Discurso durante a 60ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

A vinda de agricultores a Brasília, hoje, no "Grito do Ipiranga", a fim de demonstrar ao governo federal o desespero pelo qual estão passando. (como Líder)

Autor
Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • A vinda de agricultores a Brasília, hoje, no "Grito do Ipiranga", a fim de demonstrar ao governo federal o desespero pelo qual estão passando. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 17/05/2006 - Página 16732
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • REITERAÇÃO, GRAVIDADE, CRISE, AGRICULTURA, PAIS, AUMENTO, MANIFESTO, AGRICULTOR, ESTADOS, ESPECIFICAÇÃO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), DEMONSTRAÇÃO, SITUAÇÃO, REIVINDICAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, URGENCIA, PROVIDENCIA, PRORROGAÇÃO, DIVIDA, CUMPRIMENTO, PREÇO MINIMO, IMPEDIMENTO, EXODO RURAL.
  • CRITICA, CONDUTA, GOVERNO, DESTRUIÇÃO, AGRICULTURA, SETOR, PRODUÇÃO, UTILIZAÇÃO, DINHEIRO, AGRICULTOR, FINANCIAMENTO, CAMPANHA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REELEIÇÃO.
  • DEFESA, NECESSIDADE, ALTERAÇÃO, ESTRUTURAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, APOIO, PRODUTOR RURAL.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não foi por falta de aviso nem de alerta que a situação chegou aonde nos encontramos. Agricultores que deveriam estar hoje cuidando das suas lavouras tiveram de vir a Brasília para trazer ao Governo Federal o desespero para o qual eu mesmo venho alertando aqui há mais de um ano. Há mais de um ano que repito toda semana o alerta de que se o Governo Federal não adotasse algumas medidas saneadoras a agricultura entraria em colapso, e, com a agricultura, toda a economia seria atingida. Hoje, estamos já nesse ponto.

           Ouvi uma palestra hoje em que um economista disse o seguinte: a inflação no Brasil é de 5%, mas, se calculássemos a inflação na agricultura, ela seria de menos 22,5%. Ou seja, neste ano apenas, os produtos agrícolas, na média, perderam 22,5% do seu valor de compra. Para quem precisava vender um determinado número de sacas de milho, de soja, de feijão, de arroz, para comprar um equipamento, vai ter de vender praticamente o dobro agora para pagar o mesmo equipamento. O valor de compra da agricultura foi desmontado, e o Governo está desmontando o agronegócio brasileiro. Aquilo que se comemorava como a alavanca de desenvolvimento, como o setor que dinamizou a economia, que ofereceu a oportunidade de se empregarem 40% dos trabalhadores neste País, 40% da renda bruta conquistada do próprio agronegócio, hoje se manifesta como o movimento dos agricultores, o chamado “Grito do Ipiranga”, espalhado por todo o País. Em todas as cidades-pólo estão lá os agricultores, fechando rodovias, indo até as praças de pedágio para fechá-las, fechando as ferrovias em cada Estado, com a ajuda e a solidariedade das cooperativas.

           Senador Gilberto Mestrinho, não há como alguém explicar a um agricultor que ele pode produzir uma saca de milho e vender a R$8 ou R$10, quando seu custo de produção é de R$16, R$18. Não há quem convença um agricultor a plantar soja se ele vai vender a R$15, R$16 em algumas regiões do País, se o custo é de R$28. Ninguém convence o agricultor a plantar arroz se ele paga R$28 para produzir e vende a R$16, R$17.

           Aí o Ministro da Agricultura diz: “Bom, nenhum dos problemas que estão aí são afetos a minha pasta. Todos são de responsabilidade da área econômica e da área de planejamento”. Roberto Rodrigues é um amigo que tenho de muito tempo, mas discordo dessa afirmação, porque há horas em que é preciso dar um murro na mesa, e exigir do Ministro do Planejamento e do Ministro da Fazenda que pensem mais na população e menos na eleição, porque o que está acontecendo agora é um financiamento público de campanha, com o dinheiro dos agricultores. É isso que está acontecendo.

