Discurso durante a 41ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Ameaças do governo federal em editar medidas provisórias visando substituir o Orçamento da União. Repúdio ao anúncio de mudanças na sistemática da nova Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Autor
Antonio Carlos Magalhães (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: Antonio Carlos Peixoto de Magalhães
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ORÇAMENTO.:
  • Ameaças do governo federal em editar medidas provisórias visando substituir o Orçamento da União. Repúdio ao anúncio de mudanças na sistemática da nova Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Aparteantes
Almeida Lima, Eduardo Suplicy, José Jorge, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 19/04/2006 - Página 12152
Assunto
Outros > ORÇAMENTO.
Indexação
  • CRITICA, DESRESPEITO, CONGRESSO NACIONAL, AMEAÇA, GOVERNO, EDIÇÃO, MEDIDA PROVISORIA (MPV), SUBSTITUIÇÃO, ORÇAMENTO, PROTESTO, ANUNCIO, ALTERAÇÃO, LEI DE DIRETRIZES ORÇAMENTARIAS (LDO), AUTORITARISMO, EXECUTIVO, PERDA, DEMOCRACIA.
  • DENUNCIA, INCOMPETENCIA, GOVERNO FEDERAL, GRAVIDADE, CORRUPÇÃO, EXPECTATIVA, TRABALHO, PROCURADORIA GERAL DA REPUBLICA.
  • CRITICA, BANCADA, GOVERNO, OBSTACULO, VOTAÇÃO, ORÇAMENTO, OFENSA, REPUTAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, agradeço-lhe por S. Exª citar meus títulos. O Senador Pedro Simon tem mais títulos do que eu, de maneira que fico, no máximo, em pé de igualdade. Governador S. Exª já foi, Ministro S. Exª já foi e um grande Líder tem sido.

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Não foi ainda Presidente do Senado.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - É só o que lhe falta, porque o PMDB não deixa.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem, chamei a atenção deste Senado para as medidas provisórias com as quais o Governo nos ameaça, porque até agora não as publicou, demonstrando que o Congresso Nacional não tem qualquer valia. Ele só poderia legalmente editar essas medidas provisórias, que substituiriam o Orçamento, se ele declarasse que o País está - como em verdade está - em situação de calamidade pública, porque o Governo Lula é a calamidade pública que tomou conta do Brasil. Nesse caso, ele tem pleno direito de editar essas medidas provisórias.

Chamo a atenção de V. Exª, que faz parte da Mesa, e dos Líderes do PMDB, que, infelizmente, não vejo - em várias sessões, aliás, falamos sem que eles nos ouçam, porque eles nos ouvem somente dos seus gabinetes, mas não vêm ao plenário, acanhados com o Governo que representam.

Quero dizer, neste instante, que eu tinha muito apreço pelo Deputado Paulo Bernardo, a ponto de, quando Presidente desta Casa - porque ele não foi reeleito -, tê-lo convidado para trabalhar no meu gabinete como assessor especial, principalmente para tratar de matéria orçamentária, em que ele e o Sérgio Miranda se destacavam. Hoje - pasmem! -, acabei de ouvir do Sr. Paulo Bernardo que a nova LDO vem toda modificada, permitindo ao Governo fazer tudo o que quiser, salvo investimento, em função da LDO, acabando, assim, o Orçamento da República. Parece incrível! Quem não ouviu acha que estou mentindo, mas muitos ouviram e sabem que eu não minto. Conseqüentemente, o País caminha para a ditadura, e isso não pode acontecer com o nosso silêncio.

Sr. Presidente, é muito importante para o Senador Renan Calheiros ser Presidente do Congresso, mas é péssimo para o Congresso que, na Presidência de qualquer deles, inclusive do meu amigo Renan Calheiros, o Presidente da República ouse substituir o Congresso pelo seu Ministro de Planejamento, Orçamento e Gestão, ou por ele próprio. Isso é o fim da democracia, que já existe de maneira muito capenga neste País, onde os incapazes tomaram conta da administração apenas para malversar o dinheiro público - como está sendo provado não por mim, mas pelo Procurador-Geral da República.

