Discurso durante a 52ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Transcrição do pronunciamento de posse do Ministro Marco Aurélio na presidência do Tribunal Superior Eleitoral. Defesa da candidatura própria do PMDB à presidência da República.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. HOMENAGEM.:
  • Transcrição do pronunciamento de posse do Ministro Marco Aurélio na presidência do Tribunal Superior Eleitoral. Defesa da candidatura própria do PMDB à presidência da República.
Aparteantes
Antero Paes de Barros, Cristovam Buarque.
Publicação
Publicação no DSF de 06/05/2006 - Página 14983
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. HOMENAGEM.
Indexação
  • COMENTARIO, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, CONGRESSISTA, PREJUIZO, REPUTAÇÃO, LEGISLATIVO, REPUDIO, ACORDO, PARTIDO POLITICO, ABSOLVIÇÃO, DEPUTADOS, RECEBIMENTO, PROPINA, MESADA, AVALIAÇÃO, EFEITO, OPINIÃO PUBLICA, APOIO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, DISCURSO, POSSE, MINISTRO, TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE), ELOGIO, VIDA PUBLICA, EXPECTATIVA, ATUAÇÃO, PROXIMIDADE, PROCESSO ELEITORAL, COMBATE, CORRUPÇÃO.
  • DENUNCIA, FALTA, ETICA, RENAN CALHEIROS, PRESIDENTE, SENADO, DETALHAMENTO, TRAIÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), OPOSIÇÃO, CANDIDATURA, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, TROCA, TRAFICO DE INFLUENCIA, CARGO PUBLICO, APOIO, REELEIÇÃO.
  • CRITICA, IMPRENSA, DIVULGAÇÃO, DENUNCIA, CANDIDATO, ELEIÇÃO, NEGLIGENCIA, IMPUNIDADE, CLASSE POLITICA.
  • ANALISE, POLITICA PARTIDARIA, PROCESSO, ESCOLHA, CANDIDATO, NECESSIDADE, ALTERNATIVA, MOTIVO, IDENTIDADE, GOVERNO, ATUALIDADE, GESTÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, DEFESA, CANDIDATURA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), APOIO, ORADOR, ITAMAR FRANCO, EX PRESIDENTE, ELOGIO, ETICA, EXERCICIO, GOVERNO FEDERAL.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, considero elegante o gesto do Senador Antero. A colega dele está no Panamá e ele vem aqui e presta a informação que a ilustre Deputada lhe mandou. Mas o problema é que se trata de mais um fato da maior gravidade, da maior seriedade, envolvendo Senadores e Deputados. E nós vamos levando; vamos levando.

Um Senador já declarou: “Eu demiti”. Em primeiro lugar, o caso dele não era nem de demitir, porque era um funcionário requisitado do Poder Executivo; era o caso de mandar de volta. Mas, pergunto: essas coisas acontecem e fica tudo como está? Como agora que ficou provado um “acórdão” entre todos os partidos do mensalão. É o acordo mais escandaloso feito na história do Parlamento desde que ele foi criado! Não me lembro de nada igual. Não me lembro de nenhum acordo feito no Parlamento como esse, onde todos os partidos absolveram todos os Parlamentares!

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Senador Pedro Simon, como tenho que viajar, V. Exª me permitiria um breve aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Primeiramente, concordo inteiramente com V. Exª. Em segundo, esclareço o que proponho: que o Senado da República e a Câmara dos Deputados façam um acompanhamento, exijam uma apuração rápida do Ministério Público e quebrem o sigilo de todos os integrantes desta Casa e daquela Casa, porque no caso, por exemplo, do mensalão, tivemos o absurdo de não ter a quebra do sigilo de ninguém. Então, penso que tem que quebrar os sigilos bancário, fiscal e telefônico; verificar isso e limpar o Parlamento brasileiro. Apóio integralmente as idéias de V. Exª.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Quando pergunto por que o Lula não cai nas pesquisas, Senador, é por causa disso; é que o Congresso está caindo tanto, está caindo tanto, que o Lula vai subindo. O Congresso está caindo num ridículo, numa desmoralização, numa humilhação, que não adianta V. Exª... E meus cumprimentos pela sua eleição para Líder da Minoria, Senador Alvaro Dias; V. Exª tem qualidade para ser Líder da Maioria, mas, pelo jeito, não será. Pelo jeito que vai, a opinião pública pensa: vigarice por vigarice, bandalheira por bandalheira, vamos deixar o PT, por que o que muda? O que muda?

