Discurso durante a 49ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Refuta matéria do jornal Folha de S.Paulo, edição de hoje, intitulada "Caso Banestado: João Arcanjo afirma que foi procurado por Antero Paes de Barros".

Autor
Antero Paes de Barros (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MT)
Nome completo: Antero Paes de Barros Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.:
  • Refuta matéria do jornal Folha de S.Paulo, edição de hoje, intitulada "Caso Banestado: João Arcanjo afirma que foi procurado por Antero Paes de Barros".
Aparteantes
Almeida Lima, Alvaro Dias, Arthur Virgílio, Eduardo Azeredo, Heráclito Fortes, Juvêncio da Fonseca, Romeu Tuma.
Publicação
Publicação no DSF de 03/05/2006 - Página 13925
Assunto
Outros > IMPRENSA. ATUAÇÃO PARLAMENTAR.
Indexação
  • ESCLARECIMENTOS, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), INEXATIDÃO, DECLARAÇÃO, EMPRESARIO, FACTORING, ACUSAÇÃO, PEDIDO, ORADOR, EMPRESTIMO, FINANCIAMENTO, CAMPANHA ELEITORAL.
  • AUTORIZAÇÃO, QUEBRA DE SIGILO, ORADOR, COMPROVAÇÃO, INOCENCIA, ACUSAÇÃO, AUTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), REPRESALIA, ATUAÇÃO, PRESIDENCIA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BANCO DO ESTADO DO PARANA S/A (BANESTADO), NECESSIDADE, FISCALIZAÇÃO, EMPRESA, FACTORING, COMBATE, CORRUPÇÃO, REMESSA, DENUNCIA, PROCURADOR, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), TENTATIVA, CONFISCO DE BENS, ORGANIZAÇÃO, CRIMINOSO.
  • REGISTRO, RETIFICAÇÃO, DECLARAÇÃO, EMPRESARIO, FACTORING, ENTREVISTA, IMPRENSA, SIMULTANEIDADE, PRONUNCIAMENTO, ORADOR.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT. Pela Liderança do PSDB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pedi ao meu Partido o espaço para falar em nome da Liderança do PSDB, recurso de que não me utilizo rotineiramente nesta Casa. Desta vez, entretanto, faz-se necessário. Primeiro, porque quero deixar absolutamente claro aos seguidores de Joseph Goebbels, para os quais uma mentira repetida mil vezes pode tornar-se verdade, que comigo não. Vão repetir mil vezes a mentira, e essa mentira não se tornará verdade!

Refiro-me, Sr. Presidente, a mais uma matéria, publicada no jornal Folha de S.Paulo, edição de hoje, em que se estabelece claramente o seguinte: “Caso Banestado: João Arcanjo afirma que foi procurado por Antero Paes de Barros”,

Aqui está o primeiro erro grosseiro da matéria. Sou um jornalista e penso que a crítica é criticável, porque a matéria traz uma declaração, também mentirosa, do Sr. João Arcanjo Ribeiro de que eu o procurei em 2002. São duas mentiras em curtas linhas.

Por que isso? Caso Banestado: a CPI do Banestado se instala no Senado da República - revejam os Anais - em maio de 2003. Como eu poderia procurar alguém em 2002, antes da campanha eleitoral, para tratar do caso Banestado? Essa é a mentira número um.

Mentira nº 02: “O Senador Antero me procurou para pedir dinheiro, na minha fazenda, e me procurou em 2002”.

Quando souberam dessa declaração à imprensa, algumas pessoas me disseram, Senador Heráclito Fortes: “Antero, negue que você esteve lá”. Não é do meu feitio! Eu estive lá em 1999. Eu disse a esse jornalista que tive três encontros com o Sr. João Arcanjo Ribeiro. Um deles, no aniversário de 15 anos da filha de um dentista de Cuiabá, que mora na rua Boa Esperança. O segundo, quando era editor do Jornal Hoje, da afiliada da Rede Globo de Televisão, na TV Centro América: eu deixava a televisão e ele entrava na televisão. Nos cumprimentamos. E o terceiro, em 1999, quando fui com um empresário à fazenda do Sr. João Arcanjo Ribeiro, fazer uma visita ao projeto de piscicultura, de interesse do empresário.

