O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Efraim Morais, pediria a gentileza do Senador Heráclito Fortes, se não for muito, de entregar este documento ao Senador Antonio Carlos Magalhães, pois preciso “matar a cobra e mostrar a cobra morta”. (Pausa.)

Sr. Presidente, Srª Líder Ideli Salvatti, o Senador Antonio Carlos Magalhães acabou de desafiar qualquer Senador do Partido dos Trabalhadores a demonstrar para ele que qualquer recurso do Governo Federal tenha sido gasto em Salvador. Acabo de passar ao Senador Antonio Carlos Magalhães o último dado obtido pela Internet, demonstrando que, em Salvador, são cerca...

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Isto aqui é obra?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Não, estou falando recursos gastos...

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Ora, isso até desmoraliza V. Exª!

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Não, estou falando de recursos. V. Exª nos desafiou a demonstrar que o Governo Federal tenha realizado qualquer gasto em Salvador.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Ora!

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Então, um tipo de gasto que constitui um...

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Peço para falar pelo art. 14, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PB) - Em seguida V. Exª utilizará o tempo, Senador Antonio Carlos Magalhães.

Com a palavra o Senador Eduardo Suplicy.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Um tipo de gasto importante refere-se ao dado mais recente sobre o número de famílias beneficiárias do Bolsa-Família no Município de Salvador, capital da Bahia, que é próximo a 100 mil, beneficiando, aproximadamente, 400 mil pessoas, um número significativo em uma população de cerca de 2,8 milhões pessoas que vivem na periferia.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Até nisso V. Exª não é original, porque se trata de fruto do meu projeto de combate à pobreza.

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PB) - Senador Antonio Carlos Magalhães, a palavra está garantida ao Senador Eduardo Suplicy. V. Exª utilizará da palavra, imediatamente após, pelo art. 14.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - O Senador Antonio Carlos Magalhães sabe perfeitamente o quanto reconheço, inclusive no meu livro Renda Básica de Cidadania, que ele é o autor, sim, do Fundo de Combate à Pobreza, que hoje se constitui na fonte principal de financiamento de programas de transferência de renda, como é o caso do Bolsa-Família. Reconheço isso, como sempre reconheci. Sei que isso é fruto do esforço de muitas pessoas, inclusive de S. Exª.

Mas, Sr. Presidente, quero assinalar algo importante relativamente a dois fatos de enorme relevância. Primeiramente quero falar sobre os episódios ocorridos na Grande São Paulo, sobretudo na minha cidade. Ontem, o Governo do Estado de São Paulo informou que, das 110 mortes ocorridas naquele dia de tragédia, 31 não têm ligação com o Primeiro Comando da Capital.

Inclusive, quero assinalar que hoje, na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa, presidida pelo Senador Cristovam Buarque, foi aprovado um requerimento da Senadora Ideli Salvatti, do Senador Sibá Machado e outros Senadores do Partido dos Trabalhadores, subscrito pelo Presidente Cristovam Buarque, que solicita a criação de uma Subcomissão de Senadores membros da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa para, oficialmente, acompanhar os procedimentos para proteção social e policial dos familiares dos agentes da força pública assassinados ou feridos no terrível episódio, acompanhar a identificação e verificação das condições da morte dos suspeitos de participação nos atentados e acompanhar a situação dos presídios de São Paulo após as rebeliões que tomaram conta do Estado.

Transmiti ao Senador Cristovam Buarque que aceito participar dessa comissão que irá a São Paulo. Ele ficou de dialogar com os demais membros a fim de nos organizarmos para acompanhar esse episódio.

Senador Cristovam Buarque, achei muito positivo que o Presidente Lula tenha se deslocado a São Paulo para dialogar diretamente com o Governador Cláudio Lembo, assim como também, seguindo sua orientação, o fato de o Ministro Márcio Thomaz Bastos ter ido, por duas vezes, a São Paulo para dialogar com o Governador Cláudio Lembo.

Estive presente no ato ecumênico realizado na segunda-feira da semana passada, quando mais de 12 denominações religiosas ali presentes se mostraram solidárias aos policiais e bombeiros mortos, assim como toda a população. Acho muito importante termos um espírito suprapartidário, como há pouco nos falava o Senador Jefferson Péres, para tentarmos resolver o problema.

Senador Jefferson Péres, quero agradecer-lhe a proposta que V. Exª fez, ao encerrar o seu pronunciamento, para que os candidatos a Presidente abracem algumas propostas consensuais.

Felizmente, a Renda Básica de Cidadania é projeto aprovado no Senado e fica a critério do Poder Executivo instituí-la no momento que considerar adequado, levando em conta a Lei de Responsabilidade Fiscal, inclusive como um prolongamento, um amadurecimento do Programa Bolsa-Família.

