Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Agradecimento pelas manifestações de seus pares, por ocasião do falecimento de Aluízio Alves, a quem presta homenagem e faz relato de sua trajetória política.

Autor
Garibaldi Alves Filho (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RN)
Nome completo: Garibaldi Alves Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Agradecimento pelas manifestações de seus pares, por ocasião do falecimento de Aluízio Alves, a quem presta homenagem e faz relato de sua trajetória política.
Aparteantes
Cristovam Buarque, Heráclito Fortes, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 12/05/2006 - Página 16175
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • AGRADECIMENTO, SENADOR, MANIFESTAÇÃO, HOMENAGEM POSTUMA, ALUIZIO ALVES, EX MINISTRO DE ESTADO, EX-DEPUTADO, EX GOVERNADOR, CONTRIBUIÇÃO, DESENVOLVIMENTO, INDUSTRIA, INFRAESTRUTURA, ENERGIA, AGUA, TELEFONE, MELHORIA, EDUCAÇÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), REGISTRO, HISTORIA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente Senador João Alberto Souza, Srs. Senadores, com a morte de Aluízio Alves, há seis dias, perdi sobretudo a minha maior referência de homem público. Sobrevivem, entretanto, o exemplo de vida, de devoção e de verdadeiro sacerdócio em favor de sua terra e do seu povo.

Quero agradecer novamente as manifestações ouvidas nesta Casa e a ida ao Rio Grande do Norte, por ocasião do seu sepultamento, domingo, de Renan Calheiros, Presidente do Senado, dos Senadores Fernando Bezerra, Efraim Morais e José Agripino; agradeço também o discurso do Senador José Sarney, com a intervenção do Senador Heráclito Fortes, o pronunciamento do Senador Fernando Bezerra e o registro feito pela Líder do PT, Senadora Ideli Salvatti.

Neste momento, são muitas as memórias que se confundem, memórias do passado e do presente. Memórias visuais, das grandes concentrações populares, do colorido das manifestações e do semblante das pessoas atentas ao que dizia o seu Líder; memórias auditivas, da lembrança da sua voz levando uma mensagem de esperança e de desenvolvimento para um povo sofrido; memórias sobretudo afetivas - sou sobrinho do falecido ex-ministro Aluízio Alves, ex-Governador - de um homem que soube plantar no coração de milhares de pessoas uma semente que se provou imorredoura. A lembrança de alguém cheio de vitalidade, sentado no alpendre da nossa casa, da casa dos seus pais, da casa da família, e todos ao seu redor, atentos à sua conversa inspirada, luminosa. A memória de dias de angústia à espera da recuperação de sua saúde. E, enfim, a imagem do seu cortejo seguindo pelas ruas de Natal e sendo recebido por populares que, espontaneamente, tremulavam lenços e galhos verdes e cantavam músicas de suas campanhas.

            Sr. Presidente, gostaria de retornar no tempo e recordar um pouco dessas memórias.

No dia 11 de agosto de 1921, em uma pequena cidade do nosso Estado chamada Angicos, no alto sertão do Rio Grande Norte, nascia Aluízio Alves. Naquela terra árida de gente sofrida, de orações suplicantes por chuva, Aluízio, já na infância, revelou as suas vocações. Menino, editou um jornal de um único exemplar que circulava de casa em casa na pequena cidade de Angicos: O Clarim, levando a todos as notícias da cidade.

A partir do seu pai, comerciante, agricultor, político da região, brotou em Aluízio Alves a vocação política. Os depoimentos são unânimes de que se tratava de um menino adulto, um prodígio, uma mente curiosa e não acomodada, um indivíduo para quem as dificuldades nunca se constituíram empecilho para realização de seus sonhos e projetos de vida.

O jovem não deixou que as suas vocações e a expectativa gerada em torno dele se constituíssem simples promessa. Em Natal, continuou a editar O Clarim e ingressou no movimento estudantil e na vida partidária. Torna-se repórter e político do jornal A República e dirige o Serviço Estadual de Reeducação e Assistência Social no início da década de 40. Consolida-se, então, no gestor público, uma preocupação que marcou indelevelmente a sua vida: a busca por uma melhor convivência do homem com a seca. Incansável, encontrou tempo para assumir a diretoria da Biblioteca Norte-riograndense de História e da Sociedade Brasileira de Folclore. Aos 18 anos, publicou seu primeiro livro: Angicos, no qual relata a história do Município onde nasceu.

