Pronunciamento de Arthur Virgílio em 29/05/2006
Discurso durante a 69ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Protesto contra matéria dos jornalistas Policarpo Júnior e Otávio Cabral, publicada na revista Veja, com declarações desrespeitosas à pessoa de S.Exa. Comentários sobre matéria intitulada "Denúncia causa comoção em Brasília", publicada no Jornal do Brasil, edição de 23 de julho de 2004.
- Autor
- Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
- Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
IMPRENSA.
COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.:
- Protesto contra matéria dos jornalistas Policarpo Júnior e Otávio Cabral, publicada na revista Veja, com declarações desrespeitosas à pessoa de S.Exa. Comentários sobre matéria intitulada "Denúncia causa comoção em Brasília", publicada no Jornal do Brasil, edição de 23 de julho de 2004.
- Aparteantes
- Alvaro Dias, Ideli Salvatti, Tião Viana.
- Publicação
- Publicação no DSF de 30/05/2006 - Página 18362
- Assunto
- Outros > IMPRENSA. COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO.
- Indexação
-
- CRITICA, INEXATIDÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ACUSAÇÃO, ORADOR, DEPUTADO FEDERAL, FACILITAÇÃO, IRREGULARIDADE, BANQUEIRO, CORRUPÇÃO, VINCULAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, CONTA BANCARIA, AUTORIDADE, EVASÃO DE DIVISAS.
- DEFESA, CONVOCAÇÃO, BANQUEIRO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), BINGO, ESCLARECIMENTOS, VITIMA, EXTORSÃO, AUTORIA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, EX MINISTRO DE ESTADO.
- COMENTARIO, LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, ANTERIORIDADE, ORADOR, ACUSAÇÃO, BANQUEIRO, PROTESTO, DESRESPEITO, JORNALISTA, CALUNIA, PROTEÇÃO, CRIME DO COLARINHO BRANCO.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, temos assessoria porque assessoria é para sugerir caminhos, preencher deficiências técnicas, participar, se o Parlamentar é democrático, da elaboração da linha que seguir.
E há momentos que temos que fazer o que precisa ser feito. Então, essa história de deixar passar porque “a repercussão não foi tão boa assim”, “não foi tão grande assim”, e “é melhor não”, esses “panos quentes” comigo nem sempre funcionam, aliás, quase nunca funcionam.
Sr. Presidente, Srs. Senadores, na Veja de ontem há uma matéria dos jornalistas Policarpo Junior e Otávio Cabral. É uma matéria que diz muitas coisas com as quais concordo e que já foram objeto de advertências minhas ao Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. Ele, que chegou ao Governo com tanta credibilidade, procura separar o Estado do Governo! Como muito bem diz a revista, sabia fazer Célio Borja. E Márcio, de repente, talvez premido por essa crise brutal que avassalou e desmoralizou o Governo Lula, Márcio, muitas vezes, pode ter feito o papel de advogado criminalista do Governo, deixando, nesses momentos, de ser o Ministro da Justiça, aquela figura impávida, “impávido colosso”, distante, fiscalizador dos seus colegas.
A revista vai muito bem, até que estampa uma foto minha dizendo que o tucano Arthur Virgílio denunciou o achaque a Dantas - e já vou explicar. “O petista Sigmaringa Seixas (foto ao lado) levou o Ministro Márcio Thomaz Bastos ao encontro com o banqueiro e aí diz algo que justificaria uma interpelação judicial: “Ambos fazem parte de uma bancada sensível aos interesses do dono do Opportunity”.
O jornalista Policarpo Júnior não pode dizer; o jornalista Otávio Cabral não tem direito de dizer isso; ninguém tem direito de dizer isso impunemente a meu respeito. (Pausa.)
Aí, muito bem, há aqui a tentativa de envolvimento não só do Deputado Sigmaringa Seixas, que considero uma pessoa de bem, correta, como de outro eminente Deputado do PT, que igualmente eu respeito, Deputado José Eduardo Cardozo. A revista os enreda em articulações que visariam a facilitar a vida de Dantas no Governo.
Vou folheando e chego a uma declaração completamente desrespeitosa, completamente abusiva, completamente leviana, que tem que ser rechaçada por mim. É leviana em relação a mim a matéria do jornalista Policarpo Júnior e do jornalista Otávio Cabral.
Diz aqui: “Há três semanas, o senador Arthur Virgílio, do PSDB do Amazonas, denunciou a tentativa de achaque a Dantas feita por Delúbio Soares”.
Não foi isso, não, jornalista Policarpo; não foi isso, não, jornalista Otávio Cabral. Eu denunciei o achaque supostamente feito a Dantas, dito isso pela irmã de Dantas na Corte Distrital Sul de Nova Iorque, perante o Juiz Lou Scaplan - documento oficial da Corte. Eu disse isso, mas não foi Delúbio, não, jornalista Policarpo; não foi isso, não, jornalista Cabral. Eu disse que foi Lula, mais Palocci, mais José Dirceu. Foi isso que eu disse. Quem está botando panos quentes agora são os dois jornalistas. Eu, não! Jornalistas são pessoas com as quais me relaciono da maneira mais correta do mundo, mas são pessoas de carne e osso, falíveis. É terrível quando alguns se colocam na posição daqueles inatingíveis, e que julgam todo mundo e que ninguém teria condição... Não é bem assim. E comigo é mais embaixo. Não é bem assim. E comigo é mais embaixo.
