Discurso durante a 67ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Destaque para a importância da visita do Presidente da França, Jacques Chirac, ao Brasil, e a afinidade de seu país com alguns aspectos defendidos pelo povo e pelo governo brasileiro.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • Destaque para a importância da visita do Presidente da França, Jacques Chirac, ao Brasil, e a afinidade de seu país com alguns aspectos defendidos pelo povo e pelo governo brasileiro.
Publicação
Publicação no DSF de 26/05/2006 - Página 18190
Assunto
Outros > HOMENAGEM. POLITICA EXTERNA. POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • REGISTRO, IMPORTANCIA, VISITA, BRASIL, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA.
  • APRESENTAÇÃO, SEMELHANÇA, ATUAÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, BRASIL, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, FRANÇA, DESAPROVAÇÃO, GUERRA, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), IRAQUE, BUSCA, SOLUÇÃO, COMBATE, FOME, POBREZA.
  • COMENTARIO, SITUAÇÃO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, AUMENTO, SUPERAVIT, BALANÇO DE PAGAMENTOS, RECUPERAÇÃO, RESERVAS CAMBIAIS, REGISTRO, DADOS, COMPARAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, IMPORTANCIA, PREVENÇÃO, GOVERNO FEDERAL, HIPOTESE, POSTERIORIDADE, CRISE, ECONOMIA.
  • ANUNCIO, REUNIÃO, FEDERAÇÃO DAS INDUSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO (FIESP), PRESIDENTE DA REPUBLICA, APRESENTAÇÃO, PROJETO, LIBERAÇÃO, REGIME CAMBIAL, COMENTARIO, IMPORTANCIA, ATENÇÃO, CHEFE DE ESTADO, CENTRAL SINDICAL.
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), COMENTARIO, NECESSIDADE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), REDUÇÃO, JUROS, CRITICA, SUPERIORIDADE, VALORIZAÇÃO, REAL, OCORRENCIA, CRISE, AGRICULTURA, INDUSTRIA.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Marcos Guerra, Srªs Senadoras e Srs. Senadores, primeiro, quero dizer da importância da visita, na tarde de hoje, do Presidente Jacques Chirac, da França, ao Senado brasileiro. Sobretudo, gostaria de ressaltar alguns aspectos bastante relevantes da atuação do Presidente Jacques Chirac, que inclusive tem afinidade com alguns dos aspectos defendidos pelo povo brasileiro, pelo Presidente Lula e pelo atual Governo e que, inclusive, tem também o respaldo praticamente consensual do Congresso Nacional.

            Refiro-me, em primeiro lugar, à posição muito firme, assertiva do Presidente Jacques Chirac quando não aceitou que houvesse a utilização de meios bélicos para a derrubada do Presidente Saddam Hussein, no Iraque, em 2003. Foi muito firme em criticar e o fez como amigo dos Estados Unidos e do Presidente George Walker Bush, assim como amigo do Primeiro Ministro e do povo do Reino Unido e de outras nações. Foi naquela ocasião que o Presidente da Itália, tão amiga da França, Berlusconi, resolveu também participar daquela empreitada bélica, tendo recebido a condenação de tantos povos do mundo. Quero ressaltar esse primeiro ponto.

            Outro ponto importante refere-se à afinidade que tem tido com o Presidente Lula no sentido de buscar meios de combater a pobreza absoluta nos mais diversos países. O Presidente Jacques Chirac resolveu colocar algumas medidas em prática, tal como a de cobrar um dólar por viagem internacional que os franceses façam, contribuindo para um fundo de combate à pobreza, além de outras medidas. O importante é que, nos diversos encontros internacionais de que o Presidente Lula e o Presidente Jacques Chirac têm participado, eles têm trocado idéias a respeito desse assunto. Tenho a expectativa de que hoje o Presidente Jacques Chirac venha a manifestar a sua preocupação com esse tema perante o Presidente Lula e entre nós, Senadores.

            Registro que, em 2004, a convite da Assembléia Nacional Francesa, participei, no auditório Victor Hugo, de um debate de dia inteiro sobre a renda básica de cidadania ou l’allocation universelle. Na França, usa-se o termo l’allocation universelle, que foi, inclusive, objeto do novo livro do Professor Philippe Van Parijs e Yannick Vanderborght, livro esse que espero o Presidente Jacques Chirac já conheça. De qualquer maneira, contribuindo para que ele conheça esse assunto, vou lhe dar o livro do Professor Philippe Van Parijs, assim como o meu, traduzido para o francês por um excelente tradutor, o Sr. Jean, que colaborou comigo.

