Discurso durante a 61ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Considerações ao pronunciamento da Senadora Ideli Salvatti. Críticas às declarações do Presidente Lula e Tarso Genro sobre violência no país. Protesto às críticas do Ministro Tarso Genro, ao candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EXPLICAÇÃO PESSOAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Considerações ao pronunciamento da Senadora Ideli Salvatti. Críticas às declarações do Presidente Lula e Tarso Genro sobre violência no país. Protesto às críticas do Ministro Tarso Genro, ao candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin.
Publicação
Publicação no DSF de 25/05/2006 - Página 18126
Assunto
Outros > EXPLICAÇÃO PESSOAL. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • REITERAÇÃO, CRITICA, INCOMPETENCIA, GOVERNO FEDERAL, INDICAÇÃO, DIRETOR, AGENCIA, AVIAÇÃO CIVIL, DESCUMPRIMENTO, LEGISLAÇÃO, NECESSIDADE, DIPLOMA, CURSO SUPERIOR.
  • CRITICA, ATUAÇÃO PARLAMENTAR, LIDER, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), QUALIDADE, ADVERSARIO, ORADOR, ESPECIFICAÇÃO, DENUNCIA, AMEAÇA, INTEGRIDADE, FAMILIA.
  • ESCLARECIMENTOS, DECLARAÇÃO, ORADOR, DEFESA, FAMILIA, OPOSIÇÃO, AMEAÇA, MEMBROS, GOVERNO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MANIPULAÇÃO, OPINIÃO PUBLICA, AUTORITARISMO, REPRESSÃO, IMPRENSA, DEFESA, ORADOR, DEMOCRACIA, LIBERDADE DE EXPRESSÃO.
  • REPUDIO, DECLARAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, SECRETARIA DE COORDENAÇÃO POLITICA E ASSUNTOS INSTITUCIONAIS, ACUSAÇÃO, GERALDO ALCKMIN, CANDIDATO, PRESIDENCIA DA REPUBLICA, NEGOCIAÇÃO, COMANDO, CRIME ORGANIZADO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DESCUMPRIMENTO, PROPOSTA, AMPLIAÇÃO, DEBATE, BENEFICIO, PAIS.
  • ESCLARECIMENTOS, ATUAÇÃO, BANCADA, COLABORAÇÃO, PAUTA, VOTAÇÃO, OMISSÃO, LEITURA, MEDIDA PROVISORIA (MPV), ELOGIO, TRABALHO, SENADO.

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DISCURSO PROFERIDO PELO SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO NA SESSÃO DO DIA 17 DE MAIO DE 2006, QUE, RETIRADO PARA REVISÃO PELO ORADOR, ORA SE PUBLICA.

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O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Para uma explicação pessoal. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, sobre esse episódio do Sr. Barth, continuo entendendo que há uma brutal confusão neste Governo, porque a ninguém é dado o desconhecimento da lei. Se ele tem diploma, mas não serve para atuação no Brasil neste momento, é a mesma coisa que não ter diploma. Continuam nomeando as pessoas inadequadas, sabe-se lá com que motivações políticas.

Sr. Presidente, gostaria de me dirigir à Líder do PT, Senadora Ideli Salvatti, de maneira direta, se a Senadora me desse a honra de me ouvir. Tenho por norma, Senadora, ser muito claro na minha forma de agir. Não fico no “alguém disse”. Eu nomeio o alguém. Se o alguém se chama Ideli, é Ideli. Se se chamar Mercadante, é Mercadante. Se se chamar Lula, é Lula. Não digo: “um Presidente que...” Eu digo: “o Presidente Lula”. Se eu conhecer algum peculatário com o nome de fulano de tal... V. Exª tem o hábito até de argüir quem não citou nome, hábito de procurar o que me parece um escapismo muito claro. De repente: “Não citei”, mas deu o tamanho, a cor do cabelo, enfim, e se refere, não raro com malícia, a episódios que ficariam muito melhor em V. Exª, a meu ver, se V. Exª fosse direta, até mais contundente, mas com aquele traço da lealdade que me faz, sem dúvida alguma, ter admiração por certo tipo de adversário, aquele adversário que me enfrenta, aquele adversário que não vai pelos becos, aquele adversário que é claro, aquele adversário que me diz o que não está gostando em mim com toda a nitidez. Esse adversário, por incrível que pareça, e não é masoquismo, esse adversário me prende afetivamente.

Tenho procurado, pela quinquagésima vez, manter com V. Exª um relacionamento bom. Eu tenho tentado isso, e V. Exª tem sido testemunha disso. V. Exª sabe em que circunstâncias eu me referi daquela maneira ao Presidente da República, e V. Exª diz que eu pedi providências e depois não voltei ao assunto.

Fui procurado pelo Ministro Márcio Thomaz Bastos, que me disse que não havia nada contra um cidadão que estaria arrolado no caso e que estranhamente habita aquele quarto andar ou terceiro andar do Palácio do Planalto - eu não me espanto com nada, é lá o lugar onde habitava um outro espécime chamado Waldomiro Diniz. Então, lá habitaria a figura que teria arquitetado a ameaça à pessoa da minha família. Eu reagi.

Estava aqui uma figura estimada por mim, e sabe disso o Senador Tião Viana, uma colega sua, e, no momento em que estava sentada aqui, não estava se portando como Presidente da Mesa, estava se portando como petista. E como petista ela olhava para um lado, olhava para o outro, jogava o cabelo para trás, o cabelo para frente, e eu digo: “Por favor, é a denúncia de um Senador que sente a integridade de sua família ameaçada”. Esse é o dado.

A partir daí, eu disse: “Se este Governo está mandando isso acontecer, sou capaz de tomar providências pessoais”. E aí eu me referi a dar uma surra em cada um dos meliantes, porque era meliante o tipo de gente que estava lá fazendo isso. Longe de me assustar, ele me coloca mais em posição de luta.

Ela continuou e eu disse: “Senadora, trate com respeito a denúncia que traz um colega seu”. Ela continuou e eu disse, até porque não posso admitir isso. Se há ameaça real a um filho meu, ninguém escapa da minha reação, ninguém!”. Ela continuou e eu disse: “Nem o Presidente da República!”. “Eu sou capaz de fazer isso com o Presidente da República!”. Na hora, choveram declarações de apoio. Declarações de compreensão. Por quê? Eu vou esclarecer a V. Exª: O Presidente da República não tem o direito de patrocinar corrupção; o Presidente da República não tem o direito de patrocinar o esmagamento da voz de Boris Casoy; não tem o direito de patrocinar esse festival de oportunismo, que faz com que uma pesquisa do Datafolha mude o comportamento dele em relação a uma crise que ele supunha que fosse atingir apenas o candidato Alckmin, pela via do Governo, Alckmin e Lembo. E, de repente, atingiu a ele próprio - e em cheio -, segundo constatou o Instituto Datafolha. Ele não tem o direito de fazer nada disso! E ele não tem o direito de ameaçar a mim, não tem o direito de ameaçar a mim, de ameaçar minha família, de ameaçar ninguém que faça oposição a ele. Ele não tem o direito. Eu não posso, portanto, me curvar a uma certa patrulha que tenta vulgarizar essa reação. Uma reação forte de pai, uma reação forte de quem não é mesmo de levar desaforo para casa, uma reação forte de quem, por outro lado, tem uma consciência democrática muito arraigada.