Vamos lá. Então, não foi Delúbio. Já estou fazendo a primeira a correção de fundo. Eu falei que Lula foi acusado de achacar Daniel Dantas. Foi a revista que amenizou agora. “Depois de Veja revelar que as relações entre o banqueiro e o governo eram mais complexas, muito mais complexas, Virgílio sumiu do mapa. Por que será?”
De que mapa sumi, Senador Paulo Paim? Consulte a lista de presença em comissões, na tribuna da Casa e veja se há algum orador que ocupe a tribuna mais do que eu. Já fui até criticado na imprensa por isso. De que mapa sumi? Nos finais de semana, tenho feito campanha, postulante ao Governo do meu Estado que sou, dentro de direito que ninguém vai me negar. E, mais do que ninguém, abordei este tema à exaustão.
Fiz questão, Srªs e Srs. Senadores, de separar, como diz o caboclo da minha terra com muita sabedoria, as farinhas: farinha branca para um lado, farinha amarela para outro. O que não quis foi assumir a segunda matéria de Veja, aquela que vinha com a conta de fulano, “essa pertence a beltrano”, “esta aqui é a conta do Presidente da República”. Eu não quis assumir e não tenho prova disso. Se não tenho prova, não assumo.
Se não tenho prova, não assumirei que a conta era do Senhor Presidente da República, com não sei quantos mil euros. Como posso dizer uma coisa dessas? Posso dizer que a Srª Verônica Dantas declarou, na Corte Distrital Sul de Nova Iorque, que foi o grupo Opportunitty, do Sr. Dantas, achacado por Lula, Dirceu e Palocci. Posso dizer porque reproduzo o que ela disse lá. Mas uma conta toda riscada não tenho como comprovar. Dizem que o Presidente da República tem 38 mil euros. Não tenho como afirmar. Então, não dei seqüência a isso. Não tenho obrigação de dar suíte a isso. Não o fiz. Não sou leviano, não faço acusações em falso. A primeira parte, confirmei.
Houve dois requerimentos de convocação do Sr. Dantas para a CPI. Foram todos derrotados por uma maioria ocasional que o Governo montou na hora. Um foi do Senador Romeu Tuma, que se mostrava indignado com o fato de seu nome ter sido ligado a uma dessas contas. Então, o Senador Romeu Tuma queria um esclarecimento com relação ao que, acredito, seria uma infâmia contra S. Exª. Eu, disse muito bem, estou insistindo na convocação de Dantas, mas não por causa dessas contas. Não posso, por enquanto, levá-las a sério. Disse ainda desta tribuna, para a imprensa e por onde passei, que aquilo me cheirava a Dossiê Cayman, um dossiê falso que foi montado por vigaristas contra o Presidente Fernando Henrique Cardoso, o saudoso Mário Covas, o saudoso Sérgio Motta e o ex-Prefeito de São Paulo, José Serra. Não vou embarcar em nada parecido com Dossiê Cayman. Tive o cuidado de dizer que a revista, também ela, não havia assumido que aquilo era verdade. Ela apenas, de maneira ousada, havia publicado. Mas eu não podia embarcar naquela, não. Eu disse: estou convocando o Sr. Dantas por uma razão simples. Estou convocando o Sr. Dantas porque a Dona Verônica Dantas, irmã dele, disse que o Sr. Dantas havia sido achacado - não foi pelo Delúbio, não, jornalista Policarpo, nem foi pelo Delúbio, não, jornalista Otávio Cabral -, ele foi achacado por Lula da Silva, por Antônio Palocci Filho, por José Dirceu de Oliveira e Silva. Essa é a verdade!
Agora, sinceramente, Sr. Presidente, é repulsivo ter-se o trabalho que se tem aqui e encontrar-se essa mania, que, aliás, enfraquece: se a Veja não tivesse publicado a segunda matéria, ela estava com uma grande matéria na mão, uma bela matéria na mão. Era esmiuçar, forçando a convocação de Dantas aqui, se era verdade ou não o achaque, a extorsão praticada pelo Presidente da República, quando ainda não o era. Isso era a matéria; a das contas enfraqueceu, a meu ver.
