Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apoio às iniciativas de recuperação da Varig. Cumprimentos ao Presidente Lula pela indicação da Dra. Carmem Lúcia Antunes Rocha, mais uma mulher a ocupar cargo no Supremo Tribunal Federal. Homenagem pela passagem no próximo domingo, do Dia das Mães. Leitura de carta recebida da Sra. Maria de Lourdes Melo Vasconcellos, mãe do engenheiro brasileiro João José de Vasconcelos Júnior, seqüestrado no Iraque em 2005, apelando às autoridades no sentido da localização de seu filho.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DE TRANSPORTES. HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA. POLITICA SOCIAL.:
  • Apoio às iniciativas de recuperação da Varig. Cumprimentos ao Presidente Lula pela indicação da Dra. Carmem Lúcia Antunes Rocha, mais uma mulher a ocupar cargo no Supremo Tribunal Federal. Homenagem pela passagem no próximo domingo, do Dia das Mães. Leitura de carta recebida da Sra. Maria de Lourdes Melo Vasconcellos, mãe do engenheiro brasileiro João José de Vasconcelos Júnior, seqüestrado no Iraque em 2005, apelando às autoridades no sentido da localização de seu filho.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 12/05/2006 - Página 16172
Assunto
Outros > POLITICA DE TRANSPORTES. HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA. POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, SENADOR, APOIO, RECUPERAÇÃO, EMPRESA DE TRANSPORTE AEREO, VIAÇÃO AEREA RIO GRANDENSE S/A (VARIG).
  • ELOGIO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESCOLHA, MULHER, MINISTRO, SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF).
  • HOMENAGEM, DIA NACIONAL, MÃE.
  • LEITURA, CARTA, MÃE, ENGENHEIRO, NACIONALIDADE BRASILEIRA, VITIMA, SEQUESTRO, PAIS ESTRANGEIRO, IRAQUE, SOLICITAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), CONTINUAÇÃO, BUSCA.
  • ANUNCIO, REUNIÃO, ORADOR, LIDER, CONFERENCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL (CNBB), DEBATE, PROGRAMA, BOLSA FAMILIA, RENDA MINIMA, CIDADANIA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, em primeiro lugar, gostaria de expressar o meu apoio às palavras dos Senadores Paulo Paim, Pedro Simon e outros, que expressaram apoio às iniciativas para que a Varig possa recuperar o seu status. É importante que se chegue a um entendimento para que os aeronautas, os aeroviários, os comandantes, todos que trabalham na Varig possam, de alguma forma, se tornar sócios cotistas. Quem sabe, a sua contribuição possa ser transformada parte em salário, parte em participação nos resultados. Esse poderia, a esta altura, sobretudo, de resolução da crise, ser um caminho muito adequado. Portanto, apóio a iniciativa e estarei pronto a colaborar com o Poder Executivo - o Ministro da Defesa e o Ministro da Casa Civil - e todos os Parlamentares que abraçam a causa.

Em segundo lugar, cumprimento o Presidente Lula pela escolha da Srª Carmem Lúcia Antunes Rocha, segunda mulher indicada para o Supremo Tribunal Federal depois da Ministra Ellen Gracie Northfleet. Trata-se de uma pessoa com extraordinário mérito, independente, não filiada ao Partido dos Trabalhadores, e considerada nos meios jurídicos uma pessoa de grande dedicação à defesa dos Direitos Humanos, conforme ouvi hoje de um dos mais respeitados e eminentes juristas do País: o Professor Fábio Comparato.

Gostaria, Sr. Presidente, de lembrar o Dia das Mães, pois o próximo domingo é dedicado a elas. Faço um agradecimento à minha própria mãe, Filomena Matarazzo Suplicy, que no próximo dia 24 de setembro completará 98 anos. Felizmente, ela está bem de saúde, já não com toda a energia com que devotou a sua vida para os seus onze filhos, seis homens e cinco mulheres, um dos quais, infelizmente o mais moço, Luiz, faleceu há seis anos. Agradeço de público o carinho, a energia e a força com que minha mãe, juntamente com meu pai, Paulo Cochrane Suplicy, sempre tiveram para com todos nós. Tendo a minha mãe perdido um filho há cinco anos e meio, o Luiz, meu irmão, sei o que é o sofrimento, a dor de uma mãe que perde um filho.

O Senador Heráclito Fortes dialogava hoje comigo a respeito de uma mãe que está vivendo uma situação de grande sofrimento, e que, na quinta-feira da semana passada, divulgou uma carta aberta a respeito de seu filho, João José Vasconcellos Júnior, uma carta aberta a todo o povo brasileiro, inclusive fazendo um apelo ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Considero a carta tão relevante que, em homenagem a essa mãe, e levando em consideração que domingo próximo é o Dia das Mães, aqui faço a leitura da mesma. É uma iniciativa comum minha e do Senador Heráclito Fortes. Até perguntei a S. Exª se não gostaria de ler, mas o Senador pediu que eu lesse, e eu quero compartilhar com S. Exª esta iniciativa.