Concedo, com muita honra, o aparte ao Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Caro Senador Garibaldi, a última oportunidade que eu tive de estar com essa extraordinária figura de homem publicou foi proporcionada por V. Exª. Eu estava em trânsito em Natal quando ele lançava uma obra numa livraria da cidade. V. Exª me disse isso no avião e eu demonstrei o desejo de estar com Aluízio. V. Exª gentilmente me pegou no hotel, e fomos até lá. Vi o apreço e o carinho que o povo do Rio Grande do Norte tinha por essa extraordinária figura que ali, com a saúde bastante abalada, fazia aquilo de que mais gostava: ver gente, ter contato com o povo. Era comovente, Senador Mão Santa, ver a reverência com que as diversas gerações ali presentes se dirigiam a Aluízio. Eu tive - por isso digo que sou de uma geração privilegiada - a oportunidade de conviver com grandes homens públicos, e um deles foi Aluízio Alves. Percorremos o Brasil - na época eu era militante do PMDB - no período das Diretas já! e também na campanha de Tancredo Neves. Aluízio assumiu o Ministério criado para ele por Tancredo e não mudou seu comportamento. Continuou a ser aquela figura companheira, solidária, que não esperava ser procurada pelo amigo; ao contrário, ia a seu encontro. O que quero dizer, meu caro Senador Garibaldi Alves Filho, é que V. Exª faz um discurso emocionado, mas orgulhoso de ter nas veias o mesmo sangue de Aluízio e de ser da terra de Aluízio. Sou de uma geração de nordestinos que sofreu a influência direta e precisa de Aluízio no chamamento para a vocação política, pela obra que realizou, pelo espírito de liderança. Era comovente ver - eu era bem novo - a solidariedade do povo nordestino, sobretudo do povo do Rio Grande do Norte, a Aluízio devido às perseguições políticas que ele sofreu anos a fio, sem demonstrar ódio, sem nada. Há uma coisa de Aluízio que guardo até hoje: um velho disco prensado pela Rozenblit com um discurso dele, que passou a ser hino de uma geração. Dizia mais ou menos assim: “Diante do céu, diante da lua, diante da luz, diante de todos, diante de tudo, diante de Deus...”. É exatamente esse o Aluízio que fica e que V. Exª reverencia nesta tarde. Muito obrigado.

O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB - RN) - Senador Heráclito Fortes, quero agradecer-lhe, porque o depoimento que nos dá neste momento, como disse V. Exª, só faz nos encher de orgulho, ao dizer que Aluízio Alves, como homem público, marcou várias gerações, inclusive a de V. Exª e, especialmente, V. Exª! Esse discurso mencionado por V. Exª foi por ele pronunciado quando era candidato ao Governo do Rio Grande do Norte. Ele era Deputado Federal quando disse as palavras que V. Exª acaba de lembrar. Disse mais: “Vim. Ninguém me impediria de vir. O mar parecia uma gota d’água. Vim para ficar, vim para lutar e vim para vencer”. E venceu a mais extraordinária campanha realizada no Rio Grande do Norte, quando concorreu com o Senador Dinarte Mariz.

Sr. Presidente, eu quero agradecer ao Senador Heráclito Fortes o depoimento fiel, autêntico, que nos dá sobre o que Aluízio representou. Em 1945, com a redemocratização do País, ele se candidatou a Deputado federal pela UDN e se elegeu aos 24 anos. Foi Deputado Constituinte. Aliás - ressalte-se -, era o último remanescente dos que elaboraram a Constituição de 1946. Elegeu-se Deputado federal em 50, 54 e 58. Participou da fundação da Tribuna da Imprensa, da qual, junto com Carlos Lacerda, foi diretor adjunto. Quando Carlos Lacerda estava em um daqueles momentos explosivos, Aluízio ou José Sarney pedia para escrever em seu nome aquele artigo, porque Carlos Lacerda era incontido. Como orador e como jornalista, era um homem que realmente ia muito além na sua fúria; e era um homem tremendamente talentoso.

