Discurso durante a 46ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações a respeito dos novos ministros do governo Lula. (como Líder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações a respeito dos novos ministros do governo Lula. (como Líder)
Aparteantes
Arthur Virgílio, Heloísa Helena, Heráclito Fortes, Leonel Pavan, Mão Santa, Sibá Machado.
Publicação
Publicação no DSF de 27/04/2006 - Página 13508
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ANALISE, CRITICA, REFORMULAÇÃO, MINISTERIO, GOVERNO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, NECESSIDADE, COLOCAÇÃO, SECRETARIO EXECUTIVO, CARGO PUBLICO, FALTA, QUALIFICAÇÃO, EXERCICIO, FUNÇÃO, POSSIBILIDADE, RETORNO, TITULAR, ACUSADO, INDICIAMENTO, PARTICIPANTE, CORRUPÇÃO.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no domingo estava em casa vendo televisão e, no meio da exibição de um programa de grande audiência, foi feita uma interrupção para um pronunciamento à Nação de um Ministro de Estado, que, na minha opinião, não disse coisa muito importante nem coisa que justificasse o pronunciamento em cadeia de rádio e televisão. Ao final, anunciou-se: “Os senhores acabaram de ouvir a palavra de S. Exª, o Ministro da Saúde”.

Perguntei a todos os que estavam aqui, dentre os quais a Senadora Heloísa Helena, o Deputado Babá e os Senadores Arthur Virgílio e Romeu Tuma, o nome do Ministro da Saúde. Nenhum deles soube me informar. Solicitei a mesma informação ao Senador Siba Machado, mas S. Exª também não soube me informar - é verdade que, dali a dois minutos, S. Exª, sôfrego, aproximou-se de mim e disse que ele se chama Jorge Agenor Álvares da Silva.

Senador Romeu Tuma, V. Exª sabe quem é Guilherme Cassel? (Pausa.)

Senador Arthur Virgílio, V. Exª sabe quem é Orlando Silva Júnior? Não é o cantor, não. (Pausa.)

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Orlando Silva é o Cantor das Multidões.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Não, não: Júnior.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - É filho dele?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Não.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Não, não sei.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Sabe quem é o Sr. Paulo Sérgio Oliveira Passos?

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Não.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Sabe quem é o Sr. Altemir Gregolin?

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Não.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Senador Arthur Virgílio, são todos Ministros de Estado.

Faço esta observação, Sr. Presidente, porque depois do vendaval que assolou o Governo...

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Quais são as pastas, Senador José Agripino?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Eu sei porque me deram por escrito: o Sr. Guilherme Cassel é o Ministro do Desenvolvimento Agrário; o Sr. Orlando Silva Júnior, homônimo do cantor, é Ministro do Esporte e Turismo; o Sr. Pedro Brito Nascimento, que não citei, é o Ministro da Integração Nacional.

V. Exª conhece o Sr. Nelson Machado?

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - O Sr. Nelson Machado é da Assistência Social.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Previdência Social.

O Sr. Jorge Agenor é da Saúde; o Sr. Paulo Sérgio de Oliveira Passos é dos Transportes; o Sr. Altemir Gregolin é da Pesca. São os novos Ministros do Governo Lula, nomeados após a safra que devastou José Genoino, Silvinho, Delúbio Soares, Marcelo Sereno - este trabalhava ao lado do gabinete de José Dirceu -, o próprio José Dirceu, Marcos Valério, Palocci, aqueles que foram denunciados por corrupção. O Presidente Lula foi obrigado a aceitar a demissão deles porque não tomava a iniciativa de demiti-los. Quando não havia caminho de saída, aceitava o pedido de demissão. Esse é o novo Ministério da República.

Senador Arthur Virgílio, já ouço V. Exª.

Estou fazendo esta observação, Senadora Heloísa Helena, porque eu estava em meu Estado outro dia e uma pessoa disse: “Eu estou pensando em votar em Lula de novo”. Eu lhe disse: “Por quê?” Ele disse: “Porque ele tirou já o Governo todo para fora, tirou os ladrões todos. Eu acho que ele limpou a área para fazer agora um governo novo”. E aí é onde está a minha preocupação e para onde vai o meu pronunciamento nesta tarde.