Quero pedir a transcrição nos Anais do pronunciamento de posse do Ministro Marco Aurélio, de quem sou fã. Ele foi indicado pelo Collor, parece até que é seu primo, mas esse cidadão Marco Aurélio é um extraordinário Ministro, é um homem de coragem, de firmeza, que marca as suas posições. E o seu pronunciamento de posse, ontem, cuja transcrição peço seja feita nos Anais, é algo que sinceramente nunca havia ouvido nada igual. A corrupção divide o Brasil e a desfaçatez e a improbidade parecem não ter limites.

Peço a transcrição nos Anais do discurso do Presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Penso que S. Exª é um dos homens mais dignos que conheço; espero que ele possa agir. Sei que é difícil a missão desse Tribunal, porque, em se tratando de uma eleição sem regras, onde não se tem limite de campanha, onde não há o voto distrital, tudo pode acontecer.

Pela frieza desse acordo feito na Câmara dos Deputados entre todos os partidos, para livrar a todos, livrar a cara de todo mundo, não tenho nenhuma esperança de que esse pleito seja melhor do que o anterior; não tenho. Vai ser mais competente, porque as malandragens serão feitas com mais malícia e mais capacidade. Porém, na verdade, na verdade, vamos ver se o Ministro Marco Aurélio tem a sorte de, no seu mandato, conseguir realmente diminuir, já que impedir é impossível, a marcha de escândalos que se vê neste Congresso.

Ontem, assumiu a Presidência o Dr. Renan. Com todo respeito, não entendi o gesto de S. Exª. Eu estava preparado, com a minha roupa de festa, para ir assistir e levar um abraço à Presidente do Supremo. Acho que seria realmente um fato da maior importância e do maior significado, até porque achava que o Presidente Renan, no fundo, no fundo, é um nome que tem todas as condições para ser candidato a Presidente da República na Convenção do PMDB. Em vez de ele lutar tanto dizendo que o PMDB não tem ninguém em condições, que o PMDB é um partido que não tem nenhuma capacidade de ter candidato, ele podia ser o candidato! Ou então, agora, que o Lula... Parece que foi ciúme; ele ficou com ciúme. Porque o Lula, no primeiro governo dele, cometeu um erro da maior gravidade, entre os vários que ele cometeu: em vez de conversar com o PMDB, dialogar com a direção do PMDB, fazer um acordo com o comando do PMDB, ele fez um acerto com o Dr. Sarney e com o Dr. Renan. E todos os cargos que cabiam ao PMDB foram entregues ao Dr. Renan e ao Dr. Sarney. E agora, como o Sr. Senador Suassuna também entrou, os três dividem os cargos. Então, eles não querem candidatura própria, em hipótese nenhuma, não querem sequer vice; eles querem que tudo fique como está e que eles continuem mantendo os cargos. Quero que alguém do PT venha para cá e me diga se tem alguém no PT que tem mais cargos no Governo do que o Dr. Sarney e do que o Dr. Renan.

Então, o Dr. Renan ontem deu uma demonstração: não é candidato a Presidente, não é candidato a Vice-Presidente, não é candidato a Governador de Alagoas, tem mais quatro anos de Senador e vai ficar aqui. Para Governador ele já está apoiando o candidato do PFL de Alagoas e para Presidente ele está apoiando o Sr. Lula. E assumiu a Presidência. E marcaram uma nova convenção. É uma coisa de quinta categoria!