Estou preocupado com o meu tempo, não vou abusar da tolerância da Mesa, mas ouço V. Exª, Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PFL - PI) - Quis Deus que estivesse na Presidência um homem do Nordeste. Senador Garibaldi Alves, acho que V. Exª devia terminar o seu discurso como fez o discípulo maior de Perón, que foi exilado pela força militar. Quando renasceu a democracia, Perón mandou o povo votar em Héctor Cámpora, que era dentista. Cámpora assumiu a presidência da Argentina, mandou Perón voltar e renunciou, após um mês, à Presidência. Justificando - atentai bem Heráclito, V. Exª que teve o privilégio de gozar dos favores e da intimidade do nosso Aluízio Alves, eu não o tive, mas do nome que engrandeceu o Nordeste, da UDN democrática, que lutou contra a ditadura --, ele disse: “Perón é maior do que o sol! O sol ilumina a Argentina de dia; Perón, dia e noite.” Aluízio Alves foi não só um fenômeno na história democrática, mas, pelo seu nome, foram eleitos, simultaneamente, um filho e uma filha Deputados Federais. V. Exª é a maior obra política. Árvore boa dá bons frutos. V. Exª, grande Líder do meu Partido, extraordinário prefeito, extraordinário Governador, hoje do PMDB, é um fruto político. Heráclito estava emocionado, quase lacrimejando. Quis Deus me permitir, representando o respeito e o reconhecimento do povo do Piauí, ter concedido a Aluízio Alves, no dia 24 de janeiro, em nossa primeira capital, Oeiras, a comenda maior do Estado do Piauí, a Grã-Cruz Renascença, a qual eu coloquei no peito dele. Era o encontro de duas grandezas: a grandeza do Rio Grande do Norte com a grandeza histórica do Piauí.

O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB-RN) - Senador Mão Santa, eu agradeço a V. Exª que, como sempre, muito inspirado, trouxe à baila essa frase do discípulo dizendo que Perón iluminava dia e noite a Argentina, como certamente Aluizio iluminou dia e noite o Rio Grande do Norte. A noite, eu tenho certeza e até me congratulo com V. Exª porque tenho absoluta certeza disso, pois ele foi o homem que levou a energia de Paulo Afonso para o Rio Grande do Norte. Quando Natal era iluminada por uma companhia estrangeira, a Força e Luz daquele tempo, a Bond & Share, e o interior dependia de motores - o Senador Gilberto Mestrinho deve lembrar-se disso - quando eram 10 horas, 11 horas da noite, diziam: “Vão para casa porque a gente tem que apagar o motor”. E só ligavam na noite seguinte. Aluízio trouxe a energia de Paulo Afonso, que iluminou o Rio Grande do Norte, que trouxe desenvolvimento para o nosso Estado.

Então, Senador Mão Santa, agradeço a V. Exª e ao Senador Heráclito Fortes, que nos deu esse depoimento realmente emocionado e emocionante.

Em 1960, ocorreu aquela campanha a que já fiz referência.

Com a sua vitória, Aluízio empreendeu o governo mais transformador da história do Rio Grande do Norte. As bases para o desenvolvimento socioeconômico e para a superação de graves mazelas sociais, que ainda persistem, foram lançadas. Iniciou um processo de industrialização intensa no Estado. Fundou empresas estatais importantes, que ainda persistem, e foi aquele que implantou a infra-estrutura de água, energia, telefone. Investiu maciçamente em educação, levando o Professor Paulo Freire com aquele método revolucionário: alfabetização em quarenta horas. Pela primeira vez, o Professor Paulo Freire introduziu esse método na cidade de Angicos.

No plano cultural, fundou o Instituto de Pesquisas Sociais Juvenal Lamartine, a Faculdade Eloy de Souza. E, em homenagem a grandes norte-rio-grandenses, como José Augusto Bezerra de Medeiros, Juvenal Lamartine, Eloy de Souza, com a faculdade de jornalismo.

