Discurso durante a 54ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura de proposta dirigida ao Presidente Lula, convidando-o a prestar esclarecimentos ao Congresso Nacional sobre a entrevista concedida pelo ex-Secretário do Partido dos Trabalhadores, Sr. Sílvio Pereira, publicada no jornal O Globo do último domingo. Solicitação de transcrição, no Anais do Senado, de entrevistas concedidas pelo cantor e compositor Chico Buarque à Folha de S.Paulo e ao Correio Braziliense.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Leitura de proposta dirigida ao Presidente Lula, convidando-o a prestar esclarecimentos ao Congresso Nacional sobre a entrevista concedida pelo ex-Secretário do Partido dos Trabalhadores, Sr. Sílvio Pereira, publicada no jornal O Globo do último domingo. Solicitação de transcrição, no Anais do Senado, de entrevistas concedidas pelo cantor e compositor Chico Buarque à Folha de S.Paulo e ao Correio Braziliense.
Publicação
Publicação no DSF de 10/05/2006 - Página 15376
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • LEITURA, PROPOSTA, AUTORIA, ORADOR, ENDEREÇAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SOLICITAÇÃO, ESCLARECIMENTOS, ENTREVISTA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), EX-CHEFE, LIDERANÇA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, POLITICA SOCIAL, POLITICA EXTERNA, LEGISLAÇÃO TRABALHISTA.
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), ENTREVISTA, COMPOSITOR, DEFESA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Roberto Saturnino Braga, para tornar inteiramente claro o teor da minha proposição ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que causou preocupação aos meus colegas - o Senador Pedro Simon hoje comentou comigo -, vou ler a proposta enviada ontem ao Presidente Lula, nos seguintes termos:

Escrevo-lhe para transmitir o sentido da proposição que fiz ontem quando jornalistas me perguntaram a respeito da entrevista de Silvio Pereira no jornal O Globo. Observei que se tratava de um depoimento que deveria ser objeto de consideração por nosso partido. Como o ex-secretário-geral pede a oportunidade de expor os assuntos ao partido, é natural que possa dizer à Direção Nacional o que deseja.

Expressei também que considero ser interessante para a Nação brasileira, tal como já tive a oportunidade de lhe expor pessoalmente, que possa Vossa Excelência realizar uma visita ao Congresso Nacional, previamente combinada com os Presidentes do Senado e da Câmara, para uma exposição e diálogo com os Senadores e Deputados sobre os mais importantes assuntos de interesse do Governo e do povo brasileiro. 

A Constituição Brasileira somente prevê a presença do Presidente da República no Congresso Nacional por ocasião de sua posse e, voluntariamente, assim tem-se entendido, quando da leitura de sua mensagem sobre a situação do País e plano de governo no início de cada sessão legislativa. Não há, todavia, qualquer impedimento à iniciativa voluntária do Presidente de dialogar com os congressistas, inclusive em sessão especial do Congresso Nacional realizada com esta finalidade.

É fato que o dialogo do Chefe do Governo com os congressistas se dá com freqüência nos regimes parlamentaristas. Assim, no Reino Unido, o primeiro- ministro comparece ao Parlamento todas as quartas-feiras para responder, por 30 minutos, perguntas dos parlamentares. Na Suécia, uma vez ao mês, o primeiro-ministro responde perguntas por uma hora. Em regimes presidencialistas, há o exemplo muito saudável da África do Sul. Ali, além da presença do presidente da República no dia em que lê a sua mensagem sobre o plano anual de governo, ele também comparece no dia seguinte para responder às perguntas dos parlamentares.

Quero lhe afirmar que a proposta tem por pressuposto a minha plena confiança nas ações de Vossa Excelência em defesa do interesse público, da ética e do Brasil. Os temas a serem tratados seriam aqueles que Vossa Excelência considerasse prioritários. Poderia ser uma oportunidade formidável para expor os avanços registrados pelo Governo de Vossa Excelência em todas as áreas, especialmente nos campos econômico e social. Também sobre as questões internacionais, inclusive as que têm suscitado grandes debates presentemente, como as relativas às áreas de energia e de relacionamento com os países vizinhos. Outros temas importantes são os projetos do Governo sobre a legislação trabalhista e as cooperativas de trabalho. Seria uma demonstração inequívoca de Vossa Excelência querer contribuir para esclarecer quaisquer dúvidas que tenham os congressistas, inclusive sobre os problemas políticos presentes.