Já concederei um aparte a V. Exª, com muito prazer. Estou sem nenhuma pressa. Acredito que a gente tem mesmo que parar com essa estória de acabar, de cinco minutos para cada um. É tocar até meia-noite mesmo. Então, vamos lá. Mas já concederei o aparte a V. Exª. Deixe-me, primeiro, fazer o arrazoado básico.

O Presidente da República não tem o direito de ameaçar a integridade de ninguém. Não tem direito. Nem ele nem ninguém! Nem ele nem ninguém deste País; nem ele nem ninguém nesta democracia que, às vezes, ele tenta negar e que eu ajudei a construir junto com ele. Ele não tem o direito.

O Presidente da República pode, nos limites do que ele pode. Ele não pode além dos limites em que deve poder e que pode poder. Não pode! Mas V. Exª poderia perfeitamente ter feito o discurso sem fazer referência a isso. Poderia, exercendo o seu direito legítimo.

Eu consegui aqui ser duro. Não me referi de maneira desairosa a V. Exª em nenhum momento. Não toquei V. Exª no pessoal, em nada. Eu tenho tido com o Líder Mercadante debates muito mais duros do que o de hoje e tenho por ele uma estima muito significativa, uma convivência pessoal muito boa, uma convivência pessoal muito fraterna. Eu não me referi a V. Exª em nenhum momento. Em nenhum momento eu a atingi, em nenhum momento eu atingi quem quer que fosse aqui. Em nenhum momento eu fiz picuinha com quer que fosse.

Quando eu disse, Senador Eduardo Suplicy, que o Presidente da República, lendo a pesquisa de maneira oportunista e negando a mão estendida que todos fazíamos uns aos outros, ou devíamos fazer uns aos outros, para cuidar para valer da questão da segurança pública neste País, eu dizia, digo, repito e direi: portou-se como um anão político sim, porque não se portaria assim Charles de Gaulle, não se portaria assim Getúlio Vargas, não se portaria assim Lord Chamberlain, não se portaria assim ninguém que tivesse efetiva noção do que significa ser um Chefe de Estado.

Isso é ofensa ao Presidente? Não. Alguém pode dizer que ele é um gigante. Não deve faltar gente que diga que ele é um gigante. Eu não estou proibindo ninguém de porventura o bajular. Eu não quero censura a minha expressão política. Não quero censura! Para mim, o Presidente da República se comportou como um anão, Senador Antonio Carlos. Como um anão! Anão político, anão cívico, porque ele não compreendeu que esse momento não era de contar votos, mas momento de ele perceber que não há governabilidade para o próximo presidente, seja ele quem for, se não enfrentarmos conjuntamente, numa reação de país, o crime organizado que desafia as instituições que aí estão.

Não partiu da Oposição a primeira pedra. Hoje, sou surpreendido com a declaração do Ministro Tarso Genro. Fui aqui até admoestado pelo Senador Tasso Jereissati e pelo Senador Antonio Carlos Magalhães, porque tentei ser soft com o Ministro Tarso Genro. Ainda cheguei a tentar dizer que ele era a figura mais ajuizada do Governo e fui convencido de que a ele estava faltando completamente o juízo, a ser verdade que ele deu essas declarações. Declaração maliciosa, pérfida, falsa; declaração que procurava colocar Alckmin em contato com o que seria o crime organizado. E alguém que se apressa a negar que tenha havido implicações delinqüentes desse Governo com uma enorme tranqüilidade, mas que, de repente, acredita que é verdade que uma advogada, com cara de passadora de celular para Fernandinho Beira-Mar, estivesse falando absolutamente a verdade. Essa incoerência é intolerável.

Trouxeram aqui o Toninho Barcelona, mas o que aquela advogada disse é verdade. Se aquela advogada disse, então Lembo negociou; se aquela advogada disse, então é verdade que, porventura, tenha o Sr. Cláudio Lembo praticado o gesto de se render ao Primeiro Comando da Capital.

O Ministro foi malicioso, se é verdade o que ele disse. O Ministro disse: “...o Governador Alckmin” - e ele não é mais governador, ele quer ser presidente da República, é o objetivo claro dele - “negociou com o crime organizado”. Isso é o que foi dito. Eu tomei um choque!

E ainda vem a outra notícia, que me chegou pela minha assessoria - disseram-me que de dois ou três dias atrás, não me importa, só li hoje. Aqui diz que ele considera que Lula tem plena governabilidade - e eu considero pessoalmente que não tem. E eu não estou dizendo que um certo presidente não tem. Estou dizendo que o Presidente Lula não tem capacidade de oferecer uma governabilidade decente para o País, porque o PT vai sair das urnas com metade dos seus quadros; não tem porque vai ter que governar com mensaleiros que não sabem governar sem mensalão; não tem porque não consegue mais conversar de maneira altiva com a Nação. Ele diz que tem, e é o direito dele. Eu insisto que não tem. O povo vai decidir. Se quiser, que teste.

Agora, ele diz que Alckimin não tem, porque vai gerenciar um governo de centro-direita. Não quero entrar nessa conversa de grêmio estudantil com o Ministro Tarso Genro, Senador Jorge Bornhausen, e não tenho tempo para isso. Se ele ficar só nisso, eu diria: “Por favor, eu tenho um filho de 14 anos que gosta dessa conversa de grêmio estudantil, embora o meu filho já esteja muito além dessa conversa de direita ou esquerda”. Nesse mundo globalizado, nesse mundo unipolar, ainda tem gente terceiro-mundista. É o fim da picada mesmo!

Até aí ele pode dizer à vontade que o bom é ser de esquerda, que ruim é ser de rebola, que o bom é ser de centro-esquerda, que o péssimo é ser de carambola, pode falar o que ele quiser. O que ele não poderia ter falado, depois de ter vindo ao meu gabinete pedir para que mantivéssemos um diálogo alto - e me dispus a isso e, quando me comprometo com as coisas, eu cumpro -, pedir que nós evitássemos essa coisa de família - evitar essa coisa de família é evitar falar do dinheiro da Telemar na Game Corp -, dizendo que não falaram também do filho do Alckimin. Ele estava se referindo àquela empresa cretina, ridícula, de R$500,00 por mês para o filho do Alckimin e para a pobre coitada da sócia lá.

Eu disse: “Tarso, eu tenho ojeriza a falar nesses assuntos”. E sabe disso o Senador Tião Viana. E sabe disso o Senador Aloizio Mercadante. E sabe disso todo mundo que me conhece mais profundamente. Sabem que, toda vez que eu tive a necessidade e até a pressão de meus companheiros de Partido para atacar esses assuntos, eu, todas as vezes, procurei até atingir mais diretamente a figura do Presidente, até para não tocar nessas figuras colaterais a ele, porque é um preconceito meu. Aí diria Tarso Genro: “Pequeno-burguês”. Quem sabe, meu prezado esquerdista Tarso Genro, pequeno-burguês sim, mas não fiz. E ele vem e diz, Senador José Agripino, que Alckmin não governa, e dá uma razão profunda que merece uma tese de doutoramento, mas só se for em psicanálise: alguém examinando o Ministro. O Ministro diz que Alckmin não consegue controlar o guarda-roupa da sua esposa, que andou ganhando uns presentes de um estilista.