            Em 1966, elegeu-se Deputado Federal com votação recorde, sendo cassado, em 1969, pelo AI-5. Não se abalou, voltou-se para a vida empresarial e incentivou o seu filho...

(Interrupção do som.)

O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB - RN) - Sr. Presidente, vou concluir, sei que V. Exª tem absoluta razão.

Em 1970, incentivou o seu filho, que ainda hoje permanece na vida pública, como eu, e vai disputar agora o seu décimo mandato de Deputado Federal.

Aluízio sofreu a sua única derrota nas urnas, nas eleições para Governador, para o hoje Senador José Agripino. Em seu discurso, após perder as eleições, cunhou uma frase que se tornou um dos lemas de sua história política: “A luta continua”. Não se deixou abater e exerceu um papel relevante nas campanhas para as Diretas, como também articulou decisivamente nos bastidores pela eleição no Colégio Eleitoral do Presidente Tancredo Neves. Valeu-se, para tanto, de amizades que fez ao longo de sua carreira, como a do Presidente José Sarney, que aceitou a indicação para Vice-Presidente. Exerceu o cargo de Ministro da Administração no Governo Sarney, deixou a sua marca através da criação da Escola Nacional de Administração Pública, pois, como dizia o Senador Heráclito Fortes, aquele ministério parece que fora criado para ele mesmo.

O depoimento de V. Exª é o mais autorizado que eu poderia ouvir.

Propôs, ainda, a extensão do 13º salário para os servidores civis - claro que com o apoio do presidente.

Em 1990, elegeu-se deputado federal, o seu último mandato popular. Com a ascensão de Itamar Franco à Presidência da República, foi escolhido Ministro da Integração Regional.

Posteriormente, mesmo sem mandato, Aluízio nunca se afastou da política. A sua voz de líder maior do seu Estado nunca se calou. E agora, Sr. Presidente, o que dizer depois disso? Um homem que, como eu, convivi todas as horas com Aluízio Alves; um homem que, como eu, senti de perto a sua grande vocação política; um homem que, como eu, abracei a vida pública por ideal como ele. O que dizer agora senão o que ele disse, Senador Heráclito Fortes? A luta continua.

Se o Presidente permitir, Senador Cristovam Buarque, ouvirei V. Exª, com imenso prazer.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Sr. Presidente, é muito rápido, mas eu não gostaria de deixar passar a oportunidade de manifestar a minha convivência com o deputado, ministro e grande líder que foi Aluízio Alves. Eu o conheci ainda quando eu, jovem, em Pernambuco, acompanhava pelos jornais a inovação que ele fazia na política, com suas caminhadas, com sua mobilização das massas em defesa de um programa; depois o seu trabalho na educação de base, especialmente a alfabetização. Faz pouco tempo, Senador Garibaldi, fui a Angicos ver onde Paulo Freire começou o programa de alfabetização e conheci um homem que vendia chocolate na frente de uma escola, por coincidência, e ele disse: “Eu estava sendo alfabetizado e, em abril de 64, proibiram-me de continuar a alfabetização. Eu não me alfabetizei, mas teria feito se Aluízio Alves tivesse continuado, se Paulo Freire tivesse continuado”. Então, quero aqui manifestar o meu respeito pelo grande político que foi Aluízio Alves.

O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB - RN) - Quero agradecer a V. Exª esse testemunho, justamente sobre a área que V. Exª tem todas as condições de falar, em que é a maior autoridade do País. Reconheço em V. Exª essa autoridade de falar sobre a educação e dar esse testemunho de um pioneiro, que foi Paulo Freire, claro, mas de um pioneiro que foi Aluízio, que soube trazer a experiência de Paulo Freire para sua terra e pretendia expandi-la para todo o Rio Grande do Norte.

Portanto, Senador Cristovam Buarque, quero agradecer a V. Exª esse testemunho e voltar a dizer: não foi apenas nas horas em que ele governador, ministro, deputado federal - não foi apenas nessas horas - me impressionou e me conduziu, foi sobretudo na hora da cassação e da injustiça que ele se fez maior diante de todo o Rio Grande do Norte e diante de todo o Brasil pela sua resistência, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/05/2006 - Página 16175