Discurso durante a 54ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem ao ex-Ministro Aluízio Alves, falecido recentemente.

Autor
José Sarney (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: José Sarney
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem ao ex-Ministro Aluízio Alves, falecido recentemente.
Aparteantes
Garibaldi Alves Filho.
Publicação
Publicação no DSF de 10/05/2006 - Página 15360
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, ALUIZIO ALVES, EX MINISTRO DE ESTADO, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), EX-DEPUTADO, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é com uma grande tristeza que ocupo esta tribuna para dizer algumas palavras sobre Aluísio Alves.

Estava fora do Brasil quando faleceu.

Mas fui ao longo da vida um grande amigo seu, eu devo dizer até chegamos quase à situação de participarmos da mesma irmandade, tal eram os vínculos que nos uniam.

Conheci Aluísio Alves, em 1954, ambos pertencíamos a UDN e o nosso partido vivia em um instante de uma grande efervescência. A UDN gostara de provar o poder naquela breve primavera do Café Filho, e de maneira nenhuma se conformava com a vitória de Juscelino Kubitschek.

Eu era quase um menino e Aluísio Alves, um pouco mais velho, estava em plena juventude.

Odylo Costa, filho, uma das grandes figuras da intelectualidade brasileira e do jornalismo deste País, o homem que renovou a Imprensa brasileira, foi quem nos apresentou.

Naquele tempo, dentro da UDN, estávamos todos mergulhados em uma grande tentativa de conspiração. Eu, de certo modo, não tinha ainda status para participar dela, mas os nossos líderes todos iam nessa direção e, em meio a tudo isso, Aluísio era uma voz de sensatez. Moço, ele já tinha uma grande experiência política. No Congresso, seu nome era respeitado como um grande Parlamentar, presente na discussão dos grandes temas nacionais.

Entre os cardeais do nosso Partido, naquele tempo, destacavam-se oradores excepcionais, figuras que ficarão indeléveis nos Anais desta Casa como Afonso Arinos, Prado Kelly, Carlos Lacerda -- talvez o maior orador Parlamentar que tenhamos tido nos últimos 100 anos --, Otávio Mangabeira -- este falava pausadamente, com muita calma, e quase que falava como quem escrevia.

O lugar de Aluísio, embora muito novo -- ele fora o mais novo Constituinte de 46, tinha 21 anos quando foi eleito --, era de um Líder maduro, um homem que chegara com uma auréola de uma grande inteligência e de uma grande capacidade.

Eu, em seguida, encontrei Aluísio na Tribuna da Imprensa, jornal de Carlos Lacerda que eu freqüentava quase todas as tardes, principalmente quando Odylo Costa, filho o dirigia. Aluísio dirigiu esse jornal. Era um jornalista talentoso. Carlos Lacerda assinava uma coluna do jornal logo à esquerda, lida no Brasil inteiro. Todos esperavam por essa coluna. Muitas vezes, naquela fadiga diária dos seus compromissos, Carlos Lacerda não tinha tempo de escrevê-la. Quem a escrevia era Aluísio Alves, quero fazer essa revelação.

Ficamos amigos. Freqüentei sua casa, que então era no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, conheci toda a sua família e, pouco a pouco, construímos uma afeição e um relacionamento que a vida e os anos foram consolidando. Acompanhei sua ambição, que é a mesma de todo político, talvez a maior realização de todos nós: governar seu Estado.

Como Governador do Rio Grande do Norte, ele fez uma grande revolução. Construiu um movimento de renovação das suas estruturas, invadindo com o vigor de sua criatividade, o gosto pela ação e a sua capacidade, programas que eram das cidades e dos campos, nas campanhas que ele chamava Campanhas da Esperança, que marcaram com os lenços verdes, os galhos de árvore, a camisa verde a política do seu estado, história do Rio Grande do Norte, e que jamais serão esquecidos. No Governo Aluísio transforma o estado, dá-lhe novas perspectivas, constrói uma nova dimensão, e -- posso dizer -- muda a história potiguar, terra de grandes políticos, na galeria dos quais ele figurava, e figura, como um dos mais expressivos.

Sua vida de tantas lutas, sofre muitas injustiças e muitas perseguições. Aluísio sempre foi um líder combativo, ele gostava da luta, ele gostava de lutar, às vezes, ele, até, provocava a própria luta. 1964 cometeu com Aluísio Alves talvez o maior de todos os seus equívocos. Ele sentiu o golpe, quando foi afastado da política: abateu-se, feriu-se, mas, quando o País foi redemocratizado, Aluísio ressurgiu, com todas as forças do seu talento. Ele ajuda a redemocratização, ele combate, ele articula, ele comanda.

Minhas palavras sobre Aluísio Alves têm a suspeição do carinho e do apreço de um grande amigo. Ele era bom de coração, solidário, leal, humano, inteligente e sábio. Está na História do Rio Grande do Norte como o grande político inovador e realizador do século passado e deste século. Transformou a História de seu Estado. Garibaldi, seu sobrinho, que está me ouvindo, é testemunha disso: ele, que foi Governador, sabe o quanto Aluísio Alves representou para o Estado do Rio Grande do Norte. Ministro da Administração de meu Governo, Aluísio Alves fundou a Escola Superior de Administração Pública, fez a reforma administrativa. Foi de seu tempo o décimo terceiro salário para o funcionalismo público, com a preocupação constante pela valorização e capacitação de toda a categoria.

