Discurso durante a 49ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Advertências para o risco de expansão do populismo nos governos da América do Sul. A nacionalização do petróleo na Bolívia.

Autor
Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. POLITICA ENERGETICA.:
  • Advertências para o risco de expansão do populismo nos governos da América do Sul. A nacionalização do petróleo na Bolívia.
Publicação
Publicação no DSF de 03/05/2006 - Página 13905
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. POLITICA ENERGETICA.
Indexação
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, POLITICA EXTERNA, AMERICA DO SUL, REFERENCIA, DECISÃO, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, NACIONALIZAÇÃO, GAS NATURAL, PREJUIZO, BRASIL, QUEBRA, CONTRATO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), FALTA, SEGURANÇA, INVESTIMENTO, PAIS.
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, POSSIBILIDADE, TENTATIVA, GOVERNO BRASILEIRO, TRANSFORMAÇÃO, DECISÃO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA.
  • REGISTRO, POSSIBILIDADE, PAIS ESTRANGEIRO, URUGUAI, SAIDA, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).
  • GRAVIDADE, SITUAÇÃO, BRASIL, DEPENDENCIA, GAS NATURAL, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, POSSIBILIDADE, AUMENTO, IMPOSTOS, CRESCIMENTO, PREÇO, PRODUTO, PREJUIZO, ECONOMIA NACIONAL.
  • CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, ACEITAÇÃO, CORRUPÇÃO, GOVERNO BRASILEIRO, ELOGIO, RESISTENCIA, GLOBALIZAÇÃO.
  • QUESTIONAMENTO, RISCOS, INVESTIMENTO, CAPITAL ESTRANGEIRO, PAIS, AMERICA DO SUL, IMPOSSIBILIDADE, CONFIANÇA, GOVERNO.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os jornais e revistas do final de semana estão com fartas notícias a respeito da expansão do populismo na América do Sul e dos riscos iminentes desse populismo.

O populismo faz mal quando adotado no Município, por um Prefeito. O populismo causa danos a um Estado quando adotado pelo Governador e causa danos ainda maiores quando adotado por um Presidente da República.

Hoje, os jornais trazem a notícia da nacionalização do petróleo e da produção de gás na Bolívia. Publica a Folha de S.Paulo: “Morales invade Petrobras e nacionaliza gás”. E informa ainda mais: que não será apenas esse setor. À noite, em La Paz, em discurso no balcão do Palácio Quemado, Morales prometeu nacionalizar outras áreas, como a terra. Então, aqueles produtores brasileiros que foram atraídos por governos anteriores da Bolívia para investirem lá, também, estão correndo o risco de perderem suas terras, onde investiram o seu dinheiro, comprando, pagando.

O populismo está tomando conta de tal forma que o Presidente da Bolívia, antes de ser eleito e logo após a sua eleição, esteve no Brasil com o Presidente Lula e prometeu que nada faria para interceptar ou prejudicar os investimentos brasileiros no território boliviano.

O populismo tem uma característica: não tem coerência no discurso e não tem coerência na prática. O populismo adapta o discurso à platéia. Quando a platéia é de esquerda, o discurso é de esquerda; quando a platéia é de direita, o discurso vai para a direita.

Quando esteve aqui, ele prometeu que não faria nada, mas agora deixou o Brasil numa situação tremendamente complicada. É quebra de contrato. Os populistas, para fazer média com a população, têm essa mania também: quebra de contrato. E a quebra de contrato traz um prejuízo muito grande a um estado, a um município, a um país, porque significa insegurança institucional. Quando um país não oferece segurança para os investidores, com as suas instituições trabalhando equilibradamente, não há investimentos.

O que o Presidente Morales fez foi espantar os novos investimentos na Bolívia. Não estou falando apenas do prejuízo da Petrobras, porque empresários brasileiros perderam investimentos lá e não sabem como proceder agora.

O Governo - e leio aqui pelos jornais - se reuniria para tomar uma providência, uma posição formal, uma posição diplomática para, quem sabe, fazer com que o Presidente Morales reveja a sua medida totalmente incoerente com os novos tempos.

Um outro jornal noticia que o Uruguai quer sair do Mercosul porque esse bloco não traz benefício algum para o Uruguai. Então, vejam como está a América do Sul! Discursos populistas, demagógicos para conquistar a massa, mas que, ao final das contas, trazem um efeito danoso à economia, o que prejudica exatamente a massa de trabalhadores que precisa do emprego.

Li aqui que a Petrobras tinha investido 1,5 bilhão para a sua planta na Bolívia. Li também, Sr. Presidente, que a Petrobras traz da Bolívia 50% do gás consumido aqui. Nós temos uma dependência desse gás boliviano. Por isso, investiu US$8 bilhões de dólares para construir o gasoduto. E agora? Como fica o brasileiro que depende desse gás? Como fica o taxista que depende desse gás? E as indústrias que instalaram equipamentos dependendo do gás? Como ficam aqueles brasileiros que acreditaram nos acordos, nos tratados entre os países vizinhos e agora estão à mercê de um populismo que cresce a cada eleição realizada e que coloca em risco economias e empregos? Só numa das plantas desativadas, seis mil trabalhadores foram colocados na rua. Então, a quem essa medida vai beneficiar?

O aumento do imposto sobre o gás boliviano significa um aumento do preço do gás para o Brasil. E nós, com essa dependência que temos, seremos obrigados a ver os custos da indústria crescendo, bem como os custos daqueles que operam pequenos negócios movidos a gás, e toda a população será prejudicada, sem nenhuma dúvida, com essa medida adotada pela Bolívia.

Já não chega o Hugo Chávez ir ao Paraná e lá sermos obrigados a ouvir: “Ah, o Lula pode ter até cometido algum ato de corrupção, ou a sua equipe pode ter cometido algum ato de corrupção, mas, pelo menos, ele evitou que o Brasil se submetesse à globalização”. Aí é demais, Sr. Presidente! Porque aquela platéia queria ouvir que o Brasil não cedeu à globalização. Para aquela platéia, servia esse discurso. Agora, chegar a afirmar que, embora tenha um determinado nível de corrupção no Governo, isso pode ser aceito em função de uma outra atitude do Governo?! Corrupção não é aceita em nenhum momento, em nenhuma circunstância, porque ela é muito mais danosa ainda do que o populismo. Quando a corrupção vem junto com o populismo, aí o veneno é duplo e mortal. Mortal para os empregos e mortal para os novos investimentos.

Vou encerrar perguntando: qual o empresário, brasileiro ou estrangeiro que tem coragem de investir, a partir deste momento, na Bolívia? Qual o empresário que tem coragem de investir onde os governos tratam assuntos sérios como se fossem brincadeiras? Se um município tem um prefeito populista que quebra contrato, se um estado tem um governador populista que quebra contrato; se um país tem um Presidente populista que quebra contratos, quem tem coragem de lá investir?

Creio que quem perde com isso são os trabalhadores, porque, sem investimentos, não haverá empregos. E, se esses empregos não surgirem, aí, sim, as massas irão para as ruas, mas não para ouvir discursos demagógicos; vão para as ruas a fim de exigir os seus direitos. Aí, Sr. Presidente, teremos uma grande mobilização social, sem nenhuma dúvida.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/05/2006 - Página 13905