Pronunciamento de Arthur Virgílio em 11/05/2006
Discurso durante a 57ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Críticas ao Presidente Lula, considerando que governo brasileiro estabeleceu aliança danosa com o Presidente da Bolívia, Evo Morales.
- Autor
- Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
- Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA EXTERNA.:
- Críticas ao Presidente Lula, considerando que governo brasileiro estabeleceu aliança danosa com o Presidente da Bolívia, Evo Morales.
- Publicação
- Publicação no DSF de 17/05/2006 - Página 16816
- Assunto
- Outros > POLITICA EXTERNA.
- Indexação
-
- COMENTARIO, NOTICIARIO, MUNDO, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, VENEZUELA, AMEAÇA, LIDERANÇA, BRASIL, AMERICA LATINA.
- COMENTARIO, NOTICIARIO, DESPREPARO, DIPLOMACIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SUJEIÇÃO, DECISÃO, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, NACIONALIZAÇÃO, GAS NATURAL, INFLUENCIA, GOVERNO ESTRANGEIRO, VENEZUELA.
- ANUNCIO, AUMENTO, PREÇO, GAS NATURAL, COMENTARIO, CONFLITO, MINISTRO DE ESTADO, ITAMARATI (MRE), ASSESSOR, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, CRITICA, INTERVENÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ASSUNTO, PAIS ESTRANGEIRO.
- SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, THE ECONOMIST, PAIS ESTRANGEIRO, GRÃ-BRETANHA.
- CRITICA, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, VENEZUELA, TENTATIVA, REDUÇÃO, ATUAÇÃO, GOVERNO BRASILEIRO, NECESSIDADE, DEFESA, INTERESSE NACIONAL, EXPECTATIVA, PRONUNCIAMENTO, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DA SOCIAL DEMOCRACIA BRASILEIRA (PSDB), ANUNCIO, PROPOSTA, POLITICA EXTERNA.
- REGISTRO, HISTORIA, CONSOLIDAÇÃO, DEMOCRACIA, PAIS, APREENSÃO, FUTURO, DIPLOMACIA, BRASIL.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Senador Mão Santa. Exatamente essa falta de amor que criticamos em tantos sobra em V. Exª, que é, de fato, um brasileiro dos mais dignos e mais admiráveis e, portanto, dos mais admirados por todo o País.
Por falar nesse pronunciamento, Sr. Presidente, pedi à minha assessoria que incluísse entre aqueles Senadores que citei como tendo tido passagens brilhantes e marcantes pela Casa o Senador Waldemar Pedrosa, do Estado do Amazonas; o Senador Marcos Freire, de Pernambuco, um dos heróis da resistência democrática, e o Senador Luiz Carlos Prestes, que se elegeu e exerceu um curto mandato, até que a Guerra Fria e a pressão sobre o Governo brasileiro de Dutra lhe cassou o direito de participar do Congresso, para o qual ele havia sido eleito pelo voto esperançoso dos fluminenses, dos cariocas do Rio de Janeiro.
Sr. Presidente, diz o noticiário da BBC: “Para analistas, Lula chega enfraquecido a Roma”.
“Lula desembarca em Viena com a sua posição de líder regional posta em xeque pela tentativa de Hugo Chávez de unir os governos de esquerda da região”.
Mais BBC:
Há dois anos, quando os cerca de 60 líderes europeus e latino-americanos se reuniram em Guadalajara, no México, para a última Cúpula entre União Européia, América Latina e Caribe, o Presidente brasileiro era recebido como “líder natural da região”, expressão usada pelo Primeiro-Ministro espanhol, José Luís Zapatero, na época.
“O Brasil exercia uma liderança regional importante. Mas, no último ano, tem perdido esse papel, porque Chávez tem disputado com Lula”, afirma o especialista em Mercosul da London School of Economics, Francisco Panizza.