Ainda agora me falou um jornalista experimentado: ”Não repete isso, porque é ruim você repetir. Se você repetir, fica ruim para o Alckmin”. Então, eu vou repetir dez vezes, quinhentas vezes, porque eu não tenho nenhuma mentira para colocar para a Nação brasileira. Eu não tenho nenhum marqueteiro dizendo para mim se eu devo comer sanduíche assim ou assado, se eu devo pentear o cabelo de um jeito ou de outro. Eu não tenho nada a esconder mesmo e não vou esconder nada de quem quer que seja.

Eu já disse aqui, considerei um equívoco a Srª Lu Alckmin ter recebido isso. Mas disse também que isso já foi autocriticado, que já significou uma punição enormemente forte para o Governador Alckmin. E não tem nada a ver com Valério, não tem nada a ver com falcatrua, não tem nada a ver com a quadrilha denunciada pelo Sr. Antônio Fernando, de quarenta ladrões que ocupavam posições-chave neste Partido e neste Governo.

Muito bem, eu não consigo não ser frontal. Não consigo. Registro aqui a minha decepção em relação ao Ministro e à Líder. Para mim - e quem sou eu para aconselhar quem quer que seja - é escolher um caminho, o caminho da franqueza para com seus colegas, o caminho da lhaneza para com seus colegas, o caminho de aprender a respeitar um adversário, o caminho de aprender a saber que adversário é algo para ser prezado, até porque não estamos em guerra, e até quando se está em guerra se sabe negociar com adversário valoroso, reconhecer quem é o adversário valoroso, reconhecer quem é o adversário que pode ser confiável, estimular a relação com esse adversário, e não imaginar que todo adversário é alguém para ser ferido num suposto ponto fraco. E eu não fui ferido em ponto fraco algum até porque eu digo a V. Exª:: os seres humanos neste País, no meu desejo, no meu sonho, são intocáveis nos seus direitos inalienáveis, e meus filhos são intocáveis, porque eu não permito que toquem neles! É bom que isso fique bem claro para quem quer que seja! Ou vai pedir que eu repita? Ou acha que eu não sou de repetir? Ou acha que eu estou profundamente arrependido e que não repetiria?

É uma encruzilhada, Srª Líder. O posto que V. Exª ocupa é espinhoso. V. Exª precisa da compreensão e do trânsito entre os seus colegas; V. Exª precisa da compreensão e do trânsito entre os seus colegas da Oposição; V. Exª precisa mais do que uma certa solidariedade, até burocrática, dos seus companheiros valorosos. Precisa saber que nesta Casa não tem vida política muito longa aquele que não consegue cumprir seus compromissos; aquele que não consegue respeitar seus desiguais; aquele que não consegue ser franco e honesto com seus iguais. Eu percebo o momento como uma encruzilhada.

De V. Exª eu tenho recebido sempre certa carga de decepção. Entra caso e sai caso, e eu digo “Puxa vida, fui injusto com a Senadora. E vamos começar vida nova.” Aí, de repente, há alguma coisa sempre pessoal. E não sou eu que digo. Estou dizendo de frente para V. Exª, estou dizendo de frente, Senadora Ideli, estou dizendo de frente. Outros estão dizendo e têm a mesma coragem que eu ou até mais - outros têm a mesma coragem que eu ou até mais - mas não tiveram talvez a ocasião ou a necessidade de dizer isso a V. Exª. Hoje mesmo - não temos o que esconder, vamos acabar com essa brincadeira aqui de gato e rato - o Senador Tasso Jereissati. V. Exª falou alguma coisa aqui, e S. Exª falou “Meu Deus, ela não muda nisso. Ela não muda. Ela continua com essa história.”

            É perceber, Senadora, que este adversário atacou o Presidente Lula como achou que devia. É meu dever fazê-lo até porque eu não posso admitir que alguém brinque com a segurança pública neste País! Não ataquei V. Exª. Vim aqui para interpelá-la. Vim aqui para dizer que me senti ofendido não pela tolice do argumento; eu me senti ofendido pelo afeto que eu estava começando a lhe devotar, pela certeza de que de V. Exª eu poderia esperar lealdade; pela certeza de que de V. Exª eu poderia, daqui para a frente, esperar combate, combate duro. Saiba que o combate, para mim, tem de ser duro; não pode ser de outra forma. Mas, se a escolha é outra, o que vou fazer eu?

Eu vou dizer uma outra coisa para V. Exª. Fui aconselhado por quinhentas pessoas: “Não vai”. Disseram que seria um up grade para V. Exª. Acho que não. Sou um humilde Senador; V. Exª é Líder de um Partido tão relevante, o Partido do Governo. V. Exª, tem, a cada momento, que negociar conosco. “Aprova isso, não aprova isso, coloca aquilo”. Eu estou aqui, procurando, o tempo inteiro, exercitar o que aprendi no Parlamento: a arte do combate duro, leal e a arte da lealdade. Portanto, saiba que é absolutamente desonesto alguém tentar descontextualizar o que eu havia dito naquele momento. É desonesto! Mais desonesto do que isso é alguém ameaçar a integridade de algum membro da minha família. Desonesto é alguém imaginar que pode desrespeitar o Estado de Direito que o seu Presidente, eu e tantos outros ajudamos a construir. Isso é muito desonesto. Portanto, não tenho por que me defender de algo que não foi crime nenhum. Eu não estava no BMG, na lista do Banco Rural, na Operação Sanguessuga. Eu não estava em nada disso e não preciso me defender.

Vim dizer a V. Exª isto e estamos todos aqui, parados, ouvindo. Mas V. Exª saiba que eu sou uma pessoa incapaz de guardar mágoa de quem quer que seja. As minhas explosões e as minhas queixas às vezes não duram - quem diz isso é o seu Líder Aloizio Mercadante - não duram o passar de uma noite. Eu estou sempre disposto a recomeçar. Se V. Exª quiser efetivamente recomeçar uma relação comigo, uma relação séria, fundada na lealdade, nunca mais espere que eu saia de plenário para se referir a mim. Refira-se duramente citando o meu nome. Eu estarei aqui, saiba que com o brilho da admiração nos olhos porque respeito quem me enfrenta e procuro me dar ao respeito enfrentando todo aquele que julgo que mereça ser enfrentado. Vim lhe falar de todo o coração, de toda a franqueza e como alguém que sinceramente acredita que este Parlamento pode ser o da convivência.

Vamos esclarecer, finalmente, Senador Leonel Pavan, algo simples, para não ficarmos, Senador José Agripino, caindo em nenhuma cantiga.

Perguntou-me uma repórter de televisão: “A pauta está trancada?”

Já não me refiro mais a V. Exª, pode descansar.

“A pauta está trancada por vocês, PFL, PSDB?”

Eu disse: Não.

“Então só porque o Ministro disse isso, a pauta está trancada?”

Eu disse: Não, não, não. A pauta está trancada pela histeria com que o Presidente Lula edita medida provisória. Só por isso.

“Ah, mas ia ser votado e não foi mais.”

Eu disse: Não, havia uma medida provisória na mesa para ser lida, e nós todos aqui, em suporte ao nosso colega Presidente Renan Calheiros e, sem dúvida alguma, pensando na governabilidade e, portanto, em auxílio ao Governo claudicante do Presidente Lula da Silva, nós todos aqui estávamos fingindo que não havia uma medida provisória na mesa para ser lida. O Ministro não precisava ter difamado ninguém, ter feito essa bobagem, atingindo uma senhora...

Juro que não falarei nada da Dona Marisa Letícia até o final da minha vida! É compromisso meu comigo. O Ministro faz essa tolice. Não precisava ter feito. Bastava, Senador Ramez Tebet, V. Exª, com sua autoridade moral, ter levantado e ter dito: Sr. Presidente, quero a leitura da medida provisória que está sobre a mesa. E a pauta continuaria trancada, não se votaria coisa alguma.

Então não é verdade que tenhamos paralisado as votações. É verdade que nós iríamos, é verdade que nós iríamos, é verdade que nós iríamos votar fazendo vista grossa para a medida provisória que aqui estava. Para quê? Para ajudar o Governo, de um jeito que o PT nunca ajudou o Governo passado; para ajudar o Governo, para fazer a governabilidade andar.

No momento em que alguém dissesse “leia a medida provisória”, acabaria toda a festa, acabaria tudo. Não precisaria , Senador Mão Santa, ninguém ficaria zangado com o Ministro Tarso Genro, nada. Bastaria ter dito “leia a medida provisória”. Fizemos isso 500 vezes. É bom a Nação saber que 500 vezes fingimos que não havia a medida provisória, Senador Flexa Ribeiro. Senador Rodolpho Tourinho, 500 vezes. V. Exª é testemunha disso. Agradecimento? Nenhum, nenhum, nenhum. Ao contrário, cansamos de aprovar medidas importantíssimas para o País e depois tínhamos de ouvir aquela cantilena enfadonha - não quero desrespeitar a sensibilidade do meu amigo Senador Eduardo Suplicy e usarei um adjetivo bem... - aquela cantilena enfadonha do “pela primeira vez neste País”, “há dez anos, não se fazia não sei o quê”, “foi preciso um metalúrgico chegar...”

O Presidente Lula é enfadonho com essa história e, muitas vezes, dando barretada com nosso chapéu. Nós aqui aprovamos medidas que antes o PT negava, quando o Governo anterior pedia aprovação de matérias, como, por exemplo, a Lei de Falências, que é tão boa para impulsionar o crescimento do País. E nós aqui fazendo esse papel.

Na primeira inauguração, ele se animava, e lá vinha a diatribe contra nós, e lá vinha o destempero contra nós, e lá vinha o desrespeito a nós, e lá vinha a falta de consideração. Jamais houve uma palavra de respeito à Oposição. Jamais, uma palavra de reconhecimento à Oposição. Jamais, uma palavra de autocrítica pela oposição sectária, tola, transtornada que fazia. Jamais, uma palavra séria para dizer: “Olha, eu reconheço que estou governando este País com a ajuda fundamental de uma Oposição que não obstaculiza os meus passos no Senado nem na Câmara”.

Senadores Eduardo Azeredo e César Borges, há medidas provisórias atravancando a pauta. Fora disso, não há nenhuma matéria em débito no Senado da República. O Senador Antonio Carlos Magalhães tocou feito um trator, a reunião da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, e aprovamos as matérias, em caráter terminativo, que agora estão sob a alçada da Câmara dos Deputados. Não devemos nada.

Não houve nenhuma palavra de respeito a nós. O Governo nos passa o tempo todo a idéia - e isso não se aplica a V. Exª, que é um homem cordial, Senador Sibá Machado, não se aplica ao Senador Tião Viana, não se aplica a figuras humanamente boas como V. Exª, Senador Eduardo Suplicy - de que quer nos triturar. Vou fazer outra confidência, em grupo. Estamos agora em uma sessão de psicanálise. O Presidente nos demonstra, com seus gestos, a cada momento - atitudes da Líder reforça a desconfiança que temos, que V. Exª tem, que eu tenho, Senador Antonio Carlos, que todos nós temos, Senador José Agripino -, de que quando o Governo está fraco é humilde e toda vez que se sente mais forte, a idéia que tem é a de nos triturar. A idéia que ele tem é a de nos eliminar. Parece-me que há uma dificuldade brutal de conviver com a perspectiva de uma Oposição forte, que ajude o Governo. Vou dar um exemplo que vem do Rio Grande do Sul, do Senador Pedro Simon, que era o grande Líder da Assembléia Legislativa do Estado. O MDB tinha maioria. A Arena era governada por um dos melhores homens públicos que conheci neste País. Chamava-se Synval Guazzelli. A Maioria, emedebista, foi essencial para que Synval Guazzelli compusesse aquele que, a meu ver, foi um dos melhores Governos da história do Rio Grande do Sul. Então, essa história de ter maioria ou minoria é tolice. Basta o respeito ao companheiro, basta o respeito ao adversário. Basta dignificar a convivência. E Guazzelli governou.

Nós, aqui, nunca impedimos o Presidente Lula de tomar os seus passos. Desafio alguém a me dizer o contrário. Sempre, no final, a paga é uma brutal injustiça. Sempre, no final, a paga é a tentativa de nos minimizar. A sensação que nos passam é a de que somos incômodos, de que se não existíssemos seria melhor, de que se não vivêssemos seria melhor!

Silenciaram o Boris Casoy. Ou não silenciaram o Boris Casoy? Eu quero ouvir o Boris Casoy. O que falta? Eu quero ouvir o Boris Casoy! Eu estou com saudades do Boris Casoy! Estou sentindo falta do Boris Casoy! Por que eu não ouço mais o Boris Casoy? Isso é ou não é tentativa de amordaçar a livre manifestação da imprensa, pela via sei lá de que convencimento? Para mim, tanto faz que tipo de pressão se faça sobre que tipo de órgão para se obter o resultado como esse. Eu estou com saudades do programa do Sr. Boris Casoy!

Não vou prosseguir, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. Creio que tudo o que tinha para dizer - perdoe-me, Senador Eduardo Suplicy, se falei demais - já foi dito.

Concedo um aparte a V. Exª.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Arthur Virgílio, pensei que V. Exª não fosse me conceder o aparte.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Não, não. Eu não faria isso nunca, porque a última coisa que eu faria na minha vida seria fugir do debate contra quem quer que seja.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Arthur Virgílio, eu poderia listar aqui - mas não vale a pena, no meu entendimento - pelo menos uma dúzia de adjetivos desrespeitosos que recebi neste plenário, como as principais figuras do Governo e do Partido vêm recebendo sistematicamente. Quando eu me referi, da tribuna, a essa questão e citei a ameaça da surra, citei nessa lógica.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Por que não deu o nome? Fulano de Tal. Tal hora, tal dia.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Arthur Virgílio, talvez eu tenha errado ao não ter citado o nome.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ficasse na sua linha, mas pela frente, se essa é a sua linha. A minha não é essa. A minha não é essa.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Arthur Virgílio, eu o ouvi com toda a paciência e calma.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - V. Exª será ouvida. Fique tranqüila.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Posso falar?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pode, pode e deve.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Posso, com toda a tranqüilidade.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Se não quiser falar, não fale. Se quiser falar, fale.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Não, não...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Se quiser mais ou menos... V. Exª é que sabe.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - O interessante é que, enquanto eu estava desenvolvendo essa linha de raciocínio, ou seja, de como este Plenário tem sido palco de pronunciamentos contundentes, adjetivos, falas que, no meu entendimento, tem ficado em várias situações acima do tom da razoabilidade e até do clima... Sempre me anunciaram determinado clima neste Senado que eu, talvez uma pessoa não com tanta sorte como outras, não consegui vivenciar. Poucas vezes conseguimos vivenciar um clima mais calmo no Senado. Aqui o clima está sempre muito aquecido. Mas, enquanto eu estava desenvolvendo esse raciocínio, fazendo referência ao clima em face de um assunto relevante como o da segurança, quando a população está aguardando medidas concretas, providências, parcerias, somatório de esforços, enquanto eu estava desenvolvendo esse raciocínio, eu estava ouvindo aqui a conversa dos representantes da imprensa, que estavam listando adjetivos que foram usados nesta sessão, hoje à tarde, como canalha e não sei mais o quê.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Não chamei ninguém de canalha.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Não estou dizendo que V. Exª o tenha feito.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA. Fora do microfone.) - Eu chamei.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Não estou dizendo que V. Exª chamou. Eu estava me referindo ao clima, ao tom, aos adjetivos, sem identificar as pessoas, porque não me interessava fazer o debate das pessoas. Interessava-me fazer o debate a respeito do clima, da situação que temos vivenciado há mais de um ano, de um clima aquecido permanentemente. E quando V. Exª foi à tribuna, antes que eu terminasse a minha fala, movido por algo que foram levar a V. Exª...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - O Senador Heráclito Fortes foi quem me disse e está aqui. Não tenho história de esconder. O Senador Heráclito foi quem me disse.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Nem poderia ter sido outra pessoa. Quero dizer que é também público e notório o posicionamento do Senador Heráclito Fortes com relação ao meu monitoramento, não digo cotidiano, é um monitoramento de minuto a minuto. Então, também não me surpreende. V. Exª não precisaria nem ter me dito, porque já estava com a impressão de que tinha sido por aí. Mas, Senador, quando V. Exª me perguntou se eu havia sido afrontosa, respondi de forma muito franca, porque não tinha nenhuma intenção de afrontar quem quer que seja, como não é, muitas vezes, o clima a que eu estava me referindo. A reincidência desse clima tem sido, sistematicamente, em vários momentos, no meu entendimento, afrontoso. E quando respondi a V. Exª que não tinha e pedi o testemunho, foi porque, em nenhum momento, eu quis afrontar quem quer que seja apesar de ter mencionado o clima afrontoso que, muitas vezes, aqui se vivencia. Quando V. Exª exemplificou com o que eu havia dito, confirmei que havia dito sim e lhe fiz uma pergunta, que quero repetir agora. Quando V. Exª fez aquele pronunciamento contundente, dizendo que estava vivenciando aquele momento de ameaça à sua família, várias pessoas tiveram oportunidade de se solidarizar com V. Exª, eu me solidarizei com V. Exª não naquele dia, porque eu não estava presente no momento em que V. Exª se pronunciou, mas, no dia seguinte - podemos resgatar as notas taquigráficas -, e disse que havia vivenciado momentos semelhantes, mas não corroborei com aquilo que V. Exª havia dito no sentido da ameaça da surra ao Presidente. Quando eu lhe perguntei - vou perguntar novamente - se houve a confirmação, se na investigação, se posteriormente... Quando V. Exª veio à tribuna, fez o contundente pronunciamento e disse que reagiria de forma física com qualquer pessoa que estivesse...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ameaçando a minha família? Então, repito: com qualquer pessoa, do primeiro, segundo, terceiro ou quarto sexo, qualquer pessoa.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Sim, com qualquer pessoa, mas V. Exª explicitou... Fiz uma pergunta da tribuna e quero repeti-la agora no aparte: em algum momento, ficou comprovada a participação do Presidente? Porque, veja bem, Senador Arthur Virgílio, se não ficou comprovada, do mesmo jeito que V. Exª me cobra não ter tido, talvez, a gentileza para com o senhor de, ao citar o fato, não ter citado o santo, eu acho que seria também injusto, da parte do Presidente, comprovadamente ele não ter tido qualquer participação, esse episódio tivesse pelo menos alguma referência no sentido de retirar o Presidente da ameaça que V. Exª, legitimamente, tinha todo o direito de fazer. Mas, não comprovada, também deveria ter tido, digamos assim, a coerência, no mínimo, de não permanecer com esse episódio pairando no ar. Agora, Senador, foi tão interessante porque o senhor falou dos meus procedimentos de não citar. Quando o senhor se referiu a quem presidia a sessão naquele dia do episódio, o senhor fez toda a descrição da nossa colega e não citou o nome da Senadora Serys. Então, só para que fique registrado, porque V. Exª fez uma acusação de não citar, mas o senhor também procedeu assim. Tive a oportunidade de, num assunto familiar, sair da CPI dos Correios e da CPI da Compra de Votos, em que estávamos ouvindo nada mais, nada menos do que o Sr. Daniel Dantas, e utilizei na minha fala, como exemplo, determinadas situações envolvendo pessoas da família de uma personalidade do seu Partido. Saí de lá e vim aqui, imediatamente, responder ao debate todo que estava colocado. Disse, de forma pública, que, caso qualquer tipo de palavra minha não fosse verídica, não tivesse a ver com a verdade, eu me prontificava a vir à Tribuna esclarecer e negar o que tivesse falado. Como essa situação não se concretizou, eu também não tratei mais do assunto. Houve oportunidades aqui que, de viva voz - e também posso resgatar as notas taquigráficas -, quando vieram a público situações de família - não só o Senador Mercadante, mas eu mesma tive a capacidade de reconhecer, de público, episódios nos quais V. Exª advogou e fez valer a opinião de que, em assuntos familiares, envolvendo pessoas próximas, da família, de autoridades, nós devemos ter muito cuidado. Registrei isso aqui de público...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Agradeço o reconhecimento.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - ...porque sei que V. Exª assim agiu em uma reunião do seu Partido, quando V. Exª enfrentou... Então, eu não tenho nenhum problema de fazer esse reconhecimento. Quando eu vim lá da CPI dos Correios e da Compra de Votos, na oitiva do Sr. Daniel Dantas, que foi uma oitiva extremamente conturbada, extremamente importante e que, infelizmente, não pôde ter até o aproveitamento adequado, por uma série de episódios, eu tive a oportunidade de dizer... E volto a dizer aqui: eu não vim para este Congresso para agradar nem V. Exª nem outros Parlamentares. Acho que o convívio tem de ser agradável. Eu procuro fazer com que o convívio seja agradável, mas a minha responsabilidade aqui não é a de agradar, é de cumprir com as minhas tarefas. E hoje, como V. Exª mesmo registrou, estou numa tarefa que, dado o clima, neste ano inteiro de permanente ataque ao Governo e a personalidades do Governo, não é simples exercer a tarefa de Líder do PT. Então, eu procuro exercê-la com dignidade, procuro exercê-la na responsabilidade que tenho. Tenho da parte da minha bancada o apoio para fazê-lo, até porque não é usual no Partido dos Trabalhadores se quebrar o sistema de rodízio. Eu não pleiteava. Provavelmente, o Líder ou a Líder do PT neste ano não seria eu, tínhamos até outros Parlamentares no debate. A Bancada, sem pleito da minha parte, a partir de todo o debate, entendeu que era adequado quebrarmos a regra do rodízio e, neste ano, eu voltar a exercer a Liderança da Bancada, coisa que me orgulha muito por parte dos meus companheiros do PT, companheiros do Partido, companheiros de Bancada. Então, volto a dizer que eu gostaria muito de retomar as boas relações com todos, não apenas com V. Exª, mas o respeito pela tarefa que cada um tem a desempenhar tem que ser exercido e desempenhado, agrade ou não agrade, em determinados momentos. Acho que V. Exª tem emitido sua opinião. A sua opinião é contundente, Senador Arthur Virgílio; é uma opinião que, muitas vezes, considero de uma “ofensividade” - não ofensiva no sentido de caráter moral, mas ofensiva no sentido de contundência, que é muito difícil de responder. Quero reconhecer de público que, muitas vezes, não me sinto à altura de fazer a resposta adequada, até porque sou uma recém-chegada neste cenário nacional. Enfrentar o que temos que enfrentar, em termos de personalidades que têm acúmulo, que têm história pelos papéis que já exerceram, para mim não é simples, não é fácil. Agora, em nenhum momento, faço de forma a desconsiderar, de forma traiçoeira, desrespeitosa. Um dia, V. Exª fez um contundente pronunciamento a respeito daquela questão de termos suspendido a sessão de homenagem sobre a auto-suficiência em petróleo, e, com toda calma, lhe respondi e tive da sua parte também uma resposta extremamente à altura da calma com que fiz toda a explicação do motivo e da forma como foi operacionalizado o adiamento da sessão da auto-suficiência. Então, quero deixar muito claro, Senador Arthur Virgílio, que não tem sido simples e nem fácil. Da minha parte, procuro fazer com dignidade, com respeito, mas procuro fazer aquilo que eu acredito, defendendo aquilo que eu comungo. Talvez a questão mais importante neste debate todo é que toda esta contundência, toda esta situação que vivenciamos há um ano praticamente, isto tudo chegue a um bom termo na urna e que a população possa avaliar. Acho que a população está muito atenta ao que nós estamos falando e fazendo. A população também, Senador Arthur Virgílio, tem memória. A população lembra da história de cada um de nós, avalia o que falamos pela história e pelo que tivemos oportunidade de desempenhar na política e nos cargos que ocupamos. Então, para que não pairem dúvidas, não estou me referindo a V. Exª. Agora, não vou citar nomes porque acho que não interessa citá-los. Mas tem muita contundência que a opinião pública faz o cotejamento com a história que cada um acumulou. Portanto, eu queria apenas dizer que continuo com a mesma opinião que dei na segunda, na terça e ao longo de toda esta quarta-feira. Aliás, opinião na qual tivemos muita consonância, tivemos muita coincidência. Houve momentos quando vários comentários, tanto carinho - não é? -, tanta confluência de opinião até nos faz desconfiar. Não é? Não tenho desconfiança, porque eu continuo com a mesma opinião e espero que V. Exª também continue. Que este assunto de segurança pública do episódio ocorrido em São Paulo, com a gravidade que ele tem, mereça de todos nós muita calma, muita ponderação. Não partidarizar, não transformar isso em cabo-de-guerra eleitoral. Precisamos encontrar soluções. É isso que a população brasileira exige e merece de cada um de nós.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Senadora.

Precisamente...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Já concedo, Senador. Só respondo à Senadora Ideli Salvatti.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Dentro do próprio...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Só responder. Um segundo só.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Pois não.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senadora Ideli Salvatti, foi precisamente o cabo-de-guerra eleitoral que eu identifiquei nas declarações do Presidente da República que me fez vir à tribuna e depois todo o aumentativo, toda aquela coisa superlativa que foi a manifestação infeliz do Ministro Tarso Genro. Mas eu vou ser bastante tópico. Eu peço a V. Exª que... V. Exª pareceu me pegar numa contradição. Se sou tão frontal, por que não citei o nome da Senadora?

Após a sessão, pergunte ao Senador Tião Viana, e o Senador Tião Viana vai lhe explicar por que eu não citei o nome da Senadora. O Senador Tião Viana vai lhe dizer por quê. É a Senadora Serys Slhessarenko. O Senador Tião Viana, mais do que ninguém, pode-lhe dizer por quê.

O SR. PRESIDENTE (Tião Viana. Bloco/PT - AC) - E a Senadora Ideli terá plena concordância com o que vou dizer.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Só um segundo, Senador Heráclito.

Quanto ao envolvimento do Presidente, eu não poderia mesmo comprovar além do que suspeitei. A pessoa que conversou com o cidadão de minha relação em Manaus, um dos líderes da Força Sindical local, quem contatou esse líder da Força Sindical, que é pessoa de minhas relações, foi uma figura que tem mesa no terceiro e no quarto andares do Palácio do Planalto - esqueço até o nome do cidadão. Eu deixei bem claro, não era para ter dúvida não: eu ia atravessar a rua e falar com ele. O Ministro Thomaz Bastos se antecipou. Eu ia sair daqui, ia atravessar a rua e ia lá falar com ele. Eu ia cobrar dele, sim, se ele tinha alguma coisa ou não - era só não terem providenciado nada - com ameaças à minha família. Ele teria que se explicar para mim, como homem mesmo, eu ia cobrar dele isso. Não tinha ninguém que me impedisse. Ninguém ali iria me impedir. Eu ia atravessar tranqüilamente, passar por aquelas coisas ali e ia cobrar dele. Eu optei por acreditar - até sem me convencer muito, Senador Agripino - nas explicações do Ministro Thomaz Bastos, que me disse, primeiro, que ele não tinha nada a ver com isso, e, segundo, que não havia nem de leve ordem do Presidente.

Fortunato atirou em Carlos Lacerda e matou Rubens Vaz. Sem dúvida, não foi ordem do Presidente Vargas, mas o fato é que aquilo degenerou naquela crise brutal de 1954. A verdade é que houve aquela situação policialesca.

Eu optei por minimizá-la, atendendo a um apelo - que ele não vai negar - do Ministro Márcio Thomaz Bastos. V. Exª pode, portanto, sob um aspecto, consultar o Senador Tião; sob outro, consulte o Ministro e ele vai lhe dizer se eu me sofreei, me refreei para atendê-lo ou se, pura e simplesmente, fui leviano de ter dito uma coisa e não ter voltado à carga.

Agora, vamos voltar para os nomes. O Sr. Dantas, que declarou junto com a irmã dele - se é verdade ou não, eu não sei...Eu não dei a menor força e V. Exª sabe disso. Essa história de conta de Presidente da República ou de conta de quem quer que seja. Eu não acredito nisso, enquanto eu não tiver a comprovação muito clara. Eu me reporto....

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Corroboro, Senador Arthur Virgílio. Com relação à reportagem da Revista Veja nessa questão das contas, o posicionamento de V. Exª foi muito claro e franco, inclusive se reportando a episódios assemelhados e semelhantes...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - O caso Cayman.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - O caso Cayman, em que o posicionamento do Presidente Lula, à época...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Exato. E o do seu Partido.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - ..foi equivalente ao de V. Exª.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Diferentemente daquele episódio das listas falsas de Furnas, que me levaram a ter um atrito, que considero superado, com o Ministro Thomaz Bastos. Porque eu dizia: “Ministro, diga de uma vez que a lista é falsa. V. Exª sabe que a lista é falsa. Então, diga de uma vez que a lista falsa é falsa. Diga de uma vez que o que o falso é falso. Não fique com essa história de deixar pessoas com o seu nome zanzando na água parada da suspeição”.

A lista é falsa. Muito bem. O que eu queria mesmo era averiguar as declarações da Srª Verônica Dantas e do Sr. Daniel Dantas - que confirmou isso para o Sr. Mainardi - sobre a tal extorsão. Não precisa vir aqui. Ou seja, se ele é um chantagista, tem de pagar por isso. Se ele tem provas do que diz, tem de pagar por isso quem ele acusa com provas. Não conheço o Sr. Daniel Dantas. Não tenho a menor vontade de conhecer, a menor vontade mesmo. Não sei o nome do outro do Citigroup. Apenas chegou às minhas mãos um documento da Corte de Nova York e eu tratei de fazer aquilo que deve fazer um homem público. Relatei...A reunião pública que eu tinha era a da CPI dos Bingos e eu relatei lá.

Eu digo mais, Sr. Presidente e Srª Senadora. Quando V. Exª diz que não está aqui para agradar, afirmo que nem eu. Estou aqui para conviver da melhor maneira, até em função do meu trabalho.

Ser Líder de Governo, eu já fui. E saiba que foi contra um Partido extremamente aguerrido e extremamente chegado à hipérbole, ao exagero, como era à época o seu Partido. E procurei enfrentá-lo duramente. A Senadora Ana Júlia Carepa é testemunha disso. Duramente! Nem por isso deixei de formar amizades que me acompanham pelos tempos. Darei a V. Exª o exemplo de duas pessoas: Deputado Paulo Delgado e Deputado Sigmaringa Seixas.

Tentaram envolvê-los naquela história de Banco Rural. Eu conheço os dois. Reuni a imprensa aqui e disse que não era verdade. Não sei o que houve, mas sei que esses não estão envolvidos. Falei isso porque não estavam e acreditei nos dois. E disse com clareza: “Não estão!” E não estavam mesmo. Afinal de contas, nem todos que negociaram com o Banco Rural são bandidos. Eu não coloquei a mão no fogo por ninguém, mas pelos dois pus a mão no fogo.

Construí amizades muito fortes e expressivas dentro do Partido de V. Exª, em cima de uma luta dura, Senador Sibá. Mas uma luta em que eu procurava fazer o meu trabalho de defesa do Governo, sem envolver a questão pessoal, ou seja, com muita liberdade, com muita liberdade no trato pessoal e com muita liberdade para se dizer e para se ouvir.

Não vou lhe dar conselhos - quem sou eu? - mas V. Exª fala que é uma recém-chegada. Acho que não. V. Exª é muito bem aparelhada para ser uma excelente Parlamentar, tem facilidade da expressão, tem a coragem de dizer e V. Exª, a meu ver, tem que avaliar se precisa ou não fazer certas mexidas na forma, mas não é comigo, isso é com V. Exª.

Agora se falou em Dantas. A pessoa a que V. Exª se referiu é a filha do ex-Prefeito, candidato a Governador, José Serra, que jamais trabalhou com o Sr. Daniel Dantas, que jamais teve qualquer relação... Isso é aquela coisa boa de se dizer, porque o tempo mostrou que não havia nada de relação com a Srª.... Ela participou de uma reunião, em que estavam lá vários boys dessas empresas todas, entre as quais a Srª..., a irmã, a irmã do Sr. Daniel Dantas. Portanto, causou a ela algum aborrecimento, mas nada que significasse a mentira se transformar em verdade, porque a mentira não se transforma em verdade.

Mas eu lhe digo, Senadora: não tenho o menor interesse de não conviver com V. Exª de maneira decente e correta. Não tenho. Tenho, acredito eu, a obrigação de procurar respeitar os meus Pares e de procurar cobrar deles - e não acho que deva precisar cobrar - que me tratem com respeito.

V. Exª fala da minha contundência. Eu sou contundente. Em compensação, não sou mentiroso; em compensação, não sou traiçoeiro; em compensação, não sou capaz de levar as pessoas a não preverem. Chego a ser uma pessoa muito defeituosa politicamente, porque é tão fácil me prever. É assim na minha terra, é assim aqui e em qualquer lugar. É tão fácil me prever. É só acontecer aquilo, que já sabem como é que o Arthur vai agir. É tão simples. Eu chego a me achar primário sob esse aspecto. A maneira como eu ajo é tão previsível, que uma pessoa não pode achar que não vou agir do jeito que vou agir quando as pessoas sabem que vou agir daquele jeito. Não me arrependo de ser assim.

Dizem que as pessoas que são assim não chegam longe. Dizem que as pessoas que são assim não chegam, por exemplo, à Presidência da República. Quem dizia isso era Mário Covas. Ele dizia que ele não tinha o conjunto de qualidades e defeitos que fazem de alguém um bom postulante à Presidência da República. Na cabeça de Mário Covas, tinha que haver muito defeito e muita qualidade para ser Presidente da República e que ele não tinha esse conjunto de defeitos e de qualidades. Qualidades, ele as tinha de sobra, mas não tinha defeitos. Eu, certamente, não tenho. Obviamente, devo ter defeitos enormes e poucas qualidades. Mas o fato é que, entre os defeitos que O Príncipe, de Maquiavel, requer, não tenho este de não ser transparente na minha alma e nos meus sentimentos. Por isso, termino me abrindo.

Agradeço muito a V. Exª pela participação sensata e que, a meu ver, repõe bastante as coisas nessa fase de seu pronunciamento.

A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Arthur Virgílio, acabei de receber um bilhete do Senador Tião Viana. Agradeço porque acabei fazendo referência e agradeço a dignidade de V. Exª por ter tomado a atitude a que não preciso me referir aqui. De público, agradeço-lhe. V. Exª sabe o que estou agradecendo.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Sou eu agradecido a V. Exª.

Ouço o aparte do Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Arthur Virgílio, em primeiro lugar, gostaria que, se pudesse, V. Exª colocasse em que circunstâncias dei-lhe meu depoimento sobre o pronunciamento da Senadora Ideli Salvatti. Estava eu conversando com o Senador Efraim Morais no fundo do plenário quando V. Exª chegou e me perguntou se a Senadora tinha falado no seu nome. Eu disse: “Não. No seu nome, não. Fez referências à surra que você prometeu dar no Presidente da República”. Única e exclusivamente, foi o que disse. Para não ficar essa pecha...

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Para começar, não prometi dar surra em Presidente da República nenhum. Disse que seria capaz de qualquer atitude extrema para defender minha família. Não sei se sou diferente das demais pessoas desta Casa.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Exatamente. V. Exª saiu. Eu conversava com o Governador do Pará. Não ouvi nem o aparte de V. Exª. A Senadora Ideli Salvatti está em uma outra fase: é a “Ideli Lexotan”. Calminha... Cumpre orientações do Palácio, que não suportava mais seu jeito de comportar-se aqui, criando caso. Então, entrou na fase do “Lexotan”. Espero que a dose dure. Faz bem. As pessoas conseguem entendê-la melhor, conseguem compreendê-la. Sobretudo, não fica tão chato o debate. É muito interessante, Senador Arthur Virgílio, cobrar dos outros aquilo que não se pratica. Fiquei assistindo - e sou muito atento - quando a Senadora perguntou se V. Exª, no momento em que soube que não era verdade, pediu desculpas ao Presidente. É a mesma Senadora que aqui acusou um colega nosso diretamente - e a mim indiretamente - de envolvimento no episódio do caseiro. Pediu, inclusive, em um dos momentos mais tristes desta Casa, ao Presidente, que mandasse filmar a entrada e a saída do gabinete de um Senador. Depois, pediu a demissão de um servidor do Senado porque essa mesma câmera filmou seu servidor transportando garrafa de uísque, segundo a imprensa noticia. Não vi a Senadora, em nenhum momento, pedir desculpas ao Senador Antero Paes de Barros. Ficou a ameaça, ficou o discurso. Não vi, em nenhum momento, a desculpa. Acho que humildade é uma coisa fantástica na vida das pessoas, mas quando ela tem ida e volta. Exigir de uns o comportamento que não é o seu usual... Não. Para mim, esse episódio de um colega Senador pedir investigação e bisbilhotagem na vida de um companheiro, em regime democrático, foi único nesta Casa.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Porém, existem pessoas que nascem com o viés autoritário, que nascem com aquele espírito ditatorial, no fundo, e dele não se afastam. Aliás, isso é uma coisa muito comum no Partido da Senadora. S. Exª vai e volta, traz à baila o assunto do Daniel - eu já não agüento mais esse assunto. O Sr. Daniel Dantas é maior e tem que pagar pelos erros, se é que os cometeu. Agora, estranha-me muito não querer que esse cidadão venha aqui prestar esclarecimentos. Vamos convocá-lo, juntamente com o Presidente do Citibank. O Citibank, que, num passado recente, era tão combatido por este Governo, tem um lobista chamado Joaquim-não-sei-das-quantas. Examinem quais são os gabinetes que ele freqüenta. Gabinete do PT. Ele está fazendo lobby aí todos os dias para o Presidente não vir aqui prestar esclarecimentos. Concordo. Testemunhei sob que circunstâncias V. Exª propôs a vinda ao Senado dos envolvidos nessa questão. E é muito esquisito o PT querer fugir da verdade. O PT fugiu tanto da verdade que, no tal voto em separado, quando denunciou o empresário, disse: “Em tese”. Não pediu, nem afirmou nenhuma vez. E agora corre o bochicho dos bastidores que estão pedindo e que já há um juiz disposto a conceder a prisão dele. Se houver motivo, sim. Contudo, espanta-me muito um juiz atender aos caprichos do Partido dos Trabalhadores. Como o Partido é poderoso, pode ser que as coisas aconteçam. Quanto a esse fato da matéria, os jornais estão mostrando os desmentidos e as versões, mas não me cabe julgar, pois não sou Procurador, nem defensor. Essa questão tem que ser discutida de frente. Não é essa história de lançar suspeita sobre as pessoas e não querer que os fatos sejam esclarecidos. Quero que V. Exªs entendam uma coisa: aprendi a não acreditar nas versões que o PT dá para os fatos. Disse que o Celso Daniel morreu de crime comum. Colegas seus, companheiros de militância mostram o contrário. Deram atestado de idoneidade a vários companheiros de militância e o resultado das CPIs, com indiciamento, e a posição do Procurador mostram exatamente o contrário. Com isso, Senador Tião Viana, quero apenas a chance de o Brasil saber a verdade. Como bem disse o ex-Ministro e assessor especial Gushiken, está nesse contexto a maior disputa empresarial deste País. E é preciso que se saiba se a versão do PT é parecida com a versão dada pelo caso Toninho e caso Celso Daniel ou se o PT tem razão. Se razão tiver, Senador Arthur Virgílio, venho aqui, não tenho compromisso com o erro, dizer que errou. Agora, não acredito nas versões, até porque as versões não são isentas. São versões suspeitas. De forma que queria apenas fazer o registro e dizer que, ao me comunicar, por provocação sua, o conteúdo do pronunciamento da Senadora, o fiz porque penso ser uma deselegância se tratar de assuntos que envolvem companheiros com a ausência dele no plenário. A praxe desta Casa não nos remete a isso. Não se ataca a pessoa na sua ausência. A elegância sempre mandou e esta Casa sempre cumpriu que, quando tiver que falar de alguém que esteja ausente, deve-se mandar um assessor comunicá-lo no gabinete. Esse tipo de comportamento não é praxe do Senado e não podemos permitir que essa moda pegue. Muito obrigado.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Concede-me um aparte, Senador?

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador Heráclito, foi exatamente essa a circunstância pela qual V. Exª me comunicou, a forma como eu teria sido citado. Foi exatamente isso. Agradeço a V. Exª pelo aparte.

Sr. Presidente, um aparte ao Senador Pavan, só para fazer a leitura de um documento importante do Governador Geraldo Alckmin.

O Sr. Leonel Pavan (PSDB - SC) - Sr. Presidente, aproveito este momento para ler aqui uma nota à imprensa do ex-Governador Geraldo Alckmin:

O presidente Lula desrespeita e ofende o povo de São Paulo. Ele sempre foi omisso nessa questão de segurança. E nesse caso de agora, pior. Lula nunca condenou o crime organizado, nunca falou uma palavra condenando os atentados covardes. Policiais de São Paulo foram mortos pelas costas. E o que faz o presidente? Lula preserva as quadrilhas criminosas e vem atacar a polícia paulista. É inadmissível. Há dois dias, o Lula falou que não “haveria nenhum mesquinho no Brasil capaz de querer fazer uso eleitoral desses atentados”. Tem sim. O próprio Lula, com essas declarações de agora.

Enquanto fui governante, trabalhei contra o crime, todos os dias da semana, o tempo todo.

O presidente Lula nunca fez nada de prático contra a criminalidade. Quando o governo federal não sabia o que fazer com o traficante Beira-Mar, veio pedir socorro a São Paulo, que tem o melhor presídio de segurança máxima do Brasil. Há quatro anos o presidente Lula vem prometendo fazer presídios e não tem nenhum pronto. O presidente, que tem iniciativa legislativa, omitiu-se na mudança da lei que dá folga a esses bandidos. Ele é cúmplice dessa situação.

O Governo federal tem maioria no Congresso para absolver “mensaleiros”, mas não coloca essa maioria para votar os projetos de combate ao crime.

Nesses atentados de agora, eu condeno os bandidos. O Lula ataca a polícia.

Nota à imprensa, de Geraldo Alckmin.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Incorporo o seu aparte, que, na verdade, foi a leitura do documento duro, que subscrevo, do Governador Geraldo Alckmin.

E com isso, Sr. Presidente, agradecendo a V. Exª a tolerância e o espírito democrático de sempre, encerro este pronunciamento.

Muito obrigado a V. Exª.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/05/2006 - Página 18126