Pronunciamento de Pedro Simon em 26/05/2006
Discurso durante a 68ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Críticas à cúpula do PMDB. Manifesta desapontamento com os rumos que seu partido, o PMDB está tomando.
- Autor
- Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
- Nome completo: Pedro Jorge Simon
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
POLITICA PARTIDARIA.:
- Críticas à cúpula do PMDB. Manifesta desapontamento com os rumos que seu partido, o PMDB está tomando.
- Aparteantes
- Gilvam Borges.
- Publicação
- Publicação no DSF de 27/05/2006 - Página 18306
- Assunto
- Outros > POLITICA PARTIDARIA.
- Indexação
-
- CRITICA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), INCOERENCIA, HISTORIA, COMBATE, REGIME MILITAR, GARANTIA, DEMOCRACIA, QUESTIONAMENTO, DECISÃO, ADIAMENTO, DATA, REALIZAÇÃO, CONVENÇÃO NACIONAL, ESCOLHA, CANDIDATO, ELEIÇÕES, PREJUIZO, CONVENÇÃO ESTADUAL.
- CRITICA, MEMBROS, LIDER, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), FALTA, APOIO, CANDIDATURA, GOVERNADOR, NECESSIDADE, LANÇAMENTO, CANDIDATO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, DESNECESSIDADE, APREENSÃO, RESULTADO, IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, CAMPANHA, TRANSFORMAÇÃO, DEBATE.
- POSSIBILIDADE, LANÇAMENTO, CANDIDATURA, ORADOR, PRESIDENTE DA REPUBLICA, REPRESENTAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), IMPORTANCIA, COMBATE, IMPUNIDADE, CRITICA, ATUAÇÃO, MEMBROS, GOVERNO.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, creio que é muito importante que o uso da tribuna seja feito no sentido de expor o as atividades parlamentares dos Senadores, mas que também seja apreciada e aproveitada a oportunidade para que o Senador externe e apresente suas idéias e seu pensamento, porque isso, de certa forma, ficará gravado na memória do Senado e muitas vezes, passados os fatos, lá adiante, será interpretado.
Eu estou na política há cinqüenta anos ou mais. Quando fui Deputado Estadual, na época da ditadura, houve discurso meu, na Assembléia Legislativa, que os militares não deixaram sequer que as notas taquigráficas fossem para o Diário Oficial. Tivemos que refazê-lo anos depois, porque alguém guardou uma cópia.
Estou emocionado porque já publiquei mais de uma vez o índice dos discursos que já fiz e os assuntos abordados. Várias escolas, várias pessoas, vários estudantes que estão fazendo tese de mestrado vêm me pedir subsídios para seus trabalhos e encontram, às vezes, em pronunciamentos meus, algo que não encontram na imprensa, porque, naquela época, aquela instituição era a censura total; eles nem sabiam que essas coisas tinham acontecido da forma como aconteceram.
Por isso, hoje, relato a fase que vive o meu Partido, o PMDB. Mas isso não significa que eu vá influenciar o comando do meu Partido. Vivi, ontem, momentos muito tristes - eu que pertenci à executiva deste Partido, até à morte do Dr. Ulysses, como Secretário-Geral, Primeiro Vice-Presidente -, lembrando-me de nossas reuniões nas horas amargas, difíceis. Dr. Ulysses, Tancredo, Teotônio, Arraes, Chico Pinto, Covas, eu... Quando olhei a reunião de ontem e vi os substitutos dos meus velhos companheiros e as decisões que estavam tomando, fiquei a pensar: o que estarão pensando e sentindo os heróis do MDB dos seus sucessores de hoje?
Muitas foram as lutas que fizemos para retomar a democracia. Ali não era ter ou não ter candidato, era não ter candidato porque não tinha candidatura, porque o general já era presidente. Um, dois, três, quatro, cinco, seis generais, um sucedendo o outro, e ali o MDB, não podendo ter candidato porque era proibido, lançava candidato. Lançamos o Dr. Ulysses, lançamos o general Euler, anticandidatos, que percorreram o Brasil inteiro. Como dizia o Dr. Ulysses, estou aqui, o anticandidato da Oposição, percorrendo o Brasil inteiro, falando com os eleitores. Eu que não vou ganhar, e os eleitores que não vão votar. Porque, a essa altura, lá em Brasília, estão confabulando nos quartéis qual será o próximo general de plantão, que sem povo e sem voto haverá de estar lá. Permanecemos, lutamos, defendendo as eleições. E foi o MDB que fez a apoteose das Diretas Já. Tudo que está aí estava dentro do MDB, porque éramos a mãe que recebia a todos, porque tínhamos tido a chance de funcionar para ser o Partido da coonestação do Governo, mas conseguimos resistir, avançar e ser um grande Partido. E saímos pelo Brasil pelas Diretas Já - a campanha mais linda, mais emotiva da história deste País. Os poetas, os cantores, os artistas, os jovens, nunca, nunca comício nenhum, nunca festa nenhuma, nunca nada reuniu tanta gente como a caminhada dos jovens pela democracia e pelas diretas. No dia da votação, cercaram o Congresso, espalharam que iam cassar e prender se a Emenda Dante de Oliveira fosse aprovada. Fez uma ampla maioria. Quem não ia votar a favor não comparecia praticamente, mas faltaram nove votos para atingir-se a maioria, e foi rejeitada. E o MDB, que sempre tinha tido uma repulsa ao colégio eleitoral - o colégio eleitoral coonestava a ditadura, não tinha legitimidade -, questionava-se. O Dr. Ulysses era um dos que, quase até o fim, dizia: “Eu não vou para o colégio, não vou legitimar o colégio”. E o Dr. Tancredo, nosso candidato, dizia: “Eu vou para o colégio para destruir o colégio, e o povo há de entender que vou para colégio para destruir o colégio”.