O PMDB aprovou uma convenção no dia em que o Tribunal Superior Eleitoral anulou uma decisão, perdoem-me, ridícula do ex-Presidente e hoje candidato a Governador do Maranhão - coisas da vida: ele foi chefe de gabinete do Dr. Sarney, cria do Dr. Sarney, o Dr. Sarney o fez Ministro, e, agora, ele é candidato a Governador contra a filha do Dr. Sarney. A vida é isso! Essa decisão esdrúxula e ridícula foi rejeitada pela unanimidade do Tribunal Superior Eleitoral, dizendo que a convenção do PMDB tem validade - a convenção que diz que o PMDB terá candidato próprio e que, para mudar, só com dois terços. Mesmo assim, aprovaram uma convenção. Mais uma! Por amor de Deus!

Já tem uma convenção oficial marcada para todos os partidos de 10 a 30 de junho; ele é obrigado a fazer para indicar os seus nomes. O PMDB antecipou uma para o dia 13 ou 15 agora do mês de maio. Para quê? Para decidir se vai ter ou não vai ter candidato próprio. Parece mentira! Todavia, um livro haverá de ser escrito mostrando o mal que faz o atual comando do PMDB, que, na verdade, não tem nada de PMDB - eu não me refiro ao presidente, refiro-me aos outros. É uma legião francesa - lá na França havia uma legião estrangeira para garantir vantagens. Está lá o Sr. Renan, que, do PCdoB, foi para o Collor; do Collor, foi ser Ministro do Fernando Henrique; de Ministro de Fernando Henrique, hoje é o homem de confiança absoluta do Lula. Eu não duvido que amanhã ele volte para o PSDB.

Está lá o Dr. Sarney, o eterno governista. Sua filha é candidata pelo PFL, seu filho é candidato pelo Partido Verde, seu enteado político, que ele criou, foi do Programa de Distribuição do Leite, depois foi Ministro dos Transportes, depois foi Vice-Governador de sua filha, Governador que ele elegeu e agora é um inimigo mortal. O Dr. Sarney assomou àquela tribuna para mostrar os horrores que ele está fazendo, e é candidato. Apesar de todo o carinho que o PT tem pelo Dr. Sarney, apesar de todo o carinho que o Sarney tem pelo Lula, o PT do Maranhão não quer apoiar a filha do Presidente. E o PMDB não pode ter candidato!

O problema não é o Garotinho. Alguém tem dúvida de que, se o Garotinho não fosse candidato à Presidência da República, não teria uma vírgula contra ele em jornal algum? Alguém tem alguma dúvida nesse sentido? Este é o Brasil! Não é candidato, não acontece nada.

O Governador de São Paulo é a pessoa mais íntegra, mais séria, mais digna que conheci; foi Vice-Governador do Covas, depois Governador, é uma pessoa espetacular. De repente, torna-se candidato: falam de 400 vestidos de sua mulher e não sei mais o quê. Isso não pode acontecer no Brasil.

Se alguém tem um dossiê contra o Pedro Simon, tem de apresentá-lo. O Procurador não pode deixar na gaveta, o tribunal não pode deixar arquivado, a imprensa não pode deixar na gaveta, o Congresso não pode deixar na gaveta. Tem de ser apresentado, não pode ficar na gaveta. Quando a pessoa se apresenta, apresenta-se o dossiê. Por isso acho que a campanha que se fez de massacre ao Garotinho é oportunista. Não sei se o que ele diz é ou não verdade. O que eu sei é que, se ele não fosse candidato, não seria alvo de ataques. Isso está acontecendo porque ele é candidato. Isso não pode continuar.