Antes de colocar a minha preocupação, porém, ouço com muito prazer o Senador Arthur Virgílio e, em seguida, o Senador Sibá Machado.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Líder José Agripino, eu acho até que nós temos o dever de chamar ao Senado esses ilustres desconhecidos para nós os conhecermos, afinal de contas, eles dirigem pastas....

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - São Ministros de Estado, mas ninguém sabe quem são.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - (...) que mexem com a vida dos brasileiros. Todavia, a primeira conclusão, a conclusão mais apressada a que pode chegar um brasileiro apressado - e eu não sou apressado nesse campo -, é a de que o Governo, com nomes conhecidos, gerou aquele espetáculo da corrupção e agora resolveu cair na clandestinidade: ninguém conhece ninguém e pronto.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Só que isso não vai dar em boa coisa para o povo brasileiro, Senador Arthur Virgílio. Ministro de Estado tem de ser competente.

Senador Arthur Virgílio, V. Exª se lembra de Adib Jatene? De José Serra? Esses foram nomes de peso, Senador César Borges, que ocuparam o Ministério da Saúde. Desses, o povo do Brasil se lembra, porque fizeram um trabalho à altura das expectativas. Porém, colocar anônimos? Eles podem até fazer um bom trabalho, mas não é essa a expectativa.

Ouço, com muito prazer, o Senador Sibá Machado e, em seguida, a Senadora Heloísa Helena.

O Sr. Sibá Machado (Bloco/PT - AC) - Senador José Agripino, ouvi atentamente V. Exª. Lembro que todas essas pessoas já participavam do Governo e todas ou, pelo menos, a maioria delas já exercia o cargo de Secretário-Executivo das referidas Pastas. Os Ministros saíram em função de suas candidaturas neste ano, que é um direito que lhes assiste. Digo a V. Exª, com toda a segurança, que são pessoas da mais alta competência e que já são treinadas na função, porque faziam parte do segundo maior cargo do Ministério, que é a Secretaria-Executiva. Apostar no novo é muito importante. Lembro a V. Exª que sair de uma função para uma candidatura foi o que tornou Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, que era Ministro de Estado. O ex-Presidente deu a sua contribuição, foi chamado e deu certo. Num caso mais tupiniquim, na minha região, temos hoje o prazer de ter a nossa política local produzindo novas referências e apostando em pessoas novas, que dão resultados benéficos ao nosso Estado e à nossa região. Quanto a isso, não há problema. V. Exª tem razão em dizer que não os conhecia, porque estamos acostumados com as pessoas de largo convívio da política. Neste momento, o Presidente Lula desistiu de colocar alguns nomes da política para colocar nomes mais técnicos, mais da execução, mais do fazer diário, sem qualquer demérito daqueles que fazem política, pois as duas atividades são muito boas. Não me lembro do nome do substituto do ex-Ministro José Serra, que saiu para ser candidato a Presidente da República. Ele não era largamente conhecido no dia-a-dia da política brasileira. Digo isso a V. Exª porque respeito a preocupação de V. Exª, mas considero isso muito natural. Acho que o Presidente Lula fez, sim, boas escolhas para a composição de seu Governo.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Senador Sibá Machado, V. Exª tem razão em uma parte de sua argumentação, pois substituir um Ministro de Estado, de forma isolada, é um fato normal. O Ministro José Serra foi substituído pelo Sr. Barjas Negri, que hoje é Prefeito eleito de uma cidade de São Paulo. É uma autoridade, foi um grande Secretário-Executivo e foi um grande Ministro. Mas foi um. O que ocorreu, no Governo Lula, é que de uma “sentada” saiu uma “batelada”.

O que a Nação deveria esperar? A substituição dos Ministros por figuras eméritas. Deveria haver tanta gente de boa qualificação profissional para a função a, b, ou c, que pudesse ou não ter qualificação ou condicionamento político, mas que tivesse qualificação para exercer aquelas funções. Não, o que me parece é que convites foram feitos para figuras eméritas, mas, em função da qualidade do padrão ético do Governo, do valerioduto, do escândalo Palocci-Matoso, as figuras eméritas não se dispuseram a ocupar as funções que puderam ser oferecidas e sobrou-lhes a oportunidade de entregar os Ministérios a secretários-executivos, a figuras que podem até ser interessantes, mas não conhecidas. Não há aqui nenhuma desconfiança especial com relação a eles. Não está em questão esse problema. Em questão está, Senador Sibá Machado, outra preocupação.

