Discurso durante a 47ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações sobre a crise na empresa Varig.

Autor
Amir Lando (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RO)
Nome completo: Amir Francisco Lando
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES.:
  • Considerações sobre a crise na empresa Varig.
Publicação
Publicação no DSF de 28/04/2006 - Página 13738
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES.
Indexação
  • ANALISE, EFEITO, GLOBALIZAÇÃO, SOBERANIA, PAIS, DEFESA, PRESERVAÇÃO, VIAÇÃO AEREA RIO GRANDENSE S/A (VARIG), SIMBOLO, BRASIL, TRANSPORTE AEREO INTERNACIONAL.
  • COMENTARIO, CRISE, SITUAÇÃO FINANCEIRA, VIAÇÃO AEREA RIO GRANDENSE S/A (VARIG), DIFICULDADE, SOLUÇÃO, AMBITO, SETOR PRIVADO, DEFESA, ORADOR, AUXILIO, GOVERNO FEDERAL, SEMELHANÇA, BANCOS, PROGRAMA DE ESTIMULO A REESTRUTURAÇÃO E AO FORTALECIMENTO AO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL (PROER), REGISTRO, MOBILIZAÇÃO, SENADO, VIABILIDADE, RECUPERAÇÃO, EMPRESA.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. AMIR LANDO (PMDB - RO. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, toda nação soberana cultua, preserva e respeita os seus maiores símbolos. Uns, são oficiais, como a bandeira e o hino. Outros, enraizados na cultura do povo, como, por exemplo, as seleções de esportes, os grandes nomes da arte e as empresas que se consideram emblemáticas. É bastante conhecido o culto dos americanos pela sua bandeira e pelos seus atletas, principalmente nos jogos olímpicos. Além disso, muitas empresas dos Estados Unidos despertam, também, o orgulho nacional. Se elas são afetadas por crises, suscitam um grande debate. E, nesse mesmo debate, o Governo americano não fica de fora, nem traz à tona discussões sobre liberalismo ou intervencionismo. O que molda o debate é a soberania da nação.

Agora mesmo, os maiores jornais dos Estados Unidos colocaram em pauta uma grande discussão sobre a situação financeira da General Motors. Símbolo do orgulho americano, a GM dá sinais de crise e, nem o povo, nem o Governo, deixarão de participar, diretamente, desse debate. Esse tipo de discussão esteve muito presente na época da privatização da Companhia Vale do Rio Doce e na quebra dos monopólios dos sistemas elétrico e de telecomunicações. Entram, também, nessa mesma discussão, os casos da Petrobrás, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Neste mesmo contexto, a Amazônia brasileira e a soberania nacional.

A chamada globalização trouxe para os países chamados periféricos uma espécie de receituário que sangra, nesses mesmos países, o conceito de soberania, tão bem defendido nos países centrais. Falar em país soberano transformou-se, hoje, numa espécie de heresia ou um sentimento fora de moda, ultrapassado, “jurássico”. É bem verdade que ninguém vai nos pregar a idéia de rasgarmos a nossa bandeira ou esconjurarmos o nosso hino. Mas, empresa nacional parece ter se tornado sinônimo de provincianismo. A imprensa de cá, também ao contrário do que acontece lá, cuida de reforçar o receituário no sentido de que a globalização é inevitável e que o mercado é soberano para decidir o que é e o que não é importante para o país. E, aí, não importa se é o mercado de lá que comanda o mercado de cá. Não é, nem mesmo, necessário que o governo de lá comande o governo de cá. O tal mercado cuida disso. Tudo, em nome da inevitabilidade da globalização.

É o que ocorre, hoje, no caso da Varig. Ela não é, simplesmente, uma empresa aérea nascida no Rio Grande do Sul, há 80 anos. Ela é, na verdade, VAB, Viação Aérea Brasileira, cuja estrela tornou-se, aqui e no exterior, um símbolo de brasilidade, um motivo de orgulho e um emblema de soberania nacional.

A Varig sempre foi assim uma espécie de embaixada brasileira nos países onde opera. Uma extensão do País no exterior. Que o digam os exilados políticos brasileiros dos anos de chumbo. Nos escritórios da Varig, eles se sentiam como que em território pátrio, entre conterrâneos. Ali, o ar parecia ter o perfume das nossas florestas, a brisa das nossas praias, o enlevo das nossas montanhas. Pelas asas da Varig chegava o Brasil, nos jornais, nas revistas, nas doces, e nas tristes, notícias daqui. A Varig tinha um cheiro de Brasil.

Pela Varig, as viagens de férias ao exterior sempre foram, também, estendidas. Ao embarcar, o tratamento de seu pessoal de bordo e as comidas típicas de outros países já nos colocam num mundo de realidades e de fantasias. Ao retornar, suas escadarias já nos elevam para um Brasil de encantos. Cada decolagem, é assim como um hasteamento da bandeira brasileira, fincada em sua fuselagem.

A Varig sempre foi, também, sinônimo de segurança. Mesmo para os passageiros mais temerosos, reticentes e incrédulos, a certeza das devidas manutenções das aeronaves da empresa é o tranqüilizante natural mais que eficaz, mesmo quando faltem “céus de brigadeiro”.

Mas, nem o mais experiente comandante da Varig jamais imaginou que a empresa enfrentasse tamanha turbulência. Infelizmente, os painéis de comando já não obedecem a decisões do pessoal de bordo. O vôo da Varig, daqui para frente e, assim se espera, daqui para cima, depende, fundamentalmente, da torre de comando.

Neste momento, torna-se menor a dicotomia público/privado. Trata-se de uma questão, eminentemente, pública. O erro foi privado e, bom será, se a solução também o for. Mas, esse mesmo erro privado não justifica um outro, quem sabe ainda maior, público: o de permitir, por falta de ar, o estol de um símbolo nacional, reverenciado aqui e respeitado no exterior.

A Varig precisa de ar. Respirar. Voar.

Um país com dimensões continentais não pode ficar sem empresas aéreas sólidas. É uma questão de integração, de autonomia e de segurança nacional. Permitir, por exemplo, que empresas internacionais tenham o monopólio do transporte aéreo em regiões alvo de cobiça, a Amazônia, por exemplo, é algo assim como hastear, diariamente, bandeiras alienígenas em solo pátrio.

Vale lembrar as discussões que culminaram na instituição do Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional, o PROER. Sem entrar no mérito de tal debate, vale lembrar que todos os esforços, principalmente financeiros, foram concentrados no sentido de se evitar o que se chamou, no caso, de “risco sistêmico”. Agora, a questão que se discute também extrapola os meros cálculos contábeis de uma empresa, a exemplo dos bancos específicos, em situação precária, daquela época: o que está em jogo é o que representa a Varig para todos os brasileiros, incluindo os que ainda virão.

Nesta semana, o Senado promoveu uma audiência pública para debater o assunto. Trata-se de decisão das mais oportunas, num foro adequado: a representação de todos os Estados da Federação. O que se percebeu, durante os debates, é o firme desejo de alcançar uma solução viável para a manutenção das atividades da Varig. Isso inclui os próprios empregados da empresa. Portanto, a participação ativa do Governo Federal na busca de alternativas viáveis para a Varig terá, comprovadamente, a necessária legitimidade e o indispensável apoio político.

            A história da Varig coincide com a de milhões de brasileiros, nestes oitenta anos de vôo. Oxalá ela continue a ser construída, para os brasileiros de hoje e do amanhã. Sem a Varig, ao contrário da poesia, “nosso céu terá menos estrelas”. Sem a Varig, restará ao País uma sensação de falta de ar. Aí, poderão faltar máscaras para tamanha despressurização.

Era o que eu tinha a dizer.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 28/04/2006 - Página 13738