Diz Maria de Lourdes Mello Vasconcellos:

Mãe para o mestre Aurélio “é a mulher ou fêmea que deu à luz um ou mais filhos”, “pessoa muito boa, dedicada, desvelada”. Para Khalil Gibran, “mãe é a palavra mais bela pronunciada pelo ser humano”.

Independente de nacionalidade, crença ou religião mãe é “mãe” em qualquer lugar do mundo. E seja ontem, hoje, sempre, ela só quer seu filho presente. Afinal, nossos filhos são nossos maiores mestres, com eles aprendemos a ser pacientes, a amar incondicionalmente, a respeitar e sermos respeitados.

Como mãe do engenheiro brasileiro João José de Vasconcellos Júnior, seqüestrado no Iraque em 19 de janeiro de 2005, diria a você que não tenho mais um nome que me represente. Em alguns momentos me sinto uma fêmea ferida, tomada pelo pânico, trêmula e com um grito surdo que me sufoca e me suga as energias necessárias à minha simples sobrevivência.

Meus olhos já não possuem brilho e meu coração já não repousa. Sou tomada todos os dias pela dor da saudade, da incerteza, e da angústia sem fim. Há um ano e três meses eu acordo e durmo com a mesma pergunta:

ONDE ESTÁ MEU FILHO JOÃO?

Que mistério é esse que envolve o seu seqüestro? Nas conversações, buscas e falsos resultados, percebo que falta uma transparência muito grande. Por que meu filho foi o único seqüestrado que não apareceu em fotos ou vídeos?

Em sua grande maioria, os seqüestrados no Iraque retornaram aos seus países, sejam vivos ou até mesmo mortos. Somente sobre o seqüestro de meu filho paira uma nuvem obscura e densa.

Sei que a condição de mãe com um filho desaparecido não é só minha. No Brasil são centenas de mães que procuram seus filhos, sejam João, José, Marcos ou Maria, vítimas da violência que impera no mundo moderno. Neste momento de intensa dor, me uno a elas e clamo por notícias para todas.

Os esforços do Itamaraty e da Construtora Norberto Odebrecht, onde meu filho trabalhou por 20 anos, dedicando toda uma vida e quem sabe, “a vida”, não resultaram em nada.

Contudo, rogo ao Governo brasileiro, na pessoa do Presidente Lula, que não se esqueça que um brasileiro está no Iraque, impedido de retornar à sua pátria, e à Construtora, peço que rendam uma homenagem ao funcionário tão dedicado que João sempre foi: tragam-no de volta ao Brasil.

Se não há prova de morte ou de vida, imploro, suplico, que os esforços sejam intensificados e que, enfim, todos nós, pais, irmãos, esposa e filhos do João tenhamos o nosso reencontro.

Cansada de clamar por um desfecho para o caso, seja à Construtora, seja ao Governo Brasileiro, seja aos seqüestradores, venho hoje fazer um apelo especial a VOCÊ QUE É MÃE:

Peça a seu filho, seja ele um político, um empresário, um governante, um líder, um ídolo, um homem comum, o apoio à nossa causa. Dizem que é só pedir à mãe que o filho atende. Por isso me dirijo em especial a você que é a mãe, é que é capaz de compreender a intensidade da minha dor e do verdadeiro calvário que venho vivendo.

Hoje eu só queria um presente: a verdade sobre o que realmente aconteceu a meu filho João José de Vasconcellos Júnior, no dia 19 de janeiro de 2005, quando foi seqüestrado no Iraque.

Agradeço em nome de minha família todo o apoio recebido em nossa cidade de Juiz de Fora, e em todo o País, o que nos ajudou a superar, paulatinamente, cada momento sofrido que vivemos até agora. Imploro aos que sabem sobre o paradeiro de meu filho após o seqüestro, e que tenham como nos ajudar a localizá-lo, que sejam dignos e respeitem a dor de uma família que chora há um ano e três meses em busca da verdade.

E a você, João, meu filho amado, meu amigo, meu mestre de tantos anos, só tenho a dizer plagiando seu maior ídolo da música brasileira, em Canções da América:

“Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar”.

Sua mãe, Maria de Lourdes Mello Vasconcellos.

O verso é de Milton Nascimento.

Quero aqui atender o apelo dessa mãe e fazer esse pedido ao Presidente Lula, ao Ministro Celso Amorim, ao Embaixador recém-designado para representar o Brasil no Iraque, que, segundo nos informou o Ministro Celso Amorim, está em Amã.

Senador Heráclito Fortes, lembro que, graças à iniciativa de V. Exª, ouvimos aqui o Embaixador Sérgio Telles há cerca de quatro semanas. S. Exª foi enviado a Bagdá no primeiro semestre de 2005, visitou, numa missão corajosa, a mesquita onde se reúnem os principais líderes religiosos do Iraque. S. Exª conversou com as principais autoridades religiosas do país, para tentar saber de João José Vasconcellos Júnior. Aqui, louvo a coragem do Embaixador Sérgio Telles, que nos revelou os passos dados por ele para saber do paradeiro de João José sem, no entanto, obter êxito em sua missão. O Embaixador Ouro Preto também andou colaborando nessa direção, mas, por enquanto, sem resultados.

Na última terça-feira, esteve aqui o Ministro Celso Amorim para falar dos problemas da Bolívia. Pedi licença ao Presidente Roberto Saturnino Braga para que também pudesse fazer uma pergunta a S. Exª. Perguntei ao Ministro se ele tinha notícias recentes de João José Vasconcellos Júnior. Ele respondeu-me que, infelizmente, não havia notícias recentes do paradeiro dele.

Senador Heráclito Fortes, é importante que não se desista dessa busca. Se for necessário, Senadores colaborarão com o Ministério das Relações Exteriores, com o Itamaraty, com a Abin, indo a Bagdá. Às vezes, V. Exª tem aqui falado, de bom humor, que seria interessante designar algum Senador para ir até lá. Eu indico V. Exª. Se quiser, vou junto. V. Exª tem feito essa observação a meu respeito, mas quem sabe possamos ir os dois.

Concedo, com muita honra, o aparte a V. Exª.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Suplicy, quero mais uma vez parabenizá-lo pela coragem de trazer este tema, que passou a ser um tabu para nós, brasileiros. Esse pranto demonstrado pela saudade de uma mãe nessas linhas transcritas na Folha de S.Paulo, semana passada,...

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP ) - Sábado passado.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) -...sábado passado, demonstra exatamente o que se passa não só com a mãe, mas com toda a família. A dúvida, a incerteza sobre o aconteceu com o filho dela; a falta de qualquer indício sobre se ele está vivo ou não. Como ela bem disse, em todos os outros casos apareceram formas concretas de elucidação do problema. No Iraque, em alguns casos, corpos apareceram; outros, seqüestrados, foram devolvidos. Após um ano e três meses do acontecido, não se pode - e aí temos que entender o pranto dessa mãe - aceitar que não haja uma resposta conclusiva e convincente a esse respeito. A vinda do Embaixador Sérgio Telles à Comissão de Relações Exteriores, uma iniciativa minha que contou com o apoio incontinenti de V. Exª, foi importante porque, tendo sido ele emissário voluntário do Itamaraty ao Iraque, teve ele oportunidade de testemunhar fatos, narrados numa sessão reservada, que, até então, não eram do conhecimento da Casa nem tampouco do próprio Itamaraty. Mas temos que continuar a buscar informações sobre o que aconteceu com o engenheiro. Sr. Presidente, esta Casa cresce no momento em que traz para si a responsabilidade de procurar ajudar essa senhora, pelos mecanismos de que dispõe, para que cesse o seu pranto. Congratulo-me com V. Exª porque testemunhei o interesse e os contatos que fez com os familiares do João; testemunhei o empenho efetivo de V. Exª, de dentro para fora, sem demagogia; empenho de um cidadão que também é pai, que sabe o que é família. Senador, temos de tomar mais ações na Comissão de Relações Exteriores no sentido de socorrer essa senhora, que, na cidade de Juiz de Fora, padece com a ausência do filho. Temos que tomar todas as medidas necessárias, e ninguém melhor poderia representar o Senado e o Parlamento brasileiro numa missão ao Iraque, caso necessário, do que V. Exª, homem que fala muitas línguas e já participou de missões semelhantes. Tenho certeza de que seu desprendimento e espírito público não permitirão que V. Exª se negue a cumprir tarefa dessa natureza. Parabéns, Senador Heráclito Fortes.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Heráclito Fortes. Temos contado com o apoio de toda a Comissão de Relações Exteriores, do Presidente Senador Roberto Saturnino Braga, e vamos continuar atentos nesse apelo ao Itamaraty, ao Governo do Presidente Lula e ao Ministro Celso Amorim, para que a Srª Maria de Lourdes Mello Vasconcelos tenha atendido o seu apelo a todos os brasileiros e brasileiras.

Sr. Presidente, concluindo, quero dizer que conversei há pouco com D. Geraldo Magela, colocando-me à disposição da Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros, inclusive de D. Luciano Mendes de Almeida, para debater e esclarecer inteiramente os programas de transferência de renda, o programa Bolsa Família, e o que será a Renda Básica de Cidadania. D. Geraldo Magela me informou que, no próximo mês de junho, irá promover um encontro para essa finalidade.

Muito obrigado, Sr. Presidente João Alberto.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/05/2006 - Página 16172