            O cidadão que me encontrou em Natal disse-me que estava pensando em votar em Lula, porque tinham limpado a corrupção e por achar que o novo Governo poderia sair do zero. Seria um Governo limpo. Aí está - Senadora Heloísa Helena, em seguida concederei um aparte a V. Exª - a minha grave preocupação, Senador Arthur Virgílio. Preocupo-me com o que estou lendo e vendo no dia-a-dia:

Dirceu pilota campanha em Minas.

O ex-ministro da Casa Civil e deputado federal cassado José Dirceu vai ser o responsável por mobilizar a militância petista nas próximas eleições, em Minas Gerais. Dirceu, que perdeu o mandato por envolvimento com o escândalo do mensalão [...] foi o escolhido pelo PT mineiro para a função.

[...]

Garotinho, que esperava apoio do ex-presidente Itamar Franco à sua pré-candidatura, insinuou que Dirceu estaria por trás da decisão de Itamar Franco a mandado do Palácio do Planalto.

A minha preocupação, Senador Arthur Virgílio, Senador Romeu Tuma, Senador César Borges, Senador Rodolpho Tourinho, é que os mesmos estão voltando. Um cidadão com mandato eletivo cassado e com direitos políticos suspensos não tem o direito de ficar aí borboletando em jatinhos particulares, exercendo funções políticas. A mando de quem? Quem é o interessado na ação de José Dirceu? Luiz Inácio Lula da Silva.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Concede-me V. Exª um aparte, Senador José Agripino?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Senador César Borges, José Dirceu está em stand-by. Não tenho dúvida alguma! Lembra como é que ele deixou o Governo, despedindo-se da companheira de armas, numa festa pública no Palácio do Planalto? A companheira de armas aplaudia vivamente José Dirceu, o cassado com direito direitos políticos suspensos, o homem que está citado no relatório do Ministério Público como agente de corrupção passiva e ativa. O homem quem foi condenado pela CPMI dos Correios vai voltar!

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Permita-me um aparte, Senador?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Já, já. Ele vai voltar, Senador Arthur Virgílio.

A minha preocupação é com o cidadão brasileiro, que está imaginando que o passivo, que o contencioso da corrupção foi passado a limpo e não vai voltar. Está aí José Dirceu borboleteando, andando pelo Brasil inteiro, a mandado do Governo do Presidente Lula, exercendo missões partidárias de acomodação no Estado de Minas Gerais, indo a tais e tais municípios. Está se preparando, está só - imagina ele - contando tempo para voltar.

Ele se despediu numa festa. O Ministro Palocci recebeu um tapinha no rosto e foi chamado de “meu irmão”. Está indiciado pela Polícia Federal, mas está em stand-by. É o “meu irmão”, só aguardando a hora de voltar, enquanto os tomadores de conta dos lugares, esses cujos nomes citei, estão aqui guardando, por enquanto, são anônimos à espera dos titulares que vão voltar. São anônimos à espera dos titulares que estão se preparando para voltar, e as ações são claríssimas.

Esse é o meu temor e é meu dever esclarecer o povo brasileiro, para que não se engane. “Cesteiro que faz um cesto, faz um cento.” Quem convive com Marcos Valério, com Waldomiro Diniz, com Zé Dirceu e com outros tantos conviverá sempre!

Ouço, com muito prazer, a Senadora Heloísa Helena; em seguida, o Senador Arthur Virgílio e o Senador Leonel Pavan.

A Srª Heloísa Helena (P-SOL - AL) - Em primeiro lugar, faço uma brevíssima colocação ao pronunciamento de V. Exª, Senador José Agripino, em relação à participação do ex-Ministro José Dirceu. Para começar, acho que é absolutamente “coerente” o ex-Ministro José Dirceu, que, sem dúvida, é o maior quadro partidário - infelizmente, para o mal! - que o Partido dos Trabalhadores já produziu, assumir unilateralmente, sozinho, um esquema de corrupção comandado pelo Presidente Lula. E não é à toa que não houve procedimento investigatório algum, não foi instalado procedimento algum na Comissão de Ética e de Disciplina do PT. Então, é absolutamente “natural”! Pode gerar indignação em alguns de nós, no povo brasileiro, mas é absolutamente compatível com o que fez o Presidente Lula e o que fez a cúpula palaciana do PT. Em segundo lugar, refiro-me à questão de um membro do Governo ser ou não conhecido. Mesmo com todos os defeitos que tenho obrigação de ter, quando fui Líder da oposição ao Governo Fernando Henrique, fui disciplinada, exigente, trabalhei aqui, todos os dias, cumprindo com a minha obrigação constitucional, mas há nomes de Ministros de que não me lembro também. E talvez isso se dê, porque eles também não se apresentaram com a competência técnica e não fizeram algo que motivasse a população, de uma forma geral, a lembrar. Nesse caso específico, tenho certeza de que V. Exª compartilha da mesma preocupação minha. Eu, como sou uma militante da área de saúde, conheço muito da área, porque tenho obrigação de conhecer. Outras áreas eu não conheço, mas estudo, preparo-me, porque tenho obrigação de fazê-lo. Mas a área de saúde eu conheço e preocupo-me com ela, não pela pessoa que ocupa o Ministério ou pelo fato de o nome não ter visibilidade pública. Às vezes, trata-se de um excelente técnico, de um brilhante profissional, que, por não ter ocupado um cargo público, tem menos visibilidade perante a população ou perante as instâncias de decisão política do que outros. Sei que acontece nas outras áreas também o mesmo tipo de coisa, mas, em relação à área da saúde, fico preocupada quando, todas as semanas, todos os dias, leio o jornal e não há um desmentido sequer, nem da base bajulatória do PMDB, nem do Governo Lula, de que esse Ministério está sendo utilizado, negociado, de forma sórdida, para implodir a candidatura do Garotinho, o candidato do PMDB. Então, o que me preocupa não é se o nome é conhecido. Sei que V. Exª disse isso também. Para mim, sinceramente, independentemente de ser um quadro conhecido pelo Parlamento, seja um técnico ou uma pessoa competente, independentemente da carteirinha de filiação partidária, independentemente de ser conhecido publicamente, acho que temos de aplaudir e apoiar. Senador José Agripino, sei que V. Exª conhece a área de saúde pela vivência, pela experiência, e sabe que, no planeta Terra, o perfil epidemiológico da saúde brasileira é um dos mais complexos do mundo. Não é uma coisa qualquer, é um caso de alta complexidade, o perfil epidemiológico é gravíssimo. Há necessidade de investimento não apenas na infra-estrutura, que potencializa ou não o quadro de doença, mas também na medicina preventiva, na medicina curativa, que é necessária, porque hoje as principais causas de morte no Brasil estão vinculadas às doenças crônico-degenarativas e cardiovasculares, à violência, aos acidentes de trânsito, e ainda há o fato de não termos superado a malária, a dengue, a tuberculose e a hanseníase. Então, preocupo-me muitíssimo quando o Estado brasileiro é utilizado ora para atacar um caseiro, ora como ferramenta para o balcão de negócios sujos que o Governo instala para sair partilhando. É essa a visão patrimonialista, fisiológica, clientelista do Estado brasileiro, que passa a ser usado, em nome da mentira da governabilidade, para construir bases bajulatórias. E, assim mesmo, ainda usam a mediocridade desse tipo de procedimento. Então, quero especialmente compartilhar a preocupação com a área de saúde. Sei que existe a mesma preocupação nas outras áreas. Sei que existe preocupação em relação ao Estado brasileiro, mas digo a V. Exª que, na área de saúde, às vezes, tenho até vontade de chorar. Se eu visse isso em outros Governos, eu condenaria, ficaria indignada, mas é ainda pior quando vejo a mesma visão que sempre condenei com veemência, que é essa visão do aparelho de Estado se transformando numa medíocre caixinha de objetos pessoais que passa a ser manipulada conforme as conveniências de bandos partidários. Isso, para mim especialmente, V. Exª não imagina como é triste! E para uma militante da área da saúde, que dedicou a vida não apenas à educação, como também ao planejamento de serviços públicos de saúde, ver o Ministério da Saúde sendo utilizado como mecanismo para implodir candidatura, para construir bases bajulatórias, para esse tipo de coisa, realmente é muito triste. Desculpe-me por ter me alongado, mas essa é uma área em que trabalhei muito. Sei que todos aqui, como V. Exª, pela vivência, por conversar com as pessoas, pelos cargos que ocuparam, têm noção do que isso significa. Mas, como militante na área da saúde, que, ao longo da história condenou esse tipo de prática, ver o PT, a cúpula palaciana do PT e o Governo Lula usar do mesmo instrumental fisiológico, clientelista, das negociatas de distribuição de cargo, realmente é duro de agüentar!

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Senadora Heloísa Helena, esses nomes que citei são guardadores de lugar, são meros guardadores de lugar, porque os titulares - pensam eles - estão voltando.

Quem são os titulares, Senador Arthur Virgílio? É José Dirceu. Vou ler aqui a matéria:

Segundo o Deputado Estadual Roberto Carvalho, PT, Dirceu será encarregado de dar “um gás na militância”. Segundo ele, o ex-Ministro se ofereceu para fazer o contato com militantes no Estado e foi prontamente atendido. Uma agenda de visitas já está sendo elaborada para Dirceu. Inicialmente, os contatos serão feitos em prefeituras petistas, como Nova Lima e Contagem, ambas na Grande Belo Horizonte.

Senador Arthur Virgílio, esse é o exemplo que o PT oferece à sua militância, é o padrão, é a referência. Então, esses são os guardadores de lugar, porque as referências vão voltar e estão claras. As referências continuam a atuar e estão atuando em Minas Gerais de forma desabrida, chegando de jatinho para conversar com Itamar Franco. Palocci se despede com um tapinha de leve na bochecha e é chamado de “meu irmão”.

Os guardadores de lugar são os anônimos a que me referi, que podem ou não ter qualificação, mas os titulares, que continuam na ativa e que estão desabridamente sendo as referências do PT, é que são a minha preocupação e a preocupação do brasileiro conterrâneo meu que me disse que estava pensando em votar em Lula porque tinham “limpado a barra”.

            Os titulares estão se preparando para voltar, Senador Arthur Virgílio e Senadora Heloísa Helena, e essa é a minha preocupação, Senador César Borges. A minha obrigação aqui é fazer esta reflexão, para que aqueles que estão nos vendo e nos ouvindo possam raciocinar: “Ele está certo ou está errado, mas eu vou raciocinar, vou ver se está certo, se esse fato coincide com a realidade da rua ou não, se José Dirceu está ou não em curso com a sua militância petista, se ele continua ou não prestigiado pelo Palácio do Planalto, se ele continua ou não tendo contatos com o Presidente Lula, recebendo missões do Presidente Lula”. Ele foi o comandante, dito não por mim, mas pelo relatório do Ministério Público e pela CPMI dos Correios, e continua o arauto oficial do PT, e os tomadores de conta, os anônimos estão aí ocupando as funções.

(Interrupção do som.)

O Sr. César Borges (PFL - BA. Fora do microfone.) - V. Exª não tenha a menor dúvida de que ele está, sim.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Sr. Presidente, já vou concluir, mas quero ter a oportunidade de ouvir o Senador Arthur Virgílio.

O Sr. Arthur Virgílio (PSDB - AM) - Senador José Agripino, se é verdade que há uma equipe de desconhecidos, a que chamei de clandestinos, por outro lado, é verdade que José Dirceu é conhecido até demais. E V. Exª falou do prontuário todo. Aliás, eu estava acompanhando seus artigos, aqueles cinco mil por artigo do Jornal do Brasil, e estava colocando todas as sextas-feiras nos Anais da Casa. Considero que José Dirceu é, sobretudo, um chato de galocha. Não vou fazer mais isso, pode escrever à vontade, e vão ficar os artigos dele fora daqui. É um chato mesmo, um chato de galocha. Mas, veja bem, ele cai numa contradição: o Dirceu da vida pública é esse que está aí, oferecendo gás. Tomara que não seja gíria, que gás não seja outra coisa, tipo aquela coisa do suborno quando se fala: “Vou lhe dar um cheirinho”. Tomara que seja gás mesmo e que não seja gás em recinto fechado, porque gás em recinto fechado mata. Não sei que gás é esse, mas enfim... Mas esse mesmo Dirceu, que está fazendo vida pública, vai de jatinho, pago por fontes particulares, que ele não diz quais são, e diz assim: “Estou na vida privada, não devo satisfações a ninguém”. Diz isso, como se as pessoas da vida privada não devessem satisfações ao Fisco, não devessem satisfações à sociedade, aos seus vizinhos, às pessoas em volta delas. Seu discurso foi excelente, foi muito elucidativo. Mas eu queria dizer, até em homenagem a esse bravo defensor do Governo, que é o Senador Sibá Machado, que o Governo passado, por exemplo, revelou uma pessoa que era muito conhecida dos parlamentares. Não era conhecida do grande público, mas era conhecida de todos os parlamentares. O Senador Eduardo Suplicy sabe muito bem quem era Barjas Negri, que foi grande administrador na educação e, depois, na saúde. E fez uma administração tão boa, auxiliando José Serra na saúde, que virou Ministro, credenciou-se a se candidatar, pouco tempo depois, a Prefeito de Piracicaba e derrotou um dos melhores quadros do PT, o meu amigo José Machado, que, hoje, preside a Agência Nacional de Águas, tamanho foi o reconhecimento pelo trabalho que ele realizou. Obrigado, Senador.

