Discurso durante a 70ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Tristeza com o episódio deprimente que viveu a Câmara dos Deputados, quando um depoente, advogado, acusado de subornar um funcionário da Casa para servir a seus clientes narcotraficantes, replicou que "aqui se aprende rápido a malandragem". (como Líder)

Autor
Jefferson Peres (PDT - Partido Democrático Trabalhista/AM)
Nome completo: José Jefferson Carpinteiro Peres
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
LEGISLATIVO.:
  • Tristeza com o episódio deprimente que viveu a Câmara dos Deputados, quando um depoente, advogado, acusado de subornar um funcionário da Casa para servir a seus clientes narcotraficantes, replicou que "aqui se aprende rápido a malandragem". (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 31/05/2006 - Página 18485
Assunto
Outros > LEGISLATIVO.
Indexação
  • GRAVIDADE, PERDA, REPUTAÇÃO, CONGRESSO NACIONAL, DEPOIMENTO, ADVOGADO, ACUSAÇÃO, DEPUTADO FEDERAL, FALTA, IDONEIDADE, REGISTRO, RECEBIMENTO, CORRESPONDENCIA, MANIFESTAÇÃO, APOIO, OPINIÃO PUBLICA, CRITICA, CLASSE POLITICA.
  • COMENTARIO, PESQUISA, ELEIÇÕES, FAVORECIMENTO, REELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, MOTIVO, PERDA, REPUTAÇÃO, CLASSE POLITICA, ANALISE, IMPOSSIBILIDADE, INICIATIVA, PROCESSO, IMPEACHMENT, FALTA, AUTORIDADE, CONGRESSO NACIONAL, CONCLAMAÇÃO, ETICA, ENTENDIMENTO, BENEFICIO, BRASIL.

O SR. JEFFERSON PÉRES (PDT - AM. Pela Liderança do PDT. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na semana passada, eu me senti muito triste de ser membro do Congresso Nacional nesta legislatura em face daquele episódio deprimente que viveu a Câmara dos Deputados, quando um depoente, advogado, acusado de ter subornado um funcionário da Casa para servir aos seus clientes narcotraficantes, foi questionado pelos Deputados e acusado de ser malandro. Ele replicou: “Aqui [ou seja, na Câmara dos Deputados] se aprende rápido a malandragem”.

Creio que nunca o Congresso Nacional passou por tamanha humilhação e, talvez, merecida - infelizmente, digo isso com muita tristeza.

Em primeiro lugar, Parlamentares assumem uma posição equivocada quando pensam que podem insultar depoentes. É uma posição equivocada, covarde, porque o depoente, seja ele quem for, esteja sendo acusado do que for, tem que ser tratado pelo menos com urbanidade, com educação. Um Parlamentar não pode se prevalecer da posição de força em que se encontra como inquiridor, e o depoente como inquirido, para desacatar o depoente. Já diz um ditado popular: “Quem diz o que quer ouve o que não quer”. Ao ser chamado de malandro, o advogado perdeu a tranqüilidade e replicou que, na Câmara dos Deputados, se aprende malandragem rapidamente.

Portanto, os Deputados mereceram ouvir a réplica desrespeitosa, insultuosa para o Congresso Nacional, mas - digo isto também com tristeza, Sr. Presidente - mereceu a aprovação geral. Pelos e-mails que recebo, pelas cartas que li nos jornais, pelas abordagens que recebi ainda no fim de semana, no Rio de Janeiro, a população, de modo geral, em sua esmagadora maioria, entende que o advogado não mentiu, Senador Cristovam Buarque. Ele foi preso - foram estas as manifestações que ouvi de 90% dos que me procuraram - por ter dito a verdade, ou seja, “na Câmara dos Deputados se aprende malandragem com rapidez”.

Esse é o “prestígio” do Congresso Nacional nesta legislatura, Senador Cristovam: lá embaixo! O Parlamento brasileiro, infelizmente, está desmoralizado. Não tenho nenhuma alegria em dizer isso. Digo-o com muito pesar.

Isso explica por que, talvez, o Presidente Lula esteja à frente nas pesquisas: porque o grosso da população coloca a classe política dentro do mesmo pote de sujeiras, ela entende que todos são iguais. Um pelo outro, que venha o Lula, que já está aí, que é gente nossa, que veio de baixo.

É essa atitude do eleitor médio no Brasil atualmente. É por isso que, apesar de tudo, de todos os erros que cometeu, de todas as omissões e prevaricações que praticou, ele marcha para ganhar a eleição. Isso é fruto da desmoralização da classe política brasileira.

Os eleitores me cobram: “Por que os senhores, da Oposição, não marcharam para o impeachment do Presidente Lula?” Ora, senhores, em primeiro lugar, não havia um clamor popular pelo impeachment. Se assim fizéssemos, não iríamos ao encontro da vontade popular; iríamos ao contrário, de encontro a ela. Em segundo lugar, quem faria o impeachment? Este Congresso Nacional? Aquela Câmara que absolveu os “mensaleiros” e que não vai punir a máfia de sanguessugas das ambulâncias? Aquela Câmara tinha autoridade moral para receber uma denúncia contra o Presidente da República, um pedido de impeachment e encaminhá-lo ao Senado Federal? Como? Sr. Presidente, isso provocaria talvez uma convulsão popular muito grande, porque falta ao Congresso autoridade moral para calçar qualquer pessoa.

Infelizmente, é esse o triste estágio de desprestígio a que chegou o Congresso Nacional do Brasil nesta legislatura. É por isso que estou muito preocupado em começar a fazer a grande política por cima da política menor, tentar um grande entendimento nacional. Claro que sou muito pequeno para conseguir isso, mas pelo menos vai ficar registrado nos Anais desta Casa, na imprensa de todo o País que tentei fazer - e fiz - a minha parte.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/05/2006 - Página 18485