Discurso durante a 42ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apresentação de requerimento de voto de congratulações ao arquiteto e urbanista, Paulo Mendes da Rocha por ter ganho o Prêmio Pritzker, considerado a maior honraria da arquitetura internacional.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
CONCESSÃO HONORIFICA.:
  • Apresentação de requerimento de voto de congratulações ao arquiteto e urbanista, Paulo Mendes da Rocha por ter ganho o Prêmio Pritzker, considerado a maior honraria da arquitetura internacional.
Publicação
Publicação no DSF de 20/04/2006 - Página 12476
Assunto
Outros > CONCESSÃO HONORIFICA.
Indexação
  • HOMENAGEM, ARQUITETO, ESTADO DO ESPIRITO SANTO (ES), RECEBIMENTO, PREMIO, AMBITO INTERNACIONAL, ARQUITETURA, ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), REGISTRO, BIOGRAFIA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador Efraim Morais, Srªs e Srs. Senadores, estou apresentando hoje requerimento, nos termos do art. 222 do Regimento Interno do Senado Federal, para que venhamos a realizar a inserção em Ata de voto de congratulações para o arquiteto e urbanista Paulo Mendes da Rocha por ter ganho o Prêmio Pritzker, considerado a maior honraria da arquitetura internacional.

É um prêmio que, na área da arquitetura, equivale ao Prêmio Nobel, como toda a imprensa tem registrado.

O homem domina, transforma e convive com a natureza. Dessa constatação simples nasce a arquitetura, que é a arte de melhor dar ao homem a plena possibilidade de existência e convívio.

Seguindo a tradição paulista, um homem de outro Estado, no caso o Espírito Santo, dá até hoje, com suas obras, lições de como dominar a natureza, criando espaços onde a convivência e o encontro entre as pessoas é incentivada pelos grandes vãos, pelas formas simples, pelas linhas retas. Estou falando do arquiteto e urbanista Paulo Mendes da Rocha, capixaba que atuou sobre a cidade e o Estado de São Paulo, principalmente seguindo o que se convencionou chamar de “Escola Paulista de Arquitetura”, criação atribuída ao genial Vilanova Artigas e aperfeiçoada por todos os seus seguidores.

Paulo Mendes da Rocha acaba de receber o Prêmio Pritzker, considerado o máximo da premiação da arquitetura internacional.

O prêmio é importante, mas é só mais um na carreira de quem dedicou toda a sua vida à arquitetura e ao ensino da arte de viver e conviver nas cidades, sendo também um cidadão que procurou participar ativamente das idéias, das culturas, dos movimentos sociais, das lutas pela liberdade e pela cidadania.

Paulo Mendes da Rocha nasceu em 1928, em Vitória. Formou-se em 1954 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie. Sua simpatia pessoal e generosidade são conhecidas e, com certeza, têm muita influência sobre o seu trabalho. Numa entrevista à revista Caros Amigos, há pouco tempo, ele fala da maneira como trabalham os seus colaboradores no seu escritório. “Não há um chefe e vários subordinados. E sim vários arquitetos trabalhando, fazendo arquitetura”. Mais parece um grupo de amigos. Mas é dali, das conversas muitas vezes informais, que saem as idéias, que os projetos se desenvolvem com o pensamento livre, sempre voltado para o melhor aproveitamento do espaço e da relação entre o homem e seu meio. Esse respeito que Paulo Mendes da Rocha dá aos seus colaboradores transparece no que faz. E vice-versa.

A sua secretária Dulcinéia há pouco me disse o quão ótimo é Paulo Mendes da Rocha. É ele mesmo quem atende ao telefone e fala informalmente com qualquer pessoa. Esse despojamento, essa simplicidade, a Humanidade reserva apenas aos verdadeiros grandes, aos que recebem todo o reconhecimento dos seus pares, mas nem por isso se sentem mais importantes que qualquer outra pessoa. Eu daria um prêmio a ele por isso também. Deve estar muito contente a sua esposa Helena. Pela simpatia que espalha, pelos gestos largos, pela intenção de melhorar o mundo usando os seus conhecimentos, Paulo Mendes da Rocha tem recebido o reconhecimento dos seus pares, inclusive daquele que, alguns anos atrás, também recebeu o Prêmio Pritzker. Refiro-me a Oscar Niemeyer, que expressou o seu contentamento pelo fato de Paulo Mendes da Rocha também agora ser outro brasileiro premiado com o Pritzker.

Pesquisando sobre ele na Internet, encontra-se uma frase que resume bem o seu trabalho:

O “gesto arquitetônico” promovido por Paulo Mendes da Rocha, ou seja, as intenções dos seus projetos [....] procuram, cada qual a seu modo, propor também um “projeto de humanidade”, e tal ato evolui na medida em que sua carreira progride”.

            Não posso citar o autor porque não há crédito, mas a frase resume o que é Paulo Mendes da Rocha.

Seu primeiro grande projeto, o Clube Atlético Paulistano - que me recorda muita coisa boa da minha juventude -, é de 1957. Ali já aparecem algumas de suas características, como o uso do concreto armado - um ponto fundamental para os seguidores e criadores da Escola Paulista de Arquitetura, de que também faz parte Joaquim Guedes, outro que sabe tão bem trabalhar com concreto.

Paulo é autor de obras importantíssimas para São Paulo: o Museu de Arte Contemporânea da USP; o Museu da Língua Portuguesa, recém-inaugurado na Luz; o Museu Brasileiro da Escultura; a reforma da Pinacoteca do Estado de São Paulo; o Museu de Arte de Campinas; o edifício do serviço Poupatempo, em Itaquera, São Paulo, considerado perfeito para o que se propõe, num grande bairro popular; a reforma do Centro Cultural da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na Avenida Paulista; e tantas outras, como o projeto de cobertura sobre a Galeria Prestes Maia, no centro de São Paulo, que causou muita polêmica, provando que, nesse campo, não existe unanimidade. Mas isso é bom porque é da democracia.

Paulo Mendes da Rocha foi professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP. Entrou em 1961, quando o País vivia um grande debate de questões sociais, e na arquitetura não era diferente. Veio o golpe militar de 1964, que não via com bons olhos o progresso da cultura, o debate das idéias, os inovadores, o ensino dos grandes professores. Então, Paulo Mendes da Rocha teve seus direitos políticos cassados e, em 1969, foi proibido de dar aulas, proibido de passar adiante o que mais sabia. O grande foi punido por algum pequeno.

Mas, em 1980, após a decretação da Anistia Política, Paulo voltou a lecionar na FAU, onde foi professor da cadeira de Projeto Arquitetônico até se aposentar, em 1998. Seu escritório continua fazendo o que sempre fez: promovendo o trânsito de idéias para que as pessoas possam viver melhor.

Feliz é o Brasil por ter arquitetos como Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha e tantos outros que são, sobretudo, amantes da liberdade, da democracia e da realização da justiça.

O meu abraço a Paulo Mendes da Rocha.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/04/2006 - Página 12476