Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Apresentação de estudos do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) e do Instituto Internacional de Desenvolvimento Empresarial (IIDE), que chegaram à conclusão de que o governo brasileiro é um dos principais fatores para a falta de competitividade do país. (como Líder)

Autor
Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA INDUSTRIAL.:
  • Apresentação de estudos do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) e do Instituto Internacional de Desenvolvimento Empresarial (IIDE), que chegaram à conclusão de que o governo brasileiro é um dos principais fatores para a falta de competitividade do país. (como Líder)
Aparteantes
Jefferson Peres.
Publicação
Publicação no DSF de 12/05/2006 - Página 16178
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA. POLITICA INDUSTRIAL.
Indexação
  • COMENTARIO, PESQUISA, ENTIDADE, DESENVOLVIMENTO, INDUSTRIA, EMPRESA, CONCLUSÃO, RESPONSABILIDADE, GOVERNO FEDERAL, REDUÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, SUPERIORIDADE, TAXAS, JUROS, INEFICACIA, GESTÃO, ADMINISTRAÇÃO PUBLICA, PREJUIZO, CONCORRENCIA, ECONOMIA NACIONAL.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, DEBATE, CONFLITO, IMPLANTAÇÃO, FABRICA, CELULOSE, PAIS ESTRANGEIRO, URUGUAI, ARGENTINA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PROVOCAÇÃO, REPRESALIA.
  • REGISTRO, DADOS, REDUÇÃO, PARTICIPAÇÃO, PRODUTO, BRASIL, CONTINENTE, EUROPA, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), RESPONSABILIDADE, INEFICACIA, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, POLITICA CAMBIAL, GOVERNO FEDERAL.
  • ANUNCIO, SITUAÇÃO, INDUSTRIA AUTOMOBILISTICA, DEMISSÃO, FUNCIONARIOS, ESTADO DO PARANA (PR), PROMESSA, GOVERNO FEDERAL, ASSISTENCIA, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO ECONOMICO E SOCIAL (BNDES).
  • GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ECONOMIA, PAIS, REGISTRO, REDUÇÃO, CAPACIDADE, INVESTIMENTO, INDUSTRIA.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os jornais hoje trazem um estudo de dois institutos: um, o IEDI, que é o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, e outro, o Instituto Internacional de Desenvolvimento Empresarial. Os dois chegaram à mesma conclusão. O segundo está lá na Europa, na Suíça.

O Governo brasileiro é um dos principais fatores para a falta de competitividade do País. Com baixo crescimento, uma das mais altas taxas de juros do mundo, burocracia, escândalos de corrupção, ineficiência na gestão governamental, o Brasil cai, mais uma vez, no ranking das economias mais competitivas do mundo em 2006.

Muita gente já disse aqui, Sr. Presidente, que o Brasil só ficou na frente do Haiti, só cresceu mais que o Haiti, no ano passado, com uma taxa de 2,3%. Eu acrescentaria que o Brasil cresceu menos que o Paraguai, menos que a Colômbia, menos que todos os países da América Latina. Se só cresceu mais do que o Haiti, então, perdeu para o Paraguai. Nós, os paranaenses, conhecemos muito bem as dificuldades que aquele país tem. Mas, mesmo com todas as dificuldades, o Paraguai conseguiu crescer mais do que o Brasil.

Além desse estudo, temos outras notícias que revelam como o Governo está desinformado da situação do País que governa; aliás, que mal governa.

Para a discussão que se travou entre a Argentina e o Uruguai sobre a instalação de uma fábrica de celulose da Finlândia, o Presidente Lula deu a solução. Senador Jefferson Péres, dizia-se que a questão era ambiental. O investimento de um bilhão de dólares seria feito por uma empresa finlandesa para a construção dessa fábrica. E aí o Mercosul, ameaçado, porque o Presidente do Uruguai, que já tinha como certa a instalação da fábrica no território uruguaio, disse o seguinte: “Desse jeito, não participo mais do Mercosul”. Mas aí o Presidente Lula deu a solução: a empresa deveria construir metade da fábrica de um lado do rio Uruguai, do lado uruguaio, e a outra metade da fábrica no território argentino, na margem do rio Uruguai que fica no território argentino. Essa solução mágica encontrada pelo Presidente Lula serviu de piada no mundo inteiro.

Imagine, Senador Jefferson Péres, na hora de se decidir onde ficaria o refeitório dessa fábrica. Ficaria no lado do Uruguai ou da Argentina? Os trabalhadores teriam que atravessar a nado o rio ou teriam equipamentos para atravessar? E muitas piadas foram feitas.

O Governo brasileiro, do jeito que está conduzindo a economia, vai se transformar em piada no mundo, não só por essa idéia tão ridícula, tão absurda. Uma fábrica não pode ser dividida ao meio, sendo que uma metade fique de um lado do rio e a outra metade, do outro lado. Eu nunca vi isso; na minha vida, eu nunca vi isso. A solução é tão simplista que parece que o Presidente Lula tem solução para tudo. E ele, às vezes, encontra solução mesmo.