Mas a própria matéria, ao tentar me acusar, mostra o desmentido, porque na matéria, Senador Juvêncio da Fonseca - V. Exª é advogado - está dito que eu estive lá, em 2002, que fui pedir dinheiro a ele, que teria dito: “...empréstimo nós fazemos, procure o Sr. Nilson Roberto Teixeira, que é o gerente da factoring”.

Então, vamos à lógica. Eu teria ido lá em 2002, procurado o Sr. João Arcanjo Ribeiro; eu teria pedido dinheiro para ele - se eu o tivesse procurado, é porque eu precisava do dinheiro - e ele disse: “...procure o Nilson Roberto Teixeira para resolver isso”. Está aqui, Senador Romeu Tuma, V. Exª que é experiente na área de investigações no Brasil, em 2005, o depoimento do Sr. Nilson Roberto Teixeira na Justiça Federal: “Não é verdade que tenha feito doações da minha empresa para financiar a campanha eleitoral do então candidato Antero Paes de Barros”. “Em hipótese alguma, as empresas de factoring do Sr. João Arcanjo Ribeiro fizeram empréstimos destinados à campanha eleitoral do candidato a Governador Antero Paes de Barros”. Mais: “Insisto e reafirmo que a Vip Factoring e a Real Factoring jamais emprestaram dinheiro para a campanha de Antero Paes de Barros em 2002”. “Nenhuma das outras factorings do Sr. João Arcanjo Ribeiro emprestou dinheiro para a campanha de Antero Paes de Barros.” “Nenhuma das factorings do Sr. João Arcanjo Ribeiro efetuou qualquer doação para a campanha do candidato Antero Paes de Barros em 2002”. Também não fez doações para o PSDB naquela época. “Não fiz nenhuma doação para o candidato Antero Paes de Barros em nome da minha empresa ou em meu próprio nome”.

            Eu contei essa história ao jornalista, ontem, antes da publicação da matéria. Ele publicou o outro lado quase corretamente. Ele só não publicou o desmentido indesmentível, que mostrava claramente que o bandido de dentro estava a serviço dos bandidos de fora dessa organização criminosa, que tem a liderá-la, em Mato Grosso, um juiz de toga, que desmascarei aqui na CPI dos Bingos!

Eu quero chamar a atenção do meu Estado. E quero alertar o meu Estado para que preste atenção, preste muita atenção. Chamo a atenção dos meus colegas jornalistas, e, mais do que a deles, a dos historiadores; mais do que a deles a dos historiadores: percebam que familiares do réu preso serão beneficiados com diminuição de pena; percebam que bens serão liberados pelo Poder Judiciário, em Mato Grosso, como já começaram a ser. A exemplo do jato do Executivo, a respeito do qual fiz um requerimento nesta Casa. Não sei se pendente ou se já enviado, mas se foi enviado, parece que ainda não veio a resposta de quanto se gastou na reforma de um jato, para, depois, devolvê-lo ao Sr. João Arcanjo Ribeiro.

Prestem atenção no meu relatório da CPI do Banestado. Está aqui escrito, na pág. 368: “A Presidência da CPI envidou todos os esforços possíveis para que as ações criminosas do Sr. João Arcanjo Ribeiro viessem a ser, não só totalmente apuradas, mas também que fossem profundamente punidas, no sentido de garantir a maior pena possível ao réu”.

Quem se beneficia de uma organização criminosa, depois, não pede a maior pena possível ao réu. E solicito uma série de providências. Eu não quero cansar as pessoas que aqui estão a me ouvir já pela trigésima vez. Cada vez que o PT faz uma falcatrua, eles mentem sobre o Antero. Cada vez que eles mentirem sobre mim, eu jogo mil verdades na cara deles. Já apresentei aqui, Presidente Renan Calheiros, a autorização para quebrar o meu sigilo desde 2002, quando comecei na vida pública, até hoje.