No Rio Grande do Sul, o MDB era um partido fantasticamente organizado e apaixonado, com o povo permanentemente presente. Vivíamos em assembléia permanente com milhões de rio-grandenses-do-sul, e eu dizia: eu não vou pedir licença ao Rio Grande para ir ao colégio, não vou pedir. Mas aconteceu o inesperado: os jovens foram às ruas e fizeram uma manifestação espetacular para exigir de Pedro Simon e de seus companheiros que fossem ao colégio para votar em Tancredo, porque era isto o que eles queriam: destruir a ditadura.
E o MDB foi ao Colégio. Foi buscar, para garantir maioria lá na Arena, o chefão da Arena, o Sr. José Sarney. E nunca vou me esquecer. Eu até aconselharia aos amigos que vissem nos Anais do Congresso o momento em que o Governo enviou para esta Casa a extinção da Arena e do MDB para abrir o leque partidário. Nós defendíamos a pluralidade partidária, mas defendíamos que ela fosse realizada em cima da Assembléia Nacional Constituinte. Convocada e instalada a Assembléia Nacional Constituinte, no mesmo momento seriam extintos os partidos políticos, não teríamos mais partidos políticos, e se organizariam, no meio da sociedade, as pessoas que se identificassem por idéias, por filosofia, por pensamento social, para fazerem os grupos que atuariam, as bancadas que atuariam na Assembléia Constituinte e que formariam os futuros partidos. Para não acontecer como na Constituinte de 45, quando o PTB e o PSD eram os Partidos do Getúlio Vargas e a UDN era o Partido contra o Getúlio Vargas, mas a UDN tinha mais gente digna, honesta e progressista que o PSD do Getúlio, ou que o próprio PTB, em que havia mais reacionários do que lá até.
Na sessão solene de encerramento da votação, o Congresso Nacional estava como um mar de gente e os dois últimos discursos foram feitos pelo Presidente da Arena e pelo então Presidente do MDB em exercício. Primeiro falou o Dr. Sarney, como Presidente da Arena, mas justificando que tinha que ser extinta a Arena, que o Governo estava certo e que o projeto era correto, e orientou sua bancada a votar pela extinção.
Depois falei eu, pelo MDB, o último pronunciamento. Lembro-me que eu disse: até nas flores se nota a diferença de sorte, umas enfeitam a vida, outras enfeitam a morte. Estamos aqui, dois Presidente; saiu o Presidente da Arena, exigindo que votássemos a extinção do seu Partido. Ele está com vergonha do Partido, acha que não dá mais, porque na próxima eleição ir com o nome da Arena é desprestígio total. Então quer extinguir o Partido e criar um novo, achando que, criando um novo partido, mudando o rótulo, mas ficando o conteúdo igual, vai mudar. E foi o que aconteceu. Mudaram a Arena, colocaram o PDS, e o Partido durou dez vezes menos tempo do que a Arena, porque o conteúdo era o mesmo.
Mas fomos para a eleição no colégio com Tancredo e com Sarney, e ganhamos a eleição. Hoje, estamos em plenitude democrática. Hoje, estamos em regime de plena democracia. Mas o velho MDB... Que destino trágico o nosso! Em vez de Ulysses, em vez de Tancredo, em vez de Teotônio, em vez de Montoro, em vez de Covas, à exceção do seu presidente, justiça seja feita, do Deputado Temer, que tem se esforçado, nós temos uma cúpula que não podia fazer o que está fazendo conosco.
Então Presidente do Senado, o Sr. Jader, quando jovem, conseguiu criar um partido junto com o Sr. Collor. Na China arrumaram o primeiro milhão, criaram o PRN e lançaram a candidatura do Collor, que derrotou praticamente todo o Brasil. A competência do Sr. Renan derrotou Ulysses, Brizola, Lula, Covas e Afif. Os líderes de todos os Partidos perderam para o Sr. Collor e para o Sr. Renan.
É verdade que o Sr. Renan tem várias passagens e vários estilos. Entrou no MDB depois de romper com o Collor, no MDB esteve firme como Ministro do Dr. Fernando Henrique e hoje é o homem de absoluta confiança do Presidente Lula. O Presidente Sarney, eminência parda dentro do PMDB, no Governo desde a “bossa nova” da UDN, apoiava o Dr. Juscelino Kubitschek e até hoje é Governo. O Líder Suassuna, com todo respeito, penso que deveria licenciar-se da Liderança. São tantas referências já feitas ao seu nome, envolvendo auxiliares seus em tantas questões tão confusas! S. Exª, que já subiu tantas vezes à tribuna para se defender - e quero crer, inclusive, que terá todas as condições de se defender e provar que tudo isso é uma calúnia atrás da outra -, deveria fazer isso não como Líder do Partido, mas como cidadão, da mesma forma que outros Líderes de outros Partidos que receberam as mesmas denúncias e pediram afastamento, para ver as coisas acontecerem. É um outro apaixonado pela causa, do outro lado. O Sr. Geddel publica nos jornais do Rio Grande do Sul que eu sou um pobretão e um franciscano, mas que pobretão franciscano não ganha eleição, porque para ganhar eleição é preciso ter dinheiro. Lá está com o PT. Nosso ex-Presidente do Partido, que foi Presidente do Senado, Senador pelo Pará, renunciou a sua cadeira no Senado e hoje é Deputado Federal. Foi essa gente que tomou uma decisão impressionante ontem.
A Executiva decidiu realizar a convenção no dia 11 - atribuiu ao Presidente do Partido que marcasse a convenção, e o Presidente, na convenção que estava sendo realizada no Petrônio Portella, ao encerrar disse: “Está convocada a convenção para o dia 11 de junho”. Fez-se o edital para o dia 11. Fomos, o Garotinho e eu, e registramos as nossas candidaturas. Não tiveram um gesto de gentileza - nós tínhamos marcado com a imprensa às 11 horas para fazer a entrega da concordância com a candidatura; ao meio dia, estavam eles lá, para fazer uma reunião da Executiva para decidir.
