Discurso durante a 44ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagens a Brasília pelo transcurso do seu quadragésimo sexto aniversário.

Autor
Valmir Amaral (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/DF)
Nome completo: Valmir Antônio Amaral
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagens a Brasília pelo transcurso do seu quadragésimo sexto aniversário.
Publicação
Publicação no DSF de 25/04/2006 - Página 13057
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, CAPITAL FEDERAL, REGISTRO, IMPORTANCIA, CIDADE, HISTORIA, FUTURO, BRASIL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. VALMIR AMARAL (PTB - DF. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na oportunidade em que comemoramos o quadragésimo sexto aniversário de nossa bela Capital Federal, quero enaltecer Brasília não pelas incontestáveis conseqüências positivas que sua edificação, no coração do Brasil, trouxe para as regiões adjacentes e para o projeto de interiorizar o desenvolvimento econômico, que era uma aspiração insistente entre nós desde o século XIX, mas pelo que Brasília representa em termos de ideário, em termos de auto-imagem nossa, em termos de inspiração para o avanço do projeto de nação brasileiro, -- projeto claudicante, que parece sempre interrompido para ser tomado mais adiante, e mais uma vez, num esforço renovado e teimoso. O espelho ou imagem idealizada em que nos miramos, desde meados do século passado, reflete Brasília em toda sua integridade e esplendor.

Brasília não foi somente o resultado da vontade inquebrantável e indomável de um homem, -- seu fundador, o Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. Foi isso também. Mas Brasília foi mais. Foi a prova de que nós existimos, brasileiros, como nação. De que, após sermos moldados ao longo de 450 anos de história colonial ou semicolonial, éramos capazes de nos moldar a nós próprios. De nos soprar de nosso próprio barro. Brasília foi nosso atestado de maioridade.

E que época fantástica, fértil, em que o Brasil mostrava-se aos olhos do mundo em todo seu vigor juvenil, criativo, viril! Como toda sociedade de passado colonial recente, nossa precisão de nos afirmar perante o exterior sempre foi muito grande. É o adolescente que passa a jovem, que se apresenta um dia a uma reunião de adultos e de velhos senhores, e que reivindica perante todos eles seu novo status de igual, e que a todos maravilha e surpreende por sua bela e forte constituição, mesclada ainda de uma ingenuidade de noviço que enternece, e faz lembrar que o tempo continua em movimento. Brasília foi nosso rito de passagem.

Sr. Presidente, era a segunda metade dos anos 50. Com pernas tortas, com linhas curvas e funcionais, e com elegantes acordes dissonantes, nossa nação mestiça na pele e na alma vinha dizer a que veio, nada sabendo criar que não fosse constitucionalmente vazado em arte e talento. Parecia uma sina. Esse grande construtor de nossa identidade que foi, e é, o futebol, no Brasil era como nossa capoeira, uma mistura de luta e de dança. Original. Ninguém ainda tinha visto isso ser jogado assim, daquela forma. No encanto que provocou a Bossa Nova, viajava a delicadeza e a sofisticação de nossa cultura de classe média, bebendo e transformando as raízes do canto e do batuque negro dos morros. E que ousadia traçar e erigir no meio do sertão uma cidade do futuro! Nesse mesmo sertão, poucos anos mais tarde, Corisco ia rodopiar cinco vezes com os braços abertos em cruz até cair morto, abatido por Antônio das Mortes, caçador de cangaceiro.

Brasília foi tudo isso. Ela mesma, e muito mais.

Então, ao examinar o passado, bruscamente interrompido, em 1964, por um mal entendido, -- é assim que o vejo, -- entre duas pragas que também nos acompanham desde o berço como nação, o populismo e o autoritarismo, eu quero recordar que Brasília foi, antes de tudo, uma aposta no futuro. Não uma aposta nem frívola nem gratuita. Foi uma aposta lastreada no presente, nos braços daqueles que aqui vieram construir.

Então a melhor homenagem que podemos prestar aos 46 anos deste sonho realizado é não desistir de olhar para a frente; mas com os pés firmes, plantados no solo. Na terra vermelha, pardacenta, roxa de nossa pátria. Sabendo que, para elevar, primeiro há de aplainar o terreno. Mas que os recursos para aplainar e para elevar estão, e sempre estiveram, ao alcance de nossas mãos e de nossa vontade.

“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”. Foi Fernando Pessoa, ao entoar o gênio português, do qual crescemos e nos libertamos, que assim escreveu.

Deus quis.

            Os brasileiros sonharam, e Brasília nasceu.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

 


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/04/2006 - Página 13057