O PMDB não diz uma palavra a favor do Garotinho. Ao contrário: aproveita para marcar uma convenção com o objetivo de impedir que o Partido tenha candidatura própria. Um Partido do tamanho do PMDB fazer isso... É o maior Partido do Brasil, o número de prefeitos que fez em relação ao segundo colocado é o dobro; o dobro de vereadores; fez o maior número de governadores: são nove; maior número de senadores; maior número hoje de deputados federais; maior número de deputados estaduais; maior número de filiados. Nas pesquisas de opinião pública, hoje é o Partido que tem a preferência nacional - o PMDB aumentou 60% e o PT diminuiu 60%. Estamos em primeiro lugar longe do segundo. E por que esse Partido não pode ter candidato? Como não pode ter candidato? Temos Sarney, Itamar, Renan, Quércia, Garotinho, Rigotto, Requião, Luiz Henrique, Jarbas Vasconcelos. Meu Deus! É uma montanha de gente, mas o Partido não pode ter candidato.

            O PT só tem o Lula e não pode nem reunir o Partido para discutir o Lula, porque se fizer isso dá confusão. Metade do PT, comandada pelo Sr. Raul Pont, Secretário-Geral lá do Rio Grande do Sul, tem uma linha de posicionamento contrária às coligações, exige não que se apure o passado, mas pelo menos que se olhe como vai ser o futuro. Mas não pode haver reunião, não pode haver discussão. O PT tomou a decisão mais absurda que vi na minha vida.

Um escândalo enorme está aí, e o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral disse isso, está aqui no jornal. O que é que o PT faz? “Está tudo suspenso, não se fala nada até a eleição, depois da eleição vamos ver o que vai acontecer.”

O PT pode ter candidato. O PT está lá agora se ajoelhando aos pés do Quércia, perguntando-lhe o que quer. Quer ser vice? Quer ser senador? Perguntam-lhe o que quer ajoelhando-se a seus pés. Não é possível!

Desculpe-me, meu querido Presidente, mas o Partido de V. Exª, o PSDB, não se reuniu em convenção, não reuniu a Executiva. A decisão foi tomada pelo presidente nacional, nosso querido amigo Tasso, o ex-Presidente da República Fernando Henrique e - como Minas não vai ter candidato, quer dizer, não é mais café com leite, mas apenas café com café -, em respeito às tradições honradas das Minas Gerais, o Governador Aécio Neves. Aécio entra como terceiro membro que escolhe o candidato. Reuniram-se e escolheram. Até nem escolheram, ficaram em dúvida entre um e outro, mas o Serra renunciou e ficou o outro candidato.

O PMDB está debatendo isso há dois anos. Estamos discutindo, fizemos prévia, convenção, debate, discutimos amplamente essa questão. Agora vêm com essa de que o PMDB não pode ter candidato, não pode porque não pode.

Mas como vamos para uma eleição assim? Por que esse acordo lá na Câmara dos Deputados? Perdoe-me, Sr. Presidente, mas é porque há tanta gente no PPMDB, no PSDB e no PT, que é tudo igual. “Então, tu escondes os teus, eu escondo os meus e ele esconde os deles”, porque foram 12 anos - oito do PSDB e quatro do PT - em que se teve uma política identificada.

Meu Deus, meu Deus, se o Fernando Henrique fosse Presidente da República, e a Bolívia fizesse com a Petrobras o que fez, e S. Exª agisse como o Lula, o que o PT estaria fazendo? O impeachment estaria aqui hoje. O pedido de impeachment estaria aí para depor um homem que está traindo a Pátria e não está defendendo o seu País. No entanto, Lula, o mais pragmático que se possa imaginar, está lá. Acho que foi uma traição, independentemente da análise em si. Acho que o Lula, tratando com todo o carinho inclusive as bobagens do Presidente da Venezuela, dando cobertura ao Presidente da Bolívia, errou. E o Brasil não é um País capitalista, as negociações entre a Petrobras e o governo de lá foram feitas nos termos mais elevados. E o governo de lá, com a cobertura da Venezuela, trata-nos como se fôssemos imperialistas de terceira categoria, desmoraliza-nos perante o mundo, como se fôssemos americanos e eles desapropriassem coisa nossa. Isso poderia ser feito com diálogo, com entendimento. Os dois Presidentes poderiam sentar e discutir antes de decidir o que fazer. Mesmo que se tratasse de entregar a Petrobras da Bolívia para eles, deveria haver discussão.

