Discurso durante a 55ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Crise por que passam os agricultores em todo o país e especialmente no Paraná.

Autor
Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Crise por que passam os agricultores em todo o país e especialmente no Paraná.
Publicação
Publicação no DSF de 11/05/2006 - Página 15888
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • REGISTRO, REVOLTA, PRODUTOR RURAL, PARALISAÇÃO, ECONOMIA, PROTESTO, ABANDONO, GOVERNO FEDERAL, INFERIORIDADE, PREÇO, COMPARAÇÃO, CUSTO, PRODUÇÃO, MOTIVO, POLITICA CAMBIAL, PROVOCAÇÃO, FALENCIA, AGRICULTURA, INDUSTRIA, EQUIPAMENTOS, INSUMO, RISCOS, COOPERATIVISMO.
  • COMENTARIO, BLOQUEIO, FERROVIA, RODOVIA, ADESÃO, MOVIMENTO TRABALHISTA, AGRICULTOR, APREENSÃO, OCORRENCIA, CONFLITO, PROTESTO, ORADOR, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, FAVORECIMENTO, BANCOS, CONTINUAÇÃO, CORRUPÇÃO, AUSENCIA, AUDIENCIA, LIDERANÇA, AGROPECUARIA, GRAVIDADE, REDUÇÃO, AREA, PLANTIO.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho certeza de que o Paraná se sentiria honrado se tivesse como representante aqui no Senado um Senador da importância do Senador Jorge Bornhausen, que honra o Estado de Santa Catarina.

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - O Maranhão também.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Sei que o Maranhão também.

Pedi a palavra para fazer uma comunicação que é realmente inadiável.

Sr. Presidente, conheço o homem do campo, conheço o produtor rural. E não o conheço, Sr. Presidente, por ouvir falar, por ver de longe. Conheço o produtor rural porque sou um deles, porque convivo com eles, porque converso com os produtores rurais todos os dias, porque visito os produtores rurais do meu Estado. Costumo dizer que eu não conheço o Paraná apenas pelos nomes das cidades; eu o conheço pelos nomes dos rios, das estradas, dos carreadores. Conheço todos os cantos do meu Estado e, por isso, conheço a natureza do produtor rural do Paraná e do Brasil.

Fiz aqui, muitas vezes, alertas ao Governo sobre o que estaria por acontecer. E hoje, Senador Jorge Bornhausen, o meu Estado está parado porque os produtores rurais perderam a paciência, de uma vez por todas, com o Governo Federal. O Governo está brincando com homens sérios, com mulheres sérias, que vivem no campo, que são responsáveis por 40% da Receita Bruta deste País, que são responsáveis por 37% de todos os empregos do Brasil, e que estão abandonados pelo Governo Federal.

Os preços estão muito abaixo do custo de produção. O Governo brinca com o dólar; fez com que os produtores comprassem os insumos quando o dólar estava cotado a R$2,90, R$2,95. Agora, na hora de vender a produção, o dólar está cotado a R$2,05, uma defasagem que está desestruturando o setor de produção.

E não se está desestruturando apenas o setor de produção. O Brasil está assistindo à quebra da agricultura, e, com isso, à quebra da indústria fornecedora de máquinas, equipamentos e insumos para a agricultura. A desestruturação do sistema cooperativista brasileiro será a próxima conseqüência, porque produtor descapitalizado e quebrado significa cooperativa quebrada. Enquanto isso, o Presidente da República e o Governo estão apenas tentando defender-se das acusações de corrupção a que assistem diariamente pela televisão.

Ouvi hoje do Presidente da ALL, a empresa de transportes ferroviários do Paraná, que os trens estão parados. Os produtores fecharam a ferrovia, e os trens não podem transportar açúcar, que está sendo produzido nos campos do Paraná, soja, milho, não podem transportar, enfim, produtos industrializados. Trens parados significam nada de exportação. Caminhões também estão entrando no movimento dos produtores, porque sabem que, se a agricultura quebrar, quebra o setor de transportes do País.

Só no Rio Grande do Sul sete mil funcionários foram demitidos, ano passado, das indústrias fabricantes de máquinas e equipamentos. E o Governo nada faz. É um Governo de promessas, um Governo de mentira, um Governo que não respeita o homem do campo, que está cansado. Sr. Presidente, os produtores rurais perderam a paciência.

Do Estado do Mato Grosso recebi uma ligação. Estão com medo de que haja até mortes nos conflitos que já estão ocorrendo. No Mato Grosso do Sul, estão com medo de que aquele Estado produtor também se transforme em um campo de batalha, por aqueles que querem trabalhar no campo e produzir, mas que estão sendo impedidos pela falta absoluta de atenção do Governo, que não reconhece os produtores rurais como os responsáveis pelos empregos gerados e pela balança comercial, que é superavitária em função da agricultura.