Estouram escândalos e mais escândalos de corrupção, e o Presidente fala: “eu não sei de nada, não é comigo” e as coisas continuam. O Presidente continua querendo ser um líder da América Latina, dando palpite, mostrando completo despreparo, como fez ao opinar dessa forma em relação a essa fábrica.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Senador Jefferson Péres, ouço V. Exª com prazer.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Eu não sei se V. Exª está contando uma piada ou se ele fez mesmo essa proposta. É piada ou é verdade?

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - Não, está escrito aqui, Senador Jefferson Péres. Estou lendo nos jornais de hoje.

O Sr. Jefferson Péres (PDT - AM) - Muito bem, Senador. Veja que, mesmo que fosse tecnicamente possível dividir a fábrica, seria politicamente impossível, uma vez que a Argentina alegava ser contra a fábrica exatamente por ser poluidora. Logo, não poderia aceitar a proposta brasileira ou se desmoralizaria, porque o que dizem é que a Argentina está com ciúme porque a fábrica não ia ser instalada em território argentino. Mas, Senador Osmar Dias, vi hoje algo mais preocupante: notícia segundo a qual o Presidente Lula, tentando livrar o Mercosul do problema - essa é a notícia, não sei se verdadeira - que gerou o conflito entre o Uruguai e a Argentina, teria informalmente gestionado junto ao governo finlandês para que o governo pressionasse a fábrica a não fazer mais o investimento no Uruguai. Claro que isso chegou, como não poderia deixar de chegar, ao conhecimento do governo uruguaio. Está o Presidente Tabaré Vázquez muito magoado com o Brasil, o que vai contribuir para empurrar o Uruguai para fora do Mercosul. É assim que se faz política externa neste País.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR) - O aparte de V. Exª faz parte da notícia, inclusive, do Estado de S.Paulo de hoje: “Lula intervém e causa mal-estar”. A notícia, quando o Lula pediu que dividisse a fábrica pela metade, uma parte de cada lado, finaliza com uma palavra de um dos embaixadores uruguaios na Europa. Ele diz o seguinte - exatamente o que V. Exª acaba de dizer - : “Se os argentinos queriam evitar a poluição, por que Lula propôs dividir a fábrica? Ficou provado que a disputa não é ambiental, mas econômica e sobre a localização do investimento”. Enquanto isso, enquanto o Presidente Lula dá palpite sobre onde vai ficar a fábrica e a divisão dela, está aqui: “O Brasil perde competitividade”.

Aquele Instituto que citei, Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, diz que “o Brasil perdeu 40% da competitividade dos seus produtos na Europa e nos Estados Unidos”. O que significa isso? Voltamos aos níveis de 99. Nós recuamos, e o Brasil, que havia evoluído, perdeu, entre 2002 - portanto, no Governo Lula, depois que o Presidente Lula assumiu o Governo - e 2006, 40% da sua competição nos Estados Unidos e na Europa, em função do Governo que tem, que faz uma política econômica desastrada e coloca um câmbio completamente irreal, fazendo com que haja demissões no setor calçadista, que não consegue mais exportar - o Rio Grande do Sul, do Senador Paulo Paim, é testemunha disso - e faz com que a Volkswagen anuncie, no meu Estado, a demissão de 6 mil trabalhadores, mas o Governo já anuncia que, para as montadoras, vai haver ajuda. O BNDES pode ajudar montadoras. É o que está escrito no Estado de S.Paulo.

O Governo, com sua política desastrada, causa demissão no setor de calçados, no setor madeireiro, que já demitiu, no meu Estado, cinco mil funcionários. No setor da produção primária, os produtores rurais estão demitindo trabalhadores e reduzindo a área de plantio, como eu disse ontem. Não vou repetir, mas é um desastre a política econômica que coloca o dólar tão irreal, para que o Presidente do Banco Central, na sua imensa vaidade, comemore os seus feitos, não se importando com o que está acontecendo com a indústria brasileira. Todos os dias, alguém vem a esta tribuna, nas federações, nas entidades, e afirma o seguinte: o Brasil está perdendo a capacidade de investir na indústria, o Brasil está reduzindo a sua industrialização. O meu Estado, o Paraná, teve, nos três meses deste ano, uma redução brutal do desempenho da indústria, numa média que chega a 6% negativa ao mês, o que significa falta de uma política de desenvolvimento industrial, no Estado, e falta de uma política industrial no País. Aliás, falta de uma política de desenvolvimento, porque estamos vendo todos os segmentos da economia perdendo a sua força, perdendo competividade e os trabalhadores sendo demitidos.

Sr. Presidente, Srs. Senadores, do jeito que vai, o governo que está aí, vai passar para a história não apenas como um governo desastrado na sua política externa, mas principalmente, na sua política econômica.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/05/2006 - Página 16178