Quero fazer diferente. Eu nasci no dia 3 de janeiro de 1953. Quebrem o meu sigilo bancário, fiscal e telefônico de 1953 até hoje e não vão encontrar nada. Mas eu gostaria que essa organização criminosa não dificultasse a quebra do sigilo do Sr. Paulo Okamotto e do Sr. Fábio Luiz Lula da Silva. Eu sei que eles têm motivos para me perseguir, mas não encontrarão nada, como não encontraram quando violaram as contas do caseiro. Isso está errado. Esse Ministro da Justiça acha que vai me transformar no caseiro do Senado - no bom sentido, no sentido de que serei perseguido - mas aqui eu tenho a tribuna e a voz para reagir a eles.

O Sr. Arthur Virgilio (PSDB - AM) - Permite um aparte, Senador?

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT) - Até para respirar, concedo um aparte a V. Exª.

O Sr. Arthur Virgilio (PSDB - AM) - Senador Antero Paes de Barros, eu dou um aparte à Nação, não a V. Exª, nem V. Exª está me explicando nada, porque eu conheço de crônica a leviandade desse juiz, eu conheço de sentença esse bandido chamado João Arcanjo e conheço V. Exª, para mim um dos homens públicos mais retos em atividade na nossa política. É muito claro. V. Exª esteve na minha casa de madrugada para me dizer que sairia uma denúncia muito grave, a do Waldomiro Diniz; e eu não consegui dormir mais frente a tamanha gravidade. Eu não sabia que aquilo era fichinha perto do que viria depois. Não consegui dormir mais, fiquei insone. Cedinho, tomei banho, esperei a hora de vir para o Senado. Aqui estive ao seu lado, na hora em que V. Exª formulava a denúncia. É evidente que devem ter uma sede muito grande em V. Exª. Também é evidente que malham em ferro frio porque não perceberam - e é burrice - que V. Exª é do tipo que quanto mais agredido mais cresce até porque tem toda a estrutura moral para crescer diante da agressão, porque agressão é sempre infâmia e nunca tem pé na verdade. V. Exª de fato desmoralizou aquele juiz que aqui esteve. Literalmente, desmoralizou! Fiz até uma pilhéria com ele, que saiu, foi ao banheiro. Eu creio que V. Exª foi o responsável por aquela micção, V. Exª lhe pressionou a bexiga psicologicamente. Quando ele voltou, eu disse: V. Sª é um homem de certa forma corajoso porque conseguiu ir ao banheiro fazer pipi. A situação era tão vexatória que eu pensei que não iria nem fazer pipi, que ficaria sentadinho ali se contorcendo todo, como se fosse um menino de quatorze anos com medo de atravessar o salão para tirar a menina para dançar. V. Exª não tem nada que me explicar. Está sendo vítima, a meu ver, de uma armação que eu não sei por onde passa, mas que deve conter alguma promessa para esse Sr. Arcanjo, de modo a que possa este Governo tirar a vendetta. Eu não digo vindita, que é português, mas vendetta porque é italiano. Amo o povo italiano e o respeito, mas estou me referindo a máfia, a Sicília, a famiglias, eu estou me referindo a isso. Mais do que eu, quem conhece V. Exª é o povo de Mato Grosso, que sabe perfeitamente que nos seus defeitos - todos nós os temos em grande conta - não estão os defeitos da afeição à corrupção, do apego a cargos públicos, do gesto de se locupletar da vida brasileira, do nepotismo. Então V. Exª está de parabéns porque sobra em V. Exª o que falta neste Governo, é o caráter de enfrentar as questões todas e de demolir ponto por ponto as acusações. Por exemplo, V. Exª é antípoda, do ponto de vista ético, do Presidente Lula. O Presidente Lula não fala em Francenildo e se irrita com a imprensa. V. Exª fala de tudo aquilo que dizem de V. Exª com a altaneria que o traz à tribuna e que só faz a sua bancada ter muito orgulho do homem público íntegro e competente que a integra. Meus parabéns a V. Exª, que continuem, aliás, difamando V. Exª para que tenhamos mais vezes a demonstração inequívoca de como os homens de bem se defendem. Isso se contrapõe àqueles que não são tão de bem - para usar a linguagem de criança e de desenho animado -, aqueles que são do mau, que sempre tergiversam e não querem que se quebre o sigilo bancário. Aliás, com relação ao Paulo Okamotto, V. Exª sabe, não é o dele que mete medo em ninguém; se forem abrir, não tem nada. Eles têm medo que, uma vez não tendo nada ali, se abrirem, será inevitável a pergunta: então de onde vem o dinheiro? Aí volta aquele careca à baila.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT) - Agradeço o aparte de V. Exª. 

