realizarmos uma sessão de audiência do Ministro Márcio Thomaz Bastos com conseqüência prática, porque a nossa obrigação não é açoitar ninguém, mas investigar e esclarecer.

O Ministro Márcio Thomaz Bastos oficiou ao Presidente do Senado - e creio que ao da Câmara - expressando o desejo de comparecer com a maior brevidade possível às duas Casas do Congresso.

A minha primeira dúvida é: a qual Casa do Congresso S. Exª deseja vir em primeiro lugar ao Senado ou à Câmara? Até porque há requerimentos de partidos políticos na Câmara que também desejam ouvir S. Exª, como há requerimentos no Senado dos que desejam ouvir o Ministro.

O Ministro tem todo o direito de solicitar a antecipação de sua vinda, muito embora ela tenha sido anunciada para após a Páscoa. S. Exª tem todo o direito de solicitar, Senador Eduardo Suplicy, a antecipação de sua vinda, se tem argumentos convincentes para trazer à Casa.

Eu disse ao Senador Renan Calheiros, Presidente da Casa, que me consultou sobre este assunto, que eu estava preocupado, Senador Geraldo Mesquita Jr., com uma entrevista do ex-presidente do PT e atual Ministro da Coordenação Política, Tarso Genro, bem como com declarações do Líder do Governo na Câmara, Deputado Arlindo Chinaglia.

Tomo a liberdade, Sr. Presidente Renan Calheiros, de ler os trechos mais importantes da entrevista, que são curtos, para que V. Exªs compreendam minha preocupação, que é a de tirarmos o melhor proveito, em termos de esclarecimento, dessa audiência a que se propõe o Ministro Márcio Thomaz Bastos, que deseja, e é um direito dele, se antecipar na vinda ao Senado.

Diz o Sr. Tarso Genro:

“A presença dele [Márcio Thomaz Bastos] em uma reunião como esta é perfeitamente normal para se informar”. Isso porque, alega o Ministro da Justiça, tem uma função técnica, jurídica e política. “Não vejo nenhum problema nessa reunião nem no comportamento do Ministro neste período todo”, insistiu Tarso, atribuindo as acusações a Bastos às “disputas políticas”. Para ele, se Bastos foi lá “como membro do governo, para ouvir o Ministro da Fazenda a respeito de um fato de que estava sendo acusado, isso não interferiu em nada na sua conduta em relação aos fatos anteriores”.

O Líder do Governo na Câmara, Deputado Arlindo Chinaglia (PT - SP), assumiu tese idêntica.

E qual é a tese idêntica? De que o Ministro foi a uma reunião, com Palocci e Mattoso, como autoridade, para dar uma opinião sobre um fato que estava denunciado.

De quebra, Chinaglia responsabilizou Palocci, que nega ter dado a ordem para a quebra do sigilo ou promovido o vazamento. “Ninguém sabia. Até que surgiu o culpado na sua real dimensão. Até aí o que é que aconteceu? Aconteceram reuniões, contatos. A responsabilidade tem nome [diz Arlindo Chinaglia]: Palocci e Mattoso. Se eles tivessem falado, vocês acham que o Márcio... Na hora em que ele vislumbrou a hipótese, o Márcio avisou ao Lula”.

Como que dizendo “vocês acham que se o Márcio soubesse, não teria avisado ao Lula?”, e diz que avisou ao Lula. No entanto, na entrevista, Arlindo Chinaglia, Sr. Presidente, coloca de forma muito clara que a denúncia tem dois responsáveis: Palocci e Mattoso. É aí onde entra a minha ponderação.

Palocci foi demitido, Mattoso foi demitido. Palocci disse que nunca deu ordem a Mattoso para que quebrasse o sigilo bancário de Francenildo. Mattoso, ao que se supõe, disse que recebeu a ordem de Palocci para quebrar o sigilo.

