Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Leitura de carta enviada a S.Exa. pelo Sr. Daniel Dantas, negando versão publicada pela revista Veja, sobre uma suposta lista contento nomes de pessoas que possuiriam contas bancárias no exterior.

Autor
Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. HOMENAGEM.:
  • Leitura de carta enviada a S.Exa. pelo Sr. Daniel Dantas, negando versão publicada pela revista Veja, sobre uma suposta lista contento nomes de pessoas que possuiriam contas bancárias no exterior.
Aparteantes
Antero Paes de Barros, Antonio Carlos Magalhães, Heráclito Fortes, Ramez Tebet.
Publicação
Publicação no DSF de 24/05/2006 - Página 17770
Assunto
Outros > IMPRENSA. HOMENAGEM.
Indexação
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, BANQUEIRO, NEGAÇÃO, RESPONSABILIDADE, INFORMAÇÃO, RELAÇÃO, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), IRREGULARIDADE, CONTA BANCARIA, EXTERIOR, INCLUSÃO, ORADOR, AUTORIDADE.
  • EXPECTATIVA, ANDAMENTO, INVESTIGAÇÃO, DENUNCIA, IMPRENSA, RECUPERAÇÃO, REPUTAÇÃO, ORADOR.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, JOSE AGRIPINO, SENADOR.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Senador Antonio Carlos Magalhães, se V. Exª me permite, pelo enorme respeito que tenho a V. Exª, ocupo a tribuna para ler a carta que Daniel Dantas mandou pelo correio para mim. Não precisou de nenhum encontro reservado, nem secreto, porque, felizmente, me recusei a recebê-la pessoalmente, porque achei que a acusação que ele fez, ou não fez, uma vez que desmente tudo, trouxe profunda angústia àqueles que seriamente tratam da coisa pública. V. Exª sabe que procurei, durante toda minha vida - de que V. Exª conhece boa parte; até foi testemunha do meu depoimento -, ir atrás, e eles têm de provar que devemos; não sou eu que tenho de provar minha inocência.

A carta que ele fez deve ser idêntica à que o Ministro recebeu na reunião, como disse o Senador Heráclito Fortes, reunião reservada e não secreta, em que diz:

Em respeito à verdade e a V. Exª, asseguro-lhe que não sou responsável, não forneci informações e nem tive participação na reportagem divulgada pela revista Veja, nesta última semana, trazendo uma lista contendo nomes de pessoas que supostamente possuiriam contas bancárias no exterior.

E ainda: garanto-lhe que são inverídicas notícias que me atribuem a iniciativa de ter solicitado, a quem quer que seja, investigações, no país ou no exterior, a respeito da vida privada e financeira de autoridades brasileiras.

Agradece e assina: Daniel Valente Dantas.

A Kroll, seguindo o exemplo, também mandou uma carta. Pensei que a Kroll nem estava mais no País em razão do processo que sofreu pela Polícia Federal por ter extrapolado as suas atividades, antes legais, para a ilegalidade. E eles dizem que, desde 31 de janeiro de 2005, Frank Holder, que seria o autor da investigação em tese solicitada pelo Opportunity, já estaria fora do País e desligado da empresa.

Vejo-me na obrigação de ler isto até para a sociedade saber dessa negativa, o que não impediu de eu solicitar o inquérito policial e os processos normais que qualquer cidadão tem direito de fazer em defesa da sua honra e da sua dignidade. V. Exª sabe disso, Senadora Presidente, por algumas injustiças de que tem sido vítima nesses últimos dias.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Pois não.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª faz muito bem em ler a carta, mas ficou provado hoje que o Governo não quer a verdade dita pelo Sr. Daniel Dantas, porque derrubaram a vinda dele para a Comissão dos Bingos. Chamaram gente e derrubaram. Votei para que ele viesse e dissesse aqui claramente o que houve, porque evidentemente a reunião que houve na casa de nosso querido colega Heráclito Fortes pode ter sido normal, mas ela teria que ser pública, no Ministério da Justiça, na presença do Senador Heráclito Fortes e dos Parlamentares que o Ministro Márcio Thomaz Bastos mandou. De modo que o documento assim escrito é muito melhor, porque não se presta a versões as mais diversas. O meu amigo Ministro deveria ter recebido, sim, no Palácio da Justiça, à frente de todos e com o conhecimento da imprensa. Agora, o Governo quer esconder alguma coisa.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Muito obrigado, Senador. O requerimento foi meu. Infelizmente, perdemos, mas a busca da verdade vai continuar.