O que quero dizer é que há muita gente cansada hoje: cansada do Lula, ...

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - ... cansada do PT, cansada do Congresso Nacional, cansada de tudo. E nós não temos o direito de ir para uma eleição na qual a votação, se tudo continuar como está, será “sim” ou “sim”. É “sim” votando desse jeito no PT ou é “sim” votando desse jeito no outro candidato, que vai repetir o que fez nos oito anos. O Brasil tem direito a uma terceira opção.

Eu lamento que uma candidatura belíssima como a da Senadora Heloísa Helena, no meio dessa anarquia que é nosso sistema partidário, não possa crescer. Eu lamento que o P-SOL, que o PDT, que o PSTU, que o PPS, que o Partido Socialista Brasileiro, enfim que esses Partidos não se reúnam e apresentem uma candidatura optativa, que teria condições de ganhar, como a Frente Ampla ganhou no Uruguai: deixou o Partido Colorado e o Partido Blanco falando sozinhos e ganhou a eleição lá.

Mas não vejo, não sinto essa possibilidade. Por isso, acho que a última chance é o PMDB apresentar uma candidatura. E, com todo respeito ao meu amigo Garotinho, não é nada pessoal com relação a ele, mas acho que nesta altura a melhor candidatura seria a do ex-Presidente Itamar Franco. Por quê? Porque se o candidato a Presidente da República hoje for o Pedro Simon: vamos votar no Pedro Simon para Presidente porque o Pedro Simon vai fazer um governo honesto, decente, vai fazer isso, isso e isso... O que o povo que vê do outro lado da televisão vai dizer? Esse discurso eu já ouvi. Há doze anos o Fernando Henrique disse tudo igualzinho! Há oito anos o Fernando Henrique veio de novo e repetiu tudo igualzinho, igualzinho! Há quatro anos o Lula veio e disse igualzinho, igualzinho, e não deu em nada.

Com o Itamar, o discurso é diferente: “Eu fui Presidente da República por quase três anos. Em primeiro lugar, venha a Oposição e diga o que tem com relação ao meu Governo. Que eu sou encrenqueiro, que eu tenho um penteado que eles ridicularizam, que sou um chato?” Eu até acho também, mas com relação à moral, com relação à dignidade, com relação à seriedade, com relação ao Banco do Brasil, Banco Central, BNDES e Caixa Econômica, ele nomeou funcionários daquelas instituições, banqueiros não entraram; com relação ao Ministro da Fazenda e ao Ministro do Planejamento, ele disse que não iria botar a burguesia empresarial, os banqueiros de São Paulo; e não botou, botou um de Minas e um de Pernambuco. E São Paulo, em manchete, botou: “a dupla caipira presidindo o Brasil”, mas botou. CPI envolvendo o Chefe da Casa Civil? Sai o Chefe da Casa Civil, ele prova que não tem nada e volta. Manchete envolvendo o Ministro dos Transportes? Para fora o Ministro dos Transportes. Manchete da Veja envolvendo o Ministro da Fazenda? O Ministro da Fazenda veio aqui - eu era Líder do Governo - e provou, como um mais um são dois, que não tinha nada, que não tinha nada. Não se provou uma vírgula contra o Ministro da Fazenda. A Veja, na semana seguinte, botou tudo de novo. Ele foi lá e entregou o cargo para o Presidente: “Não vou ficar”. “Mas está provado que não tem nada, que é tudo mentira.” “Mas não posso ficar num governo onde tenho que provar que estou dizendo a verdade. O Ministro da Fazenda tem que ter autoridade.” Esse é um homem que pode mostrar a diferença entre o que fez e o que está acontecendo.