Senador Eduardo Suplicy, o que é que eu acho? Com todo o respeito ao Ministro Márcio Thomaz Bastos, na minha opinião, ele não vem aqui como incriminado, mas como suspeito, para esclarecer fatos; vem com a obrigação de esclarecer fatos muito graves. Muito bem: o que é preciso esclarecer?

Quebrou-se o sigilo bancário do Francenildo, alguém mandou, pessoas sabiam, pessoas tentaram encobrir o fato depois de ser do domínio público. Entra aí a figura do advogado Malheiros; entra a figura do Ministro Márcio Thomaz Bastos; fica uma grande confusão que tem de ser esclarecida. A começar de quê? Das declarações do Sr. Jorge Mattoso que, até agora, não depôs na CPI dos bingos. O Sr. Jorge Mattoso precisa vir dizer “eu recebi ordem, ou sugestão, ou pedido de Fulano de Tal para quebrar o sigilo” que todo mundo sabe que foi quebrado. Todo mundo sabe que foi quebrado, mas Mattoso precisa dizer de quem ele recebeu a ordem. A partir daí, pode-se ir a quem deu a ordem a Mattoso para quebrar o sigilo bancário, para constatar se, na hora em que o papel chegou, os assessores de Márcio Thomaz Bastos estavam presentes e em que circunstâncias o Ministro, acompanhado de Malheiros, teve o encontro com Palocci. Dessa forma, poderemos desvendar todo esse mistério.

Então, Sr. Presidente Renan Calheiros, o que quero dizer a V. Exª é que mantenho a opinião que lhe dei hoje de manhã. Independente de freqüência, estou aqui, V. Exª está aqui, os Senadores Edison Lobão, Ramez Tebet e João Alberto estão aqui, o plenário está com boa freqüência. Não é por baixa freqüência, até porque acho que teremos quorum suficiente para atender à convocação de V. Exª. É pelo fato de termos um depoimento superveniente que é da maior importância e que, na minha opinião, deve anteceder a vinda de S. Exª, o Ministro Márcio Thomaz Bastos.

Mas, da parte do PFL, o que V. Exª quiser definir estaremos inteiramente de acordo. Se V. Exª concordar com a vinda de S. Exª amanhã ou quarta-feira, o PFL estará aqui para fazer as perguntas. Apenas acho que será uma audiência sem conseqüência, porque, depois que o Sr. Jorge Mattoso vier, talvez se imponham perguntas mais importantes do que as que possamos fazer amanhã ou depois de amanhã. Mas a posição do PFL, com essa advertência, com essa colocação, é entregar a V. Exª o juízo para que o Ministro venha, se assim o desejar, amanhã ou quarta-feira, podendo ter de voltar em outra semana, em outra oportunidade para responder a indagações que fiquem, que restem da vinda de Jorge Mattoso, que é figura central no esclarecimento desses fatos.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador José Agripino, V. Exª me permite um aparte?

O SR. JOSÉ AGRIPINIO (PFL - RN) - Ouço com prazer o Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Primeiramente, V. Exª faz indagações que são naturais e de bom senso, querendo esclarecer o episódio. V. Exª tem uma linha de questionamento ao Ministro Márcio Thomaz Bastos e ao Presidente Jorge Mattoso. É natural que deseje saber toda a verdade sobre a seqüência dos episódios. No entanto, pondero que o Ministro Márcio Thomaz Bastos é o responsável pela Polícia Federal, que ouviu Jorge Mattoso. Assim, já há um depoimento. De outra parte, há um requerimento, aprovado na CPI dos Bingos, pelo qual foram solicitados à Polícia Federal os documentos do inquérito que está em andamento e sobre o qual o Ministro da Justiça deverá nos dar informações. Para que possamos ter maior riqueza de informações, antes mesmo da vinda do Ministro Márcio Thomaz Bastos, faço a sugestão de que possa o Ministro, até amanhã, encaminhar à CPI dos Bingos aquilo que já foi objeto de levantamento de informações, incluindo o depoimento de Jorge Mattoso, para que tenha V. Exª o esclarecimento sobre o que depôs. Por outro lado, avalio que é de maior justiça, do ponto de vista da vontade do Ministro da Justiça de esclarecer o mais rapidamente possível episódios que, se não forem esclarecidos, provocarão a manutenção de uma situação de dúvida sobre o que efetivamente ocorreu. Assim, do ponto de vista da normalidade institucional brasileira, será muito importante termos tal esclarecimento o quanto antes. Então, reitero o meu apelo no sentido de que o Ministro Márcio Thomaz Bastos possa comparecer amanhã ou até quarta-feira, pois, com sua presença significativa, trará mais informações na direção do que V. Exª mencionou, ou seja, sobre o que disse Jorge Mattoso em seu depoimento à Polícia Federal. Se, porventura, esse depoimento não for satisfatório, caberá à CPI eventualmente convocá-lo. Mas se o depoimento for suficiente e esclarecedor, o depoimento do Ministro Márcio Thomaz Bastos será ainda mais esclarecedor sobre tudo que efetivamente aconteceu.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Eduardo Suplicy, sempre conciliador. V. Exª sugere que o depoimento do Sr. Jorge Mattoso na Polícia Federal seja do conhecimento dos membros do Senado, para que possamos fazer perguntas apropriadas.

Senador Suplicy, as perguntas que a Polícia Federal fez ao Sr. Jorge Mattoso são algumas, mas podem não ter sido todas as que os Senadores desejarão perguntar ao Sr. Jorge Mattoso e que possam produzir esse ou aquele indício, esta ou aquela dúvida, sobre o Ministro Márcio Thomaz Bastos.

De toda forma, acolho a sugestão de V. Exª. Já apresentei ao Presidente a posição que eu pessoalmente esboço como Líder do meu Partido.

Ouço com prazer o Senador José Jorge, Líder da Minoria.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Comunico a V. Exª que apresentei um requerimento na CPI dos Bingos, convocando o advogado Arnaldo Malheiros Filho, porque esse importante advogado criminalista participou da conversa entre o Ministro Antonio Palocci, o Presidente Jorge Mattoso e o Ministro Márcio Thomaz Bastos. Pelo que se diz, nessa conversa, tratou-se de fazer um plano de defesa para os dois Ministros. Achei que, nessa questão toda do caseiro, essa reunião foi uma das coisas mais graves, porque nas atribuições de um Ministro - principalmente do Ministro da Justiça - não está a orientação de defesa de pessoas do Governo que cometeram irregularidades. Então, acho que esse é o ponto crucial do depoimento do Ministro Márcio Thomaz Bastos aqui. Apresentei requerimento de convocação, na CPI dos Bingos, que deve ser aprovado, para que possamos também ouvir o advogado e, assim, verificarmos o que efetivamente foi tratado na reunião e possamos, de certa maneira, tirar a dúvida daquilo que aconteceu.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Senador José Jorge, não sabia que V. Exª já tinha feito o requerimento de convocação do advogado Malheiros. É um fato que se acrescenta a minha preocupação: o depoimento do Sr. Jorge Mattoso, que não é apenas um único fato. V. Exª acrescenta um segundo fato: o advogado Malheiros que, convocado, prestará depoimento e dará informações.

Então, Sr. Presidente, com essa exposição que eu faço a V. Exª como Líder do meu Partido, quero afirmar que o meu Partido não coloca nenhum óbice à vinda do Ministro terça ou quarta-feira; quórum haverá. O que ressalto é que, em função dos fatos que foram claramente apresentados aqui, sem emoção, na busca de esclarecimento, de forma pragmática, o que pode acontecer é que o Ministro venha aqui amanhã ou depois de amanhã e, depois do depoimento do Sr. Jorge Mattoso e do Sr. Arnaldo Malheiros, ele precise voltar. Será que é o mais acertado fazer isso?

Se V. Exª, consultando os Líderes, entender como tal, o PFL não criará nenhum obstáculo, mas não se furtará a, se entender a necessidade de uma reconvocação do Ministro, também tomar a iniciativa de fazê-lo.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/04/2006 - Página 11494