Discurso durante a 53ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Decisão da OAB de apresentar representação criminal contra o Presidente Lula junto à Procuradoria-Geral da República. Críticas às afirmações do Presidente Lula, em seu programa Café com o Presidente, de que o Brasil irá ajudar a Bolívia. Comentários sobre a entrevista concedida pelo ex-Secretário-Geral do PT, Sr. Sílvio Pereira, ao jornal O Globo.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Decisão da OAB de apresentar representação criminal contra o Presidente Lula junto à Procuradoria-Geral da República. Críticas às afirmações do Presidente Lula, em seu programa Café com o Presidente, de que o Brasil irá ajudar a Bolívia. Comentários sobre a entrevista concedida pelo ex-Secretário-Geral do PT, Sr. Sílvio Pereira, ao jornal O Globo.
Aparteantes
Alvaro Dias, Efraim Morais, José Agripino.
Publicação
Publicação no DSF de 09/05/2006 - Página 15126
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA EXTERNA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • PERDA, REPUTAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OMISSÃO, CORRUPÇÃO, APOIO, ORADOR, DECISÃO, ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL (OAB), APRESENTAÇÃO, RECURSO CRIMINAL, PROCURADORIA GERAL DA REPUBLICA.
  • LEITURA, TRECHO, NOTICIARIO, IMPRENSA, CRITICA, POLITICA EXTERNA, FALTA, RESPOSTA, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, DESAPROPRIAÇÃO, INSTALAÇÃO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS), ALEGAÇÕES, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO, AUXILIO, PAIS SUBDESENVOLVIDO, PREJUIZO, INTERESSE NACIONAL, PERDA, LIDERANÇA, AMERICA DO SUL.
  • COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, ENTREVISTA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), EX-CHEFE, SECRETARIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), ASSUNTO, CORRUPÇÃO, MEMBROS, GOVERNO FEDERAL, ALEGAÇÕES, AMEAÇA, MORTE, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, EXPECTATIVA, DEPOIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI).

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em toda a longa história de corrupção, mensalão, roubo, aparelhamento, desgoverno, despreparo, sandice e outros temas que em tudo se assemelham a um anárquico noticiário policial, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva está, mais do que nunca, sob forte suspeição.

            Além do descrédito com que passa a ser visto pela opinião pública, há a decisão da Ordem dos Advogados do Brasil de, contra ele, representar criminalmente junto à Procuradoria-Geral da República. Ele, Lula, nada fala, apenas desconversa acerca das sérias revelações do ex-secretário-geral do PT, Silvio Pereira, o homem do famoso Land Rover.

Lula: “Ele é livre para falar o que bem entende”. Evidentemente, Presidente, todos somos livres para falarmos o que bem entendermos e não tem por que tanta revolta diante do mudo cívico que resolveu romper o pacto de omerta, o pacto mafioso da omerta. Mas é o cúmulo da insensatez. Pode até acontecer um terremoto moral no Brasil que ele, Presidente, apenas desconversa. Eis aí o máximo da insensatez, da desfaçatez, da falta de respeito pela opinião pública.

E é lamentável vermos uma pessoa de história pessoal e política tão bonita contentando-se com o papel ora de omisso ora de espertalhão. O ex-secretário-geral do Partido do Presidente, em entrevista ao Globo, revelou que a idéia do esquema PT-Marcos Valério era arrecadar - sejamos mais correto, roubar - R$1 bilhão, só em quatro fontes, três bancos e mais algo ligado ao setor agropecuário.

Lula, no entanto, num sítio no interior de Minas, vagueia em seu tílburi meio carroça, meio abóbora, e acha que está tudo bem.

Hoje, em seu programinha de rádio das manhãs de segunda, dá forte aconchego a Morales, o autoritário e despreparado boliviano que, tudo indica, repetirá a triste sina de instabilidade política que há tanto tempo infelicita o seu país.

No rádio, Lula afirmou: “Não podemos viver rodeados por países mais pobres que o Brasil”. E revela, uma vez mais, sua “fragilidade”: “Com tanta miséria nos países vizinhos” - fragilidade entre aspas, novamente, para o Presidente -, “não pode o Brasil adotar posição dura. Vamos com carinho”. Essa tolice foi dita por ele e não por mim.

Passa a mão na cabeça do boliviano que o chutou, conforme a dura foto de capa da revista Veja desta semana, que mostra tudo, até a marca do solado. A capa, aliás, vai para os Anais desta Casa.

