Discurso durante a 60ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários sobre documento distribuído pelo candidato a diretor do Banco Central, Sr. Mário Magalhães Carvalho Mesquita, em exposição feita aos senhores Senadores hoje, na Comissão de Assuntos Econômicos.

Autor
Garibaldi Alves Filho (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RN)
Nome completo: Garibaldi Alves Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comentários sobre documento distribuído pelo candidato a diretor do Banco Central, Sr. Mário Magalhães Carvalho Mesquita, em exposição feita aos senhores Senadores hoje, na Comissão de Assuntos Econômicos.
Publicação
Publicação no DSF de 17/05/2006 - Página 16734
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • LEITURA, COMENTARIO, DOCUMENTO, AUTORIA, CANDIDATO, DIRETOR, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), EXPOSIÇÃO, COMISSÃO DE ASSUNTOS ECONOMICOS, SENADO, DEFESA, UTILIZAÇÃO, POLITICA MONETARIA, PROMOÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO.
  • QUESTIONAMENTO, INEFICACIA, UTILIZAÇÃO, POLITICA MONETARIA, PROMOÇÃO, CRESCIMENTO ECONOMICO, TRANSITORIEDADE, BENEFICIO, MANUTENÇÃO, CUSTO, BAIXA, INFLAÇÃO, POSTERIORIDADE, REDUÇÃO, ATIVIDADE ECONOMICA.
  • DEFESA, NECESSIDADE, URGENCIA, SETOR, SOCIEDADE, CONTRIBUIÇÃO, GARANTIA, ESTABILIDADE, NATUREZA POLITICA, NATUREZA ECONOMICA, NATUREZA SOCIAL, PAIS.

O SR. GARIBALDI ALVES FILHO (PMDB - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, “a política econômica deve ter como objetivo criar condições favoráveis ao crescimento sustentado. A experiência prática com o ativismo monetário nos anos 60 e 70 do século passado, bem como desenvolvimentos teóricos importantes quanto à interação entre a política monetária e as expectativas dos agentes econômicos, levaram à formação de uma convergência de opiniões entre os bancos centrais e acadêmicos, qual seja de que a contribuição fundamental que um banco central deve dar ao crescimento sustentado é manter a inflação sob controle em níveis reduzidos, o que contribui para um ambiente econômico mais sólido e equilibrado, maximizando as chances de maior crescimento”.

Sr. Presidente, estou lendo, nesta oportunidade em que ocupo a tribuna, um documento distribuído pelo candidato a Diretor do Banco Central - a esta altura, com seu nome já aprovado -, Mário Magalhães Carvalho Mesquita, que contém a exposição feita aos Srs. Senadores.

Quero mostrar, ao ler este documento, a distância existente entre a política monetária levada a efeito hoje e a realidade do País. Sr. Presidente, eu não estou criticando especificamente o Diretor do Banco, mas a distância que as autoridades monetárias mantêm do nosso dia-a-dia.

            Tentativas de utilizar a política monetária para promover surtos temporários de crescimento têm geralmente sido infrutíferas, com ganhos de produto apenas transitórios, se tanto, e custos bem mais persistentes, sob a forma de deterioração das expectativas de inflação e redução da atividade econômica em momentos subseqüentes.

Excelente a exposição deste, que é hoje aprovado por nós, Diretor do Banco Central, mas ela está descolada, Sr. Presidente.

Um outro Diretor, o Sr. Paulo Vieira da Cunha, diz:

            (...) O emprego cresce e, conjuntamente ao aumento da renda real, sustenta a expansão do consumo doméstico. As exportações continuam a crescer e agora, também, as importações, especialmente aquelas derivadas do aumento do investimento. Prevalecem expectativas de baixa inflação, (...).

         Está correto com relação à baixa inflação. Ninguém pode negar que este Governo deu continuidade a uma política de metas de inflação que realmente levou ao que aí está. Mas creio, Sr. Presidente, que não podemos ter um Banco Central ancorado apenas na perspectiva de uma inflação baixa - que é, foi e continuará sendo o grande sonho de todos os brasileiros -, mas um Banco Central que se volte para os agentes econômicos no sentido de lhes dar condições de financiar o nosso desenvolvimento.

Hoje, ocorreu algo surrealista: de um lado, os diretores do Banco Central pregando essa ortodoxia monetária; e, do outro lado, onze Governadores - como disse o Senador Osmar Dias - e inúmeras entidades rurais e seus dirigentes dizendo que o setor do agronegócio está paralisado. É o caso de dizermos, novamente, o que sempre se diz: que País é este, onde, numa mesma manhã, quase que em um mesmo ambiente, Governadores de Estado falam uma linguagem e autoridades monetárias falam outra inteiramente diferente? O que podemos dizer diante de tudo isso? Está faltando, Sr. Presidente, uma certa convergência. Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Nem tanto àqueles que querem o abandono dessa ortodoxia, dessa receita monetária que o Brasil utiliza, mas também, Sr. Presidente, nem tanto àqueles que, baseados nisso, estão promovendo esse quadro que aí está. Falo do que São Paulo viu ontem e do que estamos vendo no campo.

Há pouco, o Senador Wellington Salgado dizia que esses agricultores, que essas lideranças, estão interrompendo as estradas de uma maneira natural, como se não estivessem interrompendo BRs. Estamos, no Brasil, diante de uma ameaça, como foi dito aqui, à quebra da autoridade, e estamos vivendo um momento perigoso e delicado, com desobediência civil, em que cada um dos setores da sociedade resolve procurar o seu interesse à sua maneira, à custa da estabilidade política, econômica e social obtida neste País. Então, procuremos dar a nossa contribuição.

Em relação ao que disseram os diretores do Banco Central, ao que se produziu daquela reunião da Comissão de Assuntos Econômicos, dirigida pelo Senador Luiz Otávio, parece que eles estavam sendo movidos por um certo cinismo, tal a diferença entre os que eles falavam e o que falavam, a poucos metros deles, aqueles que dirigem a agricultura do nosso País e aqueles que dirigem um pouco menos da metade dos Estados da Federação.

Sr. Presidente, deixo aqui o meu registro, na certeza de que teremos de procurar urgentemente um rumo para este País a fim de que não tenhamos que viver de sobressaltos, de ameaças, de noites, tardes e dias sombrios, como ontem, no Estado de São Paulo.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/05/2006 - Página 16734