Quero listar algumas providências tomadas à época da CPI: oficiei ao Ministro das Comunicações, Miro Teixeira, pedindo investigações sobre duas emissoras de rádio de Cuiabá - uma delas foi fechada, Senador Juvêncio da Fonseca, a Rádio Clube, que hoje está entregue à Universidade Federal de Mato Grosso. Oficiei ao Ministro da Fazenda e ao Presidente do Banco Central, pedindo intervenção federal nas empresas de factoring de João Arcanjo - isso foi antes da CPI - por operações ilegais de câmbio, remessas de divisas e lavagem de dinheiro.

Ainda na semana passada, tivemos um projeto nosso não aprovado aqui na Comissão de Assuntos Econômicos. Eu já disse ao Senador Edison Lobão que vou requerer que esse projeto seja novamente debatido no plenário do Senado porque não há como combater o crime organizado sem estabelecer quem fiscaliza as empresas de factoring no Brasil - hoje quem fiscaliza é Nosso Senhor Jesus Cristo, ou seja, não há nenhum órgão encarregado da fiscalização das operações de factoring no Brasil.

Denunciei ao Ministério Público Federal, com dados da CPI do Banestado, situações que mostravam a possível ligação entre empresas do Sr. João Arcanjo Ribeiro e empresas que operaram em Santo André. Posteriormente a isso - aí não foi mais assunto da CPI -, essas ligações foram feitas por outros órgãos de imprensa.

Encaminhei aquilo que mais eles temem: encaminhei ao Procurador de Nova Iorque, ao Procurador Robert Morgantown, todas as investigações realizadas sobre o cidadão que está preso em Mato Grosso - as investigações da CPI e as investigações do Ministério Público -, a fim de amparar medidas nos Estados Unidos sobre a possibilidade de confiscar bens pertencentes a essa organização em território americano.

Quero, ao final, reafirmar o seguinte: nunca fiz, nunca recebi empréstimo, nunca recebi doação, nunca autorizei ninguém a fazer, nunca assinei nenhuma nota provisória, nunca recebi nenhum benefício de quem quer que seja, dessa gente, e desafio alguém a provar o contrário. Na história política do meu Estado e durante minha atuação no Senado Federal, não há alguém que tenha combatido mais o crime organizado que eu. Pode ser que alguém tenha, tanto quanto eu, ajudado no combate ao crime organizado.

Antes de encerrar, concedo o aparte ao Senador Almeida Lima e, depois, aos outros Senadores também.

O Sr. Almeida Lima (PMDB - SE) - Senador Antero Paes de Barros, solidarizo-me com V. Exª mais uma vez. Digo até como o Senador Arthur Virgílio. Não uma explicação, uma solidariedade a V. Exª diretamente, o que, de minha parte, torna-se desnecessária. Mas é preciso, mais uma vez, alertar a opinião pública deste País para que, enquanto este Governo não tem a coragem, o espírito público, por meio de seus membros, aliados, envolvidos, de abrir seus sigilos para a investigação, ficam provocando pessoas da Oposição, assim como V. Exª. De bom tom seria mesmo que este Governo assinasse e instalasse as CPIs requeridas, que deliberasse favoravelmente pela quebra do sigilo bancário de Paulo Okamotto e assim sucessivamente. Quem sabe, a partir daí, a vida da República estaria não digo limpa, mas quase limpa. Apuraríamos inúmeros fatos, pois o condenável, mesmo, é fazer o que o Partido do Governo faz, o Partido dos Trabalhadores. Vejam V. Exªs que, no último final de semana, decidiu que deveria jogar todo o lixo de seus membros, toda a lama, embaixo do tapete. A apuração dos “mensaleiros”, das falcatruas, só depois da eleição, ou seja, vão se utilizar de forma ilegal, ilegítima, de personalidades, de figuras, como José Dirceu, para o processo eleitoral, e depois da eleição é que vão apurar. É uma graça! Parece uma piada de mau gosto, dessas que não podem ser contadas nos salões. Portanto, a V. Exª a minha solidariedade e o meu apoio, sempre.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT) - Agradeço o aparte de V. Exª.

