Discurso durante a 52ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Análise da decisão do Presidente da Bolívia, Evo Morales, de nacionalizar recursos naturais daquele país. Necessidade do governo brasileiro defender os interesses nacionais.

Autor
Magno Malta (PL - Partido Liberal/ES)
Nome completo: Magno Pereira Malta
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.:
  • Análise da decisão do Presidente da Bolívia, Evo Morales, de nacionalizar recursos naturais daquele país. Necessidade do governo brasileiro defender os interesses nacionais.
Aparteantes
José Jorge.
Publicação
Publicação no DSF de 06/05/2006 - Página 15025
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, PRESIDENTE, SENADO, HONRA, EXERCICIO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, AUSENCIA, TITULAR, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • RESPEITO, SOBERANIA, DECISÃO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, NACIONALIZAÇÃO, HIDROCARBONETO, ANALISE, ERRO, DESCUMPRIMENTO, CONTRATO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), EXPLORAÇÃO, GAS NATURAL, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, AFASTAMENTO, INVESTIMENTO, CAPITAL ESTRANGEIRO, PAIS.
  • EXPECTATIVA, DESENVOLVIMENTO, JAZIDAS, BACIA, MUNICIPIO, SANTOS (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), POSSIBILIDADE, EXTINÇÃO, DEPENDENCIA, GAS NATURAL, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, saúdo o público presente nas galerias do Senado Federal e também os telespectadores da TV Senado.

Inicio meu pronunciamento, fazendo coro com o Senador José Jorge. Orgulhou a todos nós o fato de V. Exª, Sr. Presidente Renan Calheiros, ter assumido ontem a Presidência da República. Não importa o tempo, se foi por 24 horas ou por 10 horas, é uma honra para qualquer homem assumir a cadeira de Presidente do seu País, é uma honraria que ele carrega para a eternidade.

Nós somos nordestinos. E, a mim, me parece - não sei se é verdade - que o sentimento nativista em nós é muito mais aguçado. Falo isso a partir da minha própria experiência, do meu sentimento e do meu apego ao meu torrão natal, da consciência de um amor profundo por este País. Temos um coração verde-amarelo. Imagino a emoção de V. Exª a partir da emoção que todos nós, seus amigos, aqui sentimos ao ver V. Exª assumir a Presidência da República. E tenho certeza de que assumirá por outras vezes.

A Presidente do Supremo Tribunal Federal não assumiu a cadeira de mandatária da Nação, mas isso acontecerá, não somente como uma homenagem à mulher - e também o será -, mas porque S. Exª construiu a sua vida e passa a ser um referencial para milhares de jovens neste País.

Todas as vezes que alguém se destaca, seja em qualquer área da vida, serve para ser copiado. Quem serve de exemplo são os maus. E a Ministra Ellen Gracie é dessas que servem para ser copiadas, porque quem serve de exemplo são os maus. E, por tudo aquilo que S. Exª construiu, vai-nos orgulhar muito e nos honrar muito no dia em que assumir a Presidência da República do Brasil.

Estou certo de que o povo de Alagoas, a exemplo do meu tio, Pastor Manoel Nascimento, por quem tenho tanto amor, lá em Palmeira dos Índios, estava muito orgulhoso ontem, pelo fato de ser seu amigo e seu eleitor, ao ver V. Exª assumir a Presidência da República. Lamento não ter podido visitá-lo, mas sei que irei em uma outra ocasião, porque sei que a diplomacia brasileira ainda levará o Presidente Lula a outros continentes.

Farei uma breve referência a Evo Morales, a exemplo do que fiz ontem. Tenho ouvido defesas feitas a ele, a quem respeito muito, como a defesa feita pela Senadora Heloísa Helena, dizendo que ele cumpriu um compromisso de campanha. Acho isso muito bonito. Cumpriu mesmo, falou que ia fazer e fez. E quem faz vida pública tem de cumprir o que promete. Mas minha mãe dizia uma outra coisa sobre isso: o que é combinado não é caro. O que está no contrato é combinado. E não custaria nada a Evo Morales ter o mínimo de respeito pelo Brasil e não ter feito nada às escondidas, numa bravata que pode custar muito a ele. Será que as empresas estrangeiras, Sr. Presidente, se encorajarão a ir àquele país? Será que os países emergentes e as grandes potências recomendarão a seus empresários investirem na Bolívia? Eu acho que não.

Qual é o empresário brasileiro hoje que se sente compungido a ir à Bolívia? Nenhum. Veja a Siderúrgica do Eike. Eu acho que a bravata de Evo Morales apagou a perspectiva de milhares de empregos para o povo boliviano e, se a bravata começar a render desemprego, os desempregados vão para a rua e imagino até que a bravata possa tirá-lo do poder. A bravata, todas as vezes em que vem, vem com uma carga muito grande de emoção e com pouca carga de razão ou quase nada.

Concordo quando ele cumpriu uma promessa de campanha para o povo dele, foi o discurso que ele fez, o povo acreditou e votou nele. Mas discordo do método, da ação e discordo que um homem, um estadista não saiba que contrato é para ser cumprido. O próprio Presidente Lula paga um preço, pagou dentro do seu próprio Partido e apanha da Oposição até hoje porque cumpriu os contratos com a economia do mundo e manteve aquilo contra o qual pregou a vida inteira: a mudança na economia brasileira, porque aprendeu rapidamente que o que é combinado não é caro.

Lamento e espero que o que disse o Dr. Gabrielli da Petrobras em relação ao nosso gás de que o investimento de quatro anos na bacia de Santos nos colocaria independentes, que a exemplo do que fez Morales, caladinho, tenhamos um comportamento mineiro com a bacia de Santos...

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES) - Já lhe concederei.

E que trabalhemos esses quatro anos para nos tornarmos independentes do gás da Bolívia e possamos deixar o Evo Morales, com a sua bravata, respondendo ao povo por que há tanto desemprego na Bolívia, a partir de um ato impensado de um Chefe de Estado que não sabe respeitar contrato.

Concedo-lhe um aparte, Senador José Jorge.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Senador Magno Malta, primeiro, quero dizer que V. Exª está sendo ponderado no que diz. Sei que, na realidade, as pessoas têm de cumprir as promessas eleitorais - isso é verdade. Mas também temos de ser ponderados nas promessas. É bom que nós, políticos - V. Exª, o Presidente Lula, o Presidente Morales e eu -, sejamos comedidos nas nossas promessas, para que, depois, não sejamos obrigados a cumprir promessas que não são boas. Também penso que V. Exª condena a forma como isso foi feito; uma forma, vamos dizer, demagógica, no sentido de trazer lucros eleitorais, já que haverá uma eleição brevemente, colocando polícia e interventores dentro das refinarias da Petrobras. Isso, realmente, é um absurdo! Em relação ao fornecimento do gás, não há dúvida de que o gás que o Brasil descobriu na Bacia de Santos, inclusive no Espírito Santo, Estado de V. Exª...

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES) - No Rio.

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - Sim; no Rio etc. Todo esse gás, no futuro, vai nos dar um aumento na nossa capacidade de produção. Porém, é de se verificar que o consumo também vai aumentar. O consumo de gás aumenta muito mais do que o consumo de petróleo. Então, na verdade, jamais poderemos atender, em curto prazo - e o que o Presidente da Petrobras disse, infelizmente, não é verdade -, em quatro anos, ao consumo de gás nacional somente com a nossa a produção. Há, contudo, uma outra solução, com a qual entendo que diminuem os riscos, que é o GNL, o gás natural liquefeito. Já há até uma planta, planejada há muitos anos em Pernambuco, fruto de um convênio entre a Petrobras e a Shell, para que trouxéssemos do exterior o gás liquefeito a fim de ser gaseificado aqui. Por quê? Porque, com isso, diminui-se o risco: ficaríamos com o risco Bolívia, que é alto; ficaríamos com o gás nacional e com o gás natural liquefeito. Se houver problema em algum país, compra-se o gás em outro. Então, penso que se deve fazer uma abordagem sistêmica, que leve em conta tudo isso. É muito difícil, realmente, a dependência que temos da Bolívia. E o Presidente Lula, como sempre, diz que isso é culpa dos governos anteriores. Na realidade, o assunto está sendo discutindo há 30 anos, porque o Brasil não tinha gás; se não tinha gás, tinha de comprá-lo em algum lugar. Quem tinha gás era a Bolívia. Então, compramos da Bolívia. V. Exª tem razão. Creio que V. Exª está dando uma opinião ponderada, como, aliás, sempre tem feito.

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES) - Obrigado. Incorporo o aparte de V. Exª ao meu pronunciamento, porque V. Exª conhece o assunto com profundidade, Senador José Jorge.

Faço coro com as palavras de V. Exª. Creio que Evo Morales fez promessa de doido e, como doido que era, cumpriu!

O Sr. José Jorge (PFL - PE) - O que é pior!

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES) - O que é pior: cumpriu! Eu o imagino dizendo: “Eles dependem do nosso gás”. Um doido como esse força a barra do Brasil dizendo o seguinte - e espero qualquer coisa dele: “Vamos parar o Brasil por três dias; vamos parar a indústria brasileira em São Paulo, fechem isso aí, e não vai gás para lá”. Esse sujeito doido pode fazer isso!

Por isso, não levo o Presidente Lula ao extremo. Creio que ele tem de ter sabedoria mesmo para tratar com esse maluco, porque, se for para o enfrentamento com esse doido, ele pode querer parar São Paulo amanhã! E pára, porque, na hora em que fecharem a tubulação lá, a indústria brasileira vai para o sal, Presidente Renan!

(Interrupção do som.)

O SR. MAGNO MALTA (Bloco/PL - ES) - Pode-se esperar tudo do Evo Morales. É um Chefe de Estado, mas, como brasileiro que recolhe os impostos, creio que essa atitude dele, para não chamá-lo de irresponsável nem de doido de novo, foi, no mínimo, desrespeitosa com um País que fez tantos investimentos na Bolívia, que gerou tantos empregos. E o Presidente Lula - não estou autorizado a fazer a defesa dele, não sou Líder do Governo nem dele - não adivinhava o que Morales tinha no coração, quando vinha aqui, conversava com o Presidente Lula e fazia outro tipo de discurso. A imprensa exibiu o que ele falou aqui, diferentemente do que estava fazendo lá. Já estava agindo no escuro, nas trevas!

Aí entra o sabido Hugo Chávez. Mas alguém precisa avisá-lo de que quem quer ser malandro demais acaba se enrolando na língua!

Obrigado, Sr. Presidente.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/05/2006 - Página 15025