Discurso durante a 55ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Registro de reunião com o Ministro Roberto Rodrigues, onde foram feitas colocações no sentido de buscar construir uma saída para a grande crise da agricultura.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Registro de reunião com o Ministro Roberto Rodrigues, onde foram feitas colocações no sentido de buscar construir uma saída para a grande crise da agricultura.
Publicação
Publicação no DSF de 11/05/2006 - Página 15890
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • DEFESA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, CRISE, AGRICULTURA, BUSCA, SOLUÇÃO, REGISTRO, REUNIÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA AGRICULTURA PECUARIA E ABASTECIMENTO (MAPA), PRODUTOR, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), BANCADA, CONGRESSISTA, PREFEITO.
  • ANALISE, MODELO, AGRICULTURA, NECESSIDADE, REFORMULAÇÃO, ALTERNATIVA, UNIDADE, CULTURA, INADIMPLENCIA, DIVIDA AGRARIA, ESPECIFICAÇÃO, SITUAÇÃO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT), PRODUÇÃO, SOJA, ALGODÃO, EXPORTAÇÃO, AUSENCIA, BENEFICIAMENTO, IMPORTANCIA, DEFINIÇÃO, POLITICA AGRICOLA, LONGO PRAZO.

            A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Obrigada.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senador que nos antecedeu, Senador Osmar Dias, fez algumas colocações procedentes em relação às dificuldades que a agricultura deste País vive. Eu discordo, porém, de algumas, como, por exemplo, quando ele diz que o Governo não toma conhecimento.

Ainda ontem, Sr. Presidente, participei de uma reunião que avalio como extremamente importante, decisiva e até determinante na busca de encaminhamentos que não posso dizer que solucionam a questão da agricultura em nosso País, porque é muito complexa a situação. Existem mecanismos, que devem ser acionados, para minimizar as dificuldades vividas pela agricultura em nosso País.

Mas o problema é muito maior. O problema é de modelo de desenvolvimento, especialmente no meu Estado. Temos de ter clareza de que, em nosso País, a produção é cíclica. Tivemos os ciclos da cana, do açúcar, da borracha, da soja e outros sucessivos. Não podemos continuar abraçados eternamente à monocultura. Enquanto isso acontecer, teremos problemas.

Sr. Presidente, inicio minha fala dizendo que sou totalmente favorável a que se busque solução para minimizar a crise que está acontecendo na agricultura brasileira. Não tenho dúvida de que temos de encontrar alternativas para sair imediatamente da crise, não dá mais para esperar. Mas também temos de ter compromisso com a agricultura, todos, absolutamente todos - empresários, produtores, políticos e toda a sociedade -, porque não dá mais para continuar tendo, quase que de seis em seis meses, ou até uma vez por ano, crises na agricultura, com a rolagem de dívidas, fazendo isso e aquilo, se nada avançar.

Então, a solução é a redefinição de política agrícola. Definição ou redefinição, use-se o termo que se quiser, mas que se adote realmente uma política agrícola que diga não à monocultura, porque ela não funciona, não dá certo. Ela é cíclica. Daqui a pouco estaremos tropeçando nas mesmas pedras que estavam no caminho, exatamente nas mesmas. Precisamos, sim, de alternativas de produção, para que não caiamos mais nessa armadilha da monocultura, que apresenta muitos problemas, indo da questão da “ferrugem” ao excesso, muitas vezes, de gastos na época das “vacas gordas”. Depois, quando elas ficam um pouco mais magras e não há mais qualquer gordura para queimar, aí vêm as contas para pagar e as dificuldades emergenciais.

Eu queria falar o que acabei de dizer antes de tratar da nossa reunião de ontem, que foi da maior importância e cujos desdobramentos são maiores ainda.

Ontem, por exemplo, havia um pedido, feito já no final da semana passada, Sr. Presidente, dos agricultores, dos produtores de Mato Grosso, meu Estado, pelo qual sou Senadora. Nós atuamos junto ao Dr. Roberto Rodrigues, nosso Ministro da Agricultura, que, prontamente, se dispôs a receber uma comissão. Essa audiência foi ontem. Ela seria às 18 horas, mas foi antecipada para as 16 horas. Nós nos reunimos com o Ministro Roberto Rodrigues, com o representante do Ministério da Fazenda, com o representante do Ministério dos Transportes, com vários Deputados Federais - Deputado Carlos Abicalil, Deputada Celcita Pinheiro, Deputado Pedro Henry -, com vários Deputados Estaduais - Deputada Vera Araújo, Deputado Zé Carlos do Pátio, Deputado Chico Daltro, Deputado Dilceu Dal Bosco, Deputado Mauro Savi. Mais ou menos uma dezena de prefeitos esteve também nessa reunião, conosco, em que foram feitas observações no sentido realmente de buscar construir, Sr. Presidente, uma saída para a grande crise da agricultura que hoje assola o Brasil e especialmente o meu Estado do Mato Grosso, hoje o maior produtor de soja e de algodão do mundo, produtos esses praticamente, absolutamente destinados à exportação in natura, que é um outro problema cuja saída precisamos encontrar.

Eu fazia as contas junto com alguns produtores dias atrás, em torno de uma mesa, com lápis e papel na mão, sem entender absolutamente nada dessa área, Sr. Presidente, e perguntava a eles: “Como é que se faz, por exemplo, com um saco de soja? Se, em vez de exportarmos in natura o grão” - é importantíssimo produzir para a exportação, não tenho dúvida disso -, “fizermos esmagamento dos grãos de um saco de soja, quanto esse saco de soja vai produzir?” Eles fizeram as contas - não me peçam para detalhar, porque não sei, não entendo - de quanto renderia o farelo que sobrou do esmagamento: quase R$60,00 a saca, que hoje estão vendendo entre R$18,00 e R$20,00. Ou seja, o valor é triplicado.

Por que temos que continuar com essa política equivocada de produzir única e exclusivamente para a exportação, como é o caso do meu Estado? Não posso falar pelos outros.

Quando eu digo que temos que buscar alternativas, falo em agregar valor à soja, ao algodão e a outros produtos. São saídas. Há outros produtos em Mato Grosso, há a cana-de-açúcar, por exemplo. Este é o único País do mundo que tem o know-how do álcool. Vamos produzir! Todo o álcool que vamos produzir vai ser exportado. Não tenho dúvida disso.

O biodiesel, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em Mato Grosso e em outros Estados, passa por experiências excelentes. Vamos diversificar a produção. Há outros produtos se nos referirmos somente a Mato Grosso.

Voltemos à nossa profícua reunião de ontem, com a presença do Ministro da Agricultura, de produtores, de Deputados, de Prefeitos e de representantes dos outros Ministérios, em que foram feitas afirmações que são as mais dramáticas na busca de solução imediata principalmente para estes pontos: prorrogação de dívidas, redução do custo do diesel, especialmente, e desoneração de alguns outros elementos.

Considerei da maior relevância uma questão levantada pelos produtores, especialmente pelo Ferronato, que insistiu, de forma muito determinada, que os produtores não querem “quebra-galho” de solução momentânea. Dizia ele, de forma muito taxativa diante do Ministro da Agricultura e dos representantes de outros Ministérios, que eles querem, sim, especialmente os médios e pequenos produtores, assim como os grandes, uma definição de política agrícola. É isso que eles querem, para que possam produzir com tranqüilidade; não querem favor - dizia ele com toda tranqüilidade -, querem condições mínimas para produzir e pagar as contas de acordo com o cronograma estabelecido para o seu pagamento.

Isso nos animou, porque, quando muitas vezes participamos de reuniões, saímos com a impressão de que as pessoas querem resolver problemas momentâneos para, depois, ver o que acontece. Não pode ser assim. Temos que dar solução. Faz três anos que estou no Senado da República, tenho mandato até fevereiro de 2011 e já é a terceira crise que assisto relacionada à agricultura. Não quero assistir mais, Sr. Presidente, não quero mesmo. Quero que as coisas se resolvam - de imediato, algumas delas são possíveis - e que consigamos definir uma política agrícola de curto, médio e longo prazo para a agricultura do nosso País, especialmente do meu Mato Grosso.

Digo, Srªs e Srs. Senadores, que ontem a reunião foi extremamente profícua porque ela terminou exatamente às 17h30min, no Ministério da Agricultura. Nesse horário, o Ministro da Agricultura saiu às pressas porque o Presidente Lula havia convocado o Ministro da Agricultura, o Ministro da Fazenda, o Ministro do Planejamento e a Ministra da Casa Civil para outra reunião. O objetivo foi realmente encontrar uma solução para a crise da agricultura.

Foi por isso que disse, há poucos instantes, quando iniciei a minha fala, que discordava do meu antecessor nesta tribuna quanto ao fato de o Governo não estar nem um pouco preocupado com o que estava ocorrendo. Mas o Governo está - e muito - preocupado. O Presidente Lula está muito preocupado.

Nós vimos, pela imprensa hoje, que o Ministro da Agricultura saiu da reunião dizendo que o Presidente Lula confirmou a agricultura brasileira como uma das grandes prioridades para o nosso País.

A reunião de ontem - sabemos que algumas questões já estão sendo ultimadas a partir da reunião com o Presidente - foi realizada sob o comando do Ministro Roberto Rodrigues, aliás, pessoa extremamente sensível com a questão da agricultura e com a busca de proposituras que possam realmente minimizar e até acabar, extirpar com qualquer tipo de crise na agricultura do Brasil.

Para isso ocorrer, Sr. Presidente, é preciso a participação de todos, da sociedade como um todo, especialmente dos produtores rurais. A Deputada Vera Araújo fez uma propositura de primeira grandeza, semelhante a que havia sido feita pelo agricultor rural Ferronato. A Deputada Estadual do nosso Estado de Mato Grosso Vera Araújo, do Partido dos Trabalhadores, advogou com muita clareza a necessidade de um fórum permanente com as representações daqueles que fazem a agricultura produtiva no dia-a-dia em nosso País. Esse fórum discutiria a problemática e apontaria permanentemente saídas e alternativas para essa questão no Brasil. Tal iniciativa foi acatada de imediato pelo Ministro da Agricultura, já tendo combinado uma reunião para sexta-feira, às 10 da manhã, naquele Ministério, para que se façam de imediato os encaminhamentos para que esse fórum comece a funcionar o quanto antes.

Bom, o meu tempo já acabou.

Muito obrigada, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/05/2006 - Página 15890