Discurso durante a 45ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Carência de espaços culturais em Rondônia.

Autor
Amir Lando (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Amir Francisco Lando
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Carência de espaços culturais em Rondônia.
Publicação
Publicação no DSF de 26/04/2006 - Página 13221
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • COMENTARIO, NECESSIDADE, LOCAL, ATIVIDADE CULTURAL, ESTADO DE RONDONIA (RO), OBJETIVO, DESENVOLVIMENTO CULTURAL, INCENTIVO, ENSINO, ATIVIDADE ARTISTICA, PRESERVAÇÃO, MEMORIA NACIONAL.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, CARTA ABERTA, AUTORIA, FEDERAÇÃO, TEATRO, ESTADO DE RONDONIA (RO), CONVOCAÇÃO, POPULAÇÃO, MANIFESTAÇÃO, DEFESA, INCENTIVO, DESENVOLVIMENTO CULTURAL, REGIÃO NORTE.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. AMIR LANDO (PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, recebi do meu Estado de Rondônia diversas comunicações sobre as necessidade de espaços culturais no Estado, sobretudo grupos de teatro, que estão representando ao ar livre por falta de locais onde a cultura possa se manifestar de maneira criativa. A cultura é uma criação humana, a cultura é uma sedimentação da memória que se edifica com os atos da arte, da história, dos costumes e da vida de um povo.

É o teatro esse momento de representação em que a ficção toma lugar à realidade, mas devolve à realidade um raciocínio, uma catarse de identidade com todos aqueles que freqüentam as platéias.

É disso que precisamos, Sr. Presidente, no Estado de Rondônia: criar esses espaços culturais polivalentes, para onde os artistas e os talentos da nossa terra, que, embora constituam uma representação diminuta da comunidade nacional, para lá levaram, dentro da alma, o desejo da arte. E a arte é essa manifestação, como disse Heráclito, da consciência humana, que é o raio - e tudo segue o raio. A arte é esse lampejo, são esses clarões que surgem na mente humana e que ultrapassam o tempo e conquistam uma centelha de imortalidade.

Essa é a arte: é a manifestação do belo. A arte é tudo que causa uma sensação agradável. E é nessa linha que, percorrendo o Estado, encontramos artistas de todos os setores: na literatura, na escultura, nas artes plásticas, na pintura. Artistas que nada devem aos grandes homens que ilustraram o Renascimento na Europa.

É exatamente isso. Temos de dar uma oportunidade, incentivar, ensinar as técnicas para que aflore, das profundezas da alma, a beleza, que explode em uma manifestação artística.

Por isso, Sr. Presidente, mais do que nunca, o Estado de Rondônia carece desses espaços, porque a arte também de ser representada na ficção, em que paredes não são paredes, oceanos não são oceanos, janelas não são janelas, mas parecem tudo isso exatamente por causa do manejo das luzes, pelo manejo das sombras, que fazem com que tudo pareça realidade. É o irreal que dá a efetividade do real, é a arte que cria o mundo da ficção, mas que encontra profunda identidade com os problemas e as circunstâncias do momento.

É por isso, Sr. Presidente, que eu, mais do que nunca, reconheço que é necessário desenvolver, em todo o País, as condições necessárias para que a cultura nacional se sedimente.

Falo, aqui, da Amazônia. A alma amazônica precisa ser desvendada e colocada à luz. É exatamente essa mágica do teatro que faz com que as pessoas chorem, que fez com que Catarina, a Grande, se comovesse com a morte de um personagem, mas que permanecesse insensível diante do cocheiro morto pelo frio na carruagem. É essa sensibilidade que não se ajusta com a manifestação artística, porque, às vezes, a realidade trágica engana um pouco aquela representação - e, por que não dizer, choca aquela realidade representada.

É exatamente este momento que eu gostaria de salientar, que mais do que nunca é preciso registrar, porque, como disse Euclides da Cunha, referindo-se à Amazônia, sobretudo ao rio Purus, na “Terra sem História”, em seu livro À margem da História, “uma terra sem memória é uma terra sem cultura”.

Temos de registrar essa cultura por meio da manifestação artística. Só ela poderá atravessar os tempos, os séculos e buscar esses personagens que, certamente, não será Macunaíma, um herói sem caráter, de Mário de Andrade, filho da noite e filho, sobretudo, do medo da noite.

Queremos redescobrir o homem da Amazônia, o seringueiro solitário -um só constitui uma comunidade -, o seringueiro que dialoga com os objetos de trabalho, com as árvores, com os animais. Com essa escrita feita em baixo relevo nas faces do chão, ele vai desvendando o mistério de todo o movimento e de toda a atividade desenvolvida no seio da floresta; esse homem, filho do longe, do mais longe do que nunca, filho da imensidão, do sofrimento e das alucinações das febres terçãs; filho do sofrimento, da coragem e da solidão.

A alma amazônica é aberta como a liberdade e não aceita a tirania de quem quer que seja. É a alma dos homens de ferro, com os braços de aço, que lançaram os trilhos da Madeira-Mamoré, fazendo abrir, no meio da floresta, uma senda construída com a própria vida daqueles que realizaram essa epopéia.

Sr. Presidente, é a civilização do trem de ferro, é a civilização de Santos Luzardo, que delirava a vida do trem como símbolo da civilização; é exatamente a civilização da máquina, do trem, das forças organizadas pelo homem dentro da mecânica, que nada mais é do que um jogo de alavancas.

É isto o que queremos preservar: a memória da Madeira-Mamoré, sim; a memória, sobretudo, daquilo que se perde nas silhuetas dos séculos. É isso que não podemos deixar morrer e que temos de registrar, e só a cultura poderá dar esse acervo consagrado na manifestação da arte.

Por isso, Sr. Presidente, quero me solidarizar com a Federação de Teatro do Estado de Rondônia (Feter) e lançar nos Anais desta Casa a Carta Aberta à Sociedade de Rondônia. É o mesmo apelo que se faz à sociedade brasileira, porque esses heróis, que sabem trabalhar com o imaginário coletivo, com o mantra do imaginário, certamente poderão resguardar e preservar a cultura, porque a arte tem, como eu disse, esse ponto de manifestação do belo e da imortalidade.

Quero dizer que Rondônia precisa, sim, de sensibilidade, sobretudo das autoridades locais, para que possamos dar oportunidade de espaços para a manifestação artística.

Queremos, mais uma vez, dizer “parabéns por essa luta” a esses pioneiros, defensores das artes do meu Estado. E, mais do que isso, lanço aqui um desafio, para que todos nós, representantes do Estado de Rondônia, possamos dar ao Estado aquilo que é elementar, essencial e o mínimo, a fim de que os nossos artistas possam representar um espetáculo da vida, um espetáculo desse ambiente amazônico, desse domínio brutal e implacável da floresta, do Inferno Verde, de Alberto Rangel.

Esses homens são, antes de tudo, o símbolo da coragem, da solidão e da esperança.

Muito obrigado.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR AMIR LANDO EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Ato Público da Federação de Teatro do Estado de Rondônia (Feter) - Carta aberta à sociedade de Rondônia.”

“Sated faz ato público na praça Aluízio Ferreira no Dia Nacional do Teatro” (O Estadão, 27/03/06).


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/04/2006 - Página 13221