Concedo um aparte a V. Exª, com todo prazer, nobre Senador Cristovam Buarque.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Pedro Simon, sempre é muito bom ouvir suas falas. Mas esta de hoje quero dizer que toca especialmente pela sua defesa da necessidade de uma proposta alternativa para a eleição de 2006. Temos não é nem dois lados de uma mesma moeda, os discursos do PSDB e do PT virão como o lado esquerdo e o lado direito do mesmo lado da moeda. Não são nem dois lados da moeda, é o mesmo lado da moeda, só que dividido em dois pedacinhos. Se não tivermos uma proposta alternativa, é uma geração que vai passar pelo processo político sem ouvir que o Brasil pode ser diferente, que é o que o Presidente Lula propôs em 2002: ser um Presidente diferente. Ele está disputando com o candidato Alckmin quem faz mais ou menos atos ilícitos, mas não quem vai fazer diferente. Estamos precisando de uma alternativa diferente. Eu estou de acordo que o PMDB, dependendo do seu candidato, pode representar essa alternativa. Por exemplo, se fosse o senhor o candidato a Presidente pelo PMDB, o senhor representaria uma alternativa. Se o PMDB, portanto, tiver um candidato que represente alternativa, tudo bem. Agora, se não tiver, gostaria de pedir ao senhor que venha para o nosso lado, da Heloísa Helena, do candidato do PPS, Roberto Freire, do candidato do PDT, quem quer que seja, ou, quem sabe, se a gente chega junto. Gostaria que pessoas como o senhor estivessem deste lado da alternativa, porque isso engrandeceria muito uma proposta alternativa. Não basta ter as idéias, precisa ter a liderança, e o senhor tem essa liderança no Brasil.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª faz justiça, porque nós mesmos nos reunimos várias vezes, um grupo de componentes de partidos diferentes, prevendo o que está acontecendo e tentando encontrar um caminho, mas lá se vão dois anos de quando, um dia, concluímos: vamos chegar a uma posição muito ruim, vamos ver o que a gente pode fazer. Eu era um dos que dizia nessa época que tínhamos de reconhecer duas coisas: estamos separados por vários partidos; hoje, não temos condições nem autoridade - e naquela época ainda não tinham surgido os escândalos do PT - de dizer que é esse partido ou aquele; vamos constituir um grupo de pessoas; não temos hoje ninguém que seja referência para este País do que deve ser; nós, que estamos aqui, se nos reunirmos e apresentarmos, a sociedade vai dizer: espera aí, está aqui o Cristovam; espera aí, está aqui o nosso Senador do Amazonas, nessa gente dá para confiar.

Então, eu devolvo a V. Exª: que V. Exªs se reúnam. Eu, coitado de mim, estou num PMDB em que vejo uns caras lá que são doidos para me botar para fora, e eu estou sentindo que, daqui a pouco, eu vou ter que sair porque eu não tenho mais condições de respirar. Dentro do PMDB, eu estou perdendo o ar de respirar. Eu estou agüentando, levando botijão de oxigênio. Quando vou para aquelas reuniões, eu levo escondido um botijão de oxigênio, para eu poder respirar, porque o que eles querem é me tirar o ar. Mas V. Exªs deviam se reunir. Deviam se reunir! V. Exª é um grande candidato! Dentro de seu Partido, o Senador Jefferson Péres, a Senadora Heloísa Helena, o PDT, que está numa posição belíssima. O Presidente do PDT... Olha, eu mexo muito que o Presidente do PDT leva toda a bandeira do Brizola, todo o nome do Brizola, e tem uma vantagem: ele não é brigão como era Brizola. Ele não é dono, o PDT hoje é um Partido muito mais democrático, muito mais aberto, perdoe-me, do que no tempo do Brizola, embora eu reconheça a liderança e a capacidade extraordinária do Brizola. Então, o atual Presidente não tem a liderança do Brizola, mas tem toda a bandeira do Brizola e tem a capacidade do diálogo. O Presidente do PPS no início se lançou candidato e hoje é o primeiro que senta à mesa e diz: “Vamos discutir”. Acho que isso tem que ser feito; eu acho que vocês têm que apresentar essa opção. Eu não nego para você: é muito provável que ali adiante eu esteja nela - “esteja nela” que eu estou dizendo é votando e trabalhando numa candidatura dessas. Mas eu não posso é estar coordenando, porque eu estou num Partido onde o máximo que eu posso fazer é tentar uma candidatura, e uma candidatura que ofereça credibilidade. No caso, a do Itamar Franco oferece credibilidade.