“As pretensões de Líder que o Brasil tinha, já afundaram. Não se pode dizer, com seriedade, que Lula é um Líder regional. Líder regional é o Chávez”, diz o Economista-Chefe da Consultoria Britânica Anchorage Capital Partners, Pedro de Souza Leão Regina.
Perguntar não ofende, por isso indago: por que começa tão antecipadamente o ocaso de Lula? Em vez de responder, leio algumas poucas manchetes dos jornais de hoje que explicam tudo.
“Petrobras concorda em negociar novos acordos com a Bolívia.
“Petrobras admite negociar preços”.
Diz o texto do jornal Correio Braziliense:
O Ministro do Petróleo e do Gás da Bolívia, André Solíz, afirmou, nesta quarta, que as negociações sobre a nacionalização das reservas do País será objeto de negociação entre governos e não entre empresas, e que a decisão do Presidente Evo Morales é irreversível.
Ainda o Correio Braziliense:
Evo Morales deita e rola: humilha o Brasil por conta do despreparo de Lula. A Venezuela, amiga de última hora de Morales, também. Não satisfeita em influenciar o Presidente boliviano, Evo Morales, a Venezuela resolveu fazer recomendações ao Presidente Lula sobre como deve reagir à crise do gás”.
E, ainda por cima, passa um tremendo pito, injusto, nesse experimentado diplomata que é o Embaixador Celso Amorim, Ministro das Relações Exteriores.
Vamos ao texto. Em nota, o governo de Hugo Chávez classificou de desrespeitosas as declarações feitas pelo Ministro Celso Amorim de que Lula viu com desconforto a nacionalização. Aspas para a chancelaria de Chávez: “É um desrespeito repetir as provocações que a imprensa reacionária veio vertendo sobre o Presidente da Bolívia”, afirmou a chancelaria venezuelana, como se Chávez tivesse virado um bedel da América do Sul, e como se Lula fosse menino de Febem, para ser esbordoado pelo bedel a cada suposto delito cometido.
Traduzo a chancelaria da Venezuela: a imprensa brasileira não pode apontar erros do Presidente brasileiro. Ela está proibida por Chávez. O Brasil passa, no entender da chancelaria de Chávez, a ser monitorado por eles, Chávez e Morales.
É o que dá o despreparo do Presidente Lula, que sai esvoaçando por aí e supõe que é assim que se faz política externa. Nossa política externa parece ter dois ministros: um, diplomata experimentado, o do Brasil, Celso Amorim; outro, o da brincadeira, o de Lula, Marco Aurélio Garcia. O Pandemônio, que é a imaginária capital do Inferno, está montado aqui mesmo no Brasil.
Leio mais uma manchete do Correio Braziliense: Assessor de Lula critica Amorim. “O chanceler informal do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Assessor para Assuntos Internacionais Marco Aurélio Garcia, chegou ontem da Argentina visivelmente incomodado com as declarações dadas na véspera pelo Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, sobre o descontentamento do Brasil com a influência da Venezuela na estatização do gás boliviano.
Faço uma pausa para ler o tópico seguinte dessa nota que só confirma que realmente Lula implanta aqui a República pandemônica: “Acho insultuosos, racistas até esses comentários sobre o envolvimento da Venezuela. É como se o Presidente Morales não pudesse tomar atitudes por conta própria.
Pasmem, Srªs e Srs. Senadores, quem diz isso é o assessor internacional do Presidente Lula, o Sr. Marco Aurélio Garcia. É ele quem justifica as atitudes do Estado boliviano. E já concedo o aparte ao Senador Heráclito Fortes.
Quanto à elevação dos preços do gás, bem, aí é o caso de perguntar como fica o Presidente: a Nação ouviu o Presidente, na TV, dizendo, em alto e bom som, que não haveria aumento de preço, só daqui a cinco anos, o que não é verdade. Acontecerá, por mais que se reprima, entre 10% a 15%, imediatamente. A Petrobras não pode subsidiar, pois é filiada à Bolsa de Nova York e, por conseqüência, tem de dar satisfação a seus acionistas, pois é uma sociedade de capital aberto. Não tem como entrar nesse jogo de faz-de-conta que povoa a cabeça e a imaginação do Presidente Lula.
