Discurso durante a 63ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Críticas ao Presidente Lula pelas declarações sobre os representantes de fazendeiros. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA AGRICOLA.:
  • Críticas ao Presidente Lula pelas declarações sobre os representantes de fazendeiros. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 23/05/2006 - Página 17622
Assunto
Outros > PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO. POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), CRITICA, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OFENSA, REPRESENTANTE, AGRICULTOR, QUESTIONAMENTO, NEGOCIAÇÃO, DIVIDA AGRARIA, DENUNCIA, ORADOR, NEGLIGENCIA, AGRICULTURA, EXPORTAÇÃO, RISCOS, BALANÇA COMERCIAL, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA.
  • DEFESA, LIBERDADE DE EXPRESSÃO, AGRICULTOR, MANIFESTAÇÃO, REPUDIO, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 22/05/2006


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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO NA SESSÃO DO DIA 19 DE MAIO DE 2006, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder do PSDB. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, eu já me retirava para viajar para o meu Estado quando chega às minhas mãos notícia de mais um desses disparates de que é useiro e vezeiro o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em proferi-los.

Está na Folha de S.Paulo de hoje, em matéria dos jornalistas Eduardo Scolese e Pedro Dias Leite, o seguinte:

No momento em que produtores rurais promovem uma série de protestos em todo o país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que, entre os representantes dos fazendeiros, há “cretinices” e ações “oportunistas” [ele se referiu assim: ações “cretinas” e “oportunistas”, Senadora Heloísa Helena; ou seja, linguagem insultuosa].

Além disso, colocou em xeque a renegociação das dívidas dos produtores [aspas para o Presidente Lula, em dia de besteirol aberto]: Nem sei se vamos renegociar dívida com todo mundo. Isso é o que a imprensa está dizendo por aí.

As declarações do Presidente foram feitas ontem à noite a integrantes da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), durante reunião no Palácio do Planalto. [E aí é aquela história: para agradar à Contag, fala mal dos agricultores; para agradar os agricultores, falaria mal da Contag. É uma política velha, carcomida, esclerosada, que não leva o País a bom lugar. Na conversa, Lula disse estar preocupado com a próxima semana, quando um grupo interministerial coordenado pelo Ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) deve anunciar medidas estruturais para o setor do agronegócio. [Ou seja, começa a desmoralizar seu Ministro, que está, com sua autorização, fazendo um trabalho em favor do segmento da agricultura. Aspas, então:

“Essa é a primeira vez que fechamos um acordo com vocês (agricultores) antes dos grandes fazendeiros.” [O Presidente Lula chega a beirar a irresponsabilidade mesmo; é impressionante; é de doer nos ossos]. “O pessoal da agricultura empresarial e do agronegócio vai querer os mesmos benefícios que vamos dar a vocês, vai virar uma chantagem”. Então, está chamando o agronegócio brasileiro, que sustenta a balança comercial brasileira, de setor chantagista.

Este é o Presidente Lula, o estadista, que é vice-líder de Chávez na América do Sul. Mas muito bem! Isso tudo, toda a raiva de Lula, se deve a uma tolice: alguém colocou um adesivo no carro - isso lhe foi dito -, que dizia o seguinte: “Lula é a desgraça da agricultura”. Aliás, vou pedir que mandem para mim para eu colocar em meu carro.

Ainda na Folha de S.Paulo, em matéria de Leandro Beguoci:

O fazendeiro Carlos Sperotto, 68, se diz envaidecido por ter sido citado pelo Presidente Lula na reunião com a Contag.

Diz o fazendeiro Sperotto: “Eu só posso me sentir gratificado em um momento no qual as minhas manifestações estão sendo avaliadas pelo Presidente. Fico envaidecido até”.

Em evidente ironia, foi isso o que disse o fazendeiro. Dono de uma fazenda de trigo no Rio Grande do Sul, Sperotto conta que nunca fez adesivo criticando o Presidente, mas que as declarações o motivaram. “Agora eu vou fazer, colocando o que ele falou de nós”, referindo-se a eles, fazendeiros. Sperotto, que é um homem sincero - talvez por isso irrite tanto o Presidente -, afirma ter certeza de que Lula cria, sim, problemas para os agricultores. Diz Sperotto: “Este Governo está colhendo os frutos de um trabalho elaborado a partir de planejamento para desorganizar a produção”. Aproveitou também para defender subsídios para o setor. Disse que a agricultura é um negócio de risco e que os Governos têm de criar seguros para os agricultores.

Eu lamento, Senador Sibá Machado, o Presidente chamar fazendeiros de cretinos, de oportunistas, demonstrar que até hoje - o seu Governo está acabando - não compreendeu a importância do agronegócio. Então, diz que - palavras dele - esse pessoal da agricultura empresarial e do agronegócio vai “querer chantagear”, Senador Pedro Simon, dizendo que o agronegócio se prepara para chantageá-lo. Ele não compreendeu até hoje a importância do agronegócio para a balança comercial brasileira, gerando excedentes econômicos, que, sem dúvida alguma, financiam políticas públicas de saúde, educação, políticas sociais. Até hoje entende, numa falsa forma de ver o mundo, que tem amigos, que supostamente seriam os da Contag, e inimigos, os do agronegócio, não percebendo que seu papel é unir a Nação. Mas me parece também que tem um certo viés bastante oportunista - aí, sim -, digo eu, do Presidente: está com a Contag e fala mal dos fazendeiros; está com os fazendeiros e fala mal da Contag, sempre mostrando para os fazendeiros que ele é o moderno, que entende do agronegócio, e sempre mostrando para a Contag que é o homem de antes, o homem de esquerda, um homem que quer fazer uma reforma agrária em cima até de terras produtivas, enfim.

Essas contradições motivam grande parte dessa brutal crise por que passa o agronegócio brasileiro. E a advertência que deixo é que, se o Presidente não cuida do agronegócio de maneira conveniente - e o Estado de V. Exª é extremamente importante no campo do agribusiness -, teremos, a médio prazo, no máximo, uma crise em relação às nossas contas externas, que hoje são fechadas graças ao saldo de balança comercial que temos, e hoje são fechadas graças ao saldo de balança comercial fundamentalmente do setor primário deste País.

Portanto, recomendo ao Presidente, mais temperança, mais tranqüilidade; recomendo ao Presidente mais maturidade. É muito bom que ele entenda que tem uma sociedade midiática, que as coisas não ficam em quatro paredes, enfim.

E, se está irritado com o adesivo que diz que ele é a desgraça da agricultura, tem de compreender que ele próprio, o Lula, lutou por uma democracia que autoriza alguém a colocar um adesivo dizendo que ele é a desgraça da agricultura.

Aliás, estou pedindo até que me mandem porque eu quero colocar, no meu carro: “Lula é a desgraça da agricultura”. Eu acho que é. É um direito meu. Ele pode dizer: “Eu acho que o Arthur é a desgraça da minha paciência”. Ele pode pôr no carro dele lá; no oficial não, eu não toleraria, mas, no carro particular, ele pode colocar. Somos livres ambos para colocar, cada um, adesivo dizendo o que pensa um do outro. Agora, irritar-se e por isso investir contra um segmento tão relevante da economia me parece impróprio até para um líder sindical. Não seria bom nem que o Presidente da Contag fizesse isso. É péssimo quando quem faz isso é nada mais nada menos que o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que hoje é o estadista Vice-Líder de Hugo Chávez na América do Sul.


             V:\SLEG\SSTAQ\SF\NOTAS\2006\20060522ND.doc 2:20



Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/05/2006 - Página 17622