Na semana passada, o Procurador da República apontou os 40. Faltou dizer o chefe - como já está muito comum dizer o Ali Babá, vou dizer chefe -, que é o responsável por tudo isso.

Aonde vamos parar? Queremos votar, hoje, o Orçamento. Estão chegando a um esforço grande para tal o Presidente Renan Calheiros e o Líder Fernando Bezerra. Mas vamos votar o Orçamento quando o Governo já avisa que a LDO vai acabar com ele, permitindo que tudo seja feito por meio dela?

Sr. Presidente, o assunto é de gravidade, e essa gravidade deve ser demonstrada no plenário para que não aprovemos o Orçamento hoje sem que o Governo recue na LDO. Isso é mais importante do que emendas do meu Estado, do Amazonas, do Rio de Janeiro, enfim, até mesmo do que a Lei Kandir. Nada é mais importante neste momento do que a declaração do Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão de que não vai haver, praticamente, Orçamento no ano próximo, que vai haver a LDO, que passa sempre às escondidas nesta Casa. Assim, o Congresso ficará numa situação não de penúria, porque nela já está, mas de miserabilidade perante a opinião pública, que não aceita a covardia de muitos dos seus membros.

Cada um de nós deve refletir sobre a responsabilidade que tem com o povo do seu Estado. Cada um de nós tem a obrigação de vir a esta tribuna chamar a atenção do Governo para que pare com as loucuras que são prejudiciais a ele, Governo, mas muito mais ao povo brasileiro. Ninguém quer impedir o Governo do Lula, a não ser ele próprio. Ele próprio, que não soube se cercar de auxiliares competentes. Todos eles, quase - se houver um bom trabalho como o que houve agora, da Procuradoria Geral da República -, serão fisgados.

Conseqüentemente, Sr. Presidente, é meu dever vir a esta tribuna diariamente. Virei sempre que puder, atendendo aos apelos dos brasileiros e, em particular, dos baianos, ouvindo as vozes sensatas, como a do Senador Pedro Simon e de tantos outros, que querem apurar as misérias que estão ocorrendo no País e, principalmente, em nossos Estados.

O Orçamento é de mentira, é para não ser cumprido, apesar do esforço do Relator da Comissão e, diga-se de passagem, do seu Presidente, que acaba de ser furtado no Rio de Janeiro, por falta de policiamento. Até isso acontece: o Presidente da Comissão Mista de Orçamento, onde tantos furtam, foi furtado no Rio de Janeiro, em sua casa, por um bando que já está oficializado em todo o País para roubar impunemente os brasileiros. Na Comissão Mista de Orçamento, também o bando deveria passar, porque não pode continuar assim. Há Deputados que colocam, para Municípios quase inexistentes, R$10 milhões. Para quê? Para terem comissão.

Depois, vão querer me levar para o Conselho de Ética, vão querer me prender, vão querer me bater. Podem fazer tudo o que quiserem. Não me importo, Sr. Presidente, estou cumprindo com meu dever, estou sendo um intérprete dos brasileiros sofridos, que estão aniquilados moralmente com o Governo que aí está.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Senador Antonio Carlos...

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Com prazer, Senador Almeida Lima, Senador Pedro Simon e Senador José Jorge.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Agradeço a V. Exª e quero me somar ao seu pronunciamento. Quando V. Exª faz a citação da denúncia do Procurador-Geral, dos 40 que cometeram ilícitos penais, recordo-me daquela frase que diz: “Diga-me com quem andas...”. Por outro lado, Sua Excelência o Presidente da República costuma dizer, País afora, que o Parlamento, o Congresso, a Oposição não querem aprovar o Orçamento, quando isso é uma falácia. Sua Excelência o Presidente sabe muito bem que, quando precisa de maioria para não cassar mandato de corrupto, ele a tem. E que a Oposição no Congresso é minoria. Ora, aprova-se Orçamento com a maioria e quem a detém é Sua Excelência o Presidente da República. O povo brasileiro precisa tomar conhecimento disso. Quero concluir, Senador Antonio Carlos Magalhães, dizendo que o art. 85 da Constituição Federal aponta os crimes de responsabilidade e os atos do Presidente da República, e diz que são crimes aqueles que atentam contra a Constituição, especialmente contra o livre exercício do Poder Legislativo. Sua Excelência o Presidente da República atenta contra o livre exercício do Poder Legislativo, do Congresso Nacional, quando interfere na vontade dos Srs. Parlamentares. Isso foi feito e está devidamente comprovado com o pagamento do mensalão. Finalmente, quem é o Presidente? Não é ele? Esse mensalão atendia aos interesses de quem? Do Governo Federal. Portanto, ele atenta contra as funções, o livre funcionamento deste Poder. E atenta mais com as medidas provisórias, a exemplo do “jumbão” que aí está. E, como disse V. Exª há pouco, declarações do Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão atentam mais ainda quando tratam da questão orçamentária e dizem que não haverá Orçamento para o próximo ano. E para que Congresso Nacional? Ora, é preciso que se diga que o nosso Estado é democrático e de direito. Logo, precisamos respeitar a Constituição. Muito obrigado, nobre Senador.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Eu peço aos oradores que têm interesse em aparteá-lo que atentem para a importância do debate e aproveitem com justa objetividade o tempo de aparte, para não prejudicar o orador.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Obrigado, Sr. Presidente.