Acabei de receber informações de minha assessoria. De meia em meia hora João Arcanjo dá uma entrevista coletiva. Ele acabou de dar uma entrevista às emissoras de Mato Grosso, a toda a imprensa, dizendo claramente que reconhece que não financiou nenhuma campanha eleitoral em 2002. Eu gostaria de fazer esse registro para dizer que em cada hora, em cada minuto, em cada segundo, há uma declaração diferente.

Quero só dizer que não tenho nenhum receio dessa gente. Vamos enfrentá-los em um debate público. Vou sair de casa em casa, em Mato Grosso, de rua em rua, vou pedir cada voto para mim, mas antes vou pedir o voto para o meu candidato a Presidente, Geraldo Alckmin. Não é possível continuar esse Estado policial.

Concedo a palavra ao Senador Romeu Tuma e, na seqüência, ao Senador Juvêncio da Fonseca, ao Senador Eduardo Azeredo e ao Senador Luiz Pontes.

Tem a palavra o Senador Romeu Tuma.

O Sr. Romeu Tuma (PFL - SP) - Senador Antero Paes, eu nem deveria aparteá-lo, até porque o Senador Efraim Morais me designou presidente de uma comissão especial para ouvir o famigerado Arcanjo. Mas eu queria ser testemunha de que, há poucos minutos e anteriormente também, V. Exª fez um apelo no sentido de que ele seja ouvido e que a verdade venha à tona. Então, seu depoimento é quase que desnecessário, porque durante o depoimento do juiz e de outros que lá foram V. Exª já o prestou. Como diz o Senador Arthur Virgílio, sem necessidade, porque todos nós conhecemos o seu comportamento. Vou pedir ao Presidente que me forneça as notas taquigráficas do seu depoimento feito dessa tribuna para que realmente possamos estabelecer a verdade com a comissão que vai a Cuiabá para investigar e liquidar de vez essa questão. Lá se instalou uma quadrilha que quer desprestigiar homens de bem como V. Exª. Como presidente dessa comissão, eu não teria o direito de pedir um aparte para dizer isso - não quero ser suspeito -, mas tenho certeza de que estou dizendo a pura verdade.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT) - Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Romeu Tuma.

Ouço o Senador Juvêncio da Fonseca.

O Sr. Juvêncio da Fonseca (PSDB - MS) - Senador Antero Paes de Barros, parabéns! Nós temos o costume de passar um pelo outro e dizer: “parabéns”!

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT) - É verdade.

O Sr. Juvêncio da Fonseca (PSDB - MS) - Esse costume se firmou com o tempo. Agora, vejo na minha consciência a razão desses parabéns. Temos de parabenizar V. Exª sempre não só pelo seu discurso, mas também pela sua conduta ética, pela sua coragem, pela sua postura diante dessas injustiças contra V. Exª. Também lhe dou os parabéns pela sua desenvoltura no plenário, em relação a todos os Senadores, agindo como a sua consciência manda, ou seja, com uma desenvoltura simples e aberta. Todos o reconhecem como um bom Senador. Eu sou mato-grossense-do-sul e V. Exª é de Mato Grosso. Ainda tenho saudades do Mato Grosso único. Faça de conta que somos um só. Sendo um só, V. Exª me honra muito. Eu gostaria muito de ter a mesma conduta que V. Exª tem aqui no Senado Federal: uma conduta aguerrida e dura. Mesmo perseguido, está sempre alerta, mostrando os fatos à Nação, que está do lado de V. Exª, pois todos sabem com quem V. Exª está tratando. Portanto, eu me sinto gratificado por ter oportunidade de dizer a V. Exª o que estou dizendo. Essa não é uma amizade fundada na conveniência ou de um cafezinho ou de uma boa reunião ou de uma peixada; é uma amizade fundada principalmente no respeito - respeito que as pessoas que andam na marginalidade devem ter para com os homens de bem. Parabéns, Senador Antero Paes de Barros!