Primeiro, o Sr. Geddel entrou com um requerimento, suspendendo a convenção do dia 11. Ponto. Aí o Presidente Temer disse que não poderia suspender a convenção do dia 11, sem mais nem menos, porque a convenção do dia 11 não é uma convenção extraordinária, é uma convenção ordinária, prevista pela lei, que determina que o Partido, entre o dia 10 e o dia 30 de junho, faça a sua convenção para escolher o seu candidato.
Então, eles emendaram e apresentaram um pedido para a convenção ser transferida para o dia 29. Dia 30 encerra-se o prazo; dia 29 eles querem realizar a convenção do MDB.
É impressionante! A convenção nacional de um Partido tem a responsabilidade de conduzir o caminho do Partido, e sabe-se que as convenções estaduais têm que ser realizadas para escolher os candidatos a Governador, Vice-Governador, Senador, Deputado, para fazer coligações. Há uma lei do Tribunal Superior Eleitoral determinando normas que deverão ser seguidas para que os partidos possam fazer coligações. E marcaram para o dia 29, último dia! Como ficam as convenções estaduais? Como as convenções estaduais tomarão decisões antes de saber a determinação da convenção nacional? Poderiam ter sido feitas convenções estaduais extraordinárias para que dissessem que não queriam candidatos; reunir-se-iam Pará, Bahia, Ceará etc e diriam: “Não temos candidato”. Fariam convenções extraordinárias e, quando a convenção nacional se reunisse, já se saberia que as convenções estaduais viriam com essa determinação.
Eles podiam realizar a reunião no dia 11. Têm tanta autoridade, tanto poder, tanta força! Que deixassem a convenção ser realizada no dia 11; viessem e derrotassem a outra proposta. Apresentassem a moção, dissessem que não querem candidatos e derrotassem os outros na convenção. Assim, no dia 11, a direção nacional teria tomado providências para que as convenções estaduais fizessem o que julgassem conveniente fazer, mas não foi isso que fizeram. Deixaram a convenção para o dia 29.
A pergunta é: podem as convenções estaduais reunir-se e decidir antes da convenção nacional? Se a convenção estadual do MDB se reunir e tomar a decisão de fazer coligação com Fulano, Fulano e Fulano, com o partido tal, partido tal, partido tal, e a convenção nacional decidir que não pode, que a nossa aliança será outra, como é que fica a decisão estadual?
Fico muito machucado, porque nunca gostei de ver o Supremo intervir no Congresso Nacional - como aconteceu no caso do rapazinho, zelador lá daquela casa, que foi impedido de depor -, nunca! Isso é ruim para nós. Eu tive que entrar com um pedido no Supremo porque os Líderes Mercadante e Renan não aceitaram criar a CPI. E o Dr. Sarney, Presidente do Senado, que tinha a obrigação de indicar os membros, não os indicou. O Senador do PDT, meu querido companheiro do Amazonas, e eu entramos e ganhamos por nove votos a um. O Supremo mandou criar a Comissão. Mas aquilo me machucou; fiz porque tinha que fazer.
E penso que agora vai acontecer isso. Vamos ter que solicitar ao Tribunal Superior Eleitoral que responda essa indagação - que nem é uma indagação de olhar o estatuto e ver como é ou como não é. Eu não olhei e imagino que pode até não ter primeiro a nacional e depois a estadual. O mal do Brasil é que aqui tudo tem que estar escrito, pois, se não estiver, não vale. Mas acho que o Supremo vai dar ganho de causa. Primeiro a convenção nacional.
Agora, o que dói é ver o MDB, um Partido com a história que tem, com a atual direção. Houve uma convenção do MDB contra a participação no Governo Lula, a favor da governabilidade, mas contra a participação no Governo. A Bancada do MDB no Senado nunca se reuniu para indicar Ministro. No entanto, o Líder vai lá e indica fulano, indica beltrano, indica não sei quem. Nunca reunimos a Bancada. Não digo que eu nunca me reuni com a Bancada; não, a Bancada nunca foi reunida, muito menos a Executiva. Então, quem está lá está em nome próprio. Não é bem em nome próprio, porque nenhum dos Ministros que estão lá está em nome próprio, mas, sim, em nome do Renan ou em nome do Dr. Sarney.
Há até uma certa inveja de seu Partido, Presidente, porque dizem que não tem nenhuma das tendências, nem a maior, aquela que era a tendência... Qual era a maior tendência, do Olívio, qual é?
O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim. Bloco/PT - RS) - Articulação?
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - É a maior de todas? (Pausa.) Nem a articulação tem tatos Ministros como têm o Dr. Sarney e o Dr. Renan.
O Ministro de Minas e Energia, que me parece ser um bom cidadão, pelo que eu sei, não tem ficha no MDB. É uma escolha pessoal do Dr. Sarney. Então, essas pessoas que têm esses cargos, como o Sr. Jader, o homem forte no Norte, é que tomam as decisões.
Na verdade, a imprensa chegou a publicar que o Dr. Lula quer, com urgência, saber uma posição do MDB. O Sr. Lula não quer apoio, não precisa, mas precisa da certeza de que o MDB não terá candidato, porque todas as estatísticas estariam a dizer que o PMDB não ter candidato seria uma garantia de que ele ganha no primeiro turno.
Com essa decisão, o Dr. Sarney leva o Ministério dos Transportes e o Dr. Jader leva o Ministério da Saúde. Estão esperando por isso. E não levam no próximo governo, mas levam agora. Tomada a decisão, amanhã eles vêm. É por isso que eles estavam felizes, soltando foguete, quando votaram. Mas parece que o PT está esperando saber se vamos entrar com recurso, porque, se entrarmos com recurso, fica a dúvida, e se ficar a dúvida, não levam agora.
Olha, o argumento que eles usam é de que o PMDB não tem gente, não tem quadro. Dizem que o PMDB é um partido inexpressivo, que não se preparou. Há dois anos que estamos falando em candidatura própria e há dois anos que eles estão bombardeando. Dizem que não nos preparamos e que não podemos ter candidato. Dizem que o MDB tem que ter candidato a governador, que temos que fortalecer as candidaturas a governador, que vamos fazer um grande número de governadores. É uma tese ridícula.