Senador Cristovam Buarque, seria importante que V. Exª pudesse conduzir os trabalhos dessa subcomissão formada pelos membros da Comissão presidida por V. Exª, para acompanhar, em São Paulo, os esforços de todos, do Município, do Estado e da União, a fim de resolvermos o problema premente, inclusive acompanhar as averiguações.

Elogio também a decisão do Procurador-Geral de Justiça do Estado de São Paulo, Rodrigo Pinho, que demandou das autoridades do Governo estadual, do Secretário de Segurança, do Comandante da Polícia Militar, do Secretário de Assuntos Penitenciários e do Governador Cláudio Lembo, todas as informações sobre o número de mortos e as circunstâncias, para que, se abuso houve, admitido até nas palavras do Governador Cláudio Lembo, todos se empenhem para que nunca mais se cometa barbárie contra barbárie, conforme V. Exª assinalou.

Concedo um aparte, com muita honra, ao Senador Cristovam Buarque.

O Sr. Cristovam Buarque (PDT - DF) - Senador Eduardo Suplicy, agradeço que tenha tomado a iniciativa de lembrar e dizer ao Brasil inteiro da decisão que a Comissão de Direitos Humanos tomou hoje. Recebemos um requerimento assinado pelo Senador Sibá Machado e por outros Srs. Senadores, inclusive por V. Exª, que fiz questão de subscrever, porque creio que não podemos ficar alheios ao que aconteceu em São Paulo. Não podemos deixar de nos manifestar contra aquilo que os terroristas fizeram nem contra o que policiais cometeram - a barbárie não justifica a barbárie. Para a comissão já convidei o Senador Romeu Tuma e a Senadora Heloísa Helena. Pedirei ao Senador Jefferson Péres que indique alguém para representar o PDT e espero que haja representantes do PFL, do PSDB e do PMDB, a fim de que tenhamos uma comissão ampla que possa apurar e dizer ao Brasil inteiro o que vimos em São Paulo, para protegermos as famílias dos policiais mortos e, sobretudo, para denunciarmos os crimes que foram cometidos depois em nome da vingança, não em nome da justiça.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Cristovam Buarque. Espero que os trabalhos dessa comissão sejam extremamente produtivos e desejo colaborar intensamente.

         Quero agora, Senador Antonio Carlos Magalhães, falar de algo da Bahia e formular um convite a todas as Srªs Senadoras e Srs. Senadores, inclusive a V. Exª. Assisti, na sexta-feira passada, à estréia de “Os Sertões: O Desmassacre”, a quinta e última parte do espetáculo de teatro apresentado pelo Teatro Oficina, dirigido por José Celso Martinez Corrêa.

Trata-se de algo de extraordinária relevância, inclusive para os jovens brasileiros, como também pessoas de nossa idade, porque constitui um estímulo formidável para que todos nós venhamos conhecer a obra clássica, Senador César Borges, de Euclides da Cunha, Os Sertões.

Quando se começa a ler essa obra, muitos dizem que o livro é difícil. Mas, cada vez que se começa a ler, percebe-se a extraordinária qualidade desse escritor fantástico que, ainda moço, teve a coragem de sair de São Paulo, designado por Júlio Mesquita, do jornal O Estado de S.Paulo, para ir de navio a Bahia e descrever com detalhes: primeiro, a terra, todas as características do sertão baiano, de uma maneira...

(Interrupção do som.)

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PI) - Senador Suplicy, este Presidente concederá mais um minuto a V. Exª, para concluir o seu pronunciamento.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Logo agora que entrei em “Os Sertões”?

O SR. PRESIDENTE (Efraim Morais. PFL - PI) - V. Exª está no descobrimento do Brasil, demora um pouco, mas....

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Apenas uma ligeira tolerância para dizer que, inclusive, o espetáculo “Os Sertões” é constituído de cinco partes: as duas primeiras são “A Terra” e “O Homem”. Aí está aquela parte memorável e tão famosa de Euclides da Cunha, para que todos entendamos por que ele diz que “o sertanejo é antes de tudo um forte”. Depois, “A Luta”, na primeira parte e, agora, na segunda parte, o “Desmassacre”, em que se mostra como, infelizmente, ocorreu outra barbárie em 1897, quando o Exército Brasileiro resolveu simplesmente dizimar aquela vila de Canudos, que tinha 5,2 mil casas, cerca de 25 mil pessoas, tendo sobrado, ao final, apenas quatro pessoas para dar o seu testemunho. E ali está muito bem representada pelo próprio José Celso a figura de Antônio Conselheiro, que havia lido Utopia, de Thomas More e quis conceber uma aldeia, um vilarejo que pudesse se organizar em formas mais cooperativas, sob o signo da liberdade, igualdade e fraternidade, que inclusive havia entusiasmado todos os que acompanharam a Revolução Francesa de 1789.