Veja:

            Lula dormiu como grande guia da América Latina e acordou como mais um bobo da corte do venezuelano Chávez, que tramou o roubo do patrimônio brasileiro na Bolívia.

Apesar da evidência desse roubo e do chute que - repito - deixou a marca de sola, Lula não se contenta. Vai dar mais à Bolívia, vai ajudar o autoritário Morales, por ordem, supõe-se, de Chávez. E o pior é que ajudar Morales nem de leve serve ao povo boliviano. A história próxima vai demonstrar isso à farta.

Traduzo: Lula, no seu programinha de rádio, certamente quis dizer que a ajuda à Bolívia é mais importante do que a ajuda às populações desassistidas do Norte e do Nordeste deste País.

Ele deveria ser ao menos sincero e verdadeiro, por uma vez que seja, e afirmar aos nordestinos ou aos brasileiros, de maneira geral, mais ou menos o seguinte - aí eu abro aspas para o que Lula deveria dizer: “Olha, minha gente, sei que no Brasil ainda há muita miséria, mas me desculpem porque tenho de ajudar, primeiro, o Presidente Morales, da Bolívia” - aí fecho aspas.

E mais, completando em forma de pergunta, abro aspas para o que eu gostaria que o Presidente dissesse, para ser sincero, uma vez na vida - aspas para ele: “Vocês, meu povo do Nordeste, do Norte e de outras regiões, vocês, que passam fome, concordam comigo?”

Lula só vai fazer essa indagação aos brasileiros no dia em que for descoberta a Terra do Nunca.

Enquanto isso, apesar do pontapé, a ele pouco importa a sorte dos investimentos brasileiros na Bolívia. Há mais ameaças além da desapropriação dos bens da Petrobras.

A manchete de capa da Folha de S.Paulo de hoje não deixa dúvidas: “Reforma agrária ameaça brasileiro na Bolívia”. É de Fabiano Maisonnave, enviado especial da Folha de S.Paulo a Santa Cruz de La Sierra.

Ele diz:

           Depois do gás, a terra. O Presidente boliviano Evo Morales já tem em sua mesa um pacote de decretos e um projeto de lei que regulamenta o que ele mesmo tem chamado de nacionalização da terra. A medida deve afetar de forma diferente as centenas de proprietários de terra brasileiros no país, divididos pelo governo entre sojicultores radicados no Departamento de Santa Cruz e os que exercem atividades ilegais na extensa zona de fronteira.

            Não será espanto algum se o Presidente Lula vier com mais uma de suas patacoadas e falar que isso não é relevante.

            Se é que ele sabe disso, ele, que diz nunca saber de nada.

            É como no caso do aumento do gás. Ainda hoje, Lula declarou que não haverá aumento de preço.

            A posição de Lula é bastante diferente da de Evo Morales, Presidente da Bolívia, que ontem defendeu uma alta de 61% para o gás fornecido ao Brasil.

De duas, uma: ou Lula de nada sabe, pela sua costumeira omissão, ou pensa que os brasileiros todos são idiotas e vão acreditar nas lorotas que gosta de proferir, como as de hoje, no mesmo programinha radiofônico.

Volto a Silvio Pereira. Para mim, Silvio contou só um pouquinho. Para mim, Silvio, ainda assim, mentiu de novo, deslavadamente, para o jornal O Globo. Vamos ler o que disse Silvio.

“O ex-Secretário-Geral exime o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva de responsabilidade no esquema e afirma que, em 2004, já Ministro, o ex-Presidente do PT, José Dirceu, não recebia Marcos Valério nem gostava da situação”.

Conta outra, Silvio. Conte outra. Essa não cola, nem em criança do jardim-de-infância.

Silvio Pereira desabafou. Deve estar abandonado, deve estar entristecido, deve estar amargurado. Mas Silvio Pereira não contou um décimo do que sabe. Por isso, é fundamental sua vinda à CPI, e com hombridade, sem habeas corpus, para, de uma vez por todas, rompermos com esse omertà, com esse pacto mafioso do silêncio, em que um quadrilheiro protege o outro. Este não pode ser um País de quadrilheiros.

Concedo um aparte ao Senador Alvaro Dias.

O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Arthur Virgílio, V. Exª mostra bem essa contradição do Sr. Silvio Pereira. Em determinado momento, ele tenta isentar o Presidente, mas, em outro momento, de forma mais enfática, ao responder se negociava com os empresários a arrecadação de fundos, ele diz: “Não, eu não tenho status para estar nessa turma; quem está nessa turma é o Presidente Lula, o José Dirceu...”. Aí relaciona os demais integrantes da “turma” - é a expressão dele. Portanto, ele indica a participação direta do Presidente da República. O que há, na verdade, é a boa vontade de muitos em proteger o Presidente da República, mas o que fez Silvio Pereira nessa entrevista foi denunciar o Presidente como um dos responsáveis maiores por esse esquema de arrecadação e de corrupção que tinha por objetivo esse projeto de poder. V. Exª aborda essa questão com a competência de sempre.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Senador Alvaro Dias.

Na verdade, não dá para ignorarmos a decisão sábia da Ordem dos Advogados. Não me parece que fosse mesmo nada que devesse levar ao impeachment, porque esse é um processo jurídico, é político, é social. E uma perna, a meu ver, estava de pé, a jurídica, razões jurídicas sobejas para se levar o Presidente ao impeachment. Mas não fizemos manifestações de rua, não criamos a figura do clamor popular. Não existe, portanto, o clamor pela saída do Presidente Lula; não existe um caos que impeça o funcionamento das instituições. Parece-me que a OAB foi ao máximo da punição moral ao Presidente: representa contra ele junto à Procuradoria Geral da República em cima de denúncias gravíssimas que foram agora ecoadas e repercutidas na fala titubeante do Sr. Sílvio Pereira.

Mas vamos agora aos fatos, Senador José Agripino:

           Agenda desmente e compromete Dirceu - O Globo, 04 de agosto de 2005. Como chefe da Casa Civil, José Dirceu, PT - SP, recebeu em audiência no Planalto, em 11 de janeiro deste ano, o banqueiro português Ricardo Espírito Santo, do Banco Espírito Santo, acompanhado do empresário Mineiro Marcos Valério de Souza.

Coluna de Fernando Rodrigues - Folha de S. Paulo:

           O Marcos Valério disse que tínhamos três hipóteses: “A primeira é derrubar a República. Vamos falar tudo de todos. PT, PSDB, PFL. não sobra ninguém”. (...)

Tenho certeza de que o PSDB sobra e imagino que o PFL sobre. Tenho absoluta convicção de que o PSDB sobra e de que terá vida muito longa na política deste País, com honra, com cabeça erguida, sem ter que, de forma alguma, praticar nada que o rebaixe.

Mas, muito bem, continuo com Fernando Rodrigues:

           (...) “não sobra ninguém. A segunda hipótese é a tática de PC Farias: ficar calado. Só que ele morreu. A terceira é um acordo negociado, de caixa dois”. Eu queria a hipótese número um, mas acabei sendo voto vencido.”

Ou seja, negociaram, os oficiais, os do oficialismo, com o Marcos Valério, negociaram com ele um modus convivendi, um modo de convivência. Ele não queria morrer como PC Farias. Ele poderia dizer muito mais do que disse. Marcos Valério disse um pouquinho, o bastante para dar todo esse escândalo, mas o suficiente para não entornar todo o leite.

           (...) “De todas as suas afirmações [continua Fernando Rodrigues], essa é a mais relevante, por possibilitar uma checagem material de fatos. Em reserva, Silvinho já descreveu o local e o horário da reunião em que Marcos Valério apresentou as tais três hipóteses. O ex-dirigente petista chega a se recordar até da padaria na qual foram encomendados os sanduíches para saciar a fome dos presentes. Uma acareação entre os envolvidos na operação seria no mínimo constrangedora para os citados.”

Em meio a ambigüidades, negaças e mentiras mais ou menos óbvias, a entrevista de Silvio Pereira tem afirmações que confirmam o já sabido ou apontam novas ramificações do esquema de corrupção do PT. O ex-blog do Prefeito César Maia resumiu bem: a entrevista é um blefe para defender a si mesmo, a Lula e a Delúbio. Mas para isso ele teve que dar alguma informação que pode cair como uma bomba no colo de Lula, do PT e do esquema. O pessoal do ex-blog listou três pontos explosivos.

Eu acrescentaria outros tantos.

Os “explosivos de alto teor detonante”

1) Sílvio Pereira detalha transferências do PT aos municípios na campanha de 2004 e saldos de débitos do PT da campanha de 2002, e o crescimento desses débitos até R$120 milhões. Se a contabilidade do PT no Tribunal Superior Eleitoral não registra esses números, há uma fraude que pode levar até à cassação de registro desse Partido.