A primeira coisa que temos que fazer, se tivermos maioria neste Congresso, é um novo pacto social, um novo pacto federativo, porque prefeito e governador estão à margem, são figuras que estão à sombra do Presidente imperial. O Presidente, com suas medidas provisórias, o poder e o dinheiro, faz o que quer.
No meu Rio Grande do Sul, coitado do Rigotto! Da verba que ele teria direito, pela Lei Kandir, de receber, daquilo que deixamos de receber, porque ficaram isentas as exportações de imposto, que seria compensado pelo Governo, pois o Rio Grande do Sul teria o direito de receber, hoje, R$4 bilhões, R$1 bilhão por ano, nada foi repassado. Este ano, zero.
Estão todos os governadores de pires na mão, até o de São Paulo.
Numa hora como esta, em que o importante é ter um candidato a Presidente da República, o PSDB entrega para o PFL o Governo de São Paulo, a Prefeitura de São Paulo, por causa da sua candidatura, do seu Presidente, em que o P-SOL, que nasceu ontem, já tem uma candidatura, para querer aparecer, em que o PDT, que está aí com a candidatura de V. Exª, Senador Cristovam, quer marcar posição, marcar idéia, marcar filosofia, marcar pensamento, o PMDB não quer candidato, mas governadores. O importante é ter governadores, como diz o Dr. Sarney, como diz o Dr. Jader, como diz o Dr. Renan.
Mas e o Dr. Jader, no Pará? No Pará, para Governador, ele apóia a Senadora do PT. O PMDB não tem candidato a Governador no Pará. O Sr. Jader está apoiando a Senadora do PT. O Dr. Sarney, o ilustre Dr. Sarney, no Maranhão, está apoiando a sua filha pelo PFL. Reparem que o Dr. Sarney está no PMDB, foi Presidente da República no PMDB, até Presidente de Honra foi.
Ora, quando gosto de alguma coisa, a primeira coisa que faço é levar a minha mulher e meus filhos. Todos os meus filhos torcem pelo Internacional, são todos colorados. Lá na igreja estão todos comigo. O Dr. Sarney fez questão de não trazer sua gente, estão todos do lado de lá, a começar pelos seus filhos. Seus filhos, a sua liderança, o grupo que o cerca está lá. Ele veio sozinho e fez questão de ficar sozinho no PMDB.
Tudo bem. Afinal, é sua filha! Ele apóia sua filha no Maranhão. Mas e no Amapá? S. Exª criou o Estado do Amapá como Presidente e por lá é candidato a Senador. O Governador do Estado é do PMDB? Não. Ele está fazendo um acordo. Não sei de qual partido vai ser, mas do PMDB não vai ser. O Dr. Sarney, que é de um partido forte, que vai lutar por Governadores, não tem candidato a Governador nem no Amapá nem no Maranhão.
O nosso Líder, o Presidente do Senado, um homem de luta, de força, de fé, o que mais defende a importância dos candidatos a governadores...
O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - V. Exª me concede um aparte, Senador Pedro Simon?
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - E vejam que ele fez do Governador de Alagoas o Presidente da República. Um governadorzinho que ninguém sabia quem era, que foi Deputado pela Arena, que pulou para o PMDB, elegeu-se governador, criou o PRN e se tornou Presidente da República, apoiado pelo Renan. O PMDB tem candidato a Governador em Alagoas? Não, apóia o PSDB.
O furioso, o combativo líder Geddel, lá na Bahia, no seu enfrentamento com Antonio Carlos, tem candidato a Governador? Não. Apóia o PT.
O Rio Grande do Sul quer candidatura própria. Tem candidato a Governador e quer candidatura própria.
Santa Catarina, cujo Governador é candidato à reeleição, quer candidato próprio e quer candidato a Presidente da República.
No Paraná, o Governador é candidato à reeleição, quer ganhar a eleição e quer candidato a Presidente da República.
Em São Paulo, Quércia é candidato à eleição e quer candidato a Presidente da República.
No Rio, temos candidato, queremos a reeleição, e querem candidato a Presidente da República.
Ali, em Goiás, perdemos por um acaso a eleição, mas estão lá o Iris e o Maguito, que é candidato a Governador, que vai ganhar, mas quer candidato a Presidente da República.
Os que querem candidato a Presidente da República nos seus Estados têm candidato forte para ganhar o governo do Estado. Quem não quer candidato a Presidente da República com o argumento de que precisa fortalecer os Estados não tem candidato ao governo do Estado.
Estou falando isso no caso de alguém, daqui a dez, vinte anos, querer analisar. Por isso, estou dando os nomes, para que fiquem na história.
Com o maior prazer, concedo o aparte ao Senador Gilvam Borges.
O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Senador Pedro Simon, a autoridade moral de V. Exª em fazer uma análise muito bem feita da conjuntura e da inserção do PMDB no contexto nacional e numa disputa realmente tem as suas procedências. Agora, V. Exª há de convir que, entre todas as lideranças do diretório nacional, de cuja reunião V. Exª ontem mesmo participou, numa discussão política, há uma decisão de não se correr o risco. Se V. Exª tem 1% na preferência do eleitorado brasileiro, é uma aventura, uma aventura grande. A maturidade política se faz necessária. Agora, quais são os ingredientes que estão nesse pronunciamento? Será que só V. Exª tem razão? V. Exª se lembra da grande aventura do saudoso e grande Líder Ulysses Guimarães? Em 1988, na promulgação da Constituição, saiu para uma grande campanha um nome de projeção nacional, um nome com condições morais de ser submetido à apreciação da população brasileira, do eleitorado brasileiro. Agora, V. Exª há de convir que não podemos, de maneira alguma, admitir um risco, uma situação... Se a Nação vive um momento difícil hoje, é preciso ter maturidade política. Não foi por disputas anteriores que V. Exª não assumiu a Presidência da Casa ou por grupos que estiveram aliados participando do Governo. V. Exª também foi Líder nesta Casa do Governo Itamar Franco, e nem por isso sofreu críticas dos seus companheiros. Havia uma divisão. Hoje, com a grandeza do PMDB, estamos todos divididos.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Perdão, com todo o respeito, no Governo Itamar Franco, o PMDB estava todo com ele.
O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Mas hoje estamos divididos.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Hoje, sim; mas, naquela época, não.
O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Hoje estamos divididos. Lá no Amapá, como V. Exª citou, é uma honra muito grande para nós ter o Presidente Sarney, e estamos também trabalhando a composição. Posso vir a ser um candidato a Governador pelo Partido.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ótimo.
O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Posso, posso vir a ser. Mas estamos numa discussão madura, Senador Pedro Simon. V. Exª sabe que o Presidente Sarney, o Presidente Renan e todas as lideranças têm a maior deferência por V. Exª. Não estou aqui para dizer-lhe que está errado, não. Ao pensamento de V. Exª deve ser garantido o direito a questionamento, mas quero lhe dizer que, do lado daqui, há um grupo de líderes que tem um pensamento a respeito de não marchar com um grande risco. No Amapá, há apenas 16 anos passamos a Estado, e o Presidente Sarney tem sido um nome que nos tem ajudado muito, Senador Pedro Simon. Sou um garoto ainda, fui Deputado Federal, ainda estou no exercício e não chego perto ainda da experiência de V. Exª, muito menos da experiência de José Sarney. O Amapá sente-se muito honrado.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Perto da experiência de Sarney nem eu nem V. Exª, ninguém vai chegar perto.
O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - É verdade.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Ele atingiu o clímax.
O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Realmente. É um homem muito hábil, inteligente, membro da Academia Brasileira de Letras.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Entre outras coisas.
O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Ocupou todos os cargos do Legislativo e do Executivo.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - No Judiciário, foi Diretor-Geral do Tribunal de Justiça do Maranhão.
O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - É um homem de competência, de competência, Senador Pedro Simon. É o resultado da trajetória de vitórias - V. Exª sabe muito bem disso. Na política, o importante são as vitórias acumuladas; as derrotas ficam como experiência. O Amapá sente-se muito honrado. Todos os outros líderes optaram por uma composição com o PT ou pela liberdade do Partido - e a tendência vai ser de o PMDB ficar livre, possivelmente, nessas eleições, para compormos nos Estados conforme os interesses e as alianças. Quero dizer a V. Exª que é uma honra para nós termos o Presidente José Sarney lá no Amapá. Nós levaremos muito tempo para formar lideranças, porque somos muito jovens - são apenas 16 anos, Senador Pedro Simon. Sou um admirador de V. Exª. Só não concordo com alguns posicionamentos. Sobre a questão da liderança do Renan Calheiros, do Jader Barbalho, do Presidente José Sarney e de outras alianças, é preciso V. Exª sentar e conversar. Temos 1%, Senador Pedro Simon - V. Exª tem 1%, 2% ou 3% de preferência. Gostaria que tivesse 20%. Com certeza, eu seria um cabo eleitoral de V. Exª, sem problema algum.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª não está dizendo o sensato, porque o Garotinho, durante um ano, ficou com 20%, 22%, 23%.
O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - E terminou com 10%.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Bombardearam ele, e não o deixaram ser candidato. Ele teve que sair porque não deixaram ele ser candidato, e ele tinha 20% ou 23%. Durante um tempão, ele ficou em segundo lugar, e não o deixaram ser candidato.
O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Senador Pedro Simon, só o aparteei para dizer a V. Exª que, para nós, é uma satisfação muito grande ter o Presidente José Sarney e para parabenizá-lo pela sua grande experiência. V. Exª é um homem de reputação.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado.
O Sr. Gilvam Borges (PMDB - AP) - Gostaria de ser o seu cabo eleitoral, pois muito me honraria pedir votos para V. Exª.
O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado. Eu sei disso.
Que Partido é esse que não quer Presidente da República, que acha que não é importante o Presidente da República? “Pode perder”. Mas o Lula perdeu três, o Lincoln perdeu três, Mitterrand perdeu três, a história do mundo está cheia de homens que perderam, perderam, perderam e ganharam. Muitas vezes ganha-se mais na derrota que na vitória.
O PT somou muito mais nas três derrotas do que agora, no Governo. Ah se, no Governo, ele tivesse feito o entendimento, o debate, a seriedade, a censura que ele fazia quando estava na Oposição! Ah se ele cobrasse aquelas linhas de ética, de moralidade, que ele, na Oposição, cobrava de seus Parlamentares, inclusive estando agora no Governo!
Perder é perder. Perdemos com Ulysses? Perdemos. Erramos? Erramos. O herói, Dr. Ulysses, não era a vez dele, não era a vez dele. A vez dele foi a vez do Dr. Tancredo. Ele ganharia nas Diretas Já ou no Colégio Eleitoral. A vida é engraçada. Ali, aquela eleição era do Quércia. A Globo chamou o Quércia porque dizia que os militares eram contra o Dr. Ulysses. Segundo lugar, todas as pesquisas diziam que, com a morte do Dr. Tancredo, com 74 anos, o povo queria um jovem, algo que significasse novo. Aconteceu o que era esperado.
Quatro anos depois, o Quércia quis ser candidato, ele que não quis quatro anos antes, estava num bombardeio. Hoje muitos me perguntam: “Senador, o senhor conversa com o Quércia? O senhor vivia na tribuna falando horrores do Quércia”. É verdade, mas, passados 20 anos, não há um processo contra o Quércia, não há uma condenação do Sr. Quércia. Pelo contrário, hoje o PT está correndo atrás dele, perguntando o que ele quer, dizendo que tiram o Senador do PT e dão a candidatura ao Senado ou a vice-Governador a ele. E o PSDB faz mesma coisa. Mas aquela não era a vez dele.
Agora, estamos com o Garotinho, que tem 20%. Não tem agora porque há um bombardeiro em cima dele, dizendo que ele não pode ter. Ora, Sr. Presidente, não querer ter candidato a Governador... Não querer ter candidato a Presidente... O que é isso? São as pessoas que têm os cargos no Governo, têm os Ministérios do Governo, têm os diretores da Petrobrás no Governo, têm os diretores do Banco do Brasil no Governo, cargos esses que nós, do MDB, não temos nem idéia. O Presidente Lula podia fazer esse favor. Acho que devia ser obrigação publicar mensalmente a composição do Governo e a filiação partidária desses cidadãos. Fico com pena do meu Partido, que não merecia essa sorte.
O Lula está no papel dele. Segundo as pesquisas, com o PDMB, ele ganha no primeiro turno. Está fazendo o papel dele. Mas quem está fazendo papel feio é a cúpula do MDB - bota papel feio! Volto a repetir, em primeiro lugar, o meu nome. Eu sou candidato a Senador pelo Rio Grande do Sul. Aliás, tenho dito lá no Rio Grande: “não se esqueçam do meu nome, não comecem a riscar o nome do Senador, que é o Pedro Simon”. Então, nessa campanha para eleição direta, temos o candidato. Apresentamos o Rigotto, com quem andei pelo Brasil afora. Foi quando vi - nem imaginava isso, fazia tempo que não se via mais por este Brasil - concentrações do MDB reunindo milhares de pessoas. Fiquei impressionado quando vi aquele povo reunido no Maranhão, com o Senador Sarney e o Presidente do Senado contra. Mas o povo era a favor. Em Alagoas, uma montanha de gente a favor. No Pará, uma enorme concentração a favor. No Brasil inteiro! É que o MDB está tendo uma vida nova. Passamos os nossos pecados. O MDB foi decaindo, decaindo. Não dá para dizer hoje das referências que tínhamos no passado, como Tancredo, Teotônio, Ulysses. Hoje, quem vamos citar? O MDB está num momento difícil. Na universidade, quem não era PT, era PSDB.
Olha, Sr. Presidente, eu achava que o Lula e o PT fariam um governo extraordinário. Rezei muito para isso, apostei nisso, mas deu no que deu. Não foi o MDB que está aqui querendo candidato a Presidente. E perguntam: o que vocês querem se vocês perderam com Ulysses Guimarães, perderam com o Quércia? O que vocês querem aí? Vocês não representam mais nada! Não é isso que está acontecendo. O Brasil fez uma jogada espetacular com a social democracia do Sr. Fernando Henrique. Elegeu o homem mais culto, cuja cultura foi menor do que a vaidade, a Presidente da República. E a social democracia imperava no mundo, na França, do Françoise Mitterrand, do Espanha, do Felipe González. E o que deu? Deu no que deu.
Não vou aqui fazer análises, não vou falar em Vale do Rio Doce, não vou falar em como é que saiu a reeleição, mas deu no que deu. Aí veio o PT. Mas agora vai ser espetacular: o PT com 25 anos de luta, de idéia; o PT que sai debaixo da saia de D. Paulo Evaristo Arns, saiu da sacristia das igrejas, para fazer um partido de santo, de moralizadores, de épico. E como era bonito o PT na Oposição! Como era bonito o PT na Oposição! Eu achei que seria uma maravilha. Deu no que deu.
Então, Sr. Presidente, você faz uma pesquisa hoje, o MDB, que na época das Diretas Já tinha 80%, 60%, a imensa maioria da pesquisa a favor do Partido, foi caindo, foi caindo, foi caindo. Quando Lula ganhou, o PMDB estava lá atrás na preferência popular. Hoje, o MDB está em primeiro lugar com 27% e o PT baixou de 30% para 12%, está lá atrás. O PSDB está com 5%, lá atrás. Isso é uma realidade.
Não tenho tempo para atender todas as universidades que me convidam, mas vou a muitas. No início do Governo Lula, nesses últimos cinco anos, eu entrava e as pessoas me diziam: “Olha, Senador, gostamos muito do senhor. O senhor fale e diga o que quiser, mas não fale mal do Lula nem do PT que o senhor vai ser vaiado. Quer falar, fala, mas depois não se magoe das vaias”.
Quem me dizia isso era o reitor da universidade, com o distintivo do PT na lapela, um padre jesuíta, reitor da universidade - jesuíta e com distintivo do PT. Todos estavam fantasiados de bandeira e não sei o quê do PT. Era assim.
Vai visitar uma universidade hoje! Vai visitar uma universidade hoje! Mexo muito. Voltei à universidade daquele reitor, não era mais reitor, mas estava sentado ali, fui abraçar, é meu grande amigo: “O senhor dá licença?” Virei a lapela dele para ver e disse: “Queria ver, o senhor podia ter escondido. Tem muita gente escondido”. E ele me respondeu: “Nem escondido”. Porque estava magoado.
Eu recebo milhares e milhares de pedidos dizendo isto: “O MDB tem de ocupar espaço, tem obrigação de ocupar esse espaço”. Por que eles se lembram do MDB?
E o PDT? Tem um candidato fantástico, dois, aliás. Poderia ser ele, poderia ser o Jefferson, mas, com todo o carinho, não têm o embasamento, a quantidade de gente necessária para ganhar, não têm nem tempo de televisão garantido para ocupar o espaço. Pode ser que mude, que dê certo - queira Deus! Talvez eu esteja lá, embalado e ajudando nesse sentido - queira Deus!
Diante da opinião pública, acham que é um partidão, que tem o maior número de Governadores, o maior número de Prefeitos, o maior número de Senadores, o maior número de Deputados Federais, o maior número de Deputados estaduais, o maior número de militância é o PMDB. Eles acham que deve ser o PMDB. Quem tem a maior história é o PMDB.
O PSDB não deu certo, o PT não deu certo, mas agora estamos caminhando por aqui. O PDMB é que fique de fora, mas nós não estamos caminhando por aqui. Estamos na véspera de um processo - eu entendo disso - que, se não tiver o MDB nessa campanha, não sei como terminará, na televisão, a bipolarização entre o PT e o PSDB; não sei. Minha experiência me diz que será muito difícil ao PSDB, lá embaixo nas pesquisas, não querer vir com o nome do filho do Lula ou sei lá o que mais. Vai ser muito difícil o PT não questionar a reeleição do Fernando Henrique, a venda da Vale do Rio Doce. Vai ser um debate áspero, vai ser um debate difícil. Vai ser uma troca de roupa suja.
O MDB muda essa campanha. O MDB dá um tom diferente a essa campanha. O PMDB vai olhar para a frente, vai se preocupar com um projeto. Não precisa ser um projeto tão espetacular. Espetacular foi o do Fernando Henrique. Mas espetacular foi o do Lula: quinze milhões de empregos! Coisa fantástica! Quatro refeições por dia! Zero de miséria! Prometer não dar. Até porque se prometer ninguém acredita.
O povo quer, como dizia antigamente o socialista que vi e me emocionou na Espanha, Felipe González, no auge: o povo quer coisa simples. O povo não quer uma correria. O povo não quer um governo que prometa que, amanhã, você vai ter casa, escola, educação, saúde; você vai estar com todos os seus problemas resolvidos. Não é isso! O povo quer um governo que diga e que cumpra. Que não corra, caminhe; mas caminhe para a frente, não que dê dez passos para a frente e cinco para trás. Dentro desse contexto, é que terá que ser apresentado um projeto.
Por isso, o meu candidato era o Itamar Franco. Porque o Itamar, dizia eu... Em primeiro lugar, o PT vai apresentar a proposta: vamos fazer isso. E os caras vão dizer: Mas por que você não fez? O PSDB, vou fazer isso. E os caras vão dizer: Por que você não fez? O candidato do PMDB vai dizer: Você vai fazer isso? Ah, mas vocês só prometeram também... Itamar, não. Com relação aos dois anos e oito meses em que ele foi Presidente da República, ele pode prestar contas de tudo o que ele fez e dizer: Eu vou fazer o que eu fiz. Vou tratar a corrupção como tratei no meu Governo. Vou tratar o sistema financeiro como tratei no meu Governo. Eu disse que banqueiro e empresário paulista não seriam diretores de banco; não foram: Banco do Brasil, ex-funcionário; Banco Central, ex-funcionário; Caixa Econômica Federal, ex-funcionário; BNDES, ex-funcionário. Ele disse: “No Ministério da Fazenda e no Ministério do Planejamento, não quero grandes grupos”, o jornal O Estado de S. Paulo botou manchete: Dupla caipira no comando da economia: secretário da Fazenda, de Minas Gerais; secretário do Planejamento, de Pernambuco.
A minha candidatura é bom que se esclareça: fui procurar o Senador Renan, entrei em entendimento com o Senador Sarney: vamos nos sentar à mesa e vamos escolher nomes do entendimento de todos nós. E dei um de saída: Jarbas Vasconcelos*. Porque a esta altura não pode ser o Rigotto*, não pode ser o Governador Requião, porque esses não se afastaram do cargo. Mas, mesmo assim, temos gente de sobra. Cheguei a aventar por aventar: V. Exª, Sr. Sarney, pode ser candidato. Não aceitaram. Não aceitaram e não aceitaram. Esperamos até o último dia para compor uma chapa. E ontem, quando compusemos nossa chapa, o Garotinho e eu dissemos: Essa chapa é a chapa para garantir registro de que o PMDB vai ter candidato. Mas registrada a chapa e garantida a eleição, não significa que o Pedro Simon tenha que ficar até o fim, nem o Garotinho. Se o comando partidário abrir os olhos e vir que há essa possibilidade, vamos nos reunir. E a qualquer momento, sabemos todos nós, podemos nos reunir e substituir o candidato a presidente. Faço isso com a maior alegria, com a maior satisfação. Nunca foi do meu feitio fazer uma campanha pessoal. Eu estava nessa campanha, de repente, o Garotinho vai lá e faz um discurso abrindo mão da candidatura dele a meu favor. Mas eu nem dei bola, fui embora e não aceitei. Mas me disseram que se eu não aceitasse, acabaria a candidatura e não teria mais candidatura à presidência, porque ninguém mais vai aparecer. O Itamar está saindo, o Garotinho saiu. Então fiquei para segurar o lugar, para ver se teria outro candidato.
Fui ao Presidente do Senado e falei para encontrarmos esse nome. E estou aqui, nesta hora, dizendo que ainda é possível, ainda é viável. Vamos reunir o partido para discutir, analisar. Se for o Jarbas, será ele. Jarbas, toma o lugar.
Este discurso vai ficar para a história, Sr. Presidente. Não vão rir de mim, dizendo que sou um vaidoso, pretensioso, bobalhão. Sei da minha humildade e insignificância, mas o conteúdo histórico do meu discurso, do que estou falando vai se realizar. Pessoas vão fazer mestrado e vão analisar as vias do partido. Alguém vai querer analisar e fazer história em torno desta campanha que vai começar, de conseqüências imprevisíveis, e saber por que o MDB não estava lá.
Há outro fato, Sr. Presidente, o tom da campanha de PT e PSDB pode ir para o tom quase institucional. É só vermos os debates de um lado e de outro para percebermos que estão sendo contidos; mas no momento em que entrarem na disputa pelo tudo ou nada, não sei o que pode acontecer.
Em São Paulo, não houve uma briga de presidiário, não foi uma rebelião de presídio; em São Paulo, houve a primeira manifestação de uma máfia organizada, ultra-estruturada na história do Brasil. Que não perde para a Itália e não perde para o americano.
Como dizia o Clóvis Rocha na sua coluna, não quero nem discutir se houve acordo entre governo e máfia para parar, não quero nem discutir isso. Só digo o seguinte: eles pararam quando quiseram, o que significa que voltarão quando quiserem.
Olha, acompanhei, durante quatro anos, aqui e na Itália, a Operação Mãos Limpas e sei o que foi e o que significou. Mais de cem deputados - não absolvidos de nenhum mensalão - mas cassados e na cadeia. Quatro ex-primeiros ministros, inclusive o atual, que era Primeiro Ministro, saiu do cargo, foi para a cadeia. O Diretor Presidente da maior empresa, a Fiat, saiu da empresa e foi para a cadeia; e muitos procuradores e muitos juizes também foram para a cadeia porque ali foi feita uma operação para valer.
Agora, nós, hoje, vemos as manchetes que mostram que não sei quantos dias depois esse Chefe da Casa Civil não foi ainda indiciado nem chamado para depor... Não aconteceu nada com nenhum dos quarenta ladrões apontados pelo Procurador-Geral da República! O Procurador-Geral da República denunciou um ministro e a denúncia do ministro está na mão de um ministro do Supremo Tribunal. Eu vim a esta tribuna falar que era impossível um ministro estar sendo processado no Supremo Tribunal! Aí caiu o ministro. E, hoje, ele é Líder do Governo aqui nesta Casa. Deixa de ser ministro porque está sendo processado no Supremo, mas pode ser Líder do Governo.
Se não tivermos uma preocupação nesse sentido não sei o que vai acontecer. Esta Casa esgotou o tecido, o tecido da CPI. Sempre participei da organização da CPI. Agora não, porque temos um Líder superior, com uma experiência muito grande que é o Senador Ney Suassuna, que achou que estou superado e botou gente mais competente do que eu. Mas, mesmo assim, fui lá e tenho acompanhado os trabalhos. A CPI tem uma missão difícil. Com relação a essa CPI que pediram agora, é claro que eu sou contra o Senador Renan, que quer engavetá-la. Quem é ele para engavetar isso? Se nós nos reuníssemos para discutir as dificuldades que estamos vivendo para criar uma CPI neste momento, eu discutiria isso.
O problema é mais sério hoje. O problema é aprovar o meu projeto, Sr. Presidente, que termina com o inquérito policial, que é uma das origens da impunidade neste País. Nosso objetivo é fazer o mesmo que existe na Itália e nos Estados Unidos, onde o processo fica nas mãos do procurador. A carreira de delegado de polícia está junto com a de procurador. Quando o inquérito é aberto, é para valer. Aqui o inquérito policial - eu sou advogado de júri - é piada, porque não vale nada, como aconteceu com o caso do PC Farias: o delegado foi lá, arrasou, queimou as provas, não deixou nada sobre nada e concluiu que foi um crime passional. Ela era apaixonada pelo PC, matou-o e depois se matou. O romance dos dois era de alguns meses, a fonte de renda dela era ele, por que iria matá-lo? Mataram-no, é claro, porque ele era um arquivo vivo, que assustava todo mundo. Por isso queriam matá-lo de qualquer jeito e o mataram. Se fosse um inquérito diferente, se fosse na Justiça, se fosse um procurador que estivesse coordenando isso e não um delegadozinho lá do interior, a coisa teria sido diferente.
Acho que temos de nos preocupar com essas grandes questões e não querer que as coisas continuem como estão.
Um momento que olhei com otimismo foi quando o Sr. Tarso Genro assumiu a presidência do PT. Ele deu uma declaração de que me orgulhei: “Nós vamos fazer a recriação do PT. Para nós, não interessa nem a CPI, nem o Congresso, nem a Polícia Federal, nem os tribunais, nem os procuradores. Nós vamos reunir o Partido, vamos fazer a sindicância, vamos apurar e vamos botar pra rua. Nós vamos botar”... Botaram ele para fora. Não durou quinze dias. E ele, que pensou que tinha toda credibilidade do Presidente da República, ficou falando sozinho. E agora, na última reunião do PT, tomaram uma decisão histórica. Eles poderiam ter tomado uma decisão ou não tomar decisão nenhuma, não precisavam nem tocar no assunto. Mas puseram em votação que até à eleição não se fala em nada que tenha acontecido de errado, inclusive estava o Sr. José Dirceu, aplaudidíssimo por todos e recebeu um elogio de corpo presente de “meu irmão”. O Lula quando foi para a tribuna, lançou um beijo para ele.
Dentro desse quadro é que eu pergunto: cabe ao PMDB, na troca de meia dúzia de cargos que facilitam a três parlamentares, esquecer a sua posição, o seu papel? Repito: eu estou nessa caminhada como venho de longe. Eu me lembro das vezes que tive de ao Senado, quando eu era deputado estadual. Nós reunimos o partido, e eu vim a esta tribuna quando muitos queriam partir para a extinção do MDB, partir para o voto em branco, muitos defendiam as teses mais esdrúxulas, e tínhamos que resistir. Foram momentos dramáticos, difíceis, muito difíceis. Mas eu nunca tive, na luta pessoal, de buscar posições, e me sinto desconfortado. Eu gostaria muito mais se estivesse aqui o Garotinho, o Rigotto, o Governador de Pernambuco, o Itamar, que para mim era o melhor de todos, e aí eu ficaria com mais garra e com mais independência para falar.
Repito: isso é profundamente viável. Tenho certeza de que, se o partido for conversar com o Itamar e disser: é você Itamar, ele vai aceitar. Tenho certeza de que ele aceita. Tenho convicção de que ele aceita. Tenho certeza de que, se o partido for todo conversar com o Jarbas Vanconcellos e disser: é você Jarbas, ele vai aceitar. Mas essa gente não quer. Ainda é tempo, Sr. Presidente. Ainda é tempo.
Confio no povo e confio no meu Partido. O medo que tenho é de que esse comando que ele tem hoje possa ver nesta eleição o seu auto-extermínio.
Muito obrigado.