Agora, colocar a mim como bancada de quem quer que seja não será o jornalista Cabral, não será o jornalista Policarpo a fazer isso. Não será nem um nem outro nem os dois. Não será ninguém a fazer isso. Estão muito acostumados com o silêncio, vai-se deixando passar, deixando passar, todo mundo, e cria-se um poder assim que, de repente... Pois, comigo não funciona, não me mete medo algum. Comigo não funciona. Comigo, pura e simplesmente, faz com que eu passe a olhar os dois de outro jeito. Quando eu for agora dar entrevista aos dois, darei de outro jeito. Daqui para frente, darei com o máximo de cuidado, de outro jeito. Porque vou passar a entender
de outro jeito, porque entendo que, se alguém tivesse de me dizer uma coisa como essa, deveria ter me consultado, mas não me consultaram! Então, daqui para frente, se não me procurarem, maravilha! Se me procurarem, eu os tratarei de outro jeito, de outra maneira, com os dois pés atrás, porque não é assim que se faz uma carreira decente em qualquer lugar. E não é assim, também, que se faz uma carreira decente no jornalismo!
Sr. Presidente, mentira não tem pernas compridas. Tenho aqui uma matéria do Jornal do Brasil, de 23 de julho de 2004. Estou aqui com o clipping da Radiobrás. O jornalista que fez a matéria é o correto Paulo de Tarso Lyra. O título é: “Denúncia causa comoção em Brasília”. Lembro a data: 23 de julho de 2004. Em determinado trecho, a matéria diz: “O Líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, Amazonas, classificou como ‘deplorável e pouco nobre’ o método usado por Dantas para investigar seus concorrentes”. Foi quando houve aquela história do grampo ilegal, feito pela Kroll Associates, contratada por Daniel Dantas para investigar seu sócio na Brasil Telecom, a Telecom Itália, com a qual tem disputas judiciais. Continua a matéria: “Ele afirmou que as acusações envolvendo o Ministro Luiz Gushiken e o Presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, precisam vir à baila o mais rapidamente possível, para que o Governo não fique à mercê de chantagistas”. Chamei o Sr. Dantas de chantagista em julho de 2004, em julho de 2004, e não tem o Sr. Policarpo Júnior, nem o Sr. Policarpo Quaresma, nem o Sr. Otávio Cabral, nem o Sr. Pedro Álvares Cabral autoridade para dizer que pertenço à Bancada de quem quer que seja, a não ser a Bancada do Estado do Amazonas, que represento com honra, integridade e com autoridade de quem fala neste tom, contra quem quer que seja, quando pensar que essa é a hora. Portanto, é assim com Lula, é assim com os dois jornalistas, é assim com qualquer Ministro e era assim no tempo do regime militar.
Vamos à matéria de julho de 2004, Sr. Presidente, dois anos atrás (aspas para o Senador Arthur Virgílio): “Com certeza, o Sr. Daniel Dantas não é uma pessoa de quem eu mostre uma foto para meu filho e diga: ‘Filhão, quero que você seja como ele quando crescer’”. Eu disse isso em julho de 2004. Nunca falei com esse cidadão. Não tenho vontade de fazê-lo. Não tenho a menor necessidade de fazê-lo. Não tenho desejo de falar e tenho repulsa pela forma como ele se está revelando à opinião pública do País.
Continua a matéria do Jornalista Paulo de Tarso Lira:
“Para Virgílio, o mundo atual exige que os homens públicos sejam transparentes - se não o forem por natureza, terão que sê-lo por necessidade, diante de uma sociedade completamente devassada. Infelizmente, é preciso conviver com a realidade de que seu e-mail será invadido, seu sigilo bancário quebrado e seu telefone grampeado.”
E por aí sigo, pedindo providências e, àquela altura, ainda dando um crédito de confiança ao Governo, dizendo-lhe que deveria livrar-se de um chantagista.
Tenho opinião formada sobre o Sr. Dantas. Recebo o documento oficial da Corte de Nova York, Sr. Presidente Paulo Paim, que é legítimo, carimbado, chancelado pela Corte Distrital Sul de Nova Iorque, e o leio durante o depoimento daquele mentiroso contumaz que é o Sr. Delúbio Soares.
Mas é evidente que procurei ouvir o outro lado e estudar isso. Hoje, tenho até convicção de que o Citibank foi vítima do Sr. Dantas, e penso que a Justiça de Nova York vai confirmar isso. Mas, ainda assim, pedi para ouvirmos os dois lados na Comissão dos Bingos e do Crime Organizado. Meu requerimento foi derrotado. Consegui aprová-lo, e a expectativa é de que o Sr. Dantas venha aqui no dia 07 de junho, já não mais convocado, mas convidado, perante a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Casa.
Se não tivermos cuidado, Sr. Presidente, e continuarmos nessa história de confundir as coisas, tudo para fazer uma matéria, porque de qualquer jeito ela tem que ser feita, tem que ser picante ou não sei o que, então, pergunto ao jornalista Otávio Cabral, que me conhece: não me respeita, Otávio? Você me conhece, acompanha a minha vida, não me respeita? O Policarpo eu conheço menos. Mas não me respeita também, Policarpo? Quem deu a vocês dois o direito de me desrespeitar? Quem foi que deu? Quem deu?
O que me faria respeitar os dois seria um pedido de desculpas, e não aquela célebre notinha. Porque volto à tribuna depois, mil vezes até, se houver aquela notinha tentando explicar, ironizando e tentando ridicularizar a pessoa que está defendendo o que é o seu patrimônio,
que é a sua honra. Se eles têm honra e devem defendê-la, eu tenho honra e defendo a minha honra!