            O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MS) - Agradeço a V. Exª o aparte.

            Durante muito tempo, fiz campanha no rádio, nos jornais e na televisão por um Mato Grosso uno e indivisível, mas creio que os dois Estados, mesmo separados, continuaram irmãos e contribuem da mesma forma com o desenvolvimento do Brasil. Mesmo à época de grande rivalidade - uns contra, outros a favor -, fui um dos que sempre nutriu o maior respeito e a maior admiração por aquele que chamava Mato Grosso do Sul Maravilha.

            Sou filho de campo-grandense. Meu pai é de Campo Grande. Meu avô, Antero, foi Prefeito de Campo Grande - aliás, como V. Exª - e foi quem fez o traçado daquela cidade, evidentemente com muito mais idade do que V. Exª.

            Então, desde criança, aprendi realmente que devíamos estar irmanados e, para nós, assim estamos. Entendemos que somos dois Estados irmãos, unidos por esta benfeitoria que Deus nos deu: o Pantanal, que, podemos dizer, é só nosso.

            Ouço o Senador Eduardo Azeredo.

            O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB - MG) - Senador Antero Paes de Barros, expresso a solidariedade de colega de Partido e de Senado por mais uma agressão que recebe. Nós todos sabemos muito bem quem está por trás e o que está por trás dessas denúncias, feitas de maneira irresponsável e que, evidentemente, ferem. Mas, com relação à sua postura, não há nenhum risco, porque todos sabemos bem que sempre foi muito clara, inclusive à época da CPI do Banestado, quando, corajosamente, mostrou que ali, sim, estavam acontecendo coisas escabrosas por baixo das aparências de uma CPI que queria esclarecer os fatos que, infelizmente, havia gente que vendia informações, fazendo tráfico de influência muito forte. Exatamente por ter contrariado muitos interesses é que V. Exª acaba sendo vítima de mais uma linha dessas acusações. Então, esteja muito tranqüilo. Tendo em vista sua postura de homem público, leal e solidário com todos, não poderia faltar, de nossa parte, a mesma relação.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT) - Agradeço ao Senador Eduardo Azeredo.

Concedo um aparte ao Senador Luiz Pontes.

O Sr. Luiz Pontes (PSDB - CE) - Senador Antero Paes de Barros, quero trazer-lhe a minha solidariedade e dizer que o que V. Exª sofre hoje é fruto da sua determinação de trazer a verdade. Quando V. Exª foi presidir a CPI do Banestado sabia as conseqüências de seu ato e o que ia encontrar pela frente. E, na presidência, portou-se como aquele homem que conhecemos. Chegamos juntos aqui em 1999, quando tomamos posse, e sempre vimos em V. Exª aquela pessoa destemida em busca da verdade e da ética, acima de tudo, e hoje o País vive nesse mar de lama e cobra-se tanta ética na política. Ao presidir a CPI do Banestado, V. Exª sabia qual o comportamento que a população brasileira esperava e exigia de um presidente, V. Exª ali teve uma posição firme. Hoje, sofre essas perseguições. Se essas pessoas que o perseguem pensam que vão intimidá-lo, estão enganados; pelo contrário, V. Exª cresce. V. Exª é um homem que gosta de desafios. Como disse, vai andar de rua em rua, de casa em casa, no seu Estado, porque o povo de Mato Grosso o conhece bem; conhece-o pela sua luta, pela sua tradição, pelo seu trabalho e pela sua ética. Tenho certeza de que não só o seus Pares do PSDB, mas nós, Senadores, que fazemos esta Casa, que vemos um Senador ser perseguido por buscar a verdade, estaremos juntos ao seu lado, para que V. Exª possa continuar essa luta e trazer a verdade, doa a quem doer, custe o que custar.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT) - Agradeço o aparte de V. Exª.

Concedo o aparte ao Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Antero, talvez, mais do que qualquer outro Parlamentar presente neste Plenário, eu tenha acompanhado a sua atuação na CPI do Banestado e tenha testemunhado, por isso mesmo, a maneira como V. Exª se comportou. Daí por que hoje compreender por que está sendo vítima de denúncias e de perseguições dessa natureza. V. Exª não é caso isolado. Eu passo pelo mesmo processo, e, coincidentemente, usa-se uma tática igual: de se jogar a denúncia com base naquela teoria de que a calúnia tem um raio de ação dez vezes maior do que o desmentido - tese que sempre acompanhava o Dr. Ulysses Guimarães. Mas vamos nos basear no Eclesiastes, que diz que a virtude, mais cedo ou mais tarde, triunfa sempre. Isso é uma prova de desespero, é uma prova exatamente de que essa gente que não estava preparada para chegar ao poder está menos preparada ainda para deixar o poder. Ainda vem muita trovoada por aí. Vamos ser fortes e resistir. Muito obrigado.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT) - Muito obrigado pelo aparte de V. Exª, lembrando que também já estive solidário com V. Exª, principalmente naquele episódio do caseiro. Primeiro desconfiaram de mim, depois de V. Exª, e depois se renderam de que o caseiro estava falando absolutamente a verdade.

Senador Alvaro Dias, os paranaenses de Mato Grosso querem ouvi-lo.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Antero Paes de Barros, esse é o preço alto que se paga pela coragem, pela ousadia, pelo exercício de um mandato popular no cumprimento do dever de investigar, de denunciar, de combater a corrupção, de colocar o mal à luz para que ele possa ser investigado com eficiência, combatido, denunciado e, se possível, condenado. V. Exª cumpre esse papel exemplarmente, e esse preço é ditado por aqueles que querem, num primeiro momento, ameaçar para intimidar. A calúnia, a difamação, no caso, tem o objetivo da intimidação. De outro lado, tem o objetivo da desqualificação. É uma tentativa vã de desqualificar quem tem a coragem da denúncia. E V. Exª é, dos políticos que conheço, durante toda essa trajetória, dos mais corajosos. Pode existir alguém com a coragem de V. Exª, mas mais ousado e corajoso do que V. Exª e cumpridor do seu dever eu não conheço. Por isso, repita com Mário Quintana - o Senador Romeu Tuma deve conhecer a obra de Mário Quintana: “Eles tentam atravancar o meu caminho; eles passarão, eu passarinho”.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT) - Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Alvaro. Vou encerrar com uma observação feita pela minha filha e com a resposta que eu dei a ela. Minha filha é minha advogada hoje, Inclusive ela acaba de ganhar uma queixa-crime contra alguém que fez o mesmo tipo de calúnia e difamação contra mim lá no Estado de Mato Grosso. E eu, chateado com tudo isso, ouvi dela: “Pai, o senhor esperava o quê? O senhor que fez isso, isso e aquilo”. Eu disse: “Só tem uma diferença, minha filha: eu nunca fiz nada que não estivesse rigorosamente provado”. Eu nunca apresentei uma denúncia, Senador Tuma, sobre a qual eu não tivesse robustas provas. Ao contrário, deixei de apresentar algumas com fortes indícios porque não tinha todas as provas necessárias para que elas se tornassem denúncia.

Eu agradeço a meus Pares, agradeço a paciência do Senador Renan Calheiros. Creio que exerci aqui o meu dever de homem público. Nós, que optamos pela vida pública, é assim mesmo: dói, mas nós devemos, sim, explicações à sociedade.

Muito obrigado, Presidente Renan.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/05/2006 - Página 13925