Itamar tem uns defeitos em sua candidatura: ele não vai a lugar nenhum. Os caras têm que ir lá e dizer: “Olha, eu quero que você se candidate”.

(Interrupção do som.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Numa hora que nem esta em que os caras estão gastando uma fortuna para pegar cabo eleitoral, ele não paga nem o cafezinho. Tem que chegar, telefonar e conversar com os caras: olha, tu aí de Pernambuco, telefona para o Itamar dizendo que o Itamar foi aceito.

Ele fez isso quando era Vice-Presidente. Se dependesse do Itamar jamais chegaria à Presidência da República. Ele pensou até, quando o impeachment estava ali e não tinha mais solução, em renunciar junto: “O Collor é cassado e eu vou para casa, porque fica muito feio eu entrar no lugar dele”. Mas é o nome que a gente tem.

Sr. Presidente, eu felicito mais uma vez V. Exª porque acho que V. Exª está tendo uma atuação da maior importância. Acompanhei V. Exª na Comissão, e acho que na Comissão V. Exª foi excepcional. Tenho a convicção de que haverá de sê-lo na Liderança da Minoria. Mas que V. Exª tenha a felicidade de conseguir que a gente encontre um caminho, e o caminho, com todo o respeito e todo o carinho a V. Exª... E digo isso porque sou admirador e fã inconteste do candidato Geraldo Alckmin, pois acompanhei o Geraldo Alckmin como Vice-Governador do Mário Covas, o que fez como Vice-Governador é para marcar a biografia para o resto da vida. O Covas estava praticamente sem nenhuma condição física para nada; os médicos tinham determinado que ele fosse para casa descansar. E o Mário Covas respondeu: “Mas se eu for para casa é para morrer”. E decidiu ficar até o fim. Ficou no Palácio. Às 10 horas, ele levantava e ia atender à imprensa, assinava o que tinha que assinar, voltava e dormia; às 16 horas, voltava novamente. Perante a opinião pública foi só o Covas que apareceu. O Alckmin não apareceu, não assinou, não tirou fotografia. Foi ali uma figura... Foi uma das coisas mais lindas a que me lembro de ter assistido na política brasileira: o Alckmin como Vice-Governador do Covas. Então, tenho o maior respeito por ele. Mas acho que, da maneira como está, a política não pode ficar entre o Lula e o Alckmin. Tem de ter uma outra opção. Talvez até, com essa outra opção, o Alckmin tenha condição de aparecer, de mostrar o que ele é - e que é diferente do PT. Da maneira como está hoje, como diz o nobre e querido Senador Cristovam, é PT de um lado e PSDB do mesmo lado. É a mesma cara. Os dois estão entrelaçados, mas, para o povo, significa a mesma coisa. Não podemos ir por aí!

Infelizmente, o meu Partido, infelizmente, o PMDB, que teve Teotônio Vilela, que teve o Dr. Ulysses, que teve Tancredo, que teve o Arraes, que teve o Covas, que teve lideranças de Primeiro Mundo, hoje... Deus me perdoe, mas o PMDB não merecia!

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR PEDRO SIMON EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e §2º do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Presidente do TSE: corrupção divide o Brasil”; O Globo.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/05/2006 - Página 14983