            Ressalto que, na oportunidade do encontro na Assembléia Nacional Francesa, o escritor Maurice Druon sugeriu que a França seja a nação pioneira na implementação de uma renda básica de cidadania. Felizmente, o Brasil já aprovou projeto nesse sentido, mas gostaria de ver a França instituir uma renda básica de cidadania. Quem sabe hoje possamos ter uma melhor informação a respeito.

            Diante dos distúrbios que estão ocorrendo na economia mundial, começa a haver uma preocupação: o que vai fazer o Banco Central? Será que, devido à instabilidade econômica mundial e às preocupações que levaram o Sistema da Reserva Federal, o FED, nos Estados Unidos, a elevar as taxas de juros, o Copom, Conselho de Política Monetária, vai estancar o processo de diminuição das taxas de juros, que já vem ocorrendo desde o início deste ano?

            Primeiro, é preciso salientar que a economia brasileira hoje está menos vulnerável do que em 2002, menos vulnerável do que há alguns anos. É importante assinalar que o superávit comercial brasileiro supera US$40 bilhões.

            Em 2006, o balanço de pagamento em conta corrente, que inclui comércio de bens, serviços, rendas e transferências unilaterais correntes, será superavitário, e isso vai ocorrer pelo quarto ano consecutivo.

            As reservas internacionais também se recuperaram e, hoje, temos reservas acima de US$64 bilhões. Cabe salientar que alguns países em desenvolvimento têm se preocupado em manter reservas internacionais bastante altas, como, por exemplo, a China, que, excluindo Hong Kong, tem US$875 bilhões em reservas; a Índia, US$154 bilhões; a Rússia, US$226 bilhões; a Coréia do Sul, US$223 bilhões; o México, US$76 bilhões.

            Então, para o tamanho da economia brasileira, US$64 bilhões é uma soma expressiva. Poderia ser maior, para, assim, ficarmos despreocupados com a fase de instabilidade internacional como a que se avizinha. E é importante que o Brasil se prepare para eventuais riscos externos, que, conforme já se verificou em anos anteriores, podem acabar tendo efeitos muito significativos na nossa economia.

            É importante pensarmos em como nos prevenir dos problemas que porventura possam acontecer. Nesse sentido, é mister que o Governo brasileiro não venha a adotar medidas de liberalização cambial crescente, que estão sendo objeto de análise pelo Governo, inclusive em função de propostas que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo realizou recentemente.

            Quero aqui assinalar que fui convidado pelo Presidente Paulo Skaf, da Fiesp, para estar presente num encontro que o Conselho Superior da Fiesp realizará com o Presidente Lula, às 11h30min, na sede da Fiesp. Na ocasião, serão apresentadas ao Presidente Lula e, posteriormente, aos demais candidatos à Presidência da República as propostas desse Conselho a serem discutidas na Rodada de Doha, visando à liberalização do comércio.

            Creio ser muito importante que o Presidente da República tenha esse diálogo mais construtivo e respeitoso com empresários da indústria brasileira e paulista. Já tive a oportunidade de testemunhar, em encontros anteriores, que Sua Excelência tem tido um diálogo muito importante com os empresários paulistas e brasileiros em diversos lugares do País. O Presidente Lula também está preocupado continuamente em manter diálogos com os trabalhadores, com as centrais sindicais. E é muito importante que o Presidente da República esteja aberto ao diálogo com todos os segmentos da sociedade.

            Neste instante, quero respeitosamente transmitir ao Presidente Paulo Skaf, da Fiesp, o que assinala hoje o economista Paulo Nogueira Batista Júnior, em artigo na Folha de S.Paulo, que diz que a conta brasileira de capitais, em parte em decorrência da seqüência de medidas de liberalização do período Collor-FHC, permanece potencialmente volátil. Continua ele:

            O Banco Central tenderá a responder a uma eventual saída de capitais com “parcimônia” na diminuição dos juros e, se a coisa ficar preta, poderá até aumentá-los outra vez. [Mas este caminho, na visão de Paulo Nogueira Batista, não seria o mais saudável]. O mínimo que se poderia fazer, neste momento, seria arquivar as novas medidas de liberalização cambial em discussão no governo.

            Paulo Nogueira faz ainda uma crítica à sobrevalorização do real nos últimos anos, que constitui uma tendência inadequada, pois o real forte vinha atingindo, de maneira cada vez mais nítida, a agricultura, a indústria, setores exportadores e aqueles que competem com importações.

            Portanto, quero dizer da importância do encontro que o Presidente Lula terá amanhã com os empresários da Fiesp. Todavia, é preciso que o Copom fique atento e que, nas suas próximas reuniões, possa caminhar na direção do que os próprios industriais paulistas gostaria de ver: a diminuição acentuada da taxa de juros básicos. Dessa forma, o Brasil deixaria de ser um dos países com mais altas taxas de juros.

            Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 26/05/2006 - Página 18190