Senador Heráclito Fortes, com prazer e respeito, ouço V. Exª.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Concordo em gênero, número e grau com o discurso de V. Exª, como também dou razão ao Senador Antonio Carlos Magalhães. Agora, no episódio, o papel que me coube foi única e exclusivamente o de concordar com que houvesse na minha casa o encontro entre o empresário e o Ministro da Justiça. Não sabia a pauta, não sabia o assunto que iria ser tratado, apenas que era em conseqüência da matéria publicada pela revista. A partir do momento em que o Ministro da Justiça, que constava daquela lista como um possível dono de conta, vai a esse encontro, é porque ou não deu credibilidade à matéria, ou queria se aprofundar no assunto. Em nenhum momento, Senador Romeu Tuma, tive preocupação, porque na minha casa não existe encontro secreto. O que houve na minha casa foi um encontro reservado, como é reservado tudo que acontece nos lares dos cidadãos. Não me cabia comunicar a quem quer que fosse, até porque era um encontro com a presença do Ministro da Justiça e dois Deputados da Oposição. Quero, por dever de justiça, dizer que, no intróito da conversa, um dos primeiros assuntos tratados foi exatamente o do espanto do empresário e do Ministro com relação à inclusão do nome de V. Exª. Então, essa foi a única hora em que cobrei do Sr. Daniel uma explicação sobre o episódio. Conhecendo V. Exª como conheço, disse: “Ele ficou profundamente abalado - qualquer pessoa ficaria - porque é um homem que tem uma história, que tem uma vida”. E foi quando ele disse: “Vocês dizem que sou um gênio, que sou inteligente, e ninguém pode me catalogar como burro. Seria uma loucura, um ato impensado partir de mim uma relação de nomes dessa natureza”. Quero dizer que, da minha parte, não formulei o convite ao Ministro. O convite ao Ministro não foi feito por mim. Agora, não poderia deixar de receber na minha casa o Ministro da Justiça, principalmente sabendo que ia à casa de um Senador de oposição e que tem posicionamento claro nesta Casa com relação ao Governo que ele defende. Muito obrigado.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Agradeço a V. Exª e sei que hoje tenho uma boa testemunha sobre tudo o que se passa comigo, e V. Exª teve o respeito de me relatar esse fato anteriormente.

Vou fazer uma reclamação. Quando V. Exª der um jantar com quibe, não se esqueça de convidar o patrício aqui.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - É que desta vez foi de última hora, e o quibe não estava lá essas coisas. Pelo menos para mim foi indigesto.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Concedo um aparte ao Senador Ramez Tebet. É uma honra poder ouvi-lo.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Senador Romeu Tuma, não vi uma pessoa, com sinceridade, não vi uma pessoa dizer que acredita numa acusação contra V.Exª, seja ela qual for. Não vi, sinceramente. V. Exª fique confortável. V. Exª sabe que qualquer um de nós conversa com muita gente. Somos políticos. Político se relaciona. Todos conhecem sua honestidade, sua integridade, seu passado. Ninguém pôs dúvida com relação a isso. Eles diziam: “Não acredito”.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Obrigado, Senador.

O Sr. Ramez Tebet (PMDB - MS) - Então, é isso que quero lhe dizer. Parece-me que V. Exª está dando muito valor a isso, talvez porque a dignidade e a honra das pessoas não podem mesmo ser atingidas e esses episódios precisam ser esclarecidos. V. Exª vem, de público, dar satisfação aos seus colegas. Mas que é desnecessário, é. Fique V. Exª absolutamente tranqüilo. O que causa espécie são os fatos que estão acontecendo, são as mentiras deslavadas, é a presença por várias vezes de quem foi tesoureiro, manipulava... Ainda hoje está aqui o Sr. Delúbio. O que é que deu isso? Mente-se com a maior desfaçatez. Quer dizer, a República positivamente vive os seus piores momentos em matéria de ética. É isso que quero dizer a V. Exª.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Muito obrigado, Senador Ramez. Eu só queria dizer a V. Exª que venho a esta tribuna mais em razão das grandes preocupações da minha esposa, dos meus filhos e dos meus amigos, que se encontram aqui...