Aqui há uma gracinha, algo infanto-juvenil, que diz assim: “Depois de Veja revelar que as relações entre o banqueiro e o Governo eram mais complexas, muito mais complexas...” Não estou seguro de que Veja tenha revelado nada de tão mais complexo, até porque Veja não insistiu na história das contas. Eu tenho faro de que aquelas contas são falsas. Eu tenho faro de que não há nenhuma conta de Lula no exterior. Eu tenho esse faro, por isso não embarquei nisso. Eu não embarco em Dossiê Cayman. Se estão querendo resolver um problema, um embaraço técnico da revista, como é que saímos nós disso? Encontre a melhor forma. Mas sair disso às minhas custas? Às minhas custas não sai! Às minhas custas não sai! Cabe autocrítica, ou cabe mostrar que as contas são verdadeiras. Às minhas custas não sai.
Quem teve relações, e profissionais, com o Sr. Dantas foram os jornalistas que o entrevistaram ou os parlamentares que com ele estiveram, acompanhando o Ministro da Justiça. E não vi nada de mal nisso. Acho errado o Ministro ter se encontrado com ele. Os parlamentares acompanharam porque acompanharam. O Ministro não devia ter se encontrado com ele. Ministro da Justiça não é para se encontrar com Daniel Dantas nem com ninguém na calada da noite, em lugar nenhum. Não é assim.
Depois, Veja publica: “Virgílio sumiu do mapa.” Sumi do mapa, Otávio Cabral? Como é que sumi do mapa se você fala comigo todos os dias? Como é que sumi do mapa se você todos os dias me pede entrevista? “Sumiu do mapa. Por que será?” E aí vem a maldade, a perfídia, a leviandade: ele não diz por que será; ele diz que sumi do mapa, do qual não sumi. “Por que será? Dantas sabe.” Qualquer hora, estou na ambulância também. Qualquer hora eu sou sanguessuga também. Qualquer hora... Eu não consigo aceitar isso. Não consigo aceitar.
Então, me perdoe meu prezado Walter,me perdoe a minha ponderada assessoria, mas pau que nasce torto morre torto. Eu vou morrer torto! Não aprendi a endireitar-me, sob esse aspecto de curvar a minha coluna, a minha espinha dorsal. Não aprendi! Injustiça, para mim, é injustiça! Se é injustiça, se é contra a honra de alguém e se ela vem da imprensa... É preciso separar a imprensa democrática, que se porta de maneira correta neste País, de setores que não se acham no dever de respeitar as pessoas de bem deste País. Aí eu vou calar? Eu vou calar, Sr. Presidente? Estou aguardando um pedido de desculpa dos dois. Eles me devem isso! Eu não os diria jornalistas do Dantas; eu não diria que os dois são jornalistas a soldo do Citibank; eu não diria que os dois são jornalistas a soldo de ninguém! Eles não podem dizer que eu sou Deputado, ou Senador, ou o que quer que seja, de quem quer que seja! Eu sou Senador do povo do Amazonas! E vou aguardar, do jeito que sou, a manifestação, que vai ser uma manifestação de retratação dos dois jornalistas. Eu prefiro pedir a retratação assim: de frente. Era tão fácil fazer isso pela Justiça. E lá viria aquela resposta da Justiça meio malevolente: Disse, mas não disse; foi assim, mas não foi assim; era vermelho, mas era cor-de-rosa.
Concedo um aparte ao Senador Alvaro Dias.
O Sr. Alvaro Dias (PSDB - PR) - Senador Arthur Virgílio, eu quero ser testemunha do comportamento de V. Exª nesse episódio. Desde o primeiro momento, o que desejou V. Exª foi buscar a verdade, estimulando uma investigação de profundidade, que chegasse às últimas conseqüências e revelasse à sociedade, no atendimento de sua exigência superior, o que ocorre nos bastidores da administração pública brasileira nessa sua relação de promiscuidade com setores privados nacionais. Então, V. Exª apresentou uma denúncia quando do depoimento do Sr. Sílvio Pereira, uma denúncia documentada, e requereu a convocação do Sr. Daniel Dantas para apresentar explicações a respeito dos fatos à CPI dos Bingos. Posteriormente, V. Exª requereu o mesmo na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Portanto, desde o início, o comportamento que teve V. Exª nesse episódio foi um comportamento ético, de oposicionista, de quem deseja investigar com eficiência para cumprir o seu dever no exercício do seu mandato de Senador. Portanto, creio que qualquer outra ilação não merece consideração maior, pois V. Exª tem uma reputação, no Congresso Nacional e na sociedade brasileira, intocável, de homem honrado, digno e que quer realmente passar a limpo o País. Por isso, esse meu depoimento tem o sentido apenas de avalizar a posição de V. Exª e, sobretudo, dar consistência aos fatos reais, aqueles que verdadeiramente ocorreram aqui no Congresso Nacional desde o início desse episódio.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Obrigado, Senador Alvaro Dias. Já concedo o aparte a V. Exª, Senadora Ideli Salvatti.