2) Diz que Marcos Valério ofereceu ao PT três depoimentos: contar tudo; não contar nada (nesse caso ele poderia morrer como PC Farias); e contar apenas uma parte. O PT teria optado por essa última alternativa. Portanto, Marcos Valério mentiu e deve ser chamado para depor imediatamente, acareando-o com Sílvio. Silvio tem que informar quem decidiu por esse terceiro caminho. Alguém arbitrou, com certeza, essa solução escabrosa, dita de meio termo.

3) Havia um esquema de arrecadação de R$1 bilhão com quatro fontes principais: Banco Econômico, Banco Mercantil, Opportunity e Passivos Agropecuários.

A entrevista do ex-secretário-geral do PT já produziu, entre outros resultados, uma manifestação do Presidente do PT, Deputado Ricardo Berzoini, que se apressou em negar que Silvio Pereira tivesse se oferecido para depor numa investigação interna do PT. Desmentiu pelo outro, o homem do Land Rover. Pelo menos por enquanto.

Não seja por isso: a entrevista vale, a meu ver, por um oferecimento público. É só marcar a data. Espero que se marque a data agora, sem conveniências eleitorais, com o Congresso funcionando plenamente e, portanto, antes do recesso branco que se avizinha.

A seguir, acrescento alguma coisa a tais pontos, para que, anexando a este pronunciamento, passem a constar dos Anais do Senado, incluindo as matérias do jornal de hoje.

São várias as matérias veiculadas nos jornais de hoje acerca deste tema que vou pedir sejam registradas nos Anais da Casa.

Senadores José Agripino e Geraldo Mesquita Júnior , por último, de tudo o que me chamou a atenção, ressalto o fato de o Sr. Sílvio Pereira ter tido aquela crise histérica, que certamente assustou a jornalista de O Globo, que desceu pálida, dizendo que o Sr. Sílvio Pereira se teria ferido, teria confiscado documentos da jornalista; estaria quebrando o próprio apartamento, e dizendo que, se a matéria fosse publicada tal como depôs, ele correria perigo de vida.

É muito difícil para V. Exª, Senador José Agripino, e para mim, que fazemos Oposição como fazemos, aceitarmos, sem irmos a fundo na tentativa de aclarar o quadro, como corriqueiro alguém se dizer ameaçado de morte, pois isso não é corriqueiro. Se alguém está ameaçando de morte o Sr. Sílvio Pereira, quero saber o nome do bandido, dos bandidos, do quadrilheiro, dos quadrilheiros que o estão ameaçando de morte.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Com muita honra, Senador.

O Sr. José Agripino (PFL - RN) - Senador Arthur Virgílio, eu até estava decidido a não aparteá-lo, porque vou falar sobre o assunto em seguida. V. Exª fere uma questão que considero fulcral, está aqui anotada. Senador Arthur Virgílio, V. Exª se lembra de Anderson Ângelo Gonçalves, vulgo Jack, o garçom do bingo de Campinas? Veja a similitude entre os procedimentos de Jack e Silvio Pereira. O Jack prestou um depoimento a um jornalista e, depois disso, passou a ser alvo de proteção e pressão, proteção misturada com pressão, de petistas que queriam o silêncio dele. E, em função da pressão pelo silêncio, ele passou a ter medo de morrer. Silvinho agora diz que está debaixo de pressão para se manter em silêncio e com medo de morrer. Veja que forma de agir! O que está na cabeça de Silvinho Pereira? Será que ele está se lembrando do que aconteceu com o Toninho, de Campinas? Com Celso Daniel, de Santo André? Será que é hábito do PT eliminar pessoas que não se comportem dentro da cartilha deles? Eu ia falar sobre isso, mas já vou deixar de falar porque quero só dar - atrever-me a dar - essa contribuição ao raciocínio cristalino que V. Exª está desenhando no discurso que está fazendo sobre esse affaire Silvio Pereira e a associação direta com um cidadão que eu entendo estar diretamente ligado à denúncia que ele pretendeu fazer e não teve coragem de completar: o cidadão se chama Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Meu ilustre amigo, Líder José Agripino, V. Exª, com argúcia, com a lucidez de sempre, na verdade antecipou o que eu queria concluir, porque era exatamente essa a formulação que me levaria a encerrar a minha participação nesta tribuna hoje.

Silvio Pereira falou por falar que “eles” o matariam? Temos de saber quem são “eles”. Quem são esses “eles” tão ofendidos com a sua declaração? Quais seriam os “eles” que poderiam achar, na relação custo/benefício dos amorais, preferível matar uma pessoa a pagar determinados preços que seriam conseqüências, eventualmente, de processos ou de apenações que nascessem das declarações ao O Globo do Sr. Silvio Pereira? Quais seriam os “eles”?

Agora, o Sr. Silvio Pereira falou por falar? Tentaram dizer que ele era desqualificado - algo stalinista mesmo, ou seja, um raciocínio do seguinte tipo: “É louco. Manda para a Sibéria, manda para a Sibéria e pronto. Se está contestando Stálin, é louco”.

A segunda coisa: o Sr. Silvio Pereira estaria falando isso porque porventura teria visto essa prática em algum momento ao longo de sua vida e de sua convivência com os “eles”? Será que os “eles” são aqueles de que V. Exª está suspeitando agora e aqueles de que a Casa inteira igualmente suspeita? Aqueles que a Nação inteira não pode mais deixar de conhecer? Será que ele viu isso acontecer? Será que ele recebeu alguma ameaça objetiva? Essa seria uma terceira hipótese.

A primeira hipótese: ele falou por falar, mas intuindo que poderia estar correndo perigo - nesse caso, eu quero saber quem são os “eles”; segunda hipótese: ele viu isso acontecer com alguém - essa hipótese foi aventada por V. Exª; terceira hipótese: o Sr. Silvio Pereira foi ameaçado pessoalmente - “Se você insistir nisso, você vai pagar o preço”, algo dito, talvez, há muito tempo?

O fato é que não é normal o silêncio de Delúbio, não é normal o silêncio de Silvio Pereira, não é normal o silêncio deles todos. Não é normal o Presidente da República falar sobre tudo o que é assunto - mecânica quântica, física nuclear - e só não falar sobre o caseiro Francenildo e sobre os ataques frontais à ética praticados sob sua administração. Quero saber quem são os “eles”.

Concedo um aparte ao Senador Efraim Morais com muita honra.

O Sr. Efraim Morais (PFL - PB) - Senador Arthur Virgílio, primeiro gostaria de dizer a V. Exª que, para mim, é uma alegria poder aparteá-lo. Quanto à questão de desqualificar o Sr. Silvio Pereira, fico só com uma dúvida, e V. Exª poderia tentar me dar alguma explicação sobre isso. O Sr. Silvio Pereira era qualificado para ser Secretário-Geral do PT; o Sr. Silvio Pereira era qualificado para distribuir cargos nesta República; o Sr. Silvio Pereira era qualificado para cruzar o País em campanha, no mesmo avião, ao lado do Presidente Lula. Será que o Governo e o PT entendem que desqualificar significa falar a verdade ou pretender falar a verdade? Essa é uma dúvida. Não sei qual o comentário que V. Exª poderia fazer sobre ela. Para esses três outros casos, ele era muito bem qualificado. Quando resolveu falar a verdade - talvez porque se tenham esquecido dele; ia completar um ano, abandonaram-no; ele começou a sentir dificuldades ou ameaças -, a partir daí, ele só viu um único caminho: falar a verdade. Na hora em que tentou falar para uma repórter, veio a desqualificação do Sr. Silvio Pereira.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador Efraim Morais, meu Presidente, se ele fosse uma pessoa efetivamente qualificada, não teria ficado com o Land Rover da empresa que o mimou.

O fato é que V. Exª tem razão: ele era visto por seu partido como suficientemente qualificado para exercer o segundo cargo na hierarquia de um partido que era o maior partido de massas da América Latina.

Por outro lado, acompanhando seu trabalho e procurando ajudá-lo, na medida do possível, na CPI dos Bingos - também na CPMI dos Correios, da qual participei da maneira que pude -, pude perceber que seria mesmo impossível manter o silêncio de tantos pela vida toda. O silêncio de um pela vida toda seria possível; o silêncio de muitos por um bom tempo, talvez; o silêncio de todos por todo o tempo, porém, é completamente impossível manter. Alguém teria de falar: ou o mais fraco ou aquele que tivesse a consciência lhe apontando caminhos melhores ou aquele que, porventura, se sentisse abandonado - faltou-lhe a mesada ou sei lá o quê. O fato é que alguém falaria, e ele falou.

Eu não tenho dúvida alguma, Senador Mão Santa, de que outros vão falar. Parece que alguns têm o calendário eleitoral na cabeça. O Presidente Lula é tarado por eleição e, então, diz que, antes da eleição, não quer que aconteça nada de mau. Depois, quem sabe, pode acontecer.