           É isso que está acontecendo. Sabe por quê, Senador Garibaldi Alves Filho? Porque o Presidente Lula vai à televisão, o Presidente do PT vai à televisão e dizem o seguinte: “A cesta básica teve um valor reduzido em 70%. Antes, a dona-de-casa ia ao supermercado e pagava R$ 10,00 por cinco quilos de arroz e, hoje, paga R$ 3,00.“ Isso é apresentado na propaganda oficial do PT, o Partido que está no Governo, e pelo próprio Presidente da República. Então não é financiamento público de campanha? É financiamento público com dinheiro tirado dos agricultores. Os agricultores estão pagando a campanha do Presidente Lula à reeleição.

           Os produtores rurais, micro, pequenos, familiares, médios, grandes, estão financiando a campanha do Presidente Lula porque é com esse dinheiro que está saindo do bolso dos agricultores que ele pode ir para a televisão e dizer para os consumidores que eles estão pagando menos. 

           Mas estão pagando menos hoje com a desestruturação que está ocorrendo do setor produtivo. Daqui a pouco, estaremos novamente importando arroz, Sr. Presidente João Alberto Souza. Estaremos importando mais trigo, porque não há quem plante trigo a um custo de produção de R$25,00 e o Governo não garante o preço mínimo nem de R$24, 00 que ele estabeleceu; e o produtor é obrigado a vender a R$16,00, R$17,00. 

           Daqui a pouco, será preciso importar comida. O próprio Ministro Roberto Rodrigues disse hoje: “Em 2007, nem que a vaca tussa, eu fico no Ministério.” 

           Eu não se ele já está entendendo que o Presidente não será reeleito ou se ele, pensando que o Presidente será reeleito, já está anunciando a sua saída.

           Mas eu acredito que não há um agricultor sequer neste País - micro, pequeno, médio, grande ou familiar - que vote neste Governo, porque ele destruiu a agricultura, destruiu aquilo que, a duras penas, foi construído e conquistado ao longo dos anos, quando se apresentou à sociedade brasileira o respeito da própria sociedade urbana com os agricultores. Até isto o Governo está destruindo, porque já vi parlamentares vindo a esta tribuna e dizer que os agricultores ganharam muito dinheiro, compraram o carro do ano, gastaram o que tinham e agora vêm reivindicar ajuda do Governo. Não sabem o que estão falando. Estão falando bobagem.

           O agricultor teve alguns anos para respirar, mas, agora, está sendo afogado e sufocado pelas dívidas e o Governo acena com uma medida simplista: “Ah, vamos prorrogar essa última parcela de vencimento para daqui a um ano”.

           Sr. Presidente, daqui a um ano, o produtor estará ainda mais endividado. Ele estará com o pescoço atolado mais ainda em dívidas. O Governo, então, tem de mexer na estrutura da política econômica. Com esse dólar, com esse câmbio defasado, não há uma cultura - seja commodity, seja cultura de consumo interno - que se viabilize. A indústria está sendo desaquecida. Está havendo perda de competitividade da indústria. E nós vamos continuar assistindo, Senador Jefferson Péres, o financiamento público de campanha já começou. O Presidente Lula está fazendo propaganda da comida barata às custas do dinheiro do agricultor brasileiro, que está sendo colocado a perder todo o seu patrimônio praticamente, porque muita gente já está vendendo-o, a fim de se mudar para a cidade, com a finalidade de buscar o seu emprego. E não vai encontrá-lo, porque esse emprego não é facilmente encontrado hoje. O Presidente está equivocado em relação ao que fala ao País, está equivocado com o que faz com a agricultura brasileira.

           Ou os produtores saem daqui hoje com medidas concretas de apoio ao setor, ou teremos, para a calamidade deste País, para o desastre deste País, um caos social, porque muitos agricultores, inviabilizados, vão procurar as cidades, e nelas não vão encontrar o que precisam também.

           Sr. Presidente, a situação é de desespero. Estou aqui falando pela vigésima, pela centésima vez. Um jornalista do Paraná chegou a me pedir que mudasse de assunto, mas não dá para fazer isso. Enquanto a agricultura não se levantar e os agricultores continuarem mendigando ajuda, eu estarei aqui para cobrar deste Presidente que prometeu muito e não faz nada pela agricultura.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/05/2006 - Página 16732