Sr. Presidente, vou dizer mais: se eu não me pautar pela minha verdade, porque eu erro muito, vou-me tornar um ser humano muito infeliz. Eu não sou um ser humano infeliz. Aliás, hoje nasceu o meu primeiro neto. Eu estava em Manaus e tive de fazer uma viagem daquelas fisicamente dolorosas, mas para encontrar uma felicidade pessoal muito grande.
Entendo que todos temos de procurar cuidar dessa coisa do comportamento. Quando, muitas vezes, deplorei aqui o comportamento de segmentos do Governo, no Governo passado - os que hoje são Governo e que não eram Governo -, embarcando em denúncias que eram vazias. Eu, por outro lado, à época, elogiei o comportamento do PT, quando o Partido dos Trabalhadores desqualificou aquele Dossiê Cayman, que vinha das piores procedências. E aquele foi um dado de maturidade naquele ano de 2002.
Eu não emiti juízo de valores, Senador Tião Viana, quando recebi o documento do depoimento da Srª Verônica Dantas lá. Não emiti juízo de valores. Eu disse que queria aquilo investigado. Afinal de contas, uma pessoa diz que seu grupo está sendo extorquido pelo futuro Presidente da República, pelo futuro Ministro da Fazenda, pelo futuro Ministro-Chefe da Casa Civil; depois, pelo Presidente da República, pelo Ministro da Fazenda e pelo Ministro-Chefe da Casa Civil. Ela disse isso, defendendo-se da questão com o Citibank. Faço meu papel de oposicionista, leio o documento, quero explicações, faço a convocação do Sr. Dantas aqui. O que mais me cumpriria fazer, Sr. Presidente?
Aí, sai a outra matéria, com as contas. Disseram-me: as contas são terríveis, tem conta do Lula, e já estranhei a quantia. Então, Lula é o que tem menos, 38 mil euros? Já não acreditei. E riscaram do lado.
Enfim, Sr. Presidente, não entendo de conta no exterior. Nunca entrevistei quem tem conta no exterior, não entendo e não tenho conta no exterior. Então, é um assunto de que entendo menos do que quem entrevista. Esses dois jornalistas que o entrevistaram sabem mais do que eu, porque eu não o entrevistei.
Eu disse para minha assessoria com firmeza: embarco até aqui; quero explicação para o documento dessa senhora. Agora, a outra, eu disse, desta tribuna, o que eu achava do Dossiê Cayman, que não o endossava. E isso é sumir do mapa? Sumir do mapa era agora eu estar dizendo: “O Sr. Lula tem 38 mil euros no exterior”, e desmentir minha vida pública. Lamento, mas não vou fazer isso.
O que estou dizendo aos dois jornalistas é que a coisa mais simples do mundo seria interpelá-los judicialmente.
Aqui está, Senadora Ideli Salvatti, a matéria: “Virgílio sumiu do mapa”, dizem Otávio Cabral e Policarpo Júnior. Por que será? Aí as duas sapiências dizem: Dantas sabe. Neste País, em que todo mundo é suspeito a priori, ele diz que Dantas sabe. Dantas sabe o quê? Eu quero saber o que Dantas sabe do meu sumiço do mapa. Que sumiço do mapa foi esse? Eu sumo tanto do mapa que estou com um neto na maternidade e estou aqui, falando sobre os dois jornalistas do mesmo jeito que falo em relação a qualquer pessoa que eu sinta que não procedeu de maneira correta diante da coisa pública, diante do fato público, diante do fato político que aí está. Poderiam ser o Ministro Márcio Thomaz Bastos, o Presidente Lula e os dois jornalistas, poderiam ser dois cientistas, poderia ser o astronauta, mas, no caso, são dois jornalistas que não têm o direito de falar de mim o que falaram. Aliás, não falaram, insinuaram. Foram mais além com José Eduardo Cardozo(*), com Sigmaringa Seixas, com o Senador Heráclito Fortes e comigo não foram além. Eles insinuaram e não aceito insinuações.
Concedo o aparte a V. Exª, Senadora Ideli Salvatti.
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Senador Arthur Virgílio, em primeiro lugar, quero parabenizá-lo por ter atingido um objetivo na vida que ainda não consegui. Apesar de já ter assinado muitos manifestos dos “sem-netos”, ainda não consegui me tornar avó. Então, quero parabenizá-lo pela chegada do seu primeiro neto. Senador Arthur Virgílio, não ouvi a íntegra do discurso de V. Exª, porque atendi a imprensa; somente quando cheguei ao meu Gabinete ouvi uma parte da indignação de V. Exª.
Deixo registrado que não li a matéria a que V. Exª se refere. Tenho evitado ler, porque tem sido muito sistemática a posição desse órgão de imprensa. Tive oportunidade de registrar da tribuna, há alguns dias, que foi a primeira vez na minha vida de acompanhamento da imprensa brasileira que vi um órgão de imprensa, não um jornalista, referindo-se a outro órgão de imprensa, desqualificando o comportamento, o denuncismo, a forma com que veicula as matérias, sem embasamento, sem provas. Faço essa referência porque já fiz críticas a V. Exª com relação a várias posições com que não concordamos, mas sempre que V. Exª se manifesta, como no caso das tais contas do exterior, não é a primeira vez que, de público, digo que o comportamento de V. Exª foi digno. Realmente, aquela história cheira a irresponsabilidade, porque não há provas, e relembra muitos episódios anteriores, como o caso do dossiê Cayman. Quero dizer, Senador Arthur Virgilio, que estranhei muito. V. Exª não ouviu de mim nenhum comentário, mas estranhei muito quando, no depoimento do Silvio Pereira, V. Exª leu trechos do documento da Srª Verônica Dantas, porque aquele documento, efetivamente, é a linha de defesa do Sr. Daniel Dantas no processo, como eu tive oportunidade de ouvir agora há pouco que V. Exª também desconfia que o Citibank tem razão. Há fortes indícios de que...
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Estou seguro disso.
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - ... ele tem razão. Portanto, veja bem, eu tive até certa dificuldade na CPI dos Bingos quando fizemos a votação contrária ao requerimento de V. Exª para que ele fosse ouvido. Depois, quando foi à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, onde acabou sendo aprovado, eu fiz apelo, em reiterados momentos; e o Senador Eduardo Suplicy colocou, naquela reunião, que nós não deveríamos entrar no jogo do Sr. Daniel Dantas, que quer sair da condição de réu para a de vítima, no processo nos Estados Unidos. Então, foi acatado o apelo de que nós somente trouxéssemos Daniel Dantas para o Congresso Nacional depois da definição daquele caso, que é um dos mais vultosos em termos de interesses envolvidos. Então, foi acordado que ele seria trazido depois do dia 2. V. Exª sabe que agora a audiência passou para o dia 9? E nós o ouviremos no dia 7, dois dias antes. E tudo o que ele precisa é de um palco para fazer novamente o ramerrame. Eu acho que nós devemos construir um cenário para depois do dia 9, porque estou convencida, Senador Arthur Virgílio, de que o Sr. Daniel Dantas é o chantagista. Não é possível que alguém que esteja sendo processado em tantos lugares no Brasil e no exterior não tenha alguma “culpa no cartório”, que não tenha a ver com as maracutaias nas quais os processos todos indicam que ele atuou. Senador Arthur Virgílio, acho que não há, neste plenário, quem seja mais identificado como governista do que eu. As pessoas me identificam como governista. E V. Exª é testemunha de que, ao longo destes quase três anos e meio, eu não modifiquei o meu posicionamento com relação ao Sr. Daniel Dantas. Exigi investigação, fui uma das mais contundentes ao afrontá-lo quando ele veio à CPI dos Correios e à da Compra de Votos. Estou entre os que mais atuaram aqui para que ele fosse incluído no relatório da CPI dos Correios, para que fosse indiciado. Pois bem, penso que é estranhíssima a decisão judicial que impede a quebra do sigilo do disco rígido que foi apreendido na investigação da Kroll e que está sob a guarda da Polícia Federal. V. Exª mesmo leu, reportou alguns trechos da decisão. Não tenho nenhuma dúvida a respeito dos fortes indícios de participação do Sr. Daniel Dantas em vários crimes. Se houvesse qualquer incidência para eu “dar um refresco” para o Dr. Daniel Dantas, eu teria recebido algum aviso, pelo menos algum pedido. Quero tornar público que não recebi nada nesse sentido e que não modifiquei minha posição. Fui contrária a trazê-lo à CPI dos Bingos e, depois, à Comissão de Constituição e Justiça antes do julgamento, porque estou absolutamente convencida de que tudo de que ele precisa neste momento é sair da condição de réu para a de vítima, de achacado, de perseguido, de coitadinho, quando tudo indica que é exatamente o contrário: ele é o achacador, ele é o chantagista, ele é o réu. Por isso, Senador Arthur Virgílio, quero manifestar minha solidariedade a V. Exª pela indignação que manifesta com relação à reportagem, que não li, pois acho que V. Exª deve estar coberto de razão, pelo que tenho acompanhado do que a revista faz, semanalmente, com as pessoas com quem tenho compromisso, com quem tenho vinculação e de cuja defesa estou convicta de que devo fazer aqui no plenário. Por isso, quero deixar, mais uma vez, meus parabéns pelo neto e manifestar minha solidariedade pelo repúdio à forma como a revista trata V. Exª. Entretanto, Senador Arthur Virgílio, devo lembrar que ela tem tratado assim não apenas V. Exª, mas muitas outras pessoas.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Muito obrigado, Senadora.
A revista mal faz uma insinuação a meu respeito. Creio que o dever dela é mesmo denunciar, com fundamentação, o que houver, neste ou em qualquer outro governo, de corrupção, de desvio de dinheiro público, de desrespeito à coisa pública. Então, não deixo de louvar a revista por serviços inestimáveis que tem prestado ao País. Refiro-me especialmente a uma matéria - V. Exª não leu -, que, basicamente, diz que o Ministro Márcio Thomaz Bastos seria o escudo de Lula e faz críticas ao Ministro, o que, aliás, eu já fiz, seja da tribuna, de modo duro, seja pessoalmente, em convívio muito ameno e muito fraterno.
Em determinado momento, a matéria arrola dois Deputados, Sigmaringa Seixas e José Eduardo Cardozo, que eu respeito sobremaneira, como membros da bancada de Dantas, assim como o Senador Heráclito Fortes, meu companheiro de Oposição. Ela coloca um retrato meu - modéstia à parte, não estou feio no retrato -, e diz: “o ‘tucano’ Arthur Virgílio (acima) denunciou
o achaque a Dantas. O petista Sigmaringa Seixas (ao lado) levou o Ministro Márcio Thomaz Bastos ao encontro com o banqueiro. Ambos fazem parte de uma bancada sensível aos interesses do Banco Opportunity”. Não posso aceitar isso.
Em outra matéria, em outro ponto, diz que eu teria “sumido do mapa”. V. Exª, Senadora Ideli Salvatti, e o Senador Tião Viana sabem, mais do que ninguém, que não “sumo do mapa”. Seria, talvez, uma felicidade para ambos, mas eu não “sumo do mapa”. Estou aqui o tempo inteiro e falando sobre esse assunto. O que não fiz foi endossar, não endossei o episódio das contas por entender que não cabia fazê-lo, por entender que, se o Sr. Dantas tem provas de que fulano de tal tem conta, a começar pelo Presidente da República, se ele tiver um pingo de brasilidade, ele deveria denunciar isso para “passarmos o Brasil a limpo”. Se ele não tem provas disso, ele tem que ser processado. Esse jogo não pode ficar zero a zero, Senador Alvaro Dias.
Li também, Senadora Ideli Salvatti, trechos de uma matéria do jornalista Paulo de Tarso Lira, do Jornal do Brasil, de 23 de julho de 2004. Vou repetir: “... O Líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, do Amazonas, classificou como ‘deplorável e pouco nobre’, o método adotado por Dantas para investigar seus concorrentes. Ele afirmou que as acusações envolvendo o Ministro Gushiken e o Presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, precisam vir à baila o mais rapidamente possível para que o Governo não fique à mercê de chantagistas”. Eu falei isso em julho de 2004. Eu disse mais: “... Com certeza, o Sr. Daniel Dantas não é uma pessoa de quem eu mostre uma foto para o meu filho e diga: ‘Filhão, quero que você seja como ele quando crescer’, criticou. Para Virgílio, o mundo atual exige que os homens públicos sejam transparentes - se não forem por natureza, terão de sê-lo
por necessidade, diante de uma sociedade completamente devassada. Infelizmente, é preciso conviver com a realidade de que o seu e-mail será invadido, seu sigilo bancário quebrado e seu telefone grampeado”. Eu estava me referindo ao grampo ilegal feito pela Kroll Associates...
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Aliás, Senador Arthur Virgílio...
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Pois não.
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - ..., um dos assuntos que está também nas matérias do final de semana é exatamente que a Kroll finalmente foi obrigada a entregar vinte e uma caixas para a BrasilTelecom, porque a BrasilTelecom continuava pagando serviços contratados pela Kroll à época do Sr. Daniel Dantas, mas a atual diretoria da BrasilTelecom não podia acessar esses documentos que a Kroll produziu grampeando, investigando autoridades como o Presidente da República, o Ministro Gushiken ou o Ministro Edson Vidigal, Ministro do Superior Tribunal de Justiça...
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Funcionando como uma Gestapo.
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - Exatamente. Então, veja bem que as caixas foram entregues agora. Toda essa movimentação do Sr. Daniel Dantas, Senador Arthur Virgilio, acho que todos nós temos que acompanhar...
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Eu já a condenava há dois anos.
A Srª Ideli Salvatti (Bloco/PT - SC) - ... com muita atenção, porque é a movimentação efetiva - estou convencida disto - de alguém que é muito réu, muito réu, e que quer passar por vítima.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Ele é aquilo que, já que ele está sendo processado nos Estados Unidos, chama-se, em inglês, de moneymaker, ele é um fazedor de dinheiro, e um go-getter, aquele que, quando quer alguma coisa, vai, a qualquer preço, passando por cima de quem quer que seja. Mas eu acompanho, à distância, graças a Deus, e não posso aceitar, tenho que repudiar, que alguém diga que eu tenho qualquer ligação com uma figura desse porte.
Concedo a palavra ao Senador Tião Viana. Sr. Presidente, em seguida, pedirei a palavra como Líder do PSDB.
O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Meu caro Senador Arthur Virgílio, eu estava fazendo uma leitura de documentos, vi V. Exª à tribuna, abordando esse tema, fazendo a defesa de sua dignidade pessoal, entendendo que houve insinuação desfavorável à sua honra por parte de dois jornalistas, e senti-me na obrigação de vir prestar respeito à sua conduta parlamentar no dia-a-dia da relação política com todos os partidos, de vir falar da absoluta transparência e lealdade no posicionamento político e ideológico de V. Exª e, ao mesmo tempo, de testemunhar o respeito de V. Exª aos adversários, sem extrapolar os limites das suas posições políticas claras e sem desrespeitar aqueles que defendem posições distintas. Diante de um fato como esse, devemos refletir até um pouco mais. Vejo uma grave crise de ordem moral na política brasileira, na atividade parlamentar brasileira, vejo uma grave crise de ordem moral na vida do Judiciário brasileiro, vejo uma crise que se expande em outras áreas da sociedade, envolvendo especialmente momentos de tentação e corrupção que ocorrem mesmo nesse aspecto, e parece que a imprensa está sempre livre disso tudo. A imprensa é fundamental e dá uma grande contribuição para o momento de democracia plena que vivemos no Brasil. Na história contemporânea, devemos muito à imprensa brasileira, que é imprescindível e oxigena a capacidade do grande debate que podemos fazer. Mas não tenho dúvida de que, quando a imprensa trata de conceitos, de comportamentos e de dignidade individual, tem havido muita injustiça. Não tenho a menor dúvida de que esse é um caso de injustiça direta a V. Exª. Quando leio manchetes do tipo “se eu cair, vou levar junto PT, PSDB, PFL”, parece-me que é muito fácil generalizar.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Se ele cair, a minha aposta é a de que não leva o PSDB. Se levasse o PSDB, a mim não levaria.
O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - O mesmo entendimento tenho em relação ao meu Partido e à minha pessoa, de modo distinto. Essa coisa de ter medo de esquema de espionagem, de Kroll, na minha vida não há lugar. Esse senhor parece-me um parasita do aparelho do Estado, que tomou seu caminho de vida utilizando o aparelho do Estado de maneira direta ou indireta. Não tenho nenhuma simpatia ou respeito por sua conduta. Creio que ele deveria ser investigado de maneira profunda pela Polícia Federal num inquérito. Inclusive, acho que uma pessoa que admiro - e V. Exª é sabedor -, o Ministro Márcio Thomaz Bastos, cometeu o erro de ter ido àquela reunião fora do Ministério. Se eu fosse o Ministro, teria dito: se o senhor quiser falar comigo, venha ao Ministério, com agenda marcada e tornada pública. Acho que o Ministro, talvez por boa-fé, cometeu um equívoco de atenção ao Sr. Daniel Dantas. Deve-se ir a fundo no caso Daniel Dantas, passando-o a limpo. Que não se imputem dúvidas à dignidade de uma pessoa como V. Exª, porque é um ato de desrespeito. Entendo que não é um erro de dois jornalistas para com V. Exª. De maneira fácil, estão ferindo a dignidade de pessoas. Vi, recentemente, o que fizeram com um jornalista como Franklin Martins, com sua história de vida. Vem um outro cidadão, pega uma caneta e torna pública uma desonra sobre quem não merece. Injustamente, ele foi atacado. Não está correto esse tipo de procedimento. Acho que os próprios jornalistas deveriam fazer uma reflexão e intervir no campo ético, para que não se destrua o direito à dignidade individual, que está tão fragilizado nos dias de hoje. A culpa parece-me de um traço de crise civilizatória e não de uma crise política do Parlamento, do Judiciário ou de outros setores da sociedade.
O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM) - Senador Tião Viana, tenho certeza de que V. Exª estende sua indignidade aos seus colegas e meus amigos do seu Partido, Sigmaringa Seixas e José Eduardo Cardozo, que foram atingidos, e ao Senador Heráclito. Não tenho por que não me solidarizar com pessoa tão querida, tão estimada e tão estimável.
Faço nitidamente a separação. Considero que o Ministério Público já cometeu mais exageros antes. Para mim, ele amadureceu e ganhou cabelos brancos, cabelos grisalhos.
A imprensa, eu a vejo como correta. Mantenho relação com dezenas de jornalistas, dentro e fora do Congresso Nacional, e os vejo como basicamente corretos, basicamente preocupados com a verdade, basicamente preocupados com a apuração do que vão dizer; um ou outro excesso, aqui e acolá.
Eu separaria muito a instituição, que tem que ser resguardada, das figuras que, de repente, uma ou outra, se coloca no altar. Não sei o que passa pela cabeça das pessoas. Hitler fez isto: achava que podia dominar o mundo. De repente, no altar: o que eu disser, é verdade. Ou seja, 28 anos de vida pública minha não valem nada se o Sr. Otávio Cabral e o Sr. Policarpo resolveram que não valem nada. Imaginem! Imaginem! Imaginem! Imaginem! Imaginem!
Obrigado, Senador Tião Viana.
Sr. Presidente, peço a palavra como Líder do PSDB.