(Interrupção do som.)

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Há uma parte extremamente interessante porque são 60 pessoas no elenco, entre as quais 20 jovens, meninos e meninas, de 9 a 18 anos, moradores do Bexiga, do bairro Bela Vista, que aprenderam a fazer teatro.

Espero que em breve, os baianos, os Senadores Antonio Carlos Magalhães, César Borges e Rodolpho Tourinho, possam assistir ao espetáculo, pois terão vontade de convidar José Celso para ir à Bahia se apresentar, quem sabe, ali em Canudos.

Infelizmente, em 1969, as Forças Armadas Brasileiras e o Exército, talvez até para tentar apagar a memória do que foi o massacre, resolveram inundar o que era antes a cidade de Canudos e fizeram uma nova ali do lado. Portanto, fica difícil representar Os Sertões onde realmente era Canudos, porque o local virou um lago. Mas é um lugar na Bahia.

Recomendo a todos que o assistam, mesmo que seja longo. É preciso estar descansado, porque o espetáculo começa às 6 horas da tarde e termina à 1 hora e 30 minutos. Mas podem estar certos de que é um espetáculo memorável.

Todos do Grupo Oficina merecem os cumprimentos. Peço a gentileza de se transcreverem os comentários da avaliação crítica de Beth Néspoli, do jornal O Estado de S. Paulo, assim como a Ata da Assembléia Geral do Teatro Oficina Uzyna Uzona.

Concluo, Sr. Presidente, transmitindo o convite feito por José Celso Martinez Corrêa e todo o seu elenco para assistir à peça “Os Sertões: O Desmassacre, Último Capítulo”, numa homenagem a ele próprio, a fim de que resulte desse encontro uma harmonização para que todo quarteirão do Teatro Oficina seja harmonizado, o grupo do teatro se abra para construir o Teatro Estádio e possam os moradores de São Paulo e de todo o Brasil abraçar a idéia inspirada por Oswald de Andrade, Lina Bo Bardi, José Celso, Maurício Drummond e todo seu elenco, vendo um dia o teatro com o amor que o povo brasileiro tem pelo futebol num teatro-estádio.

Portanto, Senador Efraim Morais, V. Exª poderá assistir ao espetáculo “Os Sertões”, pois vai apreciar muito.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador Heráclito Fortes, será bem-vindo lá.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Parabenizo V. Exª pelo discurso fantástico que profere. Começou com pão, que é o Bolsa-Família que anunciou aqui, para Salvador - entretanto, com R$ 90 mil, não se mata a fome de ninguém -, e terminou com circo.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Cem mil famílias.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Portanto, parabenizo V. Exª e elogio José Celso. O objetivo do pronunciamento de V. Exª foi completamente entendido pela Nação: ou pão, ou circo. Muito obrigado.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Obrigado.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Sr. Presidente, Senador Efraim Morais, peço-lhe um minuto apenas para apartear o Senador Eduardo Suplicy.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Com muita honra, ouço o Senador César Borges.

O Sr. César Borges (PFL - BA) - Não poderia deixar de elogiar o conhecimento da História nacional, aqui demonstrada pelo eminente Senador Eduardo Suplicy. Realmente fiquei encantado com seu conhecimento. Gostaria que o Sr. Presidente lhe concedesse mais tempo para descrever Os Sertões, de Euclides da Cunha, mas, lamentavelmente, o Presidente está sendo muito rígido com V. Exª. Dessa forma, em outra oportunidade, com certeza, vamos ter essa sua demonstração de conhecimento da nossa História.

Com muita satisfação, quero assistir à encenação desse episódio e seria muito interessante se pudesse ser feito na Bahia ou mesmo em Canudos.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Senador César Borges, com certeza, será apresentado em Salvador e, quem sabe, em Canudos e, então, vamos assistir juntos. Li diversos trechos, mas quero ler inteiro o livro Os Sertões, estimulá-los a ler porque fiquei estimulado ao assistir à peça e daí, então, fazer mais um pronunciamento sobre Euclides da Cunha, Os Sertões e o Teatro Oficina.

Muito obrigado.

********************************************************************************* DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU DISCURSO.

(Inseridos nos termos do art. 210, I e do § 2º do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Oficina de resistência” - Beth Néspoli (O Estado de S.Paulo)

Ata da Assembléia Geral Ordinária da Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona.