Discurso durante a 46ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Reivindicação de recursos para a Suframa.

Autor
Amir Lando (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Amir Francisco Lando
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DESENVOLVIMENTO REGIONAL. ORÇAMENTO.:
  • Reivindicação de recursos para a Suframa.
Aparteantes
Flexa Ribeiro.
Publicação
Publicação no DSF de 27/04/2006 - Página 13534
Assunto
Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL. ORÇAMENTO.
Indexação
  • REIVINDICAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, LIBERAÇÃO, RECURSOS, SUPERINTENDENCIA DA ZONA FRANCA DE MANAUS (SUFRAMA), ATENDIMENTO, MUNICIPIOS, SITUAÇÃO, CARENCIA, ESTADO DO ACRE (AC), ESTADO DE RONDONIA (RO), ESTADO DO AMAPA (AP), ESTADO DE RORAIMA (RR), ESTADO DO AMAZONAS (AM), MELHORIA, QUALIDADE DE VIDA, SAUDE, HABITAÇÃO, TRANSPORTE, CRIAÇÃO, EMPREGO, RENDA, INDUSTRIALIZAÇÃO, PROGRESSO, DESENVOLVIMENTO, AMAZONIA OCIDENTAL.
  • QUESTIONAMENTO, CONTROLE, GOVERNO, ORÇAMENTO, UTILIZAÇÃO, SUPERIORIDADE, RECURSOS, FORMAÇÃO, AUMENTO, SUPERAVIT, NATUREZA FISCAL, ATENDIMENTO, FUNDO MONETARIO INTERNACIONAL (FMI).

O SR. AMIR LANDO (PMDB - RO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Mas, serei breve, Sr. Presidente. A bondade e a simpatia de V. Exª me comovem e me fazem ser célere.

Srªs e Srs. Senadores, assomo esta tribuna hoje para reivindicar em nome dos municípios da Amazônia Ocidental. E a Amazônia Ocidental, como todos sabem, se compõe dos Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Rondônia e Roraima; e nós estamos atentos aos reclamos dessas comunidades, atentos às demandas do município. E o município é essa instância republicana onde todos habitam, moram, sonham, vivem e morrem. É esse lugar no espaço, concreto, em que todas as demandas são colocadas, onde as esperanças de cada um são levadas às autoridades mais próximas: os vereadores e os prefeitos ou as prefeitas. E é exatamente um momento de reflexão que quero trazer para essa tribuna: a importância do município.

Tenho dito, diante da globalização, que tenho uma visão universal que se rege por regras da economia que não têm cara, que não têm face e não têm coração. Diante do orbe que dominou o mundo nessas últimas décadas, se levanta o município, a urbi, para dizer que vai buscar soluções locais para atender melhor à cidadania.

Aqui na cidade que temos que resolver grande parte dos problemas, até os assuntos pertinentes ao capital financeiro. As cooperativas, as organizações locais estão buscando soluções criativas para a indústria, para o comércio e para a vida das pessoas, saindo do sistema financeiro internacional. A solução criativa que começa pelo artesanato, pela indústria caseira, pela agroindústria dos sítios, vai criando uma riqueza diferente que é aproveitada no âmbito da população. É por isso que, mais do que nunca, diante da marcha dos prefeitos, se trata de um momento de afirmação da cidade contra essa idéia da globalização.

É por isso que reivindicar pelos municípios é reivindicar diretamente para o povo, porque ele precisa melhorar o padrão de vida para adquirir, no mínimo, o exercício da condição humana; dos homens que começaram, em um certo momento, a falar - e o homem inventa a fala; depois, o homem inventa a grafia. Agora mesmo, nobre Presidente Mão Santa, V. Exª se referiu a um desses sítios antropológicos muito importantes para a América Latina: o Museu do Homem Sul-Americano. Está lá uma história, todo um processo de evolução, um sedimento cultural que a humanidade foi criando, e escolheu certos pontos. E talvez fossem em áreas muito áridas que o homem evoluiu, porque a demanda pela sobrevivência exigiu-lhe engenho e arte capazes de superar as adversidades do meio. É nesse momento que começa, o homem, a usar a alavanca para sua defesa. Às vezes, um fêmur abandonado ou um bastão que resiste a pancadas. É exatamente esse o processo de evolução. É por isso que as cidades merecem, cada vez mais, uma análise, porque essa relação entre o homem e o meio situa-se nos municípios.

Venho a esta Casa para dizer, sobretudo, que se reivindicamos ao Governo um descontingenciamento dos recursos da Suframa, cujo orçamento previsto para 2006 é de R$319 milhões, e dizer, de início, que cerca de R$174 milhões, mais da metade, estão esterilizados, imóveis, sem nenhuma destinação útil para a melhoria da qualidade de vida povo da Amazônia, senão reservados à contingência. Significa que vão engrossar o superávit primário, como foi no passado, mais de R$600 milhões dessa arrecadação própria da Suframa, essa quantia toda destinada ao Tesouro Nacional para fazer parte do superávit primário.

Por isso, Sr. Presidente, não é possível que ações importantes como, por exemplo, o apoio a arranjos produtivos locais, é exatamente isto que eu falava: a nossa produção local, que se constrói no seio do município - criatividade, produção de riqueza, melhoria da qualidade de vida - só tem uma previsão de R$8 milhões.

Veja V. Exª, Sr. Presidente, que o apoio à construção do novo porto do distrito industrial de Manaus dispõe de apenas de R$52 mil. A implantação do complexo de armazenagem e comercialização de mercadorias da Zona Franca de Manaus, outros R$52 mil; apoio à dinamização do serviço de assistência técnica e extensão rural da Amazônia Ocidental, quase 50% do Território Nacional, apenas vemos lá consignados R$52 mil.

Mas não é isso, Sr. Presidente. Nossos Municípios vivem à míngua, sobretudo em Rondônia: 52 Municípios, com quase 50 mil quilômetros de estradas vicinais, por onde é preciso escoar a produção, por onde passam os doentes à busca do socorro médico, da assistência médico-hospitalar, por onde passam as crianças que vão à procura da cultura, do ensino, da educação. Enfim, é o direito de ir e vir, que sabemos talhado incessantemente pelas chuvas no período chamado, na Amazônia, de inverno. Tudo isso são os atoleiros que não permitem a saída da produção; são as dificuldades de acesso que fazem com que esses trechos sejam intermináveis - seis horas, 11 horas para uma carreta percorrer 100 quilômetros.

Essa é a realidade atroz e que trazemos aqui, Sr. Presidente, para reclamar que os recursos próprios, arrecadados pela Suframa, com essa taxa de cobrança sobre as importações, sejam aplicados na Amazônia. Essa foi a finalidade da criação desse tributo, e essa finalidade está sendo solapada por um mecanismo incompreensível de apenas pensar na formação e na engorda do superávit primário.

Não, Sr. Presidente. Se aqui estamos para reivindicar o descontingenciamento, ao menos, de R$100 milhões para atender os Municípios mais pobres do Amazonas, do Acre, de Rondônia, do Amapá e de Roraima, é porque entendemos que esse é o imperativo da dignidade da nossa gente amazônica, que suporta todas as adversidades do clima, das endemias rurais, como eu dizia, das alucinações das febres terçãs da malária, o nome mais conhecido, ou do dengue.

Tudo isso acontece. O que mais se quer da Amazônia é que ela continue a ser o último capítulo da geografia nacional, em um padrão de vida pré-histórico que talvez pudesse concorrer com os primeiros habitantes, como disse V. Exª, lá da Serra da Capivara.

Queremos a dignidade, o respeito e as condições que o mundo moderno oferece, de bem-estar, de padrão de vida para a nossa gente amazônica. Queremos, no mínimo, que os recursos lá arrecadados, ao menos em uma parte, não superior certamente a 20%, sejam destinados aos Municípios, a fim de melhorar as condições de saúde, de habitação, de geração de emprego e renda, de industrialização, de progresso, enfim, de desenvolvimento dos nossos Municípios da Amazônia.

A luta e a solidariedade eu quero reivindicar deste Senado da República, que é a Casa da Federação. Vamos olhar essa entidade superior, suprema da República, que é o Município.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Permite um aparte, nobre Senador?

O SR. AMIR LANDO (PMDB - RO) - Ouço V. Exª com muito prazer, nobre Senador.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Senador Amir Lando, como representante competente, preocupado e dedicado do Estado de Rondônia, V. Exª coloca aqui uma questão que perpassa o Estado de Rondônia, que diz respeito à Amazônia Ocidental. Parabéns pela forma como V. Exª se pronuncia neste instante, lamentando e denunciando a utilização de recursos destinados, nos Estados da Amazônia, para contingenciamento, para atender a banco internacional e ao superávit fiscal. É importante, Senador Amir Lando, que a Nação saiba que isso acontece não somente com os recursos arrecadados pela Suframa, como também pelas agências reguladoras, cujas taxas são cobradas para atender à necessidade de fiscalizar, e nem isso podem fazer, porque também são contingenciadas. Os royalties da Marinha, do petróleo, também são contingenciados, e assim por diante. Este Governo é insaciável em contingenciar os recursos que têm destinação própria, como é o caso daqueles cobrados pela Suframa nas importações. V. Exª faz esse pronunciamento no momento em que a Capital Federal recebe a IX Marcha dos Prefeitos, vindo aqui reivindicar condições mínimas para atender os seus munícipes. É necessário que, neste instante, toda a Nação Brasileira saiba que precisamos fazer a reforma tributária e rever o pacto federativo. Não há mais como concentrar na União 60% dos recursos arrecadados, dando aos Municípios apenas 16% e aos Estados 24%. É importante que esse pacto seja revisto e que se dêem condições aos Prefeitos de atender a seus cidadãos, mesmo porque é lá que acontece a vida real; lá, são chamadas todas as ações necessárias ao atendimento de saúde, segurança, educação e assim por diante. Louvo a atitude de todos os Prefeitos que se deslocaram a Brasília, na tentativa de sensibilizar o Governo Federal, para que sejam dadas as condições mínimas não só de transferir obrigações, mas de permitir que esses Prefeitos atendam suas necessidades. Parabéns pelo pronunciamento de V. Exª!

O SR. AMIR LANDO (PMDB - RO) - Agradeço-lhe a generosidade. Estamos de acordo, porque pensamos no destino, nos anseios e no sofrimento de nossa gente amazônica, essa gente forte, ousada, que vive nas distâncias e nas lonjuras os sonhos de um dia integrar-se ao concerto nacional. Nobre Senador Flexa Ribeiro, V. Exª, com muita propriedade, situa os números da divisão do bolo tributário. Entretanto, o mais grave é que o que se arrecada no Estado para lá não se destina. Ao contrário, é solapado em nome de uma política econômica perversa, que pune sobremodo os Estados e Municípios mais pobres que precisavam desses recursos para acudir a demanda de uma população que, há séculos, clama, chora e vive na esperança de um amanhã melhor para todos. Infelizmente, faltam sensibilidade e uma política tributária correta. Concordo plenamente com o que disse V. Exª: a reforma tributária deveria olhar a distribuição desse bolo arrecadado. Infelizmente, nem o que se arrecada lá se destina para a nossa gente.

Por isso, reclamamos; por isso, essa indignação. Sr. Presidente, busco a solidariedade de todos. Nós, os membros da Bancada do Senado e da Câmara dos Deputados, dos cinco Estados abrangidos, estamos levando isso ao Governo. Conto com o apoio de V. Exªs, que poderia ser retratados em assinaturas, mas que é manifesto aqui. Gostaria de incluir o Pará, mas, infelizmente, a divisão geográfica não cabe a mim, mas a outros critérios.

Estou certo de que, juntos, vamos vencer, porque o Senado é a Casa da Federação, é a Casa da solidariedade, dos Estados federados e dos Municípios.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Senador Amir Lando...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Nobre Senador Flexa Ribeiro, olhai a bandeira ali onde está escrito “Ordem e Progresso”. V. Exª está inscrito e já deu um aparte.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - Apenas para pedir, com a permissão da Presidência, ilustre Senador Mão Santa...

O SR. PRESIDENTE (Mão Santa. PMDB - PI) - Apenas lembrei a V. Exª que leia, pois é a única bandeira que tem uma mensagem: “Ordem e Progresso”. V. Exª já deu o aparte abrilhantador.

O SR. AMIR LANDO (PMDB - RO) - Ouvi-lo-ei aqui da tribuna, com certeza. Muito obrigado, Sr. Presidente.

O Sr. Flexa Ribeiro (PSDB - PA) - É só para incluir o Pará como solidário à reivindicação dos Estados atendidos pela Suframa.

O SR. AMIR LANDO (PMDB - RO) - E vice-versa.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/04/2006 - Página 13534