V. Exª tem absoluta razão quando diz que, para salvar Deputados do mensalão, o Governo tem maioria; para o Orçamento, não tem maioria! É engraçado! Este Governo é sui generis porque abandonou a moral, abandonou a competência, abandonou a ética e abandonou, sobretudo, os brasileiros que foram enganados, votando nele.

Tem o aparte o Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon (PMDB - RS) - Nobre Senador, acho muito importante o pronunciamento de V. Exª. Aliás, diga-se de passagem, V. Exª é autor de duas propostas que, se tivessem sido votadas, a História já teria sido mudada neste Congresso. Primeiro, foi a medida provisória. Se, para entrar em exercício, a medida provisória tiver que ser votada no Congresso, essa maluquice da medida provisória que eles apresentaram em cima do Orçamento não entraria em vigor; e se o Orçamento impositivo já fosse uma realidade, nós também estaríamos vivendo um outro momento. Infelizmente, não só não estamos indo para o lado que V. Exª desejava, que era o lado de encontrar o bom senso entre o Congresso e o Executivo, como estamos partindo para um lado muito delicado, que é exatamente este de não se votar o Orçamento, de o Executivo não cumprir as promessas sagradas que tem com os Governadores, que vivem, como o do Rio Grande do Sul, horas dramáticas. Eles poderiam não estar tendo problemas se o Governo pagasse aquilo que se comprometeu a pagar, que é ressarcir o Governo do Estado das exportações que não pagam imposto nenhum devido a Lei Kandir. Não só não faz isso, como está dando a metade do que dava o Presidente Fernando Henrique Cardoso. Isso é que está dando o atual Governo. Além do mais, anuncia V. Exª que eles prevêem, na medida provisória da regulamentação do Orçamento...Mas a lei não vai passar, Senador. Posso garantir a V. Exª que a lei não passa aqui.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL -BA) - Senador Pedro Simon, nós não deixaremos passar. V. Exª tem toda razão.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não vai passar, aqui, não. O Governo está vivendo maus momentos. O Governo tinha de entender que estamos vivendo uma outra hora. Até a semana passada, era o PT de um lado e o PSDB de outro. Quem tinha razão? O PT dizendo horrores do Governo passado, e o PSDB dizendo horrores do atual Governo. Agora há uma denúncia do Procurador-Geral da República. Mudou a situação. Não estamos discutindo a questão politicamente. Os aspectos políticos daquele debate morreram. O que está em jogo é uma denúncia do Procurador-Geral da República fazendo as maiores acusações sobre fatos ocorridos neste País desde 1500. Mesmo com essa denúncia, o Governo continua agindo da mesma maneira, com a maior serenidade, com a maior tranqüilidade: o Presidente Lula percorrendo o Brasil. Sei que o Presidente é um homem democrata, mas ele está chateado, porque são tantas coisas contra o seu Governo. Mas não se assustem, porque vai ser muito mais. Daqui até lá, vai ser muito mais. V. Exª pode ficar tranqüilo. Muito obrigado a V. Exª

O SR. ANTONIO CARLOS MAGLHÃES - Eu é que agradeço a V. Exª. Realmente esses dois pontos salientados por V. Exª deram-me inspiração para fazer as medidas provisórias acabarem. Vamos transformar todas elas em projetos de lei. Vamos ter a coragem de transformá-las em projeto de lei. E, assim, não deixar passar nenhuma medida provisória. Penso que o Presidente Renan Calheiros já está aceitando essa tese. V. Exª tem absoluta razão. Sei que o Estado de V. Exª sofre. O Governador do Rio Grande do Sul, um homem de bem, está sofrendo todo o tipo de retaliação do PT do Rio Grande do Sul.

Concedo o aparte ao Senador José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Antonio Carlos Magalhães, eu gostaria de me solidarizar com as palavras de V. Exª. O Presidente Lula todos os dias vai ao rádio e à televisão falar mal do Congresso, dizendo que a Oposição não deixa aprovar o Orçamento, o Fundeb, enfim, uma série de projetos em que Sua Excelência, teoricamente, tem interesse. Mas, na prática, quem não permite quorum a esta Casa é a base do Governo, que é majoritária. Como bem já se disse aqui, quando é para absolver aqueles que estão no mensalão, rapidamente dá quórum. Mas quando é para votar os projetos de interesse da população, a base do Governo desaparece. Então, V. Exª tem todo o direito de falar, porque, como o Senador Pedro Simon ressaltou, a questão do Orçamento impositivo e do fim das medidas provisórias são os elementos que irão, efetivamente, fortalecer o Congresso em relação ao Executivo. Sem isso, o resto é “passar manteiga em focinho de gato”; não se resolverá nada. Mas com essas duas medidas - o Orçamento impositivo e o fim das medidas provisórias - teríamos um Congresso forte. Muito obrigado.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Agradeço a V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Senador Antonio Carlos Magalhães, solicito a V. Exª que não conceda mais apartes em razão do seu tempo na tribuna, a não ser que sejam breves.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Certo, Excelência. Cumprirei as suas ordens. V. Exª é o único do PT presente neste plenário.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Eu estou aqui, Senador.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - V. Exª é dissidente.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Concede-me V. Exª um aparte?

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Se o Presidente permitir, concederei um aparte a V. Exª.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - Pedindo absoluta atenção em relação ao tempo, pois a fala do orador já excedeu em três minutos, Senador Eduardo Suplicy.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Senador Antonio Carlos Magalhães, hoje tive a oportunidade de testemunhar, embora não seja Líder, o esforço do Presidente Renan Calheiros e de todos os Líderes para chegar ao entendimento. Inclusive V. Exª também estava presente. Eu gostaria de dizer que nós, da base do Governo, estamos presentes e prontos para participarmos da reunião do Congresso Nacional e votarmos o Orçamento, hoje à tarde ou amanhã ou ainda na hora em que o Presidente Renan Calheiros entender que há um entendimento Oposição/Situação. Estamos prontos e presentes à votação. Esse o registro que desejava fazer.

O SR. ANTONIO CARLOS MAGALHÃES (PFL - BA) - Veja bem V. Exª - vou aceitar que V. Exª não é dissidente -: então, por que os seus colegas, aliados, não estão aqui para discutir e para defender o que Paulo Bernardo quer fazer com o Presidente Lula na LDO, substituindo o Orçamento? Por que eles não vêm defender o Orçamento que, ao ser elaborado, já é feito para ser roubado? Começa na roubalheira da feitura - e muitos Parlamentares são responsáveis, à exceção, com certeza, do Relator e do Presidente, Senador Gilberto Mestrinho - e, depois, contingenciam as verbas. Começa a corrupção no Governo e acaba no mensalão.

Isso não pode continuar, Sr. Presidente. V. Exª é um homem íntegro e, como tal, não deve permitir que o seu Partido enverede por esse caminho. Advirta o seu Presidente, diga a ele que chega, que o País está cansado de ver um Governo imoral, incapaz, um Governo feito para roubar, um Governo feito para desrespeitar a consciência dos brasileiros, que vivem irritados com a falsidade das pesquisas que lhe dão apoio, porque o povo realmente não dá.

Muito obrigado.

 


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/04/2006 - Página 12152