O SR. JOSÉ AGRIPINO MAIA (PFL - RN) - Ouço, com muito prazer, o Senador Pavan e, em seguida, o Senador Mão Santa.

Já encerro, Sr. Presidente.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - A minha intervenção é rápida. José Dirceu continua mandando no PT, continua sendo um símbolo no PT. Ele foi cassado pelos Parlamentares e pela Justiça, que não lhe concedeu liminar que impedisse a votação da cassação, mas foi absolvido pelo PT. Foi denunciado pela Justiça, mas foi absolvido pelo PT. Continua percorrendo o Brasil a convite do PT, dando palestras. Um homem que foi cassado por falta de ética, por corrupção, continua fazendo palestras pelo Brasil afora! E em muitos desses Ministros há o dedo de José Dirceu. Ele não vai querer colocar no poder alguém que o supere. José Dirceu tem ar de grandeza! Então, não haverá um nome maior que o dele para superá-lo. Mas ele continua fazendo campanha e é o coordenador da campanha de Lula. Ele está coordenando a campanha! O Lula não admite isso publicamente, mas eles se encontram na clandestinidade. Esse homem foi cassado por corrupção. Muitos foram absolvidos; ele, nem sequer foi absolvido. Muitos que foram réus confessos, que participaram do caixa dois, que participaram do mensalão foram absolvidos. Ele não teve condições de ser absolvido, tamanho é o grau de envolvimento dele com a corrupção. No entanto, ele continua coordenando a campanha de Lula. Terminada a eleição, logo, logo, ele voltará, porque o PT não sente vergonha em manter, como coordenador e como um dos grandes nomes do Partido, uma pessoa que foi cassada por corrupção!

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Vai voltar, Senador Pavan?

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco/PT - SP) - Senador José Agripino, peço que V. Exª encerre. Há um número significativo de Senadores inscritos.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Já vou encerrar, Sr. Presidente. Ouço o Senador Mão Santa e já encerro.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Suplicy, é muito importante para V. Exª, que poderá ser até candidato a Governador de São Paulo. Não sou do PSDB. Bajas Negri foi um extraordinário executivo. Sou do PMDB; ele é do PSDB. Foi Secretário Executivo do Paulo Renato, Senador José Agripino, e foi o primeiro a pensar que cada diretora de unidade escolar do primeiro grau deveria ter uma verba própria. Antigamente, ficavam na dependência: se uma telha quebrasse, se faltasse papel higiênico, sabonete, era preciso enfrentar uma burocracia infernal. E Bajas Negri foi o primeiro que teve a inspiração de dotar cada diretora escolar de uma verba própria. Ele não municipalizou, ele “escolarizou”. Ele incorporou milhares de diretores da educação à Administração Pública. Começou no Piauí. Andei por aquelas estradas do Piauí, onde ele introduziu esse programa, valorizando a escola. Depois, como Governador do Estado, fui obrigado a fazer o mesmo no segundo grau, porque ele foi um ícone na valorização de incorporar milhares e milhares de diretoras, dando-lhes uma dotação para administrar.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Sr. Presidente, já encerro. Quero apenas renovar a minha preocupação.

            Senador Pavan, minha preocupação é que o Presidente da República é quem nomeia e quem demite. Enquanto os fatos acontecem... O Senador Heráclito Fortes foi acusado de pegar carona em jatinho. Veio hoje à tribuna e defendeu-se no ato, na hora. V. Exª ouviu alguma palavra de admoestação do Presidente Lula à Deputada Angela Guadagnin, aquela dançarina que escrachou e indignou a opinião pública do Brasil com sua dancinha, com seu descaso com a absolvição ou com a falta de punição de um Deputado que se supunha comprometido e que o Ministério Público condenou? Ouviu-se alguma palavra de Lula com relação às andanças de José Dirceu? Ouviu-se alguma palavra de Lula com relação ao comportamento defeituoso de Palocci, de Mattoso? Ouviu-se alguma palavra de Lula em relação ao Waldomiro Diniz? Nada! Em compensação, ouve-se a conversa dele - aí ele é um loquaz, um tagarela! - com o astronauta Marcos Pontes a toda hora. Com quem ele quer conversar, ele conversa a toda hora; quando ele quer emitir opinião, ele emite a toda hora. Agora, falar das coisas...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco/PT - SP) - Senador José Agripino, peço a V. Exª a gentileza de concluir.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Sr. Presidente, falar das coisas que o Brasil espera que um Presidente...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco/PT - SP) - Agora, não.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Apenas para fazer justiça ao Presidente da Casa, o Senador Suplicy. Não me impeça de fazê-lo. Peço-lhe encarecidamente!

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco/PT - SP) - Tenho de ser rigoroso com V. Exª para que os demais Senadores inscritos ainda possam falar. Fui mais do que generoso com o Senador José Agripino.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Trinta segundos, Sr. Presidente!

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Suplicy. Bloco/PT - SP) - Senador José Agripino, tem dez segundos e vinte.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador José Agripino, as últimas vezes em que o Conselho de Ética do PT se reuniu foi para vitimar a Senadora Heloísa Helena. Comemorou-se antecipadamente a sua degola, com uísque 30 anos e guaraná, no Hotel Blue Tree; depois, para puxar as orelhas do Senador Eduardo Suplicy. Os que se sucederam em processo de corrupção tiveram foi o esforço partidário para conseguir o perdão. O esquecimento da Nação, jamais! Esse é o novo PT, que alguns falam em refundar. Já está passando do tempo.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Por falar em perdão - já concluo, Sr. Presidente -, será que o Presidente Lula perdoou os traidores, aqueles a quem ele se referia como traidores, sem nunca citar o nome? Será que ele perdoou? Porque ele nunca mais falou nos traidores. Será que o Presidente Lula já perdoou os traidores ou ele ainda se sente na obrigação de dizer quem são os traidores, para que a Nação brasileira possa fazer uma avaliação? Se ele cita, ele vacina e diz: “Esses que me traíram, esses que estão condenados não voltam nunca mais se eu for reeleito Presidente”; se não cita, está na cara, o caminho está aberto. Os guardadores de lugar estão apenas guardando lugar para eles, a começar por José Dirceu, voltarem - se Lula ganhasse, mas não vai ganhar - na eleição de outubro, que se aproxima.

O SR. PRESIDENTE (Bloco/PT - SP) - Permita-me, Senador José Agripino, informar-lhe que houve um lapso no momento em que V. Exª expressou: “O Ministro José Serra foi substituído pelo Sr. José Bajas Negri, que hoje é Prefeito eleito da cidade de São Paulo”. Talvez V. Exª quisesse dizer, ao responder ao Senador Sibá Machado, que o Ministro José Serra, quando Ministro da Saúde, foi substituído pelo seu Secretário Executivo, Bajas Negri. E, como Prefeito de São Paulo, foi substituído pelo Vice-Prefeito de seu Partido, Gilberto Kassab.

Faço o registro porque estranhei um pouco.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PSDB - RN) - Creio que V. Exª ouviu mal.

O SR. PRESIDENTE (Bloco/PT - SP) - Está aqui, nas notas taquigráficas. V. Exª assim falou. Às vezes, falamos de forma errada.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (Bloco/PT - SP) - Eu disse que o Bajas Negri era Secretário Executivo de Serra, que assumiu o Ministério e, depois disso, foi eleito Prefeito. Eu disse: “Prefeito de uma cidade de São Paulo”. Eu não me lembrava o nome: Piracicaba.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/04/2006 - Página 13508