Também quero dizer que li no jornal O Estado de S.Paulo de hoje uma matéria do economista Roberto Macedo, em que lança “Lula para Presidente... da Bolívia”. E não sei quem teria saudades por aqui...
Sr. Presidente, algumas matérias serão inseridas nos Anais, mas, antes de conceder aparte aos Senadores Heráclito Fortes e Tasso Jereissati, eu gostaria de dizer algumas coisinhas a mais que são incríveis, realmente incríveis.
O inacreditável chanceler informal de Lula, Marco Aurélio Garcia, bate de frente com o Ministro Celso Amorim, diminui a autoridade do Ministro das Relações Exteriores, justificando a posição do Estado boliviano.
Isso, para mim, é quase lesa-pátria. Isso é pouco diferente, se é que é diferente, do crime de lesa-pátria.
“Lula intervém e causa mal-estar”. Fui ver com o Senador Osmar Dias a nota que S. Exª estava lendo. O Senador Osmar Dias é um homem sério, cheguei a pensar que S. Exª estava pilheriando. O Presidente Lula propôs a divisão de investimentos entre o Uruguai e a Argentina para a tal fábrica de papel. Propôs que a fábrica fosse numa fronteira, parte em um território e parte em outro. E fiz ao Senador Osmar Dias uma pergunta, ainda há pouco: “Osmar, qual a idéia que ele tem? Quem é que cobra impostos para essa fábrica? É o fisco uruguaio ou o argentino? Se houver multa por crime ambiental, quem a aplicará? Será o órgão ambiental do Uruguai ou o da Argentina?”
Presidente Lula, pelo amor de Deus, o Brasil está envolvido numa crise muito grave. É uma crise moral, com contornos internacionais graves. Não dá, Presidente, para brincar, para tratar com essa leviandade assunto de tamanha relevância.
Leio outra matéria extremamente interessante e que merece ser enviada para os Anais da Casa. O jornal The Economist - e quem transmite essa notícia é Vinicius Albuquerque(*), da Folha Online - traz uma matéria com a seguinte chamada: “Lula foi “humilhado” por Chávez”.
O Sr. Morales é aquele que diz que o Brasil pagou um cavalo para se apropriar do Acre. O Sr. Morales é aquele que ousa dizer que essa empresa, que é orgulho da Pátria brasileira, orgulho do povo brasileiro, uma empresa que não pertence ao imaginário de Lula, não pertence a governo nenhum, porque pertence, desde a campanha “O petróleo é nosso”, aos brasileiros como um todo, é biombo para contrabando naquelas suas diatribes, naquele seu destempero, naquele seu descontrole emocional que não faz a não ser confirmar aquilo que nós, do PSDB, sabíamos, aquilo que nós, da Oposição, conhecíamos e aquilo que Lula não sabia, até porque não está preparado para governar o País. O que nós sabíamos, e ele não, é que Chávez não é adequado para a Venezuela, mas esse é um problema do povo da Venezuela, e que Morales, que é um problema do povo da Bolívia, não é adequado para dirigir a Bolívia, está mostrando isso. E estou fazendo mais uma aposta e um desafio: daqui a meses, daqui a um ano, daqui a um ano e meio, a Bolívia estará mergulhada em uma crise institucional, em uma crise de contornos institucionais, porque tanto a proposta de Chávez quanto a proposta de Morales é procurar impor o autoritarismo constitucional, é procurar ceifar as liberdades, eliminando a presença da Oposição e, aos poucos, estabelecer aquilo que já é uma realidade na Venezuela: eleições sem a participação das oposições.