            No entanto, eu estou falando da história do País. Pode ser que amanhã o Presidente Lula esteja morto - daqui a trinta ou sessenta anos se Deus quiser; a depender de mim, ele viverá muito -, e alguém escreva história com o depoimento de alguém que deixou uma carta antes de morrer. Por exemplo, o Sr. José Dirceu, antes de morrer, pode deixar uma carta contando tudo o que ele viu, tudo o que ele sabe. Então, não importa que o Presidente Lula esteja morto daqui a não sei quantos anos, o importante é que a verdade vai aparecer toda. A verdade é parte essencial da história que queremos escrever para os nossos filhos. Não dá para se ter ou para se comprar ou para se impor a tantos, por tanto tempo, o silêncio. Não é possível.

O primeiro furo nesse barco da omertà mafiosa foi rompido, e foi rompido com a entrevista dada à jornalista Soraya Aggege, do Jornal O Globo, pelo Sr. Silvio Pereira. Que ele venha à Comissão Parlamentar de Inquérito e que opte entre ficar mudo de novo - quem sabe, aí sim, correr mais risco até de vida; ele, que está com medo “deles” e diz que “eles querem matá-lo” - ou ele chega aqui, diz quem são “eles” e garante a sua segurança e a de sua família, falando a verdade e prestando um serviço à Nação. É o que imagino que seja o mais justo, o mais decente e o mais correto que ele possa fazer depois de tantos descaminhos e de tantos desacertos na sua vida, que, em algum momento, parecia tão promissora do ponto de vista público. Ele entrou como peça secundária, tenho certeza, nesse terremoto que, na verdade, é o terremoto causado por “eles”, os mesmos “eles” a quem Silvio Pereira se refere com medo, mas sem, ainda, os nominar.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

 

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SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO.

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O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em toda a longa história de corrupção, mensalão, roubo, aparelhamento, desgoverno, despreparo, sandices e outros temas que mais se assemelham ao noticiário policial, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva está, mais do que nunca, sob forte suspeição.

Há, além do descrédito com que passa a ser visto pela opinião pública, há o prenúncio de impeachment pela OAB, mas ele, em seu retiro parasidiáco no interior de Minas, passeando em carruagem de seu anfitrião, Lula mostra que não está nem aí.

Ele nada fala, apenas desconversa acerca das sérias revelações do ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, o homem que levou de lambuja o famoso Land Rover.

-“Ele é livre para falar o que bem entende”

É o cúmulo da insensatez! Pode até acontecer um terremoto no Brasil, que, dele, Presidente, apenas desconversas. O máximo da insensatez, coisa que se imagine possível apenas em gente pirada.

Só que Lula, ao contrário, não é nem um pouco pirado. Lamentavelmente, ele não honra a cadeira que ocupa no Planalto e passa à Nação a figura do espertalhão, o próprio vivaldino.

O ex-Secretário-Geral do partido do Presidente, em entrevista a O Globo, revelações e diz que a idéia do esquema PT-Marcos Valério pretendia arrecadar (rouber) R$1 bilhão.

Lula, no entanto, vagueia em seu tílburi meio carroça, meio abóbora, e acha que tudo está bem.

Hoje, em seu programinha de rádio das manhãs de segunda, Lula dá aquele aconchego a Morales, o autoritário boliviano que alguns desavisadamente chamam de populista.

No tal programinha, Lula diz que não podemos não pode viver rodeado por países mais pobres que o Brasil.

E revela uma vez mais seu despreparo: com tanta miséria nos países vizinhos, não pode o Brasil adotar posição dura. Vamos com carinho.

Passa a mão na cabeça do boliviano que o chutou, colocando-o a escanteio. A foto da capa de Veja desta semana mostra tudo.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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           Matérias referidas:

           “Tem muita gente importante envolvida nisso”;

           “Quem mandava eram Lula, Genoino, Mercadante e Dirceu”;

           “O plano era faturar R$1 bi, conta Silvio”;

           “Pivô da crise, Maurício Marinho vira evangélico”;

           “Chanceler afirma que há um limite para aceitar reajuste do preço do gás”;

           “O sim e o não”;

           “Dinheiro como arma diplomática de Chávez”;

           “Reduto de Morales reforça cobranças”;

           Muy amigo, Chávez tenta reinar sozinho”;

           “Ex-dirigente do PT revela: Valério ia arrecadar R$1 bi no governo”;

           “Vazio demográfico é mito”;

           “Investimentos do Brasil estão parados na Bolívia”;

           “Medo de perder terras na Bolívia”;

           “Primeiro os votos, depois o gás”;

           “Novo erro”.

           “Anexos.Veja


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/05/2006 - Página 15126