A sugestão que formulo é consistente com as afirmações expressas mais uma vez por Vossa Excelência que deseja contribuir sempre para que a verdade seja conhecida.

Um abraço amigo,

Senador Eduardo Matarazzo Suplicy

Sr. Presidente, considero que o Presidente Lula poderá aceitar essa sugestão no momento que achar oportuno. Tenho a convicção de que uma vez vindo, Sua Excelência será extremamente respeitado por todos.

Nem sempre os Senadores de Oposição têm tratado o Presidente da República com o devido respeito, o que levou uma pessoa de extraordinária sensibilidade e consciência política de nosso País, tão querido do povo brasileiro, a fazer observações que considero importante sejam lidas por esses Senadores. Refiro-me ao cantor e compositor Chico Buarque que, no último sábado, deu entrevistas a diversos jornais. Peço a transcrição das entrevistas que concedeu à Folha de S.Paulo e ao Correio Braziliense, nas quais, entre outras coisas, observou:

Agora, a crítica que se faz ao PT erra a mão. Não só ao PT, mas principalmente ao Lula. Quando a oposição vem dizer que se trata do governo mais corrupto da história do Brasil, é preciso dizer: “espera aí”. Quando um Senador vai para a tribuna do Senado dizer que vai bater no Lula, dar porrada, quando chamam o Lula de vagabundo, de ignorante, aí estão errando muito a mão. Governo mais corrupto da história? Onde está o corruptômetro? É preciso investigar. Tem que punir, sim. Mas vamos entender melhor as coisas.

Folha - Como assim?

Chico - Pergunte a qualquer pequeno empresário como faz para levar adiante seu negócio. Ele é tentado o tempo todo a molhar a mão do fiscal para não se estrepar. O mesmo vale para o guarda de trânsito. E assim sucessivamente. A gente sabe que a corrupção no Brasil está em toda a parte. E vem agora esse pessoal do PFL, justamente eles, fazer cara de ofendido, de indignado. Não vão me comover. Eles fazem o papel da oposição, está certo. O PT também fez no passado o "Fora FHC", uma besteira. 
Mas o preconceito de classe contra o Lula continua existindo - e em graus até mais elevados. A maneira como ele é insultado eu nunca vi igual. Acaba inclusive sendo contraproducente. O sujeito mais humilde ouve e pensa: "Que história é essa de burro!? De ignorante!? De imbecil!?". Não me lembro de ninguém falar coisas assim antes, nem com o Collor. Vagabundo! Ladrão! Assassino! - até assassino eu já ouvi.

Fizeram o diabo para impedir que o Lula fosse presidente. Inventaram plebiscito, mudaram a duração do mandato, criaram a reeleição. Finalmente, como se fosse uma concessão, deixaram o Lula assumir. "Agora sai já daí, vagabundo!". É como se estivessem despachando um empregado a quem se permitiu esse luxo de ocupar a Casa Grande. "Agora volta pra senzala!". Eu não gostaria que fosse assim.

Leio esse trecho, Sr. Presidente, para que os colegas de Oposição, quer do PSDB, quer do PFL, ou de qualquer outro Partido, possam refletir sobre palavras de uma pessoa que tem grande sensibilidade e que tem observado que, muitas vezes, está faltando o respeito ao Presidente da República, inclusive desencorajando que o Presidente possa aceitar um diálogo civilizado com a Oposição, com todos os Parlamentares do Congresso Nacional, da maneira como muitos vêm procedendo.

Requeiro a transcrição das referidas entrevistas de Chico Buarque e a íntegra de minha carta ao Presidente. Muito obrigado.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Paixão de Carioca” (Correio Braziliense)

“Chico diz que vota em Lula de novo” (Folha de S.Paulo)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/05/2006 - Página 15376