O Congresso Nacional, reconhecendo sua trajetória brilhante de Parlamentar, concedeu-lhe a medalha do mérito do Congresso no mais alto grau. Aluísio foi um dos grandes parlamentares do Brasil.

Agora, com sua morte, aos 84 anos, se encerra uma vida pública iniciada, como disse, aos 21 anos, na Constituinte de 46. É com esse respeito, com essa bagagem, que ele termina sua vida de luta e, como todas as vidas, foi com dias de glória das quais eu participei, dias da alegria mais pura e também com dias em que com ele nós sofremos, porque as flores murchavam sob o signo da injustiça e das vicissitudes dos embates eleitorais e dos embates políticos.

A tudo Aluísio venceu e é com orgulho que hoje nós podemos, seus amigos e seus irmãos, louvar a sua vida e dizer, com uma frase que é sempre repetida, mas que é sempre muito precisa, aquela de São Paulo, que ele combateu sempre o bom combate.

Como eu disse eu estava fora do Brasil quando Aluísio faleceu. Recebi a notícia e fiquei preso de uma grande comoção. Realmente a sua família sabe como era a nossa ligação. Senti em grande profundidade o seu desaparecimento como um dos mais estreitos amigos que tive e companheiro de uma vida inteira.

O Brasil perdeu um dos maiores homens públicos que marcaram a política do Nordeste e que trabalharam pelo desenvolvimento daquela região.

Eu registro nos Anais do Senado a minha dor -- não digo o meu pesar, mas a minha dor, sentindo-me membro de sua família pelo grande afeto que nos uniu, dividindo hoje aqui, nesta Casa, com o Senador Garibaldi Alves Filho, Aluísio Filho, Henrique Eduardo, Ana Catarina e Henrique José a nossa saudade, nossa dor e nosso pesar. Muito obrigado.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - V. Exª me permite um aparte ao final do seu discurso?

O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP) - Com muito prazer, Senador Garibaldi Alves Filho. V. Exª só faz enriquecer essas palavras que quis, de certo modo, tomar notas para que ficassem bem precisas sobre o meu sentimento.

O Sr. Garibaldi Alves Filho (PMDB - RN) - Senador José Sarney, V. Exª foi Presidente da República e é membro da Academia Brasileira de Letras. Mas não só por isso V. Exª teria toda a autoridade para falar sobre Aluízio Alves. V. Exª tem a autoridade para falar, como V. Exª bem disse, como um irmão, um amigo, um companheiro, um homem que acompanhou e participou da vida de Aluízio em todas as suas fases. V. Exª foi jornalista com ele na Tribuna da Imprensa. V. Exª foi Deputado Federal com ele na Câmara dos Deputados. V. Exª foi Governador do Maranhão e transformou o Estado e inovou a administração assim como ele fez no Rio Grande do Norte. V. Exª, Presidente da República, lembrou-se do nome dele, que foi Ministro da Administração do Governo José Sarney, o primeiro Ministro da Administração depois da extinção do Dasp. E V. Exª bem testemunhou o que ele pôde realizar como Ministro da Administração. Então, V. Exª dá aqui um depoimento, o mais expressivo que poderia ser dado a respeito de Aluízio Alves. Eu, como membro da família, só tenho palavras de agradecimento. Quero agradecer em nome do meu pai, em nome dos filhos de Aluízio, um dos quais Henrique Eduardo Alves, que sucedeu o próprio Aluízio como Deputado Federal, já estando para ocupar o décimo mandato, candidato ao décimo mandato. Quero agradecer em nome de Agnelo, que também foi um colaborador da administração de V. Exª, daqueles que estão lá em Natal e que V. Exª sabe como estão sofrendo. Mas tenho certeza, como bem disse V. Exª, que V. Exª está sofrendo também a perda grande amigo, do seu irmão Aluísio Alves.

O SR. JOSÉ SARNEY (PMDB - AP) - Muito obrigado, Senador Garibaldi Alves Filho. Quero dizer que V. Exª não tem que me agradecer nada. Como disse, considero-me um membro dessa família à qual pertenceu Aluísio Alves, que era uma família à qual me ligava, com seus irmãos, sua esposa, seus netos, seus filhos, sobrinhos, com grande intimidade e, ao mesmo tempo, com essa estima e essa afeição que transborda dos nossos corações quando uma amizade se torna desse nível e nesse grau. Eu é quem agradeço à vida me ter dado a oportunidade de conviver com Aluísio Alves.

Portanto, V.Exª não tem nada que me agradecer. Nós estamos juntos nesse sofrimento.

O que eu quero acrescentar é que eu me recordo de uma vez que encontrei Jorge Amado e ele me relatou um fato que hoje sei exatamente que significa. É o problema das gerações. Jorge me contou que, quando encontrou Pablo Neruda, foi perguntar por alguém e Pablo Neruda respondeu-lhe: “Jorge, não me pergunte por ninguém. Todos já morreram.”

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/05/2006 - Página 15360