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Pois não, Senador Antero.

O Sr. Antero Paes de Barros (PSDB - MT) - Eu gostaria de cumprimentar V. Exª e me solidarizar com V. Exª. Tive a oportunidade de presidir a CPI do Banestado. Eu me lembro de uma oitiva que tivemos com um Procurador da República que mencionava uma série de nomes de Parlamentares brasileiros. Tivemos que fazer uma reunião reservada e, depois, verificamos como era o critério para se chegar àqueles nomes, um critério absolutamente incompatível com a possibilidade de se chegar próximo da verdade. E lembro-me bem de que, até por isso, as nossas preocupações eram para identificar a possibilidade de haver Congressistas. E, pelo menos durante aquele período, a CPI analisou exatamente essa questão de remessa e contas no exterior. Então, solidarizo-me com V. Exª, que faz bem de vir à tribuna não só por uma questão da família, mas para dar uma resposta à sociedade. O homem público tem de dar respostas à sociedade. E quero que V. Exª tenha a convicção da solidariedade e do orgulho de seus Pares em tê-lo como Colega e como Corregedor aqui no Senado.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Muito obrigado. Vindo de V. Exª, meu coração se alegra.

Sr. Presidente, já vou encerrar, porque deixarei o assunto para um próximo discurso.

Hoje tive uma reunião no meu gabinete, com quase todos os Presidentes das Associações de Delegados de Polícias do Brasil, Presidida pelo Dr. Eduardo Nemer, filho de um grande delegado, que foi meu chefe, infelizmente falecido, para discutir, entre os policiais, a melhor maneira de se fazer um sistema de segurança.

Voltarei a esta tribuna para discutir, com mais calma, o que vem acontecendo na área de segurança.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Romeu Tuma.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Pois não.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Antes que V. Exª conclua, lembro um fato importante com o qual ninguém está preocupado: como o encontro vazou, quem vazou e a quem interessava o vazamento. É um Governo dividido. Eu não vi nenhuma segunda intenção e nenhuma maldade do Ministro. Pelo contrário! A conversa, até onde eu vi, era a de um Ministro querendo exatamente ter a certeza de que era um equívoco e que o Presidente da República não estava envolvido naquele episódio. Que V. Exª não estava, tampouco ele. O que me assustou foi o vazamento. Era muito melhor que tivesse feito isso, não necessariamente na minha casa, mas em um local com o conhecimento da imprensa. Agora, querer tirar o direito do Ministro da Justiça, que é de uma área política, de uma área delicada do Governo, de conversar é uma questão muito perigosa. A maneira como houve o vazamento é que precisa ser examinada.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Houve maldade.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Não é isso, Senador? Essa é a questão.

O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP) - Senador Heráclito Fortes, conversei com o Dr. Paulo Lacerda logo em seguida à divulgação da matéria. Ele me disse que o Ministro comunicou-lhe que houve a reunião, mas que, em hipótese alguma, interferiria no inquérito aberto e em andamento. Essa foi a informação que me deu tranqüilidade. As apurações vão continuar. O Dr. Paulo Lacerda disse que não faria nenhuma concessão e que as investigações iriam se aprofundar, inclusive, se necessário, a Interpol seria usada para obter informações no exterior.

Antes de terminar, gostaria de agradecer ao Senador José Agripino a liderança de S. Exª para conosco. Hoje, dia do seu aniversário, espero que S. Exª tenha todas as alegrias da vida e que continue a nos dá o prazer de dirigir os trabalhos do PFL, com sua inteligência, com sua visão, com sua distinção no trato da coisa pública e da política nacional.

Parabéns, Senador José Agripino.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/05/2006 - Página 17770