Enquanto isso, somos obrigados a ler diariamente nos jornais notícias como esta de hoje: “Banco Itaú atinge 1,470 bilhão de lucro no primeiro trimestre, abaixo do Bradesco. O Bradesco, no primeiro trimestre, lucrou 1,530 bilhão, ou seja, 500 milhões de lucro por mês. E o Governo continua passivo, nada faz. O Presidente da República sequer recebe as lideranças do setor agropecuário. O Presidente da República precisa receber aqueles que ajudam o País a vencer crises e mais crises. O produtor se cansou, perdeu a paciência, foi para as estradas, trancou as rodovias. Eles poderiam estar fazendo a manutenção das máquinas, dando assistência às suas lavouras, usando todas as técnicas necessárias, do plantio à colheita, mas estão eles nas estradas, porque não dá mais para produzir. Os produtores ameaçam não plantar este ano. Se eles não plantarem este ano, o País será obrigado a importar e estaremos com o nosso dinheiro gerando empregos em outros países. Será essa a defesa da soberania nacional de que fala o Presidente da República?

Parece-me, Sr. Presidente, que o Presidente da República e seus Ministros da área econômica perderam completamente o senso da razão, perderam completamente o senso do que significa o setor primário deste País. Nem os produtores de laranja, que nunca vi fazerem protestos, estão agora praticamente paralisando as suas atividades. Os produtores não podem fazer greve, mas estão começando um movimento que vai resultar, no dia 16 de maio, numa paralisação de Brasília.

Sr. Presidente, se Brasília parar, o que vai acontecer? Nada. Os produtores estão lendo nos jornais sobre a roubalheira, sobre os Deputados que estão sendo acusados de uma falcatrua, da armação de uma quadrilha para roubar dinheiro de ambulâncias. O produtor está lendo isso nos jornais, está vendo na televisão que o dinheiro que ele paga para produzir está se transformando em dinheiro roubado por alguns Parlamentares que não deveriam estar aqui no Congresso Nacional, mas em outro lugar muito bem conhecido por bandidos.

Não podemos mais continuar, Sr. Presidente, subestimando a inteligência do homem do campo. Tem gente que trata o homem do campo como se ele fosse ignorante. Não! Os produtores e trabalhadores rurais acompanham pela televisão, pelo rádio, pelos jornais o que acontece neste País.

Vem um Silvio Pereira dizer que o PT pretendia - não sei qual o termo - juntar, arrecadar, roubar - não sei qual o termo - um bilhão de reais, enquanto eles estão no campo pedindo pelo amor de Deus para que o Governo olhe e corrija e cumpra o compromisso de dar preço de garantia. Não podem continuar vendendo seus produtos por um valor que equivale a apenas metade do que pagaram para produzir.

Sr. Presidente, V. Exª já me ouviu dizer aqui que, no ano que vem - palavras do Ministro da Agricultura do Governo, não minhas -, a área plantada será 20% menor do que a plantada neste ano e que no ano seguinte ela será ainda mais 20% menor. Nós voltaremos a plantar a área da década de 80, mas a população que temos que alimentar não é mais a da década de 80. O superávit que nós temos que dar na balança comercial não é mais o da década de 80. O número de empregos que nós temos que gerar não é o mesmo da década de 80. O País não pode andar para trás, Sr. Presidente!

            Sr. Presidente João Alberto, estou aqui na tribuna repetindo o que falei antes: O Governo precisa se dar conta de que o produtor rural, de que o homem do campo perdeu a paciência, e quando homens sérios, quando homens trabalhadores, como os produtores rurais, perdem a paciência, Sr. Presidente, o Governo que se cuide, porque não vamos esperar...

(Interrupção do som.)

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. PRESIDENTE (João Alberto Souza. PMDB - MA) - Conclua, Senador, por gentileza.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Vou concluir.

O produtor rural não terá paciência para esperar o dia 1º de outubro. Estão dizendo que vão dar o troco no dia 1º de outubro. Talvez no dia 1º de outubro, Sr. Presidente, não haja mais tantos produtores rurais neste País. Muitos estão deixando o campo, posso afirmar aqui. Foi muito mais gente que deixou o campo nesse período de Governo do que foi assentada pela reforma agrária prometida.

Estou aqui alertando o Governo e vou pedir à Mesa do Senado, peço a V. Exª que faça, pelo Senado, um alerta ao Presidente da República, porque não sei o que vai acontecer no dia 16 de maio se o Governo até lá não adotar medidas que possam amenizar a crise do homem do campo, a crise da agricultura brasileira.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/05/2006 - Página 15888