Discurso durante a 49ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre matéria da revista Istoé intitulada "É possível limpar essa Casa?"

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. LEGISLATIVO.:
  • Comentários sobre matéria da revista Istoé intitulada "É possível limpar essa Casa?"
Publicação
Publicação no DSF de 03/05/2006 - Página 13916
Assunto
Outros > IMPRENSA. LEGISLATIVO.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, ISTOE, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), QUESTIONAMENTO, INTEGRIDADE, ADMINISTRAÇÃO, LEGISLATIVO, VINCULAÇÃO, FRAUDE, TELEFONIA, GABINETE, SENADO, REGISTRO, INEXATIDÃO, DENUNCIA, IMPRENSA, ESCLARECIMENTOS, UTILIZAÇÃO, TELEFONE, CONGRESSO NACIONAL, REALIZAÇÃO, LIGAÇÃO, TELEFONE CELULAR, APROVEITAMENTO, PROMOÇÃO, EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES, DESCONHECIMENTO, ORADOR.
  • PEDIDO, ESCLARECIMENTOS, JORNALISTA, ACESSO, SIGILO, TELEFONIA, GABINETE, SENADOR.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pela ordem. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, a revista ISTOÉ da última semana publicou matéria intitulada “É possível limpar essa Casa?”, referindo-se ao Congresso Nacional e, com muita exatidão, relatando uma série de negociatas perpetradas por Parlamentares de baixa extração moral - essa é que é a verdade.

            E aí me parece que, inadequadamente, enxerta os resultados de uma investigação feita no âmbito da administração do Senado a respeito de fraudes em telefones oficiais, vitimando - essa é a expressão - quarenta dos oitenta e um gabinetes senatoriais, entre os quais o meu, o do Presidente José Sarney, o do 1º Secretário da Mesa, Senador Efraim Morais, o do Senador Tião Viana e o do Senador Amir Lando. Além desses cinco, mais 35 Senadores.

            Como não se tratava de negociata de Parlamentares, parece-me que estava meio mal colocada, até porque isso aí correspondia a uma chamada operação pula-pula. Alguns funcionários, ou talvez até agentes de limpeza desta Casa, aproveitando uma promoção da BrasilTelecom, ligavam dos telefones oficiais para os telefones celulares, visando a ganhar créditos dentro dessa promoção para esses telefones celulares. Golpe de R$200,00 aqui, R$50,00 mais adiante, algo bem rastaqüera nem por isso não merecedor de investigação dura.

Muito bem, a reclamação que faço é no sentido de não ter havido, apesar da investigação, nenhuma comunicação da Mesa aos Senadores vitimados por esse golpe, até porque não tenho controle sobre os telefones do meu gabinete, quando eu fecho o gabinete, ele fica entregue a quem queira entrar nele. Essa é a realidade aqui na Casa, não tenho nenhuma responsabilidade sobre isso.

Em segundo lugar...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Senador, V. Exª me permita. V. Exª pediu a palavra pela ordem. V. Exª está com três minutos...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Com o microfone desligado.) - Estou fazendo uma reclamação, Sr. Presidente, e preciso de tempo. Não vamos começar de novo.

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - V. Exª poderia pedir a palavra pela Liderança do Partido de V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Não, senhor. É uma reclamação que envolve dinheiro público e envolve o meu gabinete.

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Senador, permita-me V. Exª, não quero discutir. Evidentemente a Mesa não quer discutir, mas há outros oradores inscritos. Há a Senadora Lúcia Vânia, a Senadora Ideli Salvatti...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Eu não vou abrir mão, Sr. Presidente, vou fazer a minha reclamação até o final.

É um direito que tenho. V. Exª se porta como um ditador aí. Outra vez foi advertido pelo Presidente Sarney e, por isso, recuou. Ninguém cassa a minha palavra, Sr. Presidente, como Senador, ou vou revogar...

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Não estou cassando a palavra de V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - ... ou vou revogar esse acordo que fizemos aqui. É praxe falarmos menos. Então, a partir de agora, não fica valendo mais essa coisa de se cassar a palavra de quem quer que seja.

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Vou conceder a V. Exª o direito de continuar falando para que a reclamação, realmente, possa ser feita, mas quero dizer que o direito que V. Exª tem os outros Senadores também têm.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Têm à vontade. Esta Casa pode funcionar até meia-noite. Chega de gente preguiçosa nesta Casa. Vamos trabalhar até meia-noite, se for o caso. Não há por que ficarmos aqui querendo parar às 19 horas.

Sr. Presidente, volto ao fio da meada. Imaginava a atenção de V. Exª porque é uma reclamação dirigida à Mesa, que hoje V. Exª preside, Mesa da qual V. Exª faz parte.

Então, é um golpe nojento, como todo golpe contra os cofres públicos, dados contra gabinetes de Senadores, entre os quais o meu, o de mais quatro Senadores, o do seu conterrâneo, Presidente José Sarney, e de mais trinta e cinco outros Senadores. Eu não fui avisado nem para tomar as providências que cabiam. Essa é a primeira reclamação.

A outra é que foi o jornalista Hugo Marques, da ISTOÉ, que me disse isso. Aliás, o Hugo Marques, muito amigo do Senador Tião Viana, disse lá - e aí ele foi leviano - que só o Senador Tião Viana tomou providências. Como ele já elogia o Senador Tião Viana bastante toda vez que vai à Comissão de Ética para discutir aquela questão do Acre, eu presumo que ele tem o bom gosto de gostar do Senador Tião Viana, como eu dele gosto, mas não tem o direito de fazer média com quem quer que seja. O único que tomou providências foi o Senador Tião Viana.

Eu não tomei providência porque só soube pelo jornalista, e isso é uma vergonha! Eu tinha de ter sabido pela Mesa! E mais ainda: quero saber como é que os sigilos do meu telefone foram bater nas mãos do jornalista Hugo Marques.

É isso que queria dizer a V. Exª serenamente, e V. Exª não teve a serenidade de me ouvir até o fim. Perceba se fez ou não fez bem em recuar; se fez ou não fez bem em me deixar falar aqui sobre um assunto que tem a ver com o interesse dos Senadores, com o interesse da moralidade pública, com o interesse da Casa!

Resumindo: quero saber como é que sigilos telefônicos da Casa foram bater nas mãos de um jornalista! Como é que posso saber de algo que interessa ao meu gabinete por informação dada a mim por um jornalista? Há alguma coisa errada! E quero, mais do que quero; desejo, mais do que desejo; exijo uma explicação cabal da Casa para que eu volte a funcionar em normalidade em relação à Mesa. Fora isso, entro em choque hoje, amanhã e o tempo inteiro